O dia oficial para o lançamento de Psychedelic Pill é somente 30 de outubro, mas Uncle Neil, que está cada vez mais se engajando nesse meio virtual, resolveu fazer hoje um stream completo do álbum duplo, além de um bate papo no qual ele respondia as perguntas que os fãs lhe enviavam pelo Twitter (@neilyoung), usando a hashtag #askneil. Psychedelic Pill é o segundo álbum que Neil Young lança este ano, juntamente com Crazy Horse e o primeiro com material original em quase dez anos. De acordo com as prévias que Neil disponibilizou nas últimas semanas, além de vídeos da turnê que ele está fazendo pela América do Norte, já poderíamos tirar algumas conclusões interessantes sobre o trabalho: a lenda está com muita vontade de tocar com seus companheiros de Crazy Horse e acredito que é isso que se resume Psychedelic Pill. O álbum está sendo lançado por mera convenção que se tem de colocar à venda no mercado de música e entretenimento, mas, com certeza, Neil e seus comparsas já estariam muito satisfeitos em tocar essas músicas no porão para eles mesmos. Mas, graças aos deuses do Rock – Neil Young, por sinal, é um deles – o álbum está lançado e nós podemos ouvi-lo quase sentido na nossa própria pele esse prazer que eles sentiram ao tocá-las.
De acordo com algumas músicas que já haviam sido conhecidas, como as épicas “Walk Like Giant” e “Ramada Inn”, ambas com dezesseis minutos de pura improvisação de solos de guitarra, uma das impressões mais firmes era de que dessa vez Neil Young não estava com pressa alguma. Certamente, a intenção dele é aproveitar para tirar o máximo da sua guitarra enquanto pode, fazê-la chorar, gritar, sangrar e tudo o mais o que quiser, leve quanto tempo levar. Mas, no mesmo instante em que se aperta play em Psychedelic Pill e a faixa de abertura “Driftin’ Back” começa a tocar, e nós vemos a sua duração, é que podemos colocar nossa mão no fogo sem dúvidas: Neil realmente não está com pressa. Isso porque ele nos leva em uma jornada que é surpreendente até mesmo para os seus parâmetros mais longos, nada menos do que vinte e sete minutos e trinta e sete segundos. É o tamanho de um álbum completo de muita banda por aí. E nesse intervalo, Neil começa com seu violão, calmamente, para depois plugar sua guitarra e então é exatamente aí que a viagem começa e não parece terminar nunca. Afinal, a sensação de “Driftin’ Back” é a presente em praticamente todo o disco, muita improvisação, muita diversão, intensidade, e a construção de um universo paralelo no qual tempo em si mesmo não significa nada. Na faixa seguinte, que dá título ao trabalho “Psychedelic Pill”, tem uma pegada bem forte, com um peso muito grande na guitarra e batidas firmes na bateria, além da voz cheia de efeitos de Neil, desenhando um tom psicodélico. Acho que uma das sacadas aqui de Neil Young foi fazer com que uma música com parâmetros normais de duração, no caso de “Psychedelic Pill”, dentre outras, com três minutos e pouco, pareça pequena demais em relação às demais, pois elas acabam em um piscar de olhos.
É nesse sentido que os dezesseis minutos de “Ramada Inn” são muito bem vindos e parecem ser o ideal. Nesse período, Neil fica à vontade de enveredar para onde quiser nos seus solos, além de contar a história e o quanto dela ele que quiser. Nesse caso, ele narra de um casal numa relação marcada pela luta entre a permanência do amor e problemas com a bebida. O primeiro disco finaliza com a autobiográfica “Born In Ontario”, que mostra um pouco da sua relação com sua cidade natal e as condições nas quais ele a deixou.
O segundo disco começa com “Twisted Road”, cheia de nostalgia, na qual ele presta homenagem às músicas que costumava ouvir antigamente, quando ele diz que “antigamente, a música acalmava minha alma, se eu chegar em casa, deixarei os bons tempos rolarem”. Solos épicos de guitarra continuam em “She’s Always Dancing”. Já na belíssima “For The Love of Man”, Neil escolhe uma abordagem calma e pacífica, contrastando com a violência desenfreada dos solos das músicas anteriores. Mas esse momento contemplativo de paz interior é temporário, já que dá lugar à gigante “Walk Like Giant” e seus sensacionais solos gigantescos, perdão pela repetição do adjetivo, mas é o que pareceu mais exato para a ocasião. Psychedelic Pill finaliza com uma versão alternativa para a faixa do mesmo título com poucas mudanças dignas de nota.
Psychedelic Pill é, literalmente, uma viagem e vai de encontro ao conceito de se escutar música no século XXI, no qual as pessoas sempre sem tempo e com muita pressa, preferem várias músicas curtas para acompanhá-las no caminho entre uma coisa e outra. É um álbum perfeito para se ouvir na estrada, no banco do passageiro, devaneando com o olhar através janela, pelas planícies, serras e plantações, enquanto o cavalo louco pisa no acelerador e deixa-se levar. Ou, como o próprio Uncle Neil respondeu hoje mais cedo para um fã que perguntou o que esperar do primeiro show de Neil & Crazy Horse: “bring oats and smell the horse”. Ou seja, traga aveia e cheire o cavalo.
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