sexta-feira, 5 de abril de 2013

Phosphorescent - Muchacho


Phosphorescent é um projeto de banda de um homem só. E o homem por trás da banda chama-se Matthew Houck, que há dez anos estreou com o álbum A Hundred Times or More, sempre mostrando um country indie depressivo e cheio de melodias irresistíveis. Ano após ano e a cada novo lançamento, Houck foi conquistando espaço e se desenvolvendo como compositor e cantor. As primeiras composições, eram sempre com um acompanhamento musical bem simples, basicamente um violão ou guitarra, uma leve bateria aqui ou ali, assim como alguns toques no piano. O foco e a beleza estavam nas letras e melodias arrepiantes. No entanto, nos últimos três discos, Houck estava claramente tentando desenvolver-se também musicalmente, como, especialmente em Pride, de 2007 e Here’s To Talking Easy, de 2010. Ambos podem ser considerados como trabalhos bem sucedidos, ainda que apresentassem claramente Houck como um compositor ainda que não entregava-se integralmente à sua genialidade. Nesses trabalhos, há flashes de momentos marcantes e apoteóticos, como “Wolves”, “My Dove, My Lamb”, “Cocaine Lights”, “It’s Hard To Be Humble (When You’re from Alabama)”, dentre algumas outras. Nas demais, ainda que mantendo um nível interessante de qualidade, diante dessas, dava para notar que ainda faltava algo. Esse algo que faltava foi completamente extinto na maravilhosa obra que nos chega esse ano, com o lançamento de sua obra-prima Muchacho, seu sexto álbum e de longe, seu melhor.

Após o preâmbulo, ou uma invocação, de “Sun, Arise! (An Invocation, An Introdution)”, como sugere o título, a diferença na composição de Houck já mostra-se latente na mais bela, charmosa e sexy música do ano até agora. “Song For Zula” mostra um lado completamente novo, com arranjos modernos e eletrônicos na medida exata, revelando uma influência do soul. Os primeiros segundos até lembram “Black Tie White Noise”, de David Bowie. Em termos das letras, são um caso a parte em praticamente todas as faixas. Essa, por exemplo, mostra a visão cética de um amor que não deu certo, questionando a visão tradicional do amor e, após a experiência fracassada, na qual ele se vê desfigurado, preso e sem reconhecer a si mesmo, destaca “i will not open myself up this way again”. A faixa chega ao fim e o ouvindo é deixado sem fôlego para se libertar um pouco com a seguinte, “Ride On, Right On”, também dançante e gostosa de se ouvir, como se tivesse andando pela cidade à noite ouvindo essa música no fone de ouvido.




“Terror In The Canyons (The Wounded Master)” mostra um ritmo mais lento e diferente das duas predecessoras, com uma percussão bem tropical, no bongô. A letra é bem direta e há um pouco de ressentimento escondido e disfarçado com frieza. “And you’re telling me you’re leaving, and i’m telling you to go, and i`m not so sorry for the heart-wreck”, sentimento que reaparece em alguns outros momentos, mais especificamente na faixa seguinte, a também ótima “A Charm / A Blade”, onde Houck mais uma vez crava friamente: “hey cut my heart but do it fast, we don’t want this hurt to last”. O refrão é bem grandioso, cheio de cores e arranjos, com trompetes e orquestra, lembrando um pouco os Beatles.






“Muchacho’s Tune” é outro ponto máximo do disco. Houck chegou ao esgotamento físico e psicológico depois da turnê do último trabalho, em 2010, precisando de parar um tempo. Assim, ele passou uma temporada no México, dai a inspiração para o nome do álbum, Muchacho. Houck chegou a dizer em entrevista para a Pitchfork que suas letras são tão pessoas e dolorosas que o surpreende inclusive conseguir cantá-las. É assim que segue “Muchacho’s Tune”, com Houck mostrando-se praticamente nu, quase como uma prece desesperada para a personagem mais forte e segura que conhecemos, a mãe. Ele suplica, despedaçado: “i’ve been fucked up, i’ve been a fool(…) I’ll fix myself up, to come and be with you”. Belíssima música.

O clima de depressão sagrada continua em “A New Anhedonia”, com a voz de Houck sangrando ao final de cada verso. A música se arrasta no violão e no piano, enquanto no refrão aparecem delicados arranjos vocais. “The Quotidian Beasts” é, pasmem, mais uma perfeita, quase épica, fazendo uma mistura de Bob Dylan com Neil Young. A letra é também sensacional, o desejo de sangrar, de sofrer. “i said ‘it’s you took your claws you slipped ‘em under my skin, there’s parts that got outside, honey, I want to put ‘em back in”. Perfeita. A transição de uma estrofe para outra também é feita de forma magistral, uma orgia de sons e coros. Com “Down To Go”, mais uma balada country no piano linda, Muchacho caminha para seu final, já que “Sun’s Arising (A Koan, An Exit)”, é, naturalmente, o desfecho e a conclusão do que foi aberto após a primeira música.

Ou seja, Muchacho é a completa realização de um grande compositor que finalmente se encontrou e amadureceu. Belíssimas, completas e complexas composições fazem desse um álbum irresistível, do início ao final, tornando-se artífice no que se refere ao trabalho de compositor.


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