Leo
“Bud” Welch, foi recebido com entusiasmo pelo cenário musical do blues, logo no
início de 2014, com o seu álbum de estreia chamado de Sablouga Voices. Ainda
que tenha mostrado no seu trabalho um som muito interessante, mesclando o
estilo do Chicago Blues com o Gospel tocado nas Igrejas batistas pelo Sul dos
Estados Unidos, outro detalhe certamente não passou despercebido e trouxe uma
sensação de extraordinário ainda maior: o som vigoroso do blues elétrico ouvido
em Sablouga Voices vinha de um senhor no auge dos seus 81 anos, que passou a
grande parte de sua vida trabalhando anonimamente durante o dia e tocando em
festas e igrejas. A preciosidade da estreia vinha junto com um sentimento de
que infelizmente não veríamos uma longa carreira de Leo “Bud” Welch;
possivelmente aquele seria o único registro de sua carreira tardia. Essa
sensação foi logo refutada – ou pelo menos parte dela – com o lançamento, pouco
mais de um ano depois, do seu segundo álbum, chamado I Don’t Prefer No Blues,
um registro ainda mais vigoroso e impactante do que o seu antecessor. As
resenhas são unânimes: já é um clássico contemporâneo do blues.
O novo álbum veio de um acordo de Welch com a gravadora Fat Possum’s Big Legal
Mess, que acertaram que depois de lançar o álbum de blues-gospel (Sablouga
Voices), “Bud” Welch gravaria o seu outro lado, a versão secular do blues. E é
exatamente isso que é visto em I Don’t Prefer No Blues. Com exceção da faixa de
abertura – e uma das melhores do disco - “Poor Boy”, que ainda demonstra um
pouco do coral do blues gospel e a penúltima faixa “Pray On” (que de gospel só
tem a letra), é o profano que comanda no restante do álbum. “Girl In The Holler”
é tão intensa que é praticamente irrelevante o fato de ser tocado por um senhor
de 82 anos, sensação que impregna durante praticamente todo o disco,
especialmente em “Too Much Wine”, “I Woke Up”. Leo “Bud” Welch escolhe a dedo
alguns outros clássicos do blues, como “Goin Down Slow”, “Cadillac Baby” e “Sweet
Black Angel”. Seu som vai do Delta Blues do início da carreira de Muddy Waters
ao blues elétrico, improvisado, ao vivo, sujo e cheio de riffs de R.L. Burnside
e engana-se quem possa vir a achar que o elemento idade não tem influência
alguma no conjunto final: Leo Welch vivenciou tudo isso. É uma autenticidade
que somente a experiência de vida poderia passar.
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