O pernambucano Otto, depois de
quatorze anos, já se pode considerar dono de uma carreira solo consolidada e
contando com muito respeito. Desde o lançamento do disco de estréia Samba pra
Burro, em 1998, experimentando muito com o eletrônico, passando por uma fase de
transição com Condom Black, de 2001, que ainda apresenta um namoro com batidas
eletrônicos e Sem Gravidade, de 2003, mais puro, até finalmente sua obra prima
Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos, de 2009, álbum que Otto conseguiu
criar, depois de um fim de relacionamento traumático com a atriz Alessandra
Negrini, um conjunto de músicas mais sólidas e muito carregadas emocionalmente.
Em 2012, Otto ressurge com material inédito com o estranho título de The Moon
1111, que, além de continuar em algumas faixas a influência do brega e do rock
dos anos 60 e 70, apresenta também um pirão com tudo o que Otto nos discos
passados, acrescentando loucuras e bizarrices até o extremo da criatividade,
deixando-se levar totalmente sem amarras ou limites.
A primeira parte de The Moon 1111 começa da forma mais brega e apaixonante possível, com uma sequência em que as três músicas “Dia Claro”, “Ela Falava” e a regravação de “A Noite Mais Linda do Mundo”, de Odair José, exalam romantismo do primeiro segundo ao último. Independente se Otto ainda sente a separação de Negrini ou não, o que importa aqui é que ele gostou de sangrar e deixar o eu-lírico romântico tomar as rédeas de vez em quando. Em “Dia Claro” já dá pra notar um cuidado especial com os arranjos, com órgãos muito bem pensados e colocados nos momentos de recitações furiosas de Otto. Os teclados estão presentes já no início de “Ela Falava”, que é levada por um ritmo interessante e que chega a lembrar – por incrível que pareça – positivamente dos anos 80.
A partir da quarta faixa, “Exu
Parade”, começa a parte mais experimental de The Moon 1111, sobressaindo-se uma
orgia de sons e a poesia lírica e quase subconsciente de Otto. Nessa parte as
músicas também são bem mais percussivas. A faixa que dá título ao álbum “The
Moon 1111” é tem um clima quase místico, principalmente devido aos arranjos
psicodélicos inspirados em Pink Floyd, mistura de influências, e o refrão quase
como um cântico de ritual religioso africano.
Uma das características presentes
nos últimos trabalhos de Otto é o grande número de convidados e colaboradores e
em The Moon 1111 isso se repete desde a produção do disco, que ficou por conta
do colaborador de longa data Pupilo. Otto ainda conta com outros participantes
bem conhecidos, com Fernando Catatau, tocando guitarra, Luê Soares, que canta
em “Selvagens Olhos, nego!”, da atriz Tainá Muller, em “Ela Falava” e Lirinha,
cantando também na ótima “O que dirá o mundo”, um dos destaques do disco pela
sua orquestra bem produzida, dentre outros colaboradores. E para finalizar um
álbum tão imprevisível e estranho, Otto desafia o ouvinte na divertida “10 DP”,
que fala do desejo de fazer uma dupla penetração.
The Moon 1111 é um álbum
ambicioso de Otto, quase conceitual. Em alguns momentos chega a ser um pouco
difícil para o ouvinte e, muitas vezes, é dispensável o entendimento literal
das músicas. Em The Moon 1111 tudo é mais para o sonoro, para as sensações e ao
imaginário, à liberdade da mente para levá-lo aonde quiser, pelo caminho que
quiser e pelo modo que quiser.
Valeu! Fiquei muito feliz com o comentário e é uma motivação para continuar! Obrigado! E viva a boa música!
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