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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Tributos a B.B. King, Lemmy Kilmister e David Bowie no Grammy Awards 2016



                2015 levou muita gente, isso é conhecimento de todos já. Seria impossível mencionar todos aqui sem correr o risco de esquecer-se de um ou outro injustamente. Alguns são simplesmente inesquecíveis. B. B. King, Lemmy Kilmister e David Bowie estão entre eles. O Grammy 2016 organizou uma série de tributos para celebrar suas vidas. A homenagem ao Rei do Blues, B. B. King, coube ao trio Chris Stapleton, Bonnie Raitt e Gary Clark Jr, que combinaram forças para uma versão do clássico “The Thrill Is Gone”. A dinâmica entre o trio ficou sensacional, a alternância de solos e vocais só abrilhantou mais a performance. Já Lemmy foi celebrado pela super banda Hollywood Vampires, formada por Alice Cooper, Johnny Depp, Duff McKagan e Joe Perry, que tocaram “As Bad As I Am”, da própria banda, e “Aces Of Spades”, de Motorhead. E para David Bowie, Lady Gaga realizou uma performance com um medley de músicas de Bowie muito bem produzida e cheio de efeitos especiais no palco.  Acredito que haveria inúmeros outros artistas mais gabaritados para a homenagem do que Lady Gaga, mas como o impacto que David Bowie produziu na música e na arte em geral não é limitado a estilos, com certeza foi um tributo digno e bastante especial para a própria Gaga, que visivelmente estava empolgada pela apresentação; foi uma homenagem muito honesta. O filho de David Bowie, Duncan Jones, parece não ter gostado muito. Confira as apresentações abaixo. Sobre as premiações, não tem tanto o que comentar a não ser o bem merecido vencedor de melhor álbum de Blues para Buddy Guy e constar que Muse ganhar o melhor álbum de rock é uma piada de muito mal gosto. 










quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Walter Trout homenagem B.B King com "Say Goodbye To The Blues"


A morte de B.B. King ressoa por todo o mundo da música, sem dúvida. Homenagens e dedicatórias  são frequentes e é bem provável que aconteça mais e mais. Buddy Guy dedicou uma bela faixa do seu novo álbum para o amigo. Outra homenagem de arrepiar para o velho Rei do Blues veio de Walter Trout, que deu um novo significado a uma antiga música sua, “Say Goodbye to The Blues”, do álbum Prisoner of a Dream, de 1991, cantando em homenagem a B. B. King. Vale a pena conferir repetidas vezes: 


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Resenha de Buddy Guy - Born To Play Guitar


                Sem dúvida, o ano de 2015 ficará marcado na história do blues e da música como o ano em que perdemos B.B. King, aos 89. O luto do blues, no entanto, será inegavelmente bem mais duradouro. Originalmente um estilo executado pela comunidade negra norte-americana e direcionado para a própria audiência negra no início do século XX, foi somente a partir da década de 60, especialmente impulsionado pela grande evidência dada ao blues pelas bandas britânicas, que o blues foi apresentado a um público mundial em escala mundial – e até certo ponto, apresentado para os brancos do próprio Estados Unidos. A partir daí, apesar de ter sido a base para inúmeros estilos da música popular, o blues foi perdendo tanto o público consumidor, seduzido pelos estilos mais modernos, quanto os seus grandes expoentes.  Fora os que já haviam partido até então, os gigantes lendários do blues foram caindo um a um: Sonny Boy Williamson II (1965), Mississippi John Hurt (1966), Little Walter (1968, Skip James (1969),  T. Bone Walker (75), Howlin’ Wolf (76), Muddy Waters (83), Lightnin’ Hopkins (82), Son House (88), Memphis Slim (88), Willie Dixon (92), John Lee Hooker (01), sem contar, claro, com vários outros. Então, em um cenário em que a renovação de grandes nomes no mainstream é difícil e com a perda inevitável dos ícones remanescentes, a morte de B. B. King foi muito sentida e lamentada, tanto pelo seu valor humano quanto pelo seu valor simbólico.

                É imerso nesse contexto que o mundo do blues e da música em geral recebe com grande entusiasmo o novo álbum de Buddy Guy, uma das últimas lendas vivas do blues, que acaba de completar 79 anos. Born To Play Guitar tem um duplo valor, igualmente importantes. O primeiro é o valor musical de mais um álbum na carreira desse grande guitarrista, que influenciou a vida de nomes como Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page, Rolling Stones, etc e que mais uma vez conta com várias participações de peso, tais como Billy Gibbons, da banda ZZ Top, Van Morrison, Eric Clapton (olha ele aí), Kim Wilson, da banda The Fabulous Thunderbird, e Joss Stone. O outro é o valor simbólico que pode estar contido na mensagem que se diz por essas terras tropicais: o blues está vivinho da Silva! Buddy Guy canta sobre o blues com a propriedade conferida de quem viveu para a música e toda a tradição desses nomes que já se foram está presente e pode ser sentida no disco. Além disso, ainda tem uma faixa especial para B.B. King, “Flesh & Bone”, cantada com Van Morrison, e uma emocionante homenagem a Muddy Waters, na música que fecha o álbum, “Come Back Muddy”. Buddy Guy já falou em entrevistas que o último recado dado por Muddy Waters, numa conversa pouco antes de falecer, foi um apelo bem claro: “keep the damn blues alive”. É a isso que Buddy Guy tem se dedicado desde então e Born To Play Guitar é uma declaração apaixonante de amor a um estilo de música, de vida, e, claro, ao instrumento a que está mais associado.


              A faixa que abre o álbum dá o tom autobiográfico que reaparece em vários outros momentos do disco. Começa com Buddy Guy acompanhado somente de sua guitarra, mas no decorrer da música vão sendo acrescidos o piano e a bateria. A letra narra sua ascensão, saindo de Louisiana para ser reconhecido no mundo todo por causa do blues e da sua guitarra. “Wear You Out” já é bem mais agressiva, um blues-rock com solos mais vibrantes e a voz rasgada do convidado Billy Gibbons. A parceria funcionou muito bem, Guy com sua voz mais limpa e Gibbons apresentando o outro lado.  “Back Up Mama” é outra que se destaca, com um estilo próximo ao Delta blues eletrificado de Chicago e uma letra que mostra a já clássica malícia sexual bastante presente na tradição do blues “i got a back up mama, if mama number one is not around”. Puro blues. Mais uma vez, Buddy Guy executa belos solos, que se alterna com solos de pianos. Em“Too Late” outro instrumento se insere na equação: Kim Wilson agrega sua intensa gaita e, sem dúvidas, torna o conjunto ainda mais compacto e poderoso, uma locomotiva a pleno vapor. As músicas do álbum inclusive estão mais concisas e curtas, diferentes de outros trabalhos de Guy nos quais algumas das faixas ultrapassam os sete minutos. Em Born To Play Guitar as mais longas ultrapassam pouco os cinco minutos, mas dá a sensação de que pouco ou quase nada deixou por dizer.



            “Whiskey, Beer & Wine” é mais dançante, um pouco funky, feita pra festejar, como o próprio nome sugere e relaxar e se ver livre das preocupações, pois, como Guy diz: “you can fix anything with whiskey, beer and wine”. Quem irá questionar o velho Guy nessa?  Ainda dá tempo para uma homenagem ao “good ol’ days”. Em “Kiss Me Quick”, Kim Wilson faz novamente um trabalho vigoroso na gaita. As duas faixas que contam com sua presença são as menores do disco, mas são talvez as mais intensas. “Crying Out of One Eye” apresenta um conjunto de metais, que deixa o clima mais soul. A letra é muito interessante, mostrando a falsidade do sofrimento, enquanto está rindo e saindo por aí. when you say goodbve you were only crying out of one eye”. Ótima imagem. “(Baby) You Got  What It Takes” é a vez do dueto de Buddy Guy e Joss Stone, com sua voz sensual.

Depois da sequência de participações, uma série de Buddy brilhando sozinho com sua guitarra. “Turn Me Wild” parece ter um tom biográfico em sua relação com o blues e a guitarra. “didn’t learn nothing from a book, no I never took a leason, when it comes to the blues I do my own kinda of messin’”. Ao invés de um garotinho que sempre andou na linha, o blues o deixou como um cachorro vira-lata procurando a toca do coelho. Em “Crazy World” Buddy Guy deixa um pouco de lado os temas mais tradicionais do blues, geralmente bem mais regional, para refletir a situação meio insana do mundo na atualidade, como violência, concentração de renda, fome, e outras das mazelas da sociedade global. É como o blues saísse do sul norte-americano para ver o seu reflexo também em esfera mundial. “Smarter Than I Was” tem um riff constante e a voz de Guy um tanto distorcida e gritantes solos de guitarra.



A parte final é um tributo ao blues, claro, e a dois gigantes do gênero. “Thick Like Mississippi Mud”, mais um dos grandes destaques álbum, já começa atestando uma das grandes verdades do blues: “good whiskey and women can drop you to your kness”. Os momentos mais emocionantes sem dúvidas ficam para as duas últimas faixas. “Flesh & Bone”, com a participação de Van Morrison, é dedicada a B. B. King, falecido em maio desse ano. Segundo Guy, a música já havia sido gravada quando ficou sabendo da morte do amigo. A letra, com a música no clima religioso, repleta de órgãos e corais, fala exatamente da mortalidade. “This life is more than flesh and bone / find out now before you gone / when you go your spirit lives on / this life is more than flesh and bone”, diz o refrão. Por fim, “Come Back Muddy” é uma tocante e sincera música saudosa de Muddy Waters, falecido em 1983. A delicada canção, acompanhada pelo violão e piano, mostra a falta que Waters faz tanto artisticamente (“come back Muddy, Lord knows you can’t be replaced”) quanto pessoalmente (“come back Muddy, man I sure miss your face”).

Born To Play Guitar não pode ser visto como mais um número no catálogo extenso e bem sucedido de Buddy Guy, vencedor de vários Grammys (provavelmente ganhará mais um agora). É muito mais do que isso; é maior do que o próprio Buddy Guy ou qualquer outro; é uma reafirmação não só de um gênero musical, da vida de um artista ou de um instrumento específico: é a reafirmação da contribuição e dedicação de todos os que vieram antes e já se foram, dos que ainda estão por aí e dos que ainda virão. Acima de tudo, é a constatação de que o blues está, sim, vivo pra caralho, viu Muddy (e todos os outros)? Podem descansar em paz.  


sexta-feira, 15 de maio de 2015

B.B. King morre aos 89 anos e faz show secreto hoje repleto de convidados especiais.



Quando você muda o curso de algo significante no mundo, como você deve estar na hora de partir? Quando você nasce como um "zé ninguém", invisível socialmente, numa plantação de algodão no extremamente violento e segregado sul dos Estados Unidos, regido pela lei do Jim Crow, colhendo algodão dia a dia para sustentar a si e a sua família e morre, 89 anos depois, como o "Rei do Blues", conhecido mundialmente? Você vai querer largar o osso? Ninguém vai. Por isso que o rei fazia questão de estar em cima de um palco enquanto tivesse saúde para isso. Infelizmente, não tem mais. E a tristeza de hoje é por isso. Não pela limitação da alma humana em toda sua magnitude. Mas pela limitação física e corporal, que fez deixar esse plano um dos últimos remanescentes da segunda geração legendária do blues.

B.B. King nos deixa o legado não só de sua música em quase 60 anos de carreira, seu estilo de tocar a sua guitarra Lucille, mas de sua própria vida. Dono de 16 Grammy’s, mais de 50 discos e clássicos que moldaram o rumo do blues e do rock, B. B. King parte hoje para ver sua obra sob um novo plano, uma nova perspectiva. E com certeza, onde quer que esteja, ele está observando sentado em cima de um palco, com vários convidados especiais ao seu lado, Lucille nos braços, e sorrindo. Orgulhoso.