O blog O Filho do Blues já acompanha o trabalho do cantor e compositor Reverend Shawn Amos desde o disco de estréia, The Reverend Shawn Amos Loves Tou, de 2015, e de lá para cá ele tem amadurecido cada vez mais. Esse amadurecimento é notório em Blue Sky, no qual é acompanhado pela banda The Brotherhood, que mostra um entrosamento e química muito grande durante todo o disco.
Apesar de ter diminuído no tom de faixas realmente de blues, pode-se perceber a presença do blues em todas as músicas, especialmente quando Amos faz a gaita gritar, sempre de forma inteligente, eficiente e sensível.
Sem dúvida, Blue Sky se insere no catálogo de Reverend Shawn Amos não apenas como um passo adiante, mas também o coloca como um dos nomes mais interessantes e talentosos do cenário do blues contemporâneo.
As
últimas semanas têm sido agitadas em termos de lançamentos. São vários e gostaria de ter tempo pra fazer
uma resenha de cada um, mas há aqueles que não podemos deixar passar e
registrar aqui no blog, pois são imensas as chances de figurarem nas principais
listas de fim de ano. O primeiro deles é o disco Daydreams In Blue, do grande pianista Anthony
Geraci, colecionador de vários prêmios do Blues Music Awards, dessa vez em colaboração
com Dennis Brennan, que canta em várias faixas. Como é de costume, Anthony
Geraci lança mão de um ótimo conjunto de instrumentistas, o que torna a banda
completa e equilibrada, com cada um com espaço para mostrar seu respectivo
talento. A banda tem uma ótima seção de instrumentos de sopro e a parte da guitarra
fica a cargo de nada menos que Walter Trout e Monster Mike Welch. Tudo isso
articulado pelo genial trabalho do próprio Geraci no piano e também canta em
algumas músicas.
Originalmente
integrante de grandes bandas no blues, como Sugar Ray & The Bluetones e
Ronnie Earl and the Broadcasters, Anthony Geraci construiu para si uma poderosa
carreira solo. Ele tem sido nomeado para o prestigioso prêmio Pinetop Perkins,
para os pianistas, e seu último trabalho, Why Did You Have to Go, foi nomado
também para várias categorias da maior premiação do mundo do blues. E na sua
bagagem tem ainda experiências iniqualável de ter tocado com gente como Muddy
Waters, B.B. King, Otis Rush, Chuck Berry, Big Mama Thornton, Big Joe Turner e
Jimmy Rodgers.
Todas
as faixas tem seu brilho próprio, são dinâmicas, exaltando uma diversidade que
faz com que o ouvinte não se canse nem se sinta entediado em nenhum momento do
disco. A dobradinha inicial “Love Changes Everything” e “Tomorrow Never Comes”
é de tirar o fôlego, você só fica sem saber no que celebrar mais, a guitarra, o
teclado ou os instrumentos de sopro, sensação completada ainda com “No One
Hears My Prayers”, com Trout fazendo um trabalho à parte na guitarra. A
surpresa fica evidente porque elas nem são exatamente as melhores faixas do
disco. Depois da dançante faixa que dá título ao álbum, começa uma sequência
que conta com faixas focadas no Chicago Blues, como “Mister”, com um ótimo trabalho
no piano e na gaita, no rock dos anos cinquenta que não deixa você parado, como
em “Tutti Frutti Booty”, com uma velocidade incrível de Geraci no piano, e “Jelly,
Jelly”, um blues quase jazz, lento e gostoso de ouvir, cheio de pequenos solos
de piano.
O
álbum continua com “Dead Man’s Shoes” e “Hard to Say I Love You”, com um pé no
jazz de New Orleans. Encaminhando para o final do disco ainda dá tempo de
surpreender ainda com o blues tradicional de “Crazy Blues- Mississippi Woman”.
O
mercado não está entupido de grandes pianistas de blues tanto quanto grandes
guitarristas e até mesmos gaitistas. Então, um disco tão completo e autêntico
de piano blues como Daydreams In Blue é sempre uma delícia para se aproveitar
sem moderação.
Rawer Than Raw, lançado hoje, novo disco de Bobby Rush, é uma grande homenagem e um tributo ao blues clássico do Delta do Mississippi, uma mistura de músicas originais e regravações clássicas de lendas do blues como Howlin' Wolf, Muddy Waters, Elmore James, Skip James, dentre outros. O disco é a sequência do formato usado por Rush no álbum de 2007, Raw, que foi a primeira vez que gravou um disco todo acústico.
"If you want to get the real deal of the blues, get it from the bluesmen who are from Mississippi. Whether they migrated somewhere else like Chicago or Beverly Hills, if they are from Mississippi you can hear the deep roots of Mississippi in their stories", Bobby Rush falou sobre o blues de Mississippi.
Tudo isso gravado de forma crua e simples como o velho estilo do Delta. Aos 86 anos, Rush mostra vitalidade, experiência e sabedoria de uma vida dedicada ao gênero e ao berço do blues, o delta do Mississippi. Diferente de outras leituras feitas por artistas que sofreram a brutalidade e a violência do racismo nesse estado do sul dos Estados Unidos - Mississippi Goddam, de Nina Simone é um exemplo clássico dessa abordagem, ou J.B. Lenoir com "Down in Mississippi", Rush prefere focar no lado positivo e bucólico, como fica evidente na música ""Down In Mississippi", uma das faixas autorais. O disco vai além de ser apenas uma compilação de clássicos do blues, pois cada música possui uma carga de originalidade a partir da proposta que Rush traz no novo álbum. É o exemo de "Don't Start Me Talkin'", de Sonny Boy Williamson II, ou "Shake It For Me", do gigante Howlin' Wolf.
Totalmente indicado para os fãs de blues, sobretudo os que adoram o delta blues original
Imagine se
você tivesse tanto a linhagem do maior compositor de blues da história quanto a
experiência de ter aprendido tudo com ele próprio. O que você faria? Tentaria
outro caminho ou aproveitaria a bagagem biológica e cultural para manter a
tradição viva?
Esse é o caso de Alex Dixon, neto do grande e incomparável
Willie Dixon, sem dúvida o primeiro compositor profissional de clássicos de
blues – e o maior até hoje. Enraizado nas tradições orais da comunidade negra
no sul dos Estados Unidos, as músicas passavam de cantor para cantor, que
adicionavam um verso aqui, outro ali, tornando a noção de direitos autorais e
composição algo muito difícil de localizar. Mas Willie Dixon está diretamente
ligado à fase de ouro do blues dos anos 50, principalmente quando aliado a
Leonard Chess, um dos fundadores da Chess Records, que seria o epicentro de
gravações memoráveis do blues, em Chicago. Willie Dixon seria o compositor
oficial que criava e pensava músicas especialmente para seus intérpretes. Por exemplo, músicas como “Spoonful”,
“The Little Red Rooster”, “Back Door Man” foram feitas sob medida para um intérprete
com as características de Howlin’ Wolf, enquanto “Hoochie Coochie Man”, “The
Same Thing”, “I Just Want To Make Love to You”, “You Shook Me” se encaixam
perfeitamente com Muddy Waters, “My Babe” com Little Walter, “I Can’t Quit You
Baby”, com Otis Rush, “Bring it On Home”, com Sonny Boy Williamson e inúmeros
outros casos. Perceberam o nível das músicas? Pois bem, todas elas são
de Willie Dixon, músicas que foram reinterpretadas por bandas como Led
Zeppelin, Bob Dylan, The Doors, Rolling Stones, Cream, Eric Clapton, The Allman
Brothers e centenas de outros. Mas não estamos aqui para falar de Willie, mas
sim do seu neto, Alex Dixon, que acabou de lançar um disco do seu novo projeto,
Vintage Dixon, chamado The Real McCoy.
Assim como seu
avô, Alex Dixon também é baixista e compositor, mas também toca outros
instrumentos, como piano. Alex foi criado por seu avô e aprendeu muito com ele.
É esse legado da família que Alex quer homenagear com a nova banda Vintage
Dixon. A banda é formada por Lewis “Big Lew” Powell nos vocais, Alex no baixo
baixo, o filho de Carey Bell, Steve Bell, na gaita, Alvino Bennett na bateria e
Melvin Taylor e Gino Matteo nas guitarras. O disco The Real McCoy é composto
por sete músicas originais, escritas pelo próprio Alex, e quatro covers
conhecidas do catálogo de Willie Dixon.
Os destaques
ficam a cargo de “Nothing New Under The Sun”, um shuffle poderoso acompanhado
por “Spider In My Stew”, “My Greatest Desire” um blues mais lento cheio de
gaitas incríveis. Dentre as covers, as que mais se destacam são dos intérpretes
mais memoráveis de Willie, “Howlin’ for My Darlin”, gravada por Howlin’ Wolf, e
“I Want to Be Loved”.
Enfim, The
Real McCoy é puro Chicago Blues com um pé no passado e outro no presente.
Aproveitemos.
Quando
se fala em álbum instrumental a gente pensa logo em alguma big band ou algum
instrumentista extremamente virtuoso de jazz. O que pensar, então, de um disco
instrumental totalmente de blues? Bem, essa é a proposta do grupo 11 Guys
Quartet, que lançou o trabalho Small Blues and Grooves, um projeto que ficou
mais de dez anos na geladeira e que só veio à tona em 2020. Vamos falar
primeiro da banda. Há quase quarenta anos quatro caras se uniram e resolveram se
divertir tocando em bares na área de Boston. Eles misturavam rock e blues e
eram chamados de 11th Hour Blues Band. Esses caras eram Paul Lenart, na
guitarra, Bill “Coach” Mather, no baixo, Chuck Purro, na bateria, e Richard “Rosy”
Rosenblatt na gaita. Eles chegaram a gravar um disco em 1985, Hot Time In The
City Tonight. Avançando para 2008, o grupo se reuniu novamente no estúdio e
gravaram um monte de músicas instrumentais que eles tinham composto. O material
nunca chegou a tornar-se público... até hoje.
Pois
bem, vamos retomar a pergunta inicial: o que pensar de um disco instrumental
totalmente de blues? Os mais apressados poderiam achar que seria algo
repetitivo demais. Ledo engano. Tem slow blues, shuffle, boogie e muito mais. “Read
Trippin’”, que abre o disco, tem o DNA de Freddie King; “Sleepless” e “Down and
Dirty” são slow blues da melhor qualidade; “Swing Low” certamente fará você
querer dançar, etc.; Outros poderiam pensar que para dar certo precisaria de
mais elementos, para dar uma refinada maior no som. Erro crasso. É incrível
como o básico de guitarra/baixo/bateria/gaita consegue revisitar toda uma
variedade de estilos do blues de forma tão autêntica. Sem soar injusto com os
demais integrantes, pode-se afirmar que a gaita funciona como a verdadeira voz
do grupo, ditando o ritmo e a direção das emoções e sensações. Por essa razão,
esse álbum é especialmente indicado para quem é fã de gaita. Mas isso não
significa que não tenha algumas momentos inspiradores guiados pela guitarra,
como em “Four Maypops” e “Doggin’ It”.
Por
fim, Small Blues and Grooves é a trilha sonora perfeita pra aquele dia em que
você senta pra relaxar com os amigos, bater aquele papo e tomar aquela boa
cerveja gelada com um som ambiente agradável do início ao fim.
O
primeiro disco da enxurrada de que falei no post anterior finalmente saiu e já
podemos adiantar que cumpriu todas as promessas. John Primer e Bob Corritore,
pela terceira vez, fazem justiça à fama e à posição que conquistaram no mundo
do blues. John Primer, guitarrista e um dos maiores representantes
contemporâneos do Chicago Blues, que já tocou com Muddy Waters, Junior Wells e
Magic Slim, e Bob Corritore, o incansável especialista e super produtivo mestre
da gaita, seguem a fórmula de sucesso anterior e dividem as atenções no novo
disco, The Gypsy Woman Told Me, lançado hoje nas plataformas de stream. Além da
dupla, o álbum conta com uma lista de colaboradores de primeira: Billy Flynn,
Bob Welsh, Kid Andersen são apenas alguns desses nomes.
O
álbum é empolgante do início ao fim e o repertório também é incrível, mesclando
músicas novas, como “Little Bitty Woman” e “Walked So Long”, com versões a
maior parte delas tiradas do fundo do baú e desconhecidas, como a faixa que
abre o disco, “Keep-A-Driving”, de Chick Willis’ e “I Got The Same Blues”, de
J.J. Cale. Mas também tem Jimmy Reed, “Let’s Get Together” e Sonny Boy
Williamson, “My Imagination”, que serve perfeitamente para a gaita de Corritore
brilhar. Mas a mais conhecida certamente é a música que dá título ao álbum, “The
Gypsy Woman Told Me”, clássico de Muddy Waters. Tem músicas pra dançar batendo
com os pés no chão, tem músicas para ficar soprando o ar lentamente com a gaita
imaginária e também muitos temas já tradicionais no imaginário do blues, como o
errante jogador que perde tudo, em “Gambling Blues”, o solitário de coração
partido, o azarado, enfim, todos os ingredientes para compor um disco de blues
completo.
Normalmente,
um disco crava duas ou três músicas na playlist do Filho do Blues. Aqueles
discos que no final do ano vão brigar pelo topo da lista dos melhores do ano chegam
a levar umas cinco a seis faixas para a playlist. Bem, esse é o caso de The
Gypsy Woman Told Me, um disco para fazer vibrar tanto fãs novos quanto fãs mais
puristas de blues.
Por diversos
motivos, emocionais, artísticos/estéticos e políticos, o rock vem me
decepcionando nos últimos anos, sobretudo após a morte repentina de David
Bowie, o que pode não ter nada a ver, mas para mim foi um marco referencial. Para
agravar a situação, outras bandas que eram referências para mim foram
decepcionando a cada novo lançamento. Arcade Fire, Queens Of The Stone Age, são
só dois grandes exemplos dessas bandas que acabaram cedendo a tendências do
mundo pop e eletrônico, especialmente uma onda new-wave, que, ironicamente, era
bastante influenciada pelos experimentos de Bowie. Ao saber que Pearl Jam iria
lançar um novo álbum, o primeiro desde Lightning Bolt, de 2013, confesso que
fiquei receoso que a banda abriria mão do seu estilo clássico e cederia às
exigências do mundo fonográfico em busca de ampliar seu público. O mundo já não
seria mais o mesmo: David Bowie estava vivo e surpreendendo o mundo como
sempre, com o disco The Next Day, Arcade Fire lançava Reflektor, e Queens Of
The Stone Age completava o belo ano musical com ...Like a Clockwork. Por fim, esse
receio veio acompanhado de um calafrio ao ouvir o primeiro single de Gigaton,
nome do novo disco, “Dance of The Clairvoyants”, que reúne todos os elementos
que temia. Mas nada como um dia após o outro. Gigaton é um dos discos mais
ricos e interessantes da banda, que já tem em seu catálogo grandes clássicos
desde a década de 90.
A partir da
capa de Gigaton e através de suas músicas, percebe-se claramente a preocupação
de Pearl Jam com a política, em especial o tema do meio ambiente. A variedade
de sons é bem grande, mostrando a experiência e a riqueza do percurso em três
décadas de carreira. Tem as faixas mais pesadas, no estilo clássico, outras
mais experimentais e introspectivas, bem como acústicas.
O disco começa
com “Who Ever Said”, mostrando já de início toda a energia que a banda ainda
dispõe ao afirmar que ainda tem o que dizer, pois, como diz a letra, “quem
disse que tudo já foi dito abriu mão da satisfação”. A música também conta com
variações rítmicas bem interessantes. “Superblood Wolfmoon”, outra bastante
rápida e pesada, os riffs de guitarra estão bem definidos e acompanhados aqui
por um belo solo. Essa dupla inicial certamente agrada os fãs mais antigos, que
exigem muita guitarra e energia de Eddie Vedder. É porque o oposto vai
acontecer agora com a faixa seguinte, “Dance of The Clairvoyants”, a viagem da
banda pelo experimento new-wave.
Após o
delírio, uma rápida fuga, é o que se trata de “Quick Escape”, muito peso e
riffs novamente e uma letra pessimista sobre os caminhos que estamos tomando, cutucando
o presidente dos Estados Unidos, com a pessoa indo de um lugar para outro em
busca de um lugar onde Trump ainda não tinha fudido tudo. As coisas se acalmam
com a belíssima “Alright”, sobretudo num mundo onde a vida está cada vez mais
rápida, cobrando para vencermos sempre. Eddie Vedder diz na letra “tudo bem,
ficar sozinho, ficar quieto, dizer não, ser uma decepção na sua própria casa,
tudo bem desligar tudo, ignorar as regras do estado, é por você mesmo”.
“Seven O’Clock” é uma das melhores faixas de
Gigaton, tanto musicalmente quanto em relação à letra, e poderia muito bem colocá-la
na lista de melhores da banda. Uma letra fluindo rápido e sempre com novas
imagens e reflexões que clamam para que trabalharmos juntos para transformar
essa situação fudida em que nos achamos, sem tempo para depressão ou hesitação autoindulgente.
Na letra, várias indiretas para Trump e uma mensagem: “much to be done”.
Em “Never
Destination” e “Take The Long Way” o hard rock clássico da banda retorna com
satisfação. “Buckle Up” é bem leve e agradável e prepara caminho para a
extremamente emotiva “Comes Then Goes”, claramente uma homenagem ao amigo de
longa data da banda, Chris Cornell, que morreu em 2017. Só Eddie e o violão
exalando emoção. “Retrograde” e “Rivercross”, as quais falam com preocupação
sobre as mudanças climáticas, mantém o clima calmo e introspectivo e finalizam
o álbum.
Muito mais do
que ficar querendo colocar em que posição o novo disco vai ficar na carreira de
Pearl Jam, o melhor a fazer é comemorar que rock ’n’ roll com consciência e
propósito como esse ainda é feito hoje em dia, o que o torna muito mais
relevante do que muita coisa que vem sendo produzida ultimamente.
Elza Soares é um ícone da cultura
nacional, seja como símbolo feminino de resistência diante de uma vida cheia de
sofrimento e reveses, seja como uma das maiores intérpretes da música
brasileira. Desde cedo, Elza travou lutas típicas de uma mulher negra da
periferia, como a fome, violência doméstica e sexual, tendo sido mãe
precocemente, aos doze anos de idade, para logo em seguida padecer da maior dor
de todas: aos quinze anos, perdeu seu segundo filho que sucumbiu à fome.
Pois bem,
mesmo diante de todos os percalços, que fariam com que qualquer pessoa normal
pensasse duas vezes antes de continuar, Elza tentou a carreira musical,
inscrevendo-se no concurso de música do programa de Ary Barroso, na Rádio Tupi,
em 1953. O que se passou no programa tornou-se icônico para a biografia da
cantora. Maltrapilha e com jeito humilde de falar, Ary perguntou a ela: - “de
que planeta você veio?” Elza respondeu: - “Do mesmo planeta que o senhor, seu
Ary. Do Planeta Fome”.
Desde então,
muita coisa se passou. Elza Soares, a Mulher do Fim do Mundo, tornou-se um
ícone da nova geração, graças a parcerias exitosas que conectariam a
octogenária a um novo público. Essa nova guinada veio em 2015, com o aclamado A
Mulher do Fim do Mundo, primeiro álbum totalmente com músicas inéditas. O tom
altamente crítico, reflexivo e enérgico, teve continuidade com o trabalho Deus
é Mulher, de 2018. Agora, no topo de sua carreira, Elza Soares resgata o episódio
que se sucedeu 66 anos atrás no programa de Ary Barroso, lançando seu novo álbum,
Planeta Fome. Culminância dessa nova fase da carreira da cantora, Planeta Fome é
um trabalho ousado do início ao fim, que mostra uma Elza empoderada, destemida,
altiva diante de um tempo em que, como ela diz numa das letras, “lutar por seu
direito é um defeito que mata”. Aos 89 anos, ela dá uma tapa nos “revolucionários
Che Guevara de sofá” e é simplesmente uma – se não a maior – porta-voz da música
de protesto em relação à fase autoritária, fascista, racista, homofóbica, exclusiva
e assassina na qual o Brasil decidiu mergulhar de cabeça nos últimos anos. Ela
conseguiu absorver o zietgiest do Brasil contemporâneo, não somente num tom
pessimista, mas também dando impulso na continuidade da luta por um “Brasil do
Sonho”.
A posição de
Elza fica clara já pela capa do disco, assinada pela transexual e ativista LGBT
Laerte, traduzindo um pouco o tom caótico da nossa sociedade. A
diversidade de ritmos e sons também dá um aspecto fragmentado e caótico, que,
ainda assim, mantém a unidade conceitual que funciona perfeitamente do início
ao fim, ora mais intensa, ora mais calma.
A lapada
começa com “Libertação”, com participação de BayanaSystem e Virgínia Rodrigues.
Aqui Elza já dá seu recado: a Mulher do Fim do Mundo não vai sucumbir. “Menino”,
de composição da própria Elza, é um apelo empático aos jovens que passam
privação, mas que não se voltem contra o próximo para gerar mais violência. Só
assim para acabar com o ciclo que infelizmente muitos jovens estão inseridos e
que não conseguem se libertar.
A faixa
seguinte “Brasis” é uma das mais intensas. As referências nas letras são muitas
e parece que a cada vez que você ouve, percebe ainda algo novo. Fala sobretudo
do Brasil desigual, um que “é próspero” e do outro que “não muda”, um que “investe”
e outro que “suga”. Tem um Brasil que “soca” e outro que “apanha”. Ao mesmo tempo, esses diferentes Brasis pedem
a mesma coisa: no fim do ano estamos todos pedindo paz, saúde, trabalho e
dinheiro. O mais genial dessas letras críticas é que elas são verdadeiramente
nacionalistas e patrióticas. Exaltam o país, o seu povo, a sua diversidade, impulsiona
o Brasil pra frente, pra ficar de cabeça em pé, mas ele teima em ficar para
trás, cabisbaixo.
“Blá Blá Blá”
é uma das construções musicais mais interessantes e imprevisíveis, que, somada
a uma letra ácida, faz dela um dos pontos centrais do disco. É a história de
alguém que quer ficar, mas que só dão motivo para querer ir embora. Entre as
estrofes à machadadas, como diria Nietzsche, a vinheta de “Me Dê Motivo”, de
Tim Maia. É o Brasil à venda pelos patriotas, que vende, aluga e cede as terras
para a América do Norte – nomeadamente os Estados Unidos. É o Brasil que passa reformas que prejudicam os trabalhadores e os mais pobres, dizendo que se não o fizer o
país irá quebrar. É a ideologia no sentido marxista mais claro: as ideias da
classe dominante se impondo nas classes dominadas.
A força dessa
ideologia se torna ainda mais explícita na genial “Comportamento Geral”. Quando
vemos que esta é uma composição de Gonzaguinha, de 1973, percebemos a
intensidade dessa ideologia e que, na verdade, pouca coisa mudou. A letra fala
do cidadão comum, aquele que se sacrifica com um sorriso no rosto, o famoso
capitalista pobre, que “deve rezar pelo bem do patrão e esquecer que está
desempregado”. São cortes na educação, fim de direitos trabalhistas, fim da
aposentadoria, congelamento de salários, mas que “deve aprender a baixar a
cabeça e a dizer sempre muito obrigado”. Não é anacronismo. Essa era a
realidade do Brasil da década de setenta, em plena linha dura da ditadura. No
Brasil de 2019 seguimos a mesma linha, sendo que, pior, de forma mais
consentida. “Você merece”.
Mesmo quando
Elza deixa de lado claramente os temas políticos, as letras continuam a
traduzir a desordem, o caos e a contradição, como quando ela diz, na faixa “Tradição”,
para desconsiderar a razão, desobedecer o coração para descontinuar a tradição.
“E na bagunça dessa vida, se jogue em meio à confusão”. A acústica “Lírio Rosa”
parece perdia em meio a essa miscelânea, mas mostra o lado mais romântico de
Elza.
“Não tá mais
de graça” tem uma das letras mais impactantes, pois faz referência a uma outra
música de Elza Soares, “A Carne”, que diz que a carne negra é a mais barata do
mercado. Pois bem, agora mudou. Não, o negro geme ainda numa poça de sangue,
mas a diferença é que agora ela não está mais de graça, “o que não valia nada agora
vale uma tonelada, não tem bala perdida, tem seu nome, é bala autografada”.
Diante de um tempo em que políticos populistas de direita usam a violência
contra a população negra como forma de ganhar popularidade, agora a carne negra
vale uma tonelada. A polícia agora pode assinar a bala que mata, está autorizada.
Triste realidade. Como não cabe pessimismo em Elza, depois de citar Tupac,
Marielle Franco, Rosa Parks, para destravar a corrente e sair da foice, na
letra ela atesta: “Mas os pretos avançam, Wakanda forever yo!”
Ainda não nos recuperamos totalmente do golpe
e em seguida Elza nos manda outra música que representa o sonho daqueles que
querem um país melhor para todos. “País do Sonho” deveria se tornar um hino na
luta por esse novo país. Mais uma vez, o otimismo prevalece sobre a visão
sombria do momento atual do Brasil.
“Pequena
Memória Para um Tempo Sem Memória” é uma ode à resistência, principalmente àqueles “humilhados, ofendidos, explorados e oprimidos” que sucumbiram e que se
tornaram “sementes nesse chão”. É verdadeiramente uma “história a contrapelo”
no sentido de Walter Benjamin, a história dos vencidos. “E vamos à luta”
Em “Virei o
jogo” Elza Soares representa a filosofia nietzschiana na afirmação da vida,
mesmo diante da dor e da tragicidade da existência humana. “Se vem de não eu
vou de sim, afirmação até o fim” ou então “você é não sou um milhão de sins”. Nietzche
chegou a falar “o que não me mata me fortalece”. Já Elza Soares decretou: “Cara
feia pra mim me fortalece”. Para fechar, “Não Recomendado” trata do
obscurantismo, da censura provocada pelo fundamentalismo religioso, da
homofobia e transfobia.
Chega-se ao
fim de Planeta Fome meio que desnorteado, uma tontura, ainda tentando absorver
o impacto das pancadas. Infelizmente, numa época extrema de intolerância, na
qual as pessoas vivem confortavelmente nas suas bolhas das redes sociais, o
alcance da mensagem de Planeta Fome seja limitado, mas na verdade trata-se de
um clássico histórico, que ajudará aos brasileiros do futuro a entender nós,
brasileiros, podemos enveredar por caminhos perigosos e sombrios.
O
blues não costuma ser muito generoso com os mais jovens. É muito mais comum
vermos uma pessoa estreando a carreira com seus cinquenta, sessenta, setenta e até
oitenta anos do que alguém muito jovem. Parece que a própria essência do blues
exige essa maduridade da experiência, esse conhecimento da vida real, de saber
lidar com as dores da vida e tratar delas por meio da música. É aí que
Christone “Kingfish” Ingram, um jovem de 20 anos, surge para derrubar essa “teoria”.
Ele nasceu em Clarksdale, no Mississippi, o berço do blues, próximo da
plantação onde Muddy Waters passou a infância, bem como o cruzamento da highway
61 e 49, onde supostamente Robert Johnson bateu um papo e fez o pacto com o
diabo. Pois bem, diferente de um jovem comum de sua idade, Kingfish não mostrou
interesse pelo hip-hip ou rap. Ao contrário, desde cedo ele demonstrou grande
interesse e habilidade para o blues, fazendo com que há alguns anos já
carregasse o peso de ser o “futuro do blues”. A família dele cantava na Ingreja
e a mãe é prima de uma lenda country, Charley Pride. Com seis anos, Ingram
começou a tocar bateria e baixo. Aos 11 ele dominou rapidamente a guitarra e
estreou nos palcos. Dentre os artistas com quem já diviu o palco estão nomes como
Buddy Guy, Tedeschi Trucks Band, Robert Randolph, Guitar Shorty, Eric Gales e
outros.
É com essa
pressão que Christone “Kingfish” Ingram finalmente nos entrega seu tão aguardado
álbum de estreia: Kingfish, produzido por Tom Hambridge, duas vezes vencedor do
Grammy. Pode-se dizer que Kingfish lidou muito bem com a pressão e deu conta do
recado. Seu álbum de estreia parece feito por um veterano, tranquilo por
mostrar todas suas habilidades e passsar seu recado.
Observando
pela capa, podemos já perceber que Kingfish se apresenta como um guitarrista de
blues. No álbum, Kingfish não é apenas um ótimo guitarrista, mas também um
ótimo vocalista. O álbum decola com um poderoso blues-rock “Outside of This
Town”, sobre o momento de sair da sua cidade em direção a coisas maiores. Na
segunda faixa, “Fresh Out”, Kingfish é acompanhado na guitarra e no vocal por
um dos seus maiores padrinhos musicais, Buddy Guy. A alternância de solos é
dinâmica e muita rica. A maturidade e a tranquilidade da voz de Kingfish chega
a impressionar, já que divide os vocais à vontade com gigantes do gênero e
notáveis vocalistas, como o próprio Guy e Keb’ Mo’, como na faixa “Listen”.
O
álbum continua a todo vapor com mais um blues-rock, “It Ain’t Right” e, sem
dúvida, os solos são um show à parte. Mas os pontos altos do disco são quando
Kingfish dá um tom intimista e pessoal, aproveitando a curiosidade de ser um
jovem de 20 anos tocando um gênero considerado “música de velho”. Ele fala
dessa relação em em “Been Here Before”, só no violão e voz. Na letra, Kingfish dá
tons míticos à sua história e fala sobre a sua “alma velha” que já andou
peregrinando por aí. A avó, como a voz
da sabedoria, costumava dizer que ele já esteve ali antes. Em “If You Love Me”
aparece um item que estava fazendo falta: a gaita, tocada por Billy Branch. Com
a ajuda ainda de Keb’ Mo’ na guitarra, a música é um shuffle bem intenso.
Dentre
inúmeros destaques, “Love Ain’t My Favorite Word” com certeza se sobressai. Um
slow blues incrível, cheio de solos de guitarra e uma letra comovente sobre
como o amor é superestimado, com Kingfish já falando sobre suas desilusões
amorosas. A influência de Buddy Guy fica evidente em “Before I’m Old” e “Believe
These Blues”, onde inclusive Kingfish solta umas críticas sociais sobre
enquanto a pobreza e a fome durar o blues nunca vai acabar. “Trouble” tem um
ritmo bem interessante e diferente, entrecortado por solos de guitarra. Outra
acústica “Hard Times”, com Keb’ Mo’ mais uma vez no violão, é outro grande
momento. É curioso um jovem de 20 anos falando de “tempos ruins”, mas quando a gente
pensa que vivemos em termos turbulentos e preocupantes, sabemos do que ele está
falando. Ainda dá tempo para um solo de slide bem interessante. O álbum termina
com “That’s Fine By Me”.
Christone
“Kingfish” Ingram certamente deixou de ser apenas uma promessa para ser uma
realidade. O fato dele ser o futuro do blues só o tempo irá dizer. Ele tem todas
as condições para isso. O perigo é ele ficar seduzido pelo mainstream e partir
para mistura com outros estilos, não sendo nem uma coisa, nem outra. Uma grande
promessa que foi para esse caminho foi Gary Clark Jr. Tomara que esse não seja
o caso de Kingfish.
Só
o blues tem história como essa: artistas que começam sua carreira fonográfica
com a idade já bem avançada, mas que permaneceram anônimos por décadas, vivendo
uma vida comum, trabalhando de morrer durante o dia, passando por dificuldades,
sofrendo os baques da vida, levantando-se para tentar dar a volta por cima, até
cair de novo, e se levantar mais uma vez, enquanto isso busca se divertir para escapar da dureza da vida seja
apresentando sua música no bar – e ganhando um extra – ou se fortalecendo com
músicas na Igreja no domingo.Foi o caso
de Leo “Bud” Welch, octogenário, que surgiu em 2014 com álbuns que
mesclavamperfeitamente o blues e o
gospel, coisa que ele havia feito praticamente a vida toda no anonimato.
Infelizmente, casos assim, até pela própria brevidade da vida longeva, tem um
prazo de validade curto, e “Bud” Welch acabou partindo no final de 2017, mas,
felizmente, sentindo o gostoso sabor do reconhecimento e do sucesso, ainda que
tardio.
Agora
surge mais um desses achados tardios e preciosos. Atende pelo nome de Mary
Lane, uma veterana de 83 anos, que por mais de cinqüenta anos peregrina pela
cena em West Side, de Chicago, e lança agora um disco depois de 20 anos de sua
estréia, Travelin’ Woman, pela nova gravadora Woman of The Blues. Acompanhando
o disco, um documentário que conta a vida de Mary Lane, chamado I Can Only Be
Mary Lane, também será lançado. Ela é uma das últimas representantes do blues
original, aquele que saiu do sul segregado, fez a Grande Migração, foi para
Chicago, e lá dividiu o palco com outras lendas, como Elmore James, Magic Sam,
Junior Wells e ninguém menos do que Howlin’ Wolf. Lane nasceu em Clarendon, Arkansas, e cantou
por moedas nas esquinas de ruas, antes de iniciar sua carreira acompanhando
Robert Nighthawk.
Como para a
grande maioria das pessoas, a vida para Mary Lane foi dura. Nada foi fácil e
para conseguir qualquer coisa ela teve que dar o máximo de si. Persistiu, como estamos
sempre tentamos. Foi resiliente, pois foi obrigada a sê-lo. Continuou tentando,
mesmo quando muitos no seu caminho não acreditaram nela. Hoje, aos 83 anos, ela
lança um disco que já está cotado nos melhores discos de blues do ano. Segundo uma
entrevista para o site Chicago Blues Guide, ao ser perguntada o que esperava
alcançar com o disco, Lane foi direta e disse que esperava pelo menos conseguir
algum dinheiro. O entrevistado continua e pergunta o que ela acha de algumas
pessoas dizendo que ela pode ganhar um Grammy com esse disco. Mary Lane
simplesmente fala: “Eu não sei disso. Não ligo se ganhar um Grammy. Enquanto
estiver por aí e as pessoas estiverem comprando e colocado um dolar no meu
bolso, eu gosto disso”. Isso é o blues.
O disco é
incrível, assim como Mary Lane, que se a idade dela não tivesse sido revelada,
poderia passar por alguma vigorosa cantora de uns trinta e poucos anos. A banda
que a acompanha também está em ótima forma e faz um som bastante enérgico, com
solos de gaita e de guitarra para todos os lados. Em “Travelin’ Woman”, que dá o título ao
álbum, ela conta um pouco de sua história, carregada por ótimos solos de
guitarra. Logo em seguida, “Ain’t Gonna Cry No More”, um típico Chicago blues,
é entrecortada pelo piano de Chris “Hambone” Cameron e a gaita de Eddie Shaw. “Leave
That Wine Alone”, que conta os problemas da bebida na vida familiar, é bastante
animada e com um ritmo constante que dá pra passar a música inteira estalando
os dedos. Blues direto na veia segue com “Some People Say I’m Crazy”. Em “Raining
In My Heart” a voz de Lane fica mais suave e parece uma doce garoa caindo num
sábado à noite. Logo depois, o clima fica leve e relaxado na belíssima balada “Let
Me Into Your Heart”. Quem diria que a senhora que está cantando tem 83 anos?
Ninguém. Os destaques do disco continuam com “Ain’t Nobody Else”, com Billy
Branch na gaita e “Blues Give Me a Feeling”, também cheia de acompanhamentos de
gaita. Segundo Mary Lane, “if
you don’t dig the blues you have a hole in your soul”, é verdade. Em “Bad
Luck and Trouble” Lane fala sobre o tema clássico do blues. Por fim, Lane vira
acústica em “Make Up Your Mind”, arrasando do mesmo jeito.
É uma pena esse
talento ter ficado escondido por tanto tempo. De qualquer forma, Travelin’
Blues é um disco que não apenas coloca Mary Lane no mapa do blues mundial, mas
sim a coloca como uma gigante do blues. Exatamente o que ela merece.
Quando Leo “Bud”
Welch surgiu na cena do blues em 2014 com seu disco de estreia, Sabougla
Voices, aos 82 anos, causou uma surpresa enorme, tanto pela sua vitalidade
quanto pela de estranhesa de ter um disco de estreia com uma idade tão
avançada. O fato é que Welch esteve ligado ao blues e ao gospel durante toda
sua vida, tocando em igrejas e bares por horas seguidas. Na década de 50,
chegou a abrir shows para figuras como B.B. King, Howlin’ Wolf, Elmore James,
John Lee Hooker, só para citar alguns. Convidado por B.B. King para uma seção
de gravação, Welch não pode comparecer por não ter dinheiro para pagar um
quarto de hotel. Infelizmente, B.B. King também não pagou e perdemos o que
poderia ter sido o início de uma promissora e bem-sucedida carreira no blues.
O fato é que
a carreira de estúdio de “Bud” Welch deslanchou com Sabougla Voices, focando
nas canções de gospel que ele tocou por tantos anos, numa roupagem crua de
blues tradicional. Em 2015, o sacro virou profano com I Don’t Prefer No Blues. O
impacto dos dois álbuns fez o bluesman octogenário que nunca havia deixado o
Mississippi percorrer o país em turnês, viajando de avião pela primeira vez e
tocando em renomados festivais de blues.
Pouco antes de falecer, em 19 de
dezembro de 2017, Leo “Bud” Welch fez uma última sessão de gravação, em
Nashville, com Dan Auerbach. The Angels In Heaven Done Signed My Name é
resultado dessa última gravação, depois de dar uns retoques finais às faixas
gravadas com Welch. São dez faixas que capturam o espírito de um grande
bluesman. O tema da morte, sempre visto pelo viés de um homem religioso e que
vê a passagem como um encontro com Deus, é recorrente. Os destaques
dentre elas são “I Know I’ve Been Changed”, “Don’t Let the Devil Ride”, claro, “I
Wanna Die Easy”, “Let it Shine” e “Walk With Me Lord”.
Enfim, The Angels In Heaven Done
Signed My Name vem para engrandecer ainda mais o talento desse grande mestre na
arte do blues, que, infelizmente, tivemos tão pouco tempo para desfrutar, mas que
sua passagem está marcada por cada nota tocada e por cada verso cantado com
energia e emoção autêntica no final de sua vida.