segunda-feira, 1 de março de 2021

Resenha Relâmpago - Veronica Lewis - You Ain't Unlucky

 Resenha Relâmpago

Veronica Lewis - You Ain't Unlucky




Já comentamos várias vezes o curioso fenômeno, relativamente comum no mundo do blues, de músicos iniciando suas carreiras de gravação já com idade avançada. Passam anos tocando em pequenos estabelecimentos locais, de forma quase anônima, trabalhando em vários empregos, tomando vários caminhos de vida, até que, por alguma razão, já no crepúsculo da vida, entram no estudo e lançam seu primeiro disco oficialmente. Apesar de ser muito interessante já iniciar a carreira com tanta experiência de vida - a grande essência do blues - esse fenômeno tem um lado negativo: há grandes chances de não se ter tempo de se construir uma carreira com muitos discos lançados. É o caso de Leo Welch, que iniciou a carreira musical aos 82 anos, em 2014, conseguiu lançar três álbuns antes de falecer em 2017.

Mencionei esse fenômeno para destacar o seu contrário, artistas muito jovens e promissores que já iniciam com tudo, cravando seus nomes no disputado cenário do blues. Um exemplo é Christone "Kingfish" Ingram, guitarrista do Mississippi que lançou o disco de estreia aos 21 anos e já se colocou entre os grandes do gênero. Também há um perigo: enquanto os mais maduros e experientes estão menos sujeitos às tentações do mercado comercial, essa sedução pode ser mais sensível para talentosos artistas buscando seu espaço e acabar migrando para influências do mundo pop.

Falei tanto, mas ainda não falei de Veronica Lewis, vencedora do último "Blues Artist of the Year" e que estreia com o lançamento do álbum You Ain't Unlucky aos incríveis dezessete anos. Com seis composições originais e dois covers, Lewis demonstra em todas elas seu grandioso talento como pianista e cantora. Diferente de Christone Ingram, que antes de lançar seu disco de estreia passou alguns anos construindo seu nome, Veronica Lewis tomou o mundo do blues de súbito. Resta aproveitarmos esse talento para torcer para que seja uma frutífera, longa e gloriosa carreira e que não ceda às tentações desse mundo fonográfico, em que muitas vezes um artista abre mão de quem é em nome.do sucesso.



terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Melhores Álbuns de 2020

Por todo o apoio e conforto espiritual, a trilha sonora para momentos difíceis - nas batalhas vencidas ou mesmo nas que infelizmente perdemos (perdi meu pai para o covid-19 - e in memoriam (foi tambémuma das vítimas do covid-19, aos 76 anos), o melhor disco do ano vai para Rev. John Wilkins, com o disco Trouble. 

Procure a playlist do FilhodoBlues-2020 no Spotify para ouvir os destaques de cada álbum. 






terça-feira, 24 de novembro de 2020

Resenha Relâmpago - Reverend John Wilkins

 


Resenha Relâmpago

Reverend John Wilkins - Trouble

Para épocas turbulentas, a música, em geral, é um alento para a alma. Mas não nos enganemos: algumas mais do que outras. E o disco Trouble, de Reverend John Wilkins, é desse tipo de música que toca fundo na alma, que mexe com as esperanças, decepções, espiritualidade, fé e faz com que cada tenha seu momento íntimo com seu Deus particular, não importa de qual religião você seja. 

Recorrendo, sobretudo, à tradição gospel e mesclando-a em alguns momentos com o blues, o reverendo nos transporta diretamente para sua igreja. Parece que ele quer contar para o mundo inteiro como sua congregação se diverte naquela reunião dominical na casa de Deus, como ele diz em "Down Home Church". 

Do início ao fim o disco é cheio de momentos mágicos, seja nas horas mais delicadas, como "Trouble", seja naquelas horas que a gente deposita toda a fé na vontade de Deus, como na incrível "You Can't Hurry God". A reflexão sobre as nossas próprias dificuldades e experiências de vida, os períodos tempestuosos e chuvosos, também são recorrentes, sempre com uma mensagem de esperança de que juntos, contando com algo inclusive mais forte que nós mesmos, poderemos superar esses momentos turbulentos.

E é essa mensagem que o mundo precisa ouvir nesse ano que passamos.é por isso que Trouble, de Reverend John Wilkins, é um verdadeiro alimento para a alma. Dos melhores. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Resenha Relâmpago - Rory Block - Prove It On Me

 


Resenha Relâmpago

Rory Bock - Prove It On Me

Rory Block é uma das cantoras mais empenhadas em preservar e homenagear a história do blues e suas grandes lendas. Sempre com seu estilo acústico, ela tem o hábito de lançar discos que fazem tributos a algum artista clássico do blues, foi o que ela chamou de "Mentor Series". Foi com essa fórmula que ela já prestou homenagens a Bessie Smith, Mississippi John Hurt, Skip James, Bukka White, Rev. Gary Davis, dentre outros. 

Em Prove It On Me, Block revisa nove faixas de grandes mulheres do blues, das menos conhecidas (Rosetta Howard,  Arizona Dranes) às mais famosas, como Ma Rainey e Memphis Minnie. O álbum é um ótimo representativo do universo feminino no blues, abrangendo temas religiosos e amorosos clássicos da tradição.

Mais uma bela contribuição de Rory Block para a preservação do legado cultural e musical do blues, dando luz a nomes já praticamente desconhecidos do grande público, sempre com a excelente qualidade musical já típica de sua carreira

domingo, 25 de outubro de 2020

Resenha Relâmpago - The Reverend Shawn Amos - Blue Sky

 


Resenha Relâmpago

The Reverend Shawn Amos - Blue Sky

O blog O Filho do Blues já acompanha o trabalho do cantor e compositor Reverend Shawn Amos desde o disco de estréia, The Reverend Shawn Amos Loves Tou, de 2015, e de lá para cá ele tem amadurecido cada vez mais. Esse amadurecimento é notório em Blue Sky, no qual é acompanhado pela banda The Brotherhood, que mostra um entrosamento e química muito grande durante todo o disco.

Apesar de ter diminuído no tom de faixas realmente de blues, pode-se perceber a presença do blues em todas as músicas, especialmente quando Amos faz a gaita gritar, sempre de forma inteligente, eficiente e sensível. 

Sem dúvida, Blue Sky se insere no catálogo de Reverend Shawn Amos não apenas como um passo adiante, mas também o coloca como um dos nomes mais interessantes e talentosos do cenário do blues contemporâneo. 

Destaques:

"Troubled Man"

"27 Dollars"

"Counting Down The Days"

"Keep the Faith, Have Some Fun"


@therevamos

sábado, 24 de outubro de 2020

Resenha Relâmpago - Tinsley Ellis - Ice Cream In Hell

 



Resenha Relâmpago: 

Tinsley Ellis - Ice Cream in Hell


Um grande guitarrista e expoente do blues rock, Tinsley Ellis oferece mais um bom trabalho, mantendo o nível do seu álbum anterior, Winning Hand, de 2018. 


Em Ice Cream in Hell é certeza de encontrar um trabalho incrível na guitarra - você se verá mais de uma vez fazendo a mesma careta que Ellis faz quando está fazendo mais um de seus solos intensos na guitarra. 


Álbum altamente indicado para quem é fã de blues rock e adora sair fazendo "air guitar" por aí. 


Destaques: 

"Foolin' Yourself"

"Hole in My Heart"

"Sit Tight Mama"


@tinsley.ellis

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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Resenha de Anthony Geraci - Daydreams In Blue

 


                As últimas semanas têm sido agitadas em termos de lançamentos.  São vários e gostaria de ter tempo pra fazer uma resenha de cada um, mas há aqueles que não podemos deixar passar e registrar aqui no blog, pois são imensas as chances de figurarem nas principais listas de fim de ano. O primeiro deles é o disco  Daydreams In Blue, do grande pianista Anthony Geraci, colecionador de vários prêmios do Blues Music Awards, dessa vez em colaboração com Dennis Brennan, que canta em várias faixas. Como é de costume, Anthony Geraci lança mão de um ótimo conjunto de instrumentistas, o que torna a banda completa e equilibrada, com cada um com espaço para mostrar seu respectivo talento. A banda tem uma ótima seção de instrumentos de sopro e a parte da guitarra fica a cargo de nada menos que Walter Trout e Monster Mike Welch. Tudo isso articulado pelo genial trabalho do próprio Geraci no piano e também canta em algumas músicas.  

                Originalmente integrante de grandes bandas no blues, como Sugar Ray & The Bluetones e Ronnie Earl and the Broadcasters, Anthony Geraci construiu para si uma poderosa carreira solo. Ele tem sido nomeado para o prestigioso prêmio Pinetop Perkins, para os pianistas, e seu último trabalho, Why Did You Have to Go, foi nomado também para várias categorias da maior premiação do mundo do blues. E na sua bagagem tem ainda experiências iniqualável de ter tocado com gente como Muddy Waters, B.B. King, Otis Rush, Chuck Berry, Big Mama Thornton, Big Joe Turner e Jimmy Rodgers.

                Todas as faixas tem seu brilho próprio, são dinâmicas, exaltando uma diversidade que faz com que o ouvinte não se canse nem se sinta entediado em nenhum momento do disco. A dobradinha inicial “Love Changes Everything” e “Tomorrow Never Comes” é de tirar o fôlego, você só fica sem saber no que celebrar mais, a guitarra, o teclado ou os instrumentos de sopro, sensação completada ainda com “No One Hears My Prayers”, com Trout fazendo um trabalho à parte na guitarra. A surpresa fica evidente porque elas nem são exatamente as melhores faixas do disco. Depois da dançante faixa que dá título ao álbum, começa uma sequência que conta com faixas focadas no Chicago Blues, como “Mister”, com um ótimo trabalho no piano e na gaita, no rock dos anos cinquenta que não deixa você parado, como em “Tutti Frutti Booty”, com uma velocidade incrível de Geraci no piano, e “Jelly, Jelly”, um blues quase jazz, lento e gostoso de ouvir, cheio de pequenos solos de piano.

                O álbum continua com “Dead Man’s Shoes” e “Hard to Say I Love You”, com um pé no jazz de New Orleans. Encaminhando para o final do disco ainda dá tempo de surpreender ainda com o blues tradicional de “Crazy Blues- Mississippi Woman”.

                O mercado não está entupido de grandes pianistas de blues tanto quanto grandes guitarristas e até mesmos gaitistas. Então, um disco tão completo e autêntico de piano blues como Daydreams In Blue é sempre uma delícia para se aproveitar sem moderação.