Bradford Cox é um dos personagens mais excêntricos no mundo da música hoje. Líder da banda experimental de noise rock Deerhunter, além do projeto solo chamado Atlas Sound, Cox é também um dos artistas mais produtivos, tendo entre os anos de 2008 a 2011, lançado pelo menos um álbum por ano, com ou sem Deerhunter, sempre mostrando uma qualidade inesperada ou até mesmo estranha, como o é a própria figura de Cox, portador desde a infância da síndrome de Marfan, caracterizada por uma desordem do tecido conjuntivo, provocando membros anormalmente longos. Algumas outras personalidades históricas que se acredita terem possuído a síndrome são: Joey Ramone, dos Ramones, Júlio César, Abraham Lincoln, dentre outros. Mas, enfim, como não poderia fugir dela, Cox agregou a síndrome ao seu estilo andrógeno e excêntrico de cantar e se apresentar no palco. A carreira de Deerhunter começou em 2001, mas apenas em 2004 eles lançaram o homônimo disco de estréia, ou também chamado de Turn it Up Faggot, mesmo que não aparecesse na capa ou em nenhuma das músicas do trabalho (era“insulto” proferido pelo público direcionado a Cox durante os shows). Em 2010, com o lançamento de Halcyon Digest, a banda começou a apontar para uma mudança de som, inserindo mais força e dinâmica no som, que antes era bem baseado no som ambiente e empírico. E foi um sucesso. Após uma rápida pausa com Deerhunter em 2011 para lançar Parallax, com Atlas Sound, eles estão de volta com o ótimo Monomania.
Monomania é um álbum bastante variado em seus estilos e mostrando um lado mais rock da banda, principalmente com suas guitarras bastante distorcidas e ecoando a todo momento, produzindo um noise-rock de altíssima qualidade. A faixa de abertura, “Neon Junkyard”, lembra o psicodelismo dos Beatles, principalmente no efeito e na forma de Cox de cantá-la. O noise-psicodélico vai ao extremo em “Leather Jacket II”, com um riff de guitarra bem alto e constante e cheio e efeitos sonoros no vocal deixando-o quase inteligível. A partir de um turbilhão de sons desconexos, surge “The Missing”, única escrita e cantada pelo guitarrista Lockett Pundt, sóbria, calma, limpa e tranquila, até mesmo pop.
“Pensacola” surge com aquela sensação de que nada é garantido e a grande interrogação, tipo “o que vem agora?”. E é exatamente diferente de todas as anteriores e uma das melhores do disco, sem dúvida. Ela é animada, com uma batida meio country, mas cheio de guitarras distorcidas e slides. “Dream Captain” é mais uma muito boa que parece ter algo do glam rock misturado com Southern garage. O clima suaviza com “Blue Agent” e seu belo e melódico refrão e a delicada “T.H.M”. “Sleepwalking” é diferente de todo o álbum, com uma batida bem dançante, dá até para fechar os olhos e se imaginar balançando no ritmo da música.
A parte final do álbum também nos reserva algumas faixas muito interessantes, como o puro noise-rock de “Monomania”, na qual Cox canta quase com desprezo e ódio e com seus minutos finais de extrema microfonia digna de Sonic Youth. Depois de “Nitebike”, um tanto monótona com Cox solitário com seu violão, depois de tantas músicas cheias de detalhes sonoros, chega a faixa final “Punk (La Vie Antérieure)”, que volta a ter as texturas psicodélicas anteriores.
Apesar do maior tempo de separação entre os álbuns de Deerhunter, Monomania é, por fim, um grande álbum de uma banda que já estava e se mantém no pico de sua produção criativa, que pode encarnar novos personagens em novos campos de exploração e, ainda assim, soar tão confortável e seguro quanto antes.
A quebra do noise de Leather Jacket II para The Mission é o gancho para seguir ouvindo até o fim. Punk (La Vie antérieure)encerra um dos álbuns mais tri de 2013!
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