terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Abença Pai: Hugh Laurie celebra o jazz e o blues no documentário Let Them Talk - A Celebration of New Orleans Blues


Johnny Depp é um dos atores mais celebrados do mundo inteiro, fazendo papéis consagrados que vão desde o mainstream de Hollywood ao cult, mas que, dada sua presença, já garante o alcance do grande público. Depp também tem uma relação muito estreita com a música, fazendo com frequência inúmeras participações em shows de grandes artistas, como Eddie Vedder, Aerosmith, Keith Richards e inúmeros outros. Em entrevista à revista Rolling Stone, o entusiasmo pela música, no entanto, não apenas não seduz o ator a seguir a carreira na música, mas o faz sente nojo por atores que seguem a carreira musical em paralelo com a de ator. Segundo ele, tentam se aproveitar da fama para conseguir público na carreira musical. Muita calma nessa hora, Johnny. Pode ser verdade, pode não ser. Ou melhor, não concordo com a generalização. Certamente tem atores que podem tentar se aproveitar desse capital humano, dessa audiência. Mas ao mesmo tempo tem gente que pode estar fazendo um grande serviço à música, levando-a para um público que nunca teria acesso a determinado tipo de música de outra forma, a não ser guiada pelo sucesso de um ator do qual gosta.

É exatamente esse o caso de Hugh Laurie, ator consagrado pela série Dr. House, no qual atuou de 2004 até 2012, encarnando o nada simpático médico Gregory House, especialista em diagnosticar casos médicos difíceis e misteriosos. Durante as oito temporadas, podíamos notar que o personagem de Laurie, House, possuía um grande interesse relacionado à música; várias cenas surgem em que ele está tocando piano ou guitarra; ou de repente, no meio do brainstorm de algum caso quase perdido, ele faz alguma referência a um artista, praticamente desconhecido. Agora sabemos que essas inserções demonstram um gosto particular pela música do ator principal, o próprio Hugh Laurie, grande entusiasta do jazz e do Blues e um estudioso pela rica história desses dois estilos musicais que não fazem parte dos estilos mais tocados do momento.

Já consagrado, portanto, com a série Dr. House, Hugh Laurie resolveu dar um passo ousado e iniciar sua carreira musical, para festejar exatamente estes dois grandes estilos, o blues e o jazz, especialmente o New Orleans Blues, lançando, em 2011, seu primeiro disco solo, chamado Let Them Talk. Dois anos depois, em 2013, lançou o segundo, Didin’t It Rain. Duas obras interessantíssimas que fazem um rico resgate de clássicos do jazz e do blues, tocado por um amante da música, um entusiasta, um apaixonado que teve coragem de tocar o que ama não se importando com a possível avalanche de críticas, diretas ou indiretas, como essa de Johnny Depp. Certamente vários fãs da série de televisão, curiosos como o amargo médico poderia engatar uma carreira musical, entraram em contato com essas músicas pela primeira vez, muitos dos quais possivelmente nem haviam ouvido falar do blues, do jazz, enfim, pois de outro modo nunca teriam tido a chance de ouvir nenhum dos dois estilos. Podem ter gostado, podem não ter gostado, mas isso realmente não importa. Só em fazer essa intermediação, esse contato entre gerações, fazer o grande público ouvir “St James Infirmary”, “Six Cold Feet”, “John Henry”, “The Whale Has Swallowed Me”, “They’re Red Hot”, entre inúmeras outras que não podem ser consideradas como itens de colecionador, de pesquisador ou especialista.

Para celebrar esse trabalho de Hugh Laurie, deixo vocês com o maravilhoso vídeo/documentário celebrando exatamente essa tradição do jazz e do blues. O nome do documentário diz tudo: Let Them Talk – A Celebration of New Orleans Blues, que conta ainda com participações especiais e algumas excursões para resgatar a história de New Orleans na música. Assista e você entenderá o que eu quero dizer.






Nenhum comentário:

Postar um comentário