O
veterano guitarrista de Nova Iorque acaba de lançar mais um ótimo disco de
blues. Apaixonado pelo estilo desde os 13 anos quando ouviu Jimmy Reed, Earl
Walker mantém um som do blues tradicional, direto e simples. Um blues puro e de
primeiríssima qualidade. As dez faixas de seu sexto disco solo, Mustang Blues,
são todas originais e o trabalho foi todo produzido pelo próprio Earl Walker,
executadas por uma banda enxuta e muito à vontade, deixando espaço seguro para o
talento de Walker na guitarra brilhar.
A
faixa de abertura, “Hey Baby”, que narra um caloroso reencontro de um casal depois
de longa data sem se ver, é um grande exemplo disso. A linha firme do baixo
segura o ritmo para ótimos solos da guitarra de John Earl Walker. O tempo de
duração extenso permite uma variação de solos bastante interessante, o que
mantém o ouvinte sempre atento. O mesmo se repete em cinco faixas do disco, que
ultrapassam os cinco minutos de duração, o que dá um tempo confortável para
Walker trabalhar com tranquilidade e perícia as tonalidades de sua guitarra. O
roteiro segue com “The Devil’s Follows Me”, que personaliza a voz do capeta nos
dando um conselho ruim e a luta que travamos para não segui-lo: “you know when
the devil hangs around you, and give you some bad advice, you he fooled me
once, people, but he won’t fool me twice”.
A
faixa que dá título ao álbum, “Mustang Blues” trata dos problemas modernos no
trânsito das grandes cidades, especialmente, no caso, Nova Iorque. Usando como
referência a clássica “Mustang Sally”, Walker mostra a dificuldade de se ter um
carro na megalópole, com os policiais de trânsito ou radares sempre na cola, o
que atrapalha o passeio com alguma garota. A instrumental “Funkify” é uma das
mais interessantes musicalmente. Há um certo distanciamento do blues tradicional
e em vários momentos pode-se perceber alguma semelhança com David Bowie, com
vários efeitos que remetem à fase de Berlin, especificamente em Low, de 1977. Muito
interessante e fornece um pouco de variedade sonora para o trabalho. Mas o
tradicional e gostoso Chicago Blues está logo de volta com a ótima “I’m Already
Gone”, guiada pela guitarra de Walker em longos momentos de jam.
Em “My Mama Told Me”, mais um blues
tradicional e direto, Walker diz um pouco dos conselhos maternos sobre os
assuntos do coração: “my mamma told me, that girls is no good for you, she said
don’t waste your time on her or you’ll wind up with the blues”. “Superstorm
Sandy Blues”, um blues mais lento, emocional e cheia de solos profundos, retrata
a agonia real sobre os estragos da tempestade tropical Sandy, que atingiu o
nordeste dos Estados Unidos em 2012. “the water rose so high, till it knocked down my front door, the next
day I took a look inside and said, lord, can’t live here no more”.
“Readjust”
é um blues-rock mais pesado, cheio de riffs. Apesar de manter o ritmo forte,
serve mais para mostrar que Walker se dá melhor no blues tradicional mesmo. A
faixa seguinte, “One Plus One”, evidencia isso. A banda soa muito mais
confortável tocando blues mesmo. E Walker explora muito melhor sua habilidade
na guitarra. A temática da letra também é do blues clássico, falando da
descoberta de uma traição. “Even Up The Score” finaliza o disco na mesma
tonalidade que acompanhou os quase cinquenta minutos de música: muito blues e
muita guitarra.
John
Earl Walker mostra que às vezes o que é preciso para fazer um bom álbum do
blues é ter simplesmente... blues.
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