terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Leonard Cohen - Old Ideas



Aos 77 anos, o gênio de Leonard Cohen permanece intacto. Pelo menos é o que prova Old Ideas, primeiro lançamento com faixas inéditas desde Dear Heather, de 2004. Old Ideas não fica devendo em nada aos grandes clássicos de Cohen da década de sessenta e setenta, como Songs Of Leonard Cohen, de 1968, Songs of Love And Hate, de 1971, ou New Skin for the Old Ceremony, de 1974. Aqui, as canções estão temperadas dos melhores ingredientes possíveis, exatamente na medida certa. Se são tão memoráveis quanto as presentes nos clássicos antigos, somente o tempo irá dizer.



Como já era de se esperar, a voz de Leonard Cohen e suas letras é que dão o charme principal ao trabalho, cada faixa mostrando um exímio trabalho de poeta e compositor. Tudo isso é claro no decorrer de todo o disco, mas o combo das quatro faixas iniciais é quase surreal, começando com “Going Home”, onde Cohen satiriza a si mesmo, falando na terceira pessoa, “I love to speak with Leonard, he's a sportsman and a shepherd, he's a lazy bastard, living in a suit”, ou então como ele trata a morte “going home to where is better than before, going home without the costumes that i wore”. No final ainda tem um belíssimo cântico feminino da Webb Sisters repetindo o refrão, recurso muito bem utilizado em Old Ideas.



“Amen” é outra obra de arte, digna de já figurar entre os seus clássicos. A voz de Cohen vai soando faixa a faixa cada vez melhor. Espiritualidade, amor, perda, mortalidade, são todos temas muitas vezes já abordados por Cohen, e, novamente, com muito destaque em Old Ideas, mas ele sempre vê uma nova perspectiva. “Tell me again When I’m clean and I’m sober When I’ve seen through the horror Tell me over and over Tell me that you love me then Amen…”, ou seja, a o amor e até mesmo o divino só pode ser aceito ou recebido depois de ter visto o pior, que ainda conta com belos arranjos e solos no decorrer dos seus mais de sete minutos.

“Show Me The Place” é quase uma prece sombria ao desconhecido e com o tom da voz de Cohen fica ainda mais latente. “Darkness”, por sua vez, é quase recitada, acompanhado por uma banda completa, tocando meio blues, com delicados solinhos de piano e teclado por trás, enquanto ele começa a narrar “I caught the darkness, It was drinking from your cup.I said is this contagious? You said just drink it up”.



Após essas músicas, já sabe que está se deparando com um trabalho muito especial e ele não baixa a guarda. “Anyhow”, meio jazz, chegamos a ter pena do narrador, com a voz mais depressiva e sem força possível de Cohen. “I know it really is a pity The way you treat me now I know you can’t forgive me But forgive me anyhow”. Se fosse para citar poderiar citar a letra toda aqui. “Crazy To Love You”, só Cohen e o violão, segue a veia romântica, apaixonando-se pela pessoa errada. “Come Healing” é a única que não tem a mesma força das outras, mesmo com seus belos momentos, entre os duetos de Cohen e Dana Glover.

“Banjo” pega mais um country blues estilo Hank Willams e novamente belos backing vocals femininos. “Lullaby” é outro pico do disco, com uma balada com solos de gaita e a letra com belíssimas imagens poéticas, “The wind in the trees Is talking in tongues”. E para fechar este trabalho “Different Sides” é outra belíssima canção, tomando como assunto as dualidades da vida, o certo e o errado, o espiritual e carnal.

É muito raro um artista e compositor manter um nível de qualidade por tantos anos, normalmente vai perdendo aos poucos o vigor, mas aqui Leonard Cohen parece mais renovado do que nunca, um ótimo álbum de um precioso gênio é o que sempre devemos esperar dele.

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