Foram cinco anos de espera para o lançamento do novo trabalho de Queens of The Stone Age; nove para o de David Bowie, só para citar dois importantes – e ótimos – exemplos dos discos de retorno desse ano. Mas a espera de nenhum deles se compara à de trinta e cinco anos para o novo álbum chamado 13, de Black Sabbath com Ozzy. A formação clássica da banda gerou um novo estilo musical, o heavy metal, que veio acompanhado com eternos clássicos, com obras tais como Black Sabbath e Paranoid, de 1970, Master Of Reality, de 1971, Volume 4, de 1972, Sabbath Bloody Sabbath, de 1973 e Sabotage, de 1975. Fora esses, ainda teve tempo para mais um, Never Say Die!, de 1978, já com sérios problemas de relacionamento entre a banda e Ozzy Osbourne, que levariam à futura separação. Mas foram aqueles seis primeiros trabalhos que definiram Black Sabbath como uma das maiores bandas da história. Depois da separação, Tony Iommi continuou a carreira com o nome Black Sabbath, utilizando-se de vários vocalistas conhecidos no meio do heavy metal, mas sem nenhum ou com pouquíssimo sucesso. Já Ozzy, como artista solo, no maior estilo de metaleiro satânico, protagonizou os famosos excessos pelos quais é sempre reconhecido, colecionando ainda alguns sucessos, mas claramente muito aquém dos primeiros anos de Black Sabbath (não sou metaleiro, portanto, metaleiro, não me devore vivo por isso). Era evidente o tamanho desperdício que a música sofria por ter dois talentos tão grandes separados. Entre mais brigas, reaproximações, turnês de retorno, acabou levando trinta e cinco anos para os dois decidirem colocar panos quentes nas diferenças passadas e se reunirem novamente para criar música juntos.
O resultado dessa reunião é o ótimo disco 13, o qual Ozzy definiu como possivelmente o álbum mais importante de sua carreira. A atual formação é quase a original, contando com Ozzy e Tony Iommi, claro, o baixista Butler e o ex-baterista de Rage Against The Machine, Brad Wilk, já que o baterista da formação clássica, Bill Ward, ficou de fora por diferenças contratuais. Segundo o produtor de 13, Rick Rubin, o grupo criou uma metodologia de se aproveitar apenas as melhores. Juntaram as músicas compostas na casa de Tony, em Brimingham, na Inglaterra, inclusive, local de nascimento da banda, e excluíram aquelas que não se encaixavam na proposta inicial. O resultado foram oitos músicas sensacionais, cinco das quais ultrapassam os sete minutos e resumem tudo o que Black Sabbath tem de melhor.
Tirando somente as duas primeiras músicas já vale a pena a espera de trinta e cinco anos e ultrapassa tudo o que Ozzy e Black Sabbath fizeram no período que estiveram separados, é o melhor do heavy metal feito por quem o criou.
Começando por “End of The Beginning”, que larga com aquele riff clássico de Tony, que lembra um pouco “War Pigs”. São oito minutos de pura adrenalina, tensão e intensidade, sempre variando de uma escala para outra, um riff para outros, e ainda sobra tempo para um solo arrasador de Tony Iommi. Enquanto ainda estamos recuperamos o fôlego, começa uma das melhores e primeiro single do disco, “God Is Dead?”. Poucas bandas tem a felicidade de acertar tão bem na escolha da primeira música de trabalho para um novo disco, mas “God Is Dead?” é simplesmente tudo o que tem de melhor em Black Sabbath. Cada música que passa ficamos impressionado com a integridade de Ozzy Osbourne, principalmente para aqueles que achavam que ele não tinha condições nem de ficar de pé. A voz dele está ótima, clara e tão poderosa como antigamente, como se todos aqueles anos de excessos tivessem sido sonhos. Aqui certamente há uma boa parcela de méritos para o produtor de 13, Rick Rubin, que já tratou de revitalizar as carreiras de gente como Johnny Cash a Jay-Z.
“The Loner” é talvez a mais comum e dispensável faixa de 13, é uma música padrão de Black Sabbath, enquanto que na hippy “Zietgeist”, que remete a "Planet Caravan", do álbum Paranoid, Tony desliga por poucos minutos a guitarra, pega o violão, enquanto Brad Wilk fica brincando no bongô, tipo uma música perdida dos Úlceras. “Age of Reason” os grandes riffs e pancadas na bateria estão de volta, no melhor estilo, apresentando várias mudanças de tempo e melodias, ora coordenadas por Tony, ora por Ozzy, numa saudável guerra de egos e, para sermos totalmente sinceros, o solo final de Tony decide a seu favor. Já em “Live Forever”, apesar de embalado por um dos riffs mais fortes do álbum, o simples, consciente, limpo e sóbrio o vocal de Ozzy se sobressai, principalmente na crise existencial da terceira idade, no questionamento do refrão: “i don’t want to live forever, but i don’t want to die”.
Para o combo final, a banda nos brinda com a sua melhor performance em “Damaged Soul”, altamente inspirada no blues, arrastada pelo riff firme, constante e cru de Tony, com o som da gaita misturando-se com o solo de guitarra. Sensacional. Lembra até aquelas jams de blues de Led Zeppelin. Na letra, com certeza que várias referências ao mal, Deus, demônios e Satã, por exemplo. Ou seja, é o Sabbath de sempre. A oitava e última música, “Dear Father”, tem uma das letras mais pessoais, de uma relação desgastada de pai-filho, que funciona como um pedido de perdão, é a que mais remete aos trabalhos solos de Ozzy.
O grande desafio de bandas do tamanho de Black Sabbath voltarem a lançar material novo é se será realmente relevante para a carreira de uma banda com tamanho legado, ou seja, acrescentou algo ou apenas se repetiu e não fez a mínima diferença ter voltado ou não? Várias bandas contemporâneas de Black Sabbath nos anos 60 e 70 tentaram e falharam. Nesse sentido, 13 é um grande sucesso. Mesmo sem alcançar as glórias dos primeiros quatro discos, a banda consegue criar um conjunto de músicas que com certeza permanecerá como um registro relevante na carreira de Black Sabbath, carreira esta que é tão forte e influente, que chegou a influenciar os seus criadores mesmo quarenta anos depois.
Na discografia faltou o Technical Ecstasy, de 1976.
ResponderExcluirOuvi o 13. Muito bom. E vou no show no RJ . Ingresso na mão.
ResponderExcluirUma boa resenha, mas só não concordo quando falou que a fase pós-Ozzy do Black Sabbath foi sem nenhum sucesso ou pouquíssimo sucesso. Isso pode se dar em virtude de você mesmo ter se declarado um não "metaleiro". É de conhecimento do público e da crítica especializada em metal que o Black Sabbath viveu seus dias de glória e muito sucesso com discos como Mob Rules e Heaven and Hell, ambos com o Dio, mais na linha do NWOBHM, clássicos do estilo lançados durante os anos 80, sem citar álbuns que eu considero excelentes como Born Again, com nada mais nada menos que Ian Gillian assumindo brilhantemente os vocais e um Tony Iommi inspiradíssimo em suas guitarras, The Eternal Idol e Headless Cross, tendo como vocalista o excelente Tony Martin, ao passo que os anos 90 foram os piores em termos de Heavy Metal para várias bandas do estilo que não se reinventaram ou mesmo aquelas que se reinventaram e fugiram da proposta do estilo, onde o próprío Sabbath se insere, mas, enfim, este disco lançado pelos pais do Heavy Metal, sem dúvida, deixa sua marca na história da música contemporânea. Parabenizo o autor da resenha pelo olhar musical colocado em sua análise, pareceu-me muito autêntica e honesta. E viva o Sabbath!!!! Ah, ainda não escutei o QOTA, mas fiquei sabendo que está uma maravilha!!!
ResponderExcluirACHEI ESSE CD MUITO CHATO TALVEZ O PIOR DO SABBATH JUNTO COM FORBIDEN
ResponderExcluir"Metaleiro" é quem trabalha em usina siderúrgica, não? Odeio a Glória Maria até hoje por essa denominação infeliz...
ResponderExcluirO álbum é realmente sensacional. Todas as faixas são incríveis. Quem é fã de verdade, percebeu que a magia do velho sabbath está de volta e em grande estilo.
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