Nick Cave está de volta reunido com sua banda, The Bad Seeds, para nos entregar seu décimo quinto álbum de estúdio, chamado Push The Sky Away, com essa bela e sugestiva capa. Apesar do longo período sem um lançamento inédito, Dig, Lazarus, Dig, foi lançado em 2008 e no ano passado teve um coletânea de B-Sides, Nick Cave não ficou sem produzir, já que participou de trilhas sonoras e lançou o segundo disco de sua banda paralela, Grinderman. Todas essas experiências fazem de Nick Cave um artista eclético e diferenciado, sendo natural uma expectativa maior em relação à sua escolha por qual caminho trilhar. Push The Sky Away é, portanto, a faceta sombria e mórbida de Cave, utilizando-se sempre de sua voz grave e belos recursos poéticos e melódicos, elevando algumas faixas do disco a um padrão de beleza acima da média.
Musicalmente, Push The Sky Away não chega a ser um grande destaque. As faixas seguem um ritmo constante, com uma instrumentalização limitada, cujo objetivo claramente é dar destaque à forma quase narrativa que Cave as conduz. A já conhecida faixa de abertura é um ótimo exemplo. “We No Who U R” é uma bela canção, onde a voz de Cave desenha belas e inesperadas imagens. Uma delas fica especialmente bela quando ligada ao contexto da seca no Sertão: “the trees will stand like pleading hands”. Parece que Cave fez uma visita recente ao Nordeste brasileiro e resolveu retratá-lo nesse verso. Na faixa seguinte, “Wide Lovely Eyes”, talvez a mais melodicamente bela do disco, a linha entre a beleza e a estranheza é tênue, como se uma não pudesse existir sem a outra, durante seus quase quatro minutos, ambas coexistem. Algum efeito estranho condiz a canção enquanto Nick Cave solta a melodia que sem dúvida é a mais bela do disco.
O problema em Push The Sky Away é que essa equação é extremamente arriscada e Nick Cave mostra que está pronto para correr esse risco com personalidade. Se em “Wide Lovely Eyes” o tempero foi na medida certa, a coisa não funciona com o mesmo sucesso em algumas faixas, como em “Water’s Edge”, que a inconsistência musical, com instrumentos tocando quase de forma aleatória, é acompanhada pela melódica, e a música termina por não ter uma unidade bem definida. Já “Jubilee Street”, uma balada mais convencional, os instrumentos entram em sinergia novamente, inclusive com um belo arranjo de violino.
Os arranjos continuam em evidência enquanto Nick Cave narra a captura de uma sereia, em “Mermaids”. Destaca-se o clima sombrio e misterioso, principalmente quando o arranjo soa como um canto de sereia levando-o ao fundo do mar. Ela também tem o melhor refrão do álbum, na forma mais tradicional. Já “We Real Cool” padece do mesmo mal que “Water’s Edge”, demora para pegar e meio que perde o interesse rapidamente. A sequência final, por sua vez, brilha por si só, começando com “Finishing Jubilee Street”, que abre caminho para a ótima e sombria “Higgs Boson Blues", a mais longa do álbum, beirando os oito minutos, com um ritmo bem interessante com a voz de Nick Cave se arrastando pela música. A letra, estranha, cheia de referências à lenda do blues Robert Johnson e de seu encontro com o cabra ruim e imagens inusitadas. Em alguns momentos chega a lembrar de “The End”, do The Doors. O disco termina por cima com a faixa-título “Push the Sky Away”, construída mais uma vez por uma belíssima melodia.
No final, Push The Sky Away é inconfundivelmente um álbum que Nick Cave & The Bad Seeds faria. Sombrio, imprevisível e incrivelmente composto por mãos hábeis, que sabem o que fazem.
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