Alabama Mike
(nome artístico de Michael Benjamin) é mais um nome da cena do blues a lutar
duro pra conquistar seu espaço. Até abraçar a carreira como músico, o então
motorista de caminhão passou, em 1999, a ser um cantor de soul e blues,
conseguindo abrir sua própria gravadora em 2009, a Jukehouse Records. Através
dela, Alabama Mike lançou dois discos e agora chega ao terceiro, com Upset The
Status Quo, que mostra um pouco das facetas de quem iniciou o contato com a
música no coral de Igreja, em Talladega, Alabama. Sonoramente, Upset The Status
Quo encontra-se na mistura do soul e do blues, com algumas músicas funcionando
mais do que as outras, no entanto.
Sem
dúvida, o grande destaque do disco inteiro é a própria canção que dá nome ao
álbum, “Upset The Status Quo”, ultrapassando os seis minutos de duração, com
sua sonoridade forte, intensa e uma letra incrível, criticando severamente a
manipulação midiática, estimulando o livre-pensamento exatamente para bater de
frente com o establishment, o poder constituído. Uma audácia incrível para o
blues. É uma alfinetada no “sonho americano”, no qual apenas alguns recebem uma
mixaria. Então, Mike conclama:
“Wake up! And Upset The Status Quo! / you got to break loose, people, and upset
the status quo / don’t you let nobody tell what to think anymore”. A
gaita dá um fôlego extra que segue até o final.
As
letras também abordam temas relacionados a vida moderna. Se na faixa de
abertura, uma das formas de manipulação e distração usadas pela classe
dominante eram as mídias sociais, em “Identity Theft”, com uma pegada bem mais
soul/funk, num estilo R&B e solos de metais, trata da problemática da
segurança na vida online, do roubo de identidades. Um dos grandes destaques é a
potência da voz de Alabama Mike, enfatizando as partes da letra mais
importantes. Um grande vocalista. Em
“Mississippi”, num formato mais de blues tradicional de Chicago, Mike exalta as
raízes da vida rural; “Think” mostra a mesma pegada R&B com uma forte linha
de baixo e solos de saxofone, junto com gritos estridentes de Mike; o slow
blues de “Can’t Stay Here Long”, sobre a volta saudosa para a casa em Alabama
por um curto tempo, lembra um pouco de Rolling Stones e é um dos grandes
momentos do álbum, possivelmente também o melhor vocal do disco. É a transitoriedade da vida: “the
places I used to go ain’t there no more / the people I used to know they’re not
around no more / just don’t feel like home no more”.
“Fight
For You Love” é bem intensa e rápida, dá vontade de pular e dançar durante
todos os seus sete minutos. A ironia e o
humor negro tomam conta em “Restraining Order”, mais uma focada no R&B.
“Rock Me In Your Arms”, tem uma sensação romântica dos anos 50, e é uma bela
balada blues-soul. “SSI Blues”, outro destaque e cujo ritmo lembra a clássica
“Walkin’ Blues”, é sobre a importância do programa social Supplemental Security
Income, um tipo de “Bolsa Família Blues”, para quem não tem renda e não pode
trabalhar, ao mesmo tempo que satiriza quem acha que o valor é muito alto e
mantém o beneficiário na mordomia, viajando pelo mundo. “I’m going to hire me a boat and sail around
the world, stop in Hong Kong and get me a China girl.” Também presente
no disco Unleashed, de 2013, do projeto The Hound Kings, do qual Alabama Mike
fez parte, os músicos da banda soam muito alinhados aqui. O álbum encaminha
para o final com “Somewhere Down The Line” e “God Is With You (Benediction)”,
esta última com Mike usando todo seu talento no soul construído nos corais de
Igreja.
Embora
por vezes o álbum peque por certa falta de equilíbrio entre as faixas, a
quantidade de destaques é bem superior às demais. Além disso, a qualidade
lírica e vocal que Alabama Mike impõe a algumas dessas faixas faz de Upset The
Status Quo um lançamento bastante interessante e que vale a pena ser conferido.
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