O mundo deu sinais de que seria bastante injusto com a banda britânica Suede, que anunciou no final do ano passado um novo álbum, Bloodsports, depois de mais de dez anos separados e dezesseis anos do último disco realmente interessante da banda. Suede estourou no início dos anos 90, pegando uma onda no movimento do britpop, com o sucesso astronômico dos dois primeiros álbuns, o de estréia, homônimo, de 1993 e Dog Man Star, de 1994, tido por unanimidade com o melhor trabalho do grupo. Depois de 1997, ou seja, a partir do disco ComingUp, Suede colecionou dois grandes fracassos para sua discografia, com Head Music, de 1999 e A New Morning, de 2002, tendo se separado por tempo indeterminado no final de 2003.
A banda haveria de se reunir novamente em 2010 para, inicialmente, uma série de shows ao vivo. Como uma coisa leva a outra, aos poucos eles foram apresentando novas músicas em alguns desses shows e, por fim, chegamos onde nos encontramos agora: eles anunciam Bloodsports para o mês de março. Ainda devemos levar mais alguns fatores em consideração antes de conjecturarmos sobre a relevância no cenário atual de uma banda como Suede, cujo passado teve seus momentos brilhantes, mas há muitos anos não brilha mais. Para começar, o momento do lançamento do novo trabalho se dá em meia a uma fraquíssima cena do britpop, que outrora era tão forte e que ajudou a elevar a banda. Como se isso por si só não bastasse, David Bowie atrai a atenção de todos quando anuncia também seu álbum de retorno, o já tão falado The Next Day. A relação entre os dois não se limita a serem “álbuns de retorno”, pois o trabalho de Suede sempre fora muito influenciado por Bowie, sobretudo na fase do glam-rock, e, consequentemente, seus fãs em sua maioria quase absoluta, está ligado tanto a um como ao outro e, diante da importância de Bowie e o anúncio de seu retorno, as devidas atenções para Bloodsports estiveram por um fio. Era essa a grande injustiça que o mundo cometeria com Suede, caso deixássemos passar um álbum tão bom e elegante quanto esse. Graças aos bons deuses da música – leia-se aqui o próprio Bowie – a música de qualidade se sobressai e de uma forma de outra, o mérito sempre é a grande mola propulsora do julgamento.
Em Bloodsports, Suede nem parece uma banda que esteve por tanto tempo separada. Da primeira à última música, eles tocam com uma sede incrível, soando atual, sensual, renovado e, quem diria, ainda relevante. “Barriers”, a faixa de abertura, já mostra a que veio, com um baixo marcante, letras com belas e estranhas imagens, um dos grandes trunfos da banda, e, para completar, um refrão do melhor pop possível. Essa fórmula está presente em praticamente todas as músicas, mudando algumas variáveis, acrescentando umas baladas aqui e outras mais pegadas ali. A única coisa presente em todas as músicas é uma banda confortável e confiantes com o próprio som, fazendo soar muito natural. A sequência inicial é de tirar o fôlego, com a continuação de “Snowblind”, com seu refrão apoteótico e dramático, e do primeiro single “It Starts and Ends With You”, que não precisa de maiores explicações sobre o motivo da escolha para ser a música de trabalho do álbum. Em “Sabotage” se sobressai um belo trabalho de arranjos.
Após esses momentos muito interessantes, apesar do charme glam irresistível de “For The Strangers”, as duas faixas seguintes dão a impressão de que Bloodsports vai se tornar um pouco repetitivo, que o repertório ficará limitado a isso. Mas é depois de “Hit Me” que chega o triunfo de Suede, que teve a perspicácia de dar uma guinada diferente na segunda metade do disco, o que leva a dois momentos especialmente deliciosos. Essa parte final é quando as baladas surgem, como “Sometimes I Feel I’ll Float Away”, com uma guitarra belíssima acompanhando a música e um vocal perfeito de Brett Anderson no refrão. E é nessa parte que ele mais brilha, com a melhor faixa do disco “What Are You Not Telling Me?”, cuja tensão se potencializa pela forma com a qual ela foi arranjada, o refrão cheio de corais, ecos e vocais sobrepostos, como se fosse exatamente uma consciência perturbada pelo ciúme e desconfiança, questionando se ambos teriam sido feitos para os “mistérios do amor”. Tendo chegado ao topo, Suede trata de finalizar o disco de maneira correta com “Always” e “Faultlines”.
Bloodsports torna-se assim um sucesso inesperado de uma banda que se julgava acabada e sem força criativa de se destacar mais uma vez nesse cenário que ela chegou a conquistar há vinte anos. Assim como nesses vinte anos a indústria também se transformou e não se pode imaginar por quanto tempo ainda Suede se manterá nessa posição. Mas não são coisas que valem a pena perder tempo pensando agora. A verdade é que eles voltaram com força para, pelo menos, igualar os seus melhores e gloriosos dias passados. E isso para eles já é o bastante.
Vou ver se pego hoje o novo do "The House of Love".
ResponderExcluirImpressionante como esse povo das antigas tá cheio de gás. Até o Europe lançou um disco que pode ser considerado o melhor deles. E olha, não tem nada com o Europe do passado.