terça-feira, 12 de março de 2019

Resenha de Leo "Bud" Welch - The Angels In Heaven Done Signed My Name

   
         Quando Leo “Bud” Welch surgiu na cena do blues em 2014 com seu disco de estreia, Sabougla Voices, aos 82 anos, causou uma surpresa enorme, tanto pela sua vitalidade quanto pela de estranhesa de ter um disco de estreia com uma idade tão avançada. O fato é que Welch esteve ligado ao blues e ao gospel durante toda sua vida, tocando em igrejas e bares por horas seguidas. Na década de 50, chegou a abrir shows para figuras como B.B. King, Howlin’ Wolf, Elmore James, John Lee Hooker, só para citar alguns. Convidado por B.B. King para uma seção de gravação, Welch não pode comparecer por não ter dinheiro para pagar um quarto de hotel. Infelizmente, B.B. King também não pagou e perdemos o que poderia ter sido o início de uma promissora e bem-sucedida carreira no blues. 

            O fato é que a carreira de estúdio de “Bud” Welch deslanchou com Sabougla Voices, focando nas canções de gospel que ele tocou por tantos anos, numa roupagem crua de blues tradicional. Em 2015, o sacro virou profano com I Don’t Prefer No Blues. O impacto dos dois álbuns fez o bluesman octogenário que nunca havia deixado o Mississippi percorrer o país em turnês, viajando de avião pela primeira vez e tocando em renomados festivais de blues. 

Pouco antes de falecer, em 19 de dezembro de 2017, Leo “Bud” Welch fez uma última sessão de gravação, em Nashville, com Dan Auerbach. The Angels In Heaven Done Signed My Name é resultado dessa última gravação, depois de dar uns retoques finais às faixas gravadas com Welch. São dez faixas que capturam o espírito de um grande bluesman. O tema da morte, sempre visto pelo viés de um homem religioso e que vê a passagem como um encontro com Deus, é recorrente. Os destaques dentre elas são “I Know I’ve Been Changed”, “Don’t Let the Devil Ride”, claro, “I Wanna Die Easy”, “Let it Shine” e “Walk With Me Lord”. 

Enfim, The Angels In Heaven Done Signed My Name vem para engrandecer ainda mais o talento desse grande mestre na arte do blues, que, infelizmente, tivemos tão pouco tempo para desfrutar, mas que sua passagem está marcada por cada nota tocada e por cada verso cantado com energia e emoção autêntica no final de sua vida.