terça-feira, 5 de junho de 2012
Neil Young - Americana
Neil Young é um dos artistas vivos mais respeitados da música e essa admiração vem não somente da carreira repleta de álbuns clássicos e hits, mas também como ele sempre geriu a própria carreira, sempre optando pelo caminho que quisesse, fazendo o som que queria no momento, não importando a pressão de gravadoras, críticos ou até mesmo fãs atrás de um novo “clássico”. É para reafirmar ainda mais essa máxima que Neil Young se reúne com a banda de apoio mais relevante, Crazy Horse, após 16 anos, para o lançamento do álbum Americana, onde Neil e seus companheiros rearranjam músicas tradicionais e folclóricas da cultura norte-americana. Por isso, várias das canções presentes no tracklist não são cantadas há décadas e sua relevância na cultura pop contemporânea é praticamente nula, mas não se pode falar o mesmo de Americana, que certamente não figurará entre os álbuns mais marcantes do dinossauro canadense, afinal, é sempre muito bom sentir novamente a sinergia entre Neil e a Crazy Horse, evidenciada em algumas grandes canções aqui. A grande maioria das músicas em Americana passa da faixa dos cinco minutos, ou seja, muitos solos e jams de guitarra a nossa espera.
É o que mostra logo a ótima faixa inicial, “Oh Susannah”, escrita originalmente em 1847, uma das melhores, com um ritmo dançante (cheio de oh susannah’s) e guitarras cruas típicas de Neil Young. O disco segue no ritmo com a também muito boa “Clementine”, que, segundo o próprio Neil, “Esta canção conta a história tanto do luto de um amante, que chora a perda de seu amor, quanto de um pai que sente a falta de uma filha desaparecida. Em ambos os casos, uma mulher se afoga em um acidente de carro. A música é famosa hoje como uma canção infantil americana. O verso sobre a irmã de Clementine foi omitido da maioria das versões para crianças. Este verso tem significados diferentes dependendo do ponto de vista do cantor, se ele se refere ao amante ou ao pai”.
A morte, inclusive, é um tema recorrente em Americana, seja por fatos trágicos ou homicídio. É o caso de “Tom Dooley” e seus oito minutos, que conta o assassinato de uma mulher chamada Laura Foster, esfaqueada em Carolina do Norte em 1866. Seu amante, o ex-soldado confederado Tom Dooley, foi considerado culpado e enforcado em 1868, supostamente inocente. Já a dançante “Gallows Pole”, de origem provavelmente finlandesa, trata de uma mulher condenada à morte dizendo à seu carrasco para aguardar, pois alguém está resgatá-la com dinheiro ou informações sobre sua inocência. “Get A Job” é talvez a mais fraca do álbum e fala sobre um homem incapaz de conseguir trabalho.
Assim como a primeira parte de Americana tem algumas ótimas canções, a segunda parte também nos reserva momentos muito agradáveis. “Travel On”, é uma das mais clássicas dentre o tracklist e também das mais recentes, no caso da versão utilizada, data de 1958. Bons trabalhos de guitarra do Uncle Neil nessa. “She’ll Be Comin ‘Round The Mountain”, que tem a data de origem mais antiga, é um dos pontos altos do disco, motivado muito por todo a ampla simbologia da letra. Segundo comentários do próprio Neil: “Escrita em 1800, com base em um velho ritual Negro, esta canção refere-se à segunda vinda de Jesus, e “ela” é a carruagem que o transporta. Alguns interpretam isso como o fim do mundo. Outros afirmam que “ela” refere-se ao organizador matrimonial Mary Harris “Mother” Jones, que vai promover a formação de sindicatos de trabalhadores nos campos de mineração de carvão dos Apalaches”.
A seqüência final segue com versões para “This Land is Your Land”, composta por um dos pais do folk, Woodie Guthrie, em 1940, “Wayfarin' Stranger”, única inteiramente acústica, mais uma canção clássica folk interpretada por inúmeros nomes, tais como Johnny Cash e, mais recentemente, Jack White, fechando com uma interessante versão para o hino britânico “God Save The Queen”.
A falta de critérios claros para as escolhas, exceto simplesmente “estas são as que Neil Young ficou com vontade de tocar”, deu um toque meio inconstante no álbum, algumas não são tão boas quanto outras. Mas mesmo assim em Americana há algumas interpretações que vale muito a pena.
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