quarta-feira, 22 de maio de 2013

Resenha de The National - Trouble Will Find Me


The National chega para o lançamento do seu sexto disco, Trouble Will Find Me, com incertezas quanto ao futuro. O vocalista e líder da banda, Matt Berninger, afirmou em uma entrevista para o site The Grid que já passou por vários momentos de quase acabar, com problemas de relacionamento, frustração, ansiedade, exaustão e tudo mais. Ele disse ainda que não sabe quanto tempo estar em uma banda pode ser “saudável”, dizendo que já estavam juntos por quatorze anos e achava que outros cinco anos poderiam ser demais. Essa entrevista vem logo com o lançamento de Trouble Will Find Me, o que pode causar em uns frustração e em outros vontade de desfrutar o que eles tem a oferecer no momento. O fato é que, depois do último e mais bem sucedido trabalho do grupo, o ótimo High Violet, de 2010, finalmente surgiu empolgação e relevância da banda para o grande público. Até então, The National, através de alguns bons álbuns, como Boxer, de 2007, e Alligator, de 2005, conseguiu construir uma reputação respeitável na cena indie norte-americana, mas o grande salto qualitativo foi mesmo com High Violet, onde apresentou um som mais maduro e desenvolvido. Dessa forma, a grande dúvida em relação a Touble Will Find Me era se eles conseguiriam manter o nível alto e exigente atingido em High Violet. Bem, parcialmente.

Trouble Will Find Me passa por treze faixas nos seus cinquenta e cinco minutos e é sempre complicado fazer um trabalho extenso assim. É necessário um grande poder de inventividade para se manter atrativo por tanto tempo e até mais. A variação de si mesmo é uma ferramenta que pode colaborar nesses casos e é exatamente isso que em alguns momentos falta em Trouble Will Find Me. Pelo menos três ou quatro músicas são muito parecidas entre si, o que não tira totalmente a qualidade delas, mas que facilita o desvio de atenção. Isso não quer dizer que Trouble Will Find é um álbum fraco, de forma alguma, apenas é necessário observar que ele poderia ter sido mais conciso e focado.




Pois é verdade absoluta que no sexto álbum, The National nos brinda com ótimas canções, a começar pela faixa de abertura, uma das melhores do disco, a ótima “I Should Live In Salt”, uma das primeiras a surgir das sessões de Trouble Will Find Me, com percurso bem interessante, bem como a letra, cheia de belas metáforas ("i should live in salt for leaving you behind"), entrecortados sempre por “you should know me better than that”. Enquanto The National trilha o caminho mais para o pop, ele também mergulha ainda mais nos seus sentimentos pessoais, como o prova o primeiro single e a elegante “Demons”, um confronto recluso consigo mesmo “and i stay down, with my demons”.Don’t Swallow The Cap” é a primeira que a bateria toma conta, com um clima bem anos 80. O refrão tem umas linhas bem curiosas “if you want to see me cry, play ‘let it be’ or ‘nevermind’”, em referência, claro, a Beatles e Nirvana, respectivamente. 

Várias faixas em Trouble Will Find Me remetem a personagens, normalmente nomes de mulheres. Na bela e tranquila “Fireproof”, somos apresentados à durona Jennifer, a qual é à prova de balas, já que nada quebra seu coração. Também tem bonitos arranjos de violinos pela música. “Sea of Love” é feita diretamente para se tornar hit. Animada, mas com o vocal sombrio e melancólico de Berninger, tem tudo para ser ótima ao vivo também. “Heavenfaced” é uma das que não chega a empolgar. O que salva ela é um verso: “can’t face heaven all heavenfaced”, perfeito. Pena que não está vestida numa roupagem melhor. Após um pequeno e quase deslize, Jenny (mais uma personagem feminina), nos lança agora para mais uma ótima música “This is The Last Time”, que vai crescendo e transformando-se em um ritmo cativante que nos faz acompanhar atentos todas as direções da música e ainda com direito ao bônus de outro verso magnífico “your love is such a swamp, you don’t think before you jump”.




Em “Graceless” há uma dualidade bem definida. No começo, incomoda um pouco a quantidade de rimas de this e less a cada verso, mas a música toma outro rumo da metade para o final, cuja intensidade acaba sobrepujando a impressão inicial. As duas (“Slipped” e “I Need My Girl”) seguintes se encaixam no exemplo de que se não tivessem feito parte da tracklist final, daria a Trouble Will Find Me mais consistência e qualidade. Não acrescenta muito ao que já foi apresentado até o momento, apesar de bonitas melodias, sobretudo “I Need My Girl”, com participação de Justin Vernon, Bon Iver.

Já as três últimas músicas fecham o disco com estilo, a começar com “Humiliation”, carregando toda tensão de uma tradicional faixa de The National, mas o destaque dessa parte final é mesmo “Pink Rabbits”, que se encaixaria perfeitamente em High Violet, com o curioso refrão “am i the one you think about when you’re sitting in your faintin’ chair drinking pink rabbits”. Hard to Find” finaliza o álbum de maneira reflexiva, com Berninger cantando quase que para si mesmo.

Trouble Will Find Me é um grande álbum, mas com um potencial de poder ter sido bem melhor. Mesmo assim, em várias músicas eles se apresentam em grande nível, tornando-se, se não um clássico álbum na carreira de The National, pelo menos mais um bom e interessante trabalho da banda.


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