Mostrando postagens com marcador Christone "Kingfish" Ingram. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Christone "Kingfish" Ingram. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Os vencedores do 41º Blues Music Awards



A noite de gala do mundo do blues foi bem diferente neste ano. Devido à pandemia do coronavírus, não tinha como fazer o evento de cinco horas de duração, tomado de gente, com apresentações ao vivo e tudo o mais. Como tem sido nesse período de distanciamento social, o 41º Blues Music Awards foi transmitido ao vivo pelas redes sociais e teve apresentações remotas de casa de vários artistas que ganharam destaque durante o ano passado.

O grande vencedor da noite foi o estreante Christone 'Kingfish' Ingram, que levou pra casa cinco prêmios, dentre eles o mais desejado álbum do ano, com o disco de estréia Kingfish (os outros prêmios foram Melhor álbum de artista jovem, melhor álbum de contemporary blues, e, individualmente, melhor guitarrista e melhor artista de blues contemporâneo. Nick Moss faturou dois troféus com o disco Lucky Guy! (banda do ano e melhor álbum de blues tradicional). Bobby Rush, que se recuperou recentemente da covid-19, também ganhou prêmios na noite. Confira a lista de vencedores completa abaixo:

Acoustic Album of the YearThis Guitar and TonightBob Margolin
Acoustic Artist of the YearDoug MacLeod
Album of the YearKingfishChristone Ingram
B.B King Entertainer of the YearSugaray Rayford
Band of the YearThe Nick Moss Band featuring Dennis Gruenling
Best Emerging Artist AlbumKingfishChristone Ingram
Contemporary Blues Album of the YearKingfishChristone Ingram
Contemporary Blues Female Artist of the YearShemekia Copeland
Contemporary Blues Male Artist of the YearChristone Ingram
Instrumentalist - BassMichael "Mudcat" Ward
Instrumentalist - DrumsCedric Burnside
Instrumentalist - GuitarChristone Ingram
Instrumentalist - HarmonicaRick Estrin
Instrumentalist - HornVanessa Collier
Instrumentalist - VocalsMavis Staples
Pinetop Perkins Piano PlayerVictor Wainwright
Koko Taylor Award (Traditional Blues Female)Sue Foley
Blues Rock Album of the YearMasterpieceAlbert Castiglia
Blues Rock Artist of the YearEric Gales
Song of the Year"Lucky Guy", Nick Moss
Soul Blues Album of the YearSitting on Top of the BluesBobby Rush
Soul Blues Female Artist of the YearBettye LaVette
Soul Blues Male Artist of the YearSugaray Rayford
Traditional Blues Album of the YearLucky Guy!The Nick Moss Band featuring Dennis Gruenling
Traditional Blues Male Artist of the YearJimmie Vaughan

sábado, 28 de dezembro de 2019

Melhores Álbuns de 2019

Esse ano foi um pouco atípico, pois tive que me dedicar a outros projetos e acabei deixando um pouco de lado a produção de resenhas sobre os discos. Todavia, não poderia deixar de compilar os melhores na já tradicional lista de Melhores Álbuns do Ano. O mundo, e sobretudo o Brasil, passa por um momento político conturbado. Por isso, o trabalho que resume melhor o ano é a obra-prima de Elza Soares, Planeta Fome.


1. Elza Soares - Planeta Fome
2. Mary Lane - Travelin' Woman
3. Chico César - O Amor é um Ato Revolucionário
4. Fruteland Jackson - Good as Your Last Dollar
5. Christone "Kingfish" Ingram - Kingfish
6. Bob Corritore & Friends - Do The Hip Shake Baby
7. The Cash Box Kings - Hail to the Kings!
8. Jimmy "Duck" Holmes - Cypress Grove
9. Walter Trout - Survivor Blues
10. Jontavious Willis - Spectacular Class
11. Willie Buck - Willie Buck Way
12. Tony Holiday - Porch Sessions
13. Gaye Adegbalola - The Griot
14. Piedmont Bluz - Ambassadors of Country Blues
15. John Clinfton - In The Middle of Nowhere
16. Watermelon Slim - Church of the Blues
17. Leo "Bud" Welch - The Angels In Heaven Done Signed My Name
18. Big Joe & The Dynaflows - Rockhouse Party
19. William Clarke - Heavy Hittin' West Coast Harp
20. Billy Branch & The Sons of Blues - Roots and Branches (}The Songs of Little Walter)
21. John Harp - How Can I Lose What I Never Had
22. Kenny "Beedy Eyes" Smith & The House Bumpers - Drop The Hammer
23. Nick Moss Band - Lucky Guy
24. John Primer - The Soul of a Bluesman
25. Rosie Flores - Simple Case of the Blues
26. Rockin' Johnny - Dos Hombres Wanted
27. Benny Turner - Going Back Home
28. Giles Robson - Don't Give up on the Blues
29. Big Creek Slim - First Born
30. John Dee Holeman - Last Pair of Shoes
31. Harpdog Brown - For Love & Money
32. Jazzmeia Horn - Love and Liberation
33. Mavis Staples - We Get By
34. North Mississippi Allstars - Up and Rolling
35. Little Joe McLerran - Month of Sundays
36. Annie & The Hedonists - Bring it on Home
37. John Mayall - Nobody Told Me
38. Vin Mott - Rogue Hunter
39. Bloodest Saxophone - Texas Queens 5
40. Leonardo Cohen - Thanks for the Dance
41. Li'l Chuck the One Man Skiffle Machine - Mono
42. Luther Dickinson - Solstice
43. Willie Farmer - The Man from the Hill
44. T. Guy - Tell Uncle John
45. Boo Boo Davis - Tree Man
46. Odair José - Hibernar na Casa das Moças
47. John Blues Boyd - Through My Eyes
48. Ronnie Earl - Beyond the Blue Door
49. Bobby Rush -  Sitting on the top of the Blues
50. Al Lerman - Northern Bayou
51. Keb' Mo' - Oklahoma
52. Lia de Itamaracá - Ciranda Sem Fim
53. Alexis P. Suter Band - Be Love
54. Mark Joseph - The Musician and the Muse
55. Shady Frank - Home
56. Bad Temper Joe - The Maddest of Them All

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Resenha de Christone "Kingfish" Ingram - Kingfish



                O blues não costuma ser muito generoso com os mais jovens. É muito mais comum vermos uma pessoa estreando a carreira com seus cinquenta, sessenta, setenta e até oitenta anos do que alguém muito jovem. Parece que a própria essência do blues exige essa maduridade da experiência, esse conhecimento da vida real, de saber lidar com as dores da vida e tratar delas por meio da música. É aí que Christone “Kingfish” Ingram, um jovem de 20 anos, surge para derrubar essa “teoria”. Ele nasceu em Clarksdale, no Mississippi, o berço do blues, próximo da plantação onde Muddy Waters passou a infância, bem como o cruzamento da highway 61 e 49, onde supostamente Robert Johnson bateu um papo e fez o pacto com o diabo. Pois bem, diferente de um jovem comum de sua idade, Kingfish não mostrou interesse pelo hip-hip ou rap. Ao contrário, desde cedo ele demonstrou grande interesse e habilidade para o blues, fazendo com que há alguns anos já carregasse o peso de ser o “futuro do blues”. A família dele cantava na Ingreja e a mãe é prima de uma lenda country, Charley Pride. Com seis anos, Ingram começou a tocar bateria e baixo. Aos 11 ele dominou rapidamente a guitarra e estreou nos palcos. Dentre os artistas com quem já diviu o palco estão nomes como Buddy Guy, Tedeschi Trucks Band, Robert Randolph, Guitar Shorty, Eric Gales e outros.


É com essa pressão que Christone “Kingfish” Ingram finalmente nos entrega seu tão aguardado álbum de estreia: Kingfish, produzido por Tom Hambridge, duas vezes vencedor do Grammy. Pode-se dizer que Kingfish lidou muito bem com a pressão e deu conta do recado. Seu álbum de estreia parece feito por um veterano, tranquilo por mostrar todas suas habilidades e passsar seu recado.

                Observando pela capa, podemos já perceber que Kingfish se apresenta como um guitarrista de blues. No álbum, Kingfish não é apenas um ótimo guitarrista, mas também um ótimo vocalista. O álbum decola com um poderoso blues-rock “Outside of This Town”, sobre o momento de sair da sua cidade em direção a coisas maiores. Na segunda faixa, “Fresh Out”, Kingfish é acompanhado na guitarra e no vocal por um dos seus maiores padrinhos musicais, Buddy Guy. A alternância de solos é dinâmica e muita rica. A maturidade e a tranquilidade da voz de Kingfish chega a impressionar, já que divide os vocais à vontade com gigantes do gênero e notáveis vocalistas, como o próprio Guy e Keb’ Mo’, como na faixa “Listen”.

                O álbum continua a todo vapor com mais um blues-rock, “It Ain’t Right” e, sem dúvida, os solos são um show à parte. Mas os pontos altos do disco são quando Kingfish dá um tom intimista e pessoal, aproveitando a curiosidade de ser um jovem de 20 anos tocando um gênero considerado “música de velho”. Ele fala dessa relação em em “Been Here Before”, só no violão e voz. Na letra, Kingfish dá tons míticos à sua história e fala sobre a sua “alma velha” que já andou peregrinando por aí.  A avó, como a voz da sabedoria, costumava dizer que ele já esteve ali antes. Em “If You Love Me” aparece um item que estava fazendo falta: a gaita, tocada por Billy Branch. Com a ajuda ainda de Keb’ Mo’ na guitarra, a música é um shuffle bem intenso.

                Dentre inúmeros destaques, “Love Ain’t My Favorite Word” com certeza se sobressai. Um slow blues incrível, cheio de solos de guitarra e uma letra comovente sobre como o amor é superestimado, com Kingfish já falando sobre suas desilusões amorosas. A influência de Buddy Guy fica evidente em “Before I’m Old” e “Believe These Blues”, onde inclusive Kingfish solta umas críticas sociais sobre enquanto a pobreza e a fome durar o blues nunca vai acabar. “Trouble” tem um ritmo bem interessante e diferente, entrecortado por solos de guitarra. Outra acústica “Hard Times”, com Keb’ Mo’ mais uma vez no violão, é outro grande momento. É curioso um jovem de 20 anos falando de “tempos ruins”, mas quando a gente pensa que vivemos em termos turbulentos e preocupantes, sabemos do que ele está falando. Ainda dá tempo para um solo de slide bem interessante. O álbum termina com “That’s Fine By Me”.

                Christone “Kingfish” Ingram certamente deixou de ser apenas uma promessa para ser uma realidade. O fato dele ser o futuro do blues só o tempo irá dizer. Ele tem todas as condições para isso. O perigo é ele ficar seduzido pelo mainstream e partir para mistura com outros estilos, não sendo nem uma coisa, nem outra. Uma grande promessa que foi para esse caminho foi Gary Clark Jr. Tomara que esse não seja o caso de Kingfish.