Tom Waits retorna após sete anos com o lançamento de Bad as Me. O último material de músicas inéditas lançado pelo cantor foi Real Gone, de 2004. Waits lançou uma compilação em três discos em 2006, Orphans (Brawlers, Bawlers & Bastards), baseada em sobras de estúdio no decorrer de sua carreira. Começando com forte influência dos poetas beats e do velho safado Charles Bukowski, a música de Tom Waits sempre flertou com a poesia beat, que juntamente o som fincado nas raízes do Jazz e do Blues, e com as uma voz única no mundo da música, grossa e cortante, formou uma unidade atmosférica que transcende e nos transporta para algum bar perdido norte americano com um cara com sua banda tocando, enquanto assistimos, através do ar coberto por fumaças de cirgarro, tomando uísque numa mesa nos fundos. Na década de 80, Tom Waits começou a dar mais espaço a experimentações percussivas muito loucas que fechou ainda mais as portas do que já não era tão acessível, apesar de combinar com a voz uivante de Tom Waits, lembrando em alguns momentos Howlin’ Wolf. Mesmo com esse som estranho, Waits conquistou grande clamor da crítica com clássicos como Swordfishtrombones, de 1983 e Rain Dogs, de 1985.
Desde então ele tem mesclado esses sons em seus álbuns e Bad as Me não é exceção. A diferença aqui é que foi encontrado o equilíbrio perfeito entre os dois estilos, a começar pelo tamanho do álbum. E nisso a esposa e colaboradora Kathleen Brennan teve grande mérito. Fã de álbuns geralmente com muitas faixas, Kathleen sugeriu dessa vez para fazer um álbum de doze faixas de três minutos, “Get in, get out. no fucking around”, Tom Waits falou numa entrevista para a Pitchfork. Tudo bem, o resultado final acabou sendo treze faixas, algumas ultrapassando a casa dos quatro minutos, mas esse detalhe fez com que fosse um álbum conciso, com uma unidade bem definida. Outro ponto que merece destaque são as participações no álbum, tais como Keith Richards e Flea.
A primeira parte do álbum é a melhor. Começa com “Chicago”, uma louca faixa que mistura tudo, os saxes, gaita, guitarra e tudo mais para chegarmos ao que parecer ser um R&B com toque insano do universo de Tom Waits. O final da faixa me fez lembrar de Muddy Waters, quando Waits grita “All Aboard!”, que é como Muddy Waters inicia o álbum Fathers and Sons. É um sinal do retorno ao blues, jazz e r&b que acontece em vários momentos de Bad As Me, como prova a música seguinte, a ótima “Raised Right Men”, um blues sensacional, cheio de acordes puxados no órgão, mostrando a voz de Tom Waits em grnade forma. “Talking at the Same Time” mostra uma mudança no tom de voz de Waits, delicada. “Get Lost” é uma súplica desesperada por liberdade e sumir de tudo e de todos, porém, ao mesmo tempo, com uma dependência completa ao amor da parceira “don’t bring nothing baby, you’re better then all the rest”. “Face to The Highway” tem aquela sensação das músicas reflexivas feitas no carro à noite, rodando sem destino, bem típico de Waits, que já alegou ser uma das suas formas preferidas de compor. A letra também é ótima. “Back In The Crowd” é um dos pontos altos do álbum, balada sobre perda amorosa, triste, belíssima e com uma letra e melodia sensacionais. A seguinte é um contraste total, com toda a fúria da voz de Waits decretando “you’re the same kind of bad as me”. A segunda parte perde um pouco a força com a razoável “Kiss Me” e a insanidade de “Satisfied” e “Hell Broke Luce”. E entre os dois momentos tem a ótima “Last Leaf”, dueto histórico com Keith Richards. Mas Tom Waits se despede da melhor forma. Talvez a melhor do álbum, “New Year’s Eve” é perfeita chegando a lembrar em alguns momentos “Tom Traubert's Blues”. A voz ressacada e grotesca de Tom Waits num daqueles contos pós farra.
É muito raro hoje em dia um artista com quase 40 anos de estrada lançar um álbum forte como Bad as Me, fazendo-se sentir tão novo e tão antigo ao mesmo tempo. Bad as Me reúne as melhores facetas de Tom Waits. É muito bom vê-lo ainda com tanto fôlego criativo.
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