Johnny Depp é
um dos atores mais celebrados do mundo inteiro, fazendo papéis consagrados que
vão desde o mainstream de Hollywood ao cult, mas que, dada sua presença, já garante
o alcance do grande público. Depp também tem uma relação muito estreita com a
música, fazendo com frequência inúmeras participações em shows de grandes
artistas, como Eddie Vedder, Aerosmith, Keith Richards e inúmeros outros. Em
entrevista à revista Rolling Stone, o entusiasmo pela música, no entanto, não
apenas não seduz o ator a seguir a carreira na música, mas o faz sente nojo por
atores que seguem a carreira musical em paralelo com a de ator. Segundo ele,
tentam se aproveitar da fama para conseguir público na carreira musical. Muita
calma nessa hora, Johnny. Pode ser verdade, pode não ser. Ou melhor, não
concordo com a generalização. Certamente tem atores que podem tentar se
aproveitar desse capital humano, dessa audiência. Mas ao mesmo tempo tem gente
que pode estar fazendo um grande serviço à música, levando-a para um público que
nunca teria acesso a determinado tipo de música de outra forma, a não ser
guiada pelo sucesso de um ator do qual gosta.
É exatamente
esse o caso de Hugh Laurie, ator consagrado pela série Dr. House, no qual atuou
de 2004 até 2012, encarnando o nada simpático médico Gregory House,
especialista em diagnosticar casos médicos difíceis e misteriosos. Durante as
oito temporadas, podíamos notar que o personagem de Laurie, House, possuía um
grande interesse relacionado à música; várias cenas surgem em que ele está
tocando piano ou guitarra; ou de repente, no meio do brainstorm de algum caso
quase perdido, ele faz alguma referência a um artista, praticamente
desconhecido. Agora sabemos que essas inserções demonstram um gosto particular
pela música do ator principal, o próprio Hugh Laurie, grande entusiasta do jazz
e do Blues e um estudioso pela rica história desses dois estilos musicais que
não fazem parte dos estilos mais tocados do momento.
Já consagrado,
portanto, com a série Dr. House, Hugh Laurie resolveu dar um passo ousado e
iniciar sua carreira musical, para festejar exatamente estes dois grandes
estilos, o blues e o jazz, especialmente o New Orleans Blues, lançando, em
2011, seu primeiro disco solo, chamado Let Them Talk. Dois anos depois, em
2013, lançou o segundo, Didin’t It Rain. Duas obras interessantíssimas que
fazem um rico resgate de clássicos do jazz e do blues, tocado por um amante da
música, um entusiasta, um apaixonado que teve coragem de tocar o que ama não se
importando com a possível avalanche de críticas, diretas ou indiretas, como
essa de Johnny Depp. Certamente vários fãs da série de televisão, curiosos como
o amargo médico poderia engatar uma carreira musical, entraram em contato com essas
músicas pela primeira vez, muitos dos quais possivelmente nem haviam ouvido
falar do blues, do jazz, enfim, pois de outro modo nunca teriam tido a chance
de ouvir nenhum dos dois estilos. Podem ter gostado, podem não ter gostado, mas
isso realmente não importa. Só em fazer essa intermediação, esse contato entre
gerações, fazer o grande público ouvir “St James Infirmary”, “Six Cold Feet”, “John
Henry”, “The Whale Has Swallowed Me”, “They’re Red Hot”, entre inúmeras outras
que não podem ser consideradas como itens de colecionador, de pesquisador ou
especialista.
Para celebrar
esse trabalho de Hugh Laurie, deixo vocês com o maravilhoso vídeo/documentário
celebrando exatamente essa tradição do jazz e do blues. O nome do documentário
diz tudo: Let Them Talk – A Celebration of New Orleans Blues, que conta ainda
com participações especiais e algumas excursões para resgatar a história de New
Orleans na música. Assista e você entenderá o que eu quero dizer.
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