Iniciaremos hoje a já tradicional
lista de Melhores Álbuns do Ano. Você verá que, pela primeira vez, o
protagonismo que antes era do rock/indie, representado sempre pelo grande
número de álbuns escolhidos na lista, foi compartilhado esse ano com o blues. Como
sempre, a lista reflete tudo de mais interessante que foi lançado e ouvido no
ano e mesmo que tenha sido um ano corrido, muitas vezes sem dispor de tempo
suficiente para escrever todas as resenhas que gostaria ter escrito, foi o
bastante para fechar a lista de 50 melhores álbuns. Com certeza, desde o início
da lista, em 2011, a lista de 2015 será a mais heterogênea de todas, já que
neste ano eu transitei mais confortavelmente por vários estilos. Não podia
deixar de recordar da morte do Rei do Blues, B. B. King, em 14 de maio, que sem
dúvida marcou profundamente o mundo musical em 2015. Então vamos parar de
enrolação e comecemos logo com a lista.
O Filho do Blues apresenta, por
fim, a vocês, a Lista de Melhores Álbuns de 2015:
40. Neil Young And Promise of the Real - The
Monsanto Years
O ano chegou ao fim com uma boa
notícia para os ativistas do meio ambiente. O acordo fechado na COP21, na
França, na última semana, traz momentos de esperança de que os líderes mundiais
realmente estão vendo a mudança climática como um problema sério. Um dos
ativistas mais ferrenhos e “chatos” nessa luta é o velho-jovem Neil Young, que
decidiu direcionar toda sua “chatice” e raiva para um único inimigo no álbum
The Monsanto Years: o agronegócio, alteração genética, e empresas como
Wal-Mart, Chevron, Citizens United e outras. Juntando-se a uma nova banda, a
Promise of The Real, musicalmente Neil Young viajou tanto pelo rock cru de
Crazy Horse quanto pelo folk melódico solo. Mas o que sobressai mesmo de
Monsanto Years é a mensagem e a relevância dessa mensagem para o mundo. É a
denúncia do sistema corporativo global, que compromete a democracia e os
sistemas políticos em nome dos interesses econômicos e a degradação do meio
ambiente. É Neil Young raivoso e mordaz.
41. Steve Earle – Terraplane
Não dá pra chamar Steve Earle
exatamente de um cantor de blues, mas em Terraplane é basicamente isso que ele
faz, mesclando um pouco ainda com outros gêneros da música americana. Mas
claramente o foco é o blues e Steve Earle, apoiado pela banda The Dukes,
consegue ser bem convincente nessa aventura musical.
42. Jackie Payne - I Saw The Blues
Jackie Payne tem moral suficiente
para dizer “I Saw The Blues”. E esse testemunho, de quem começou a cantar com
treze anos, é o que ele faz no novo álbum, com um blues refinado, cheio de
metais, e de qualidade, cheio de referências clássicas da temática do blues,
comofestas, bebidas, mulheres, etc.
Blues autêntico e de primeira.
43. Tinsley Ellis - Tough Love
Tinsley Ellis é mais um
guitarrista que dialoga com o pop/rock, R&B, soul e o blues, criando um som
profundamente enraizado na música americana. Cada música apresenta uma variação
interessante, dentre de um gênero específico. Um dos destaques sem dúvida é “Midnight
Ride”, um blues no qual Ellis mostra todo seu talento na guitarra.
44. Hans Theessink & Terry Evans - True
& Blue
Essa dupla fez um ótimo trabalho
em True & Blue, nos entregando um blues acústico e do Delta de primeira
qualidade, cheio de covers com versões bem diferentes das originais, como “Glory
Of Love”, “Bourgeois Blues”, “Maybellene”
e composições originais.
45. Sufjan Stevens - Carrie & Lowell
O novo album de Sufjan Stevens,
Carrie & Lowell, é emoção do início ao fim. Trata da relação familiar entre
Stevens e sua mãe, que faleceu em 2012 e com seu padrasto. As músicas, num folk
simples e melódico, conseguem representar um sentimento de amor, perda,
conflito, de uma relação conturbada, mas profunda. Um dos mais belos e genuínos
trabalhos do ano.
46. Shemekia Copeland - Outskirts
Of Love
A filha do guitarrista de blues
Johnny Copeland, Shemekia Copeland vem construindo independentemente uma
carreira sólida e com álbuns interessantes sem precisar se valer do nome que
carrega. Com uma voz poderosa, Shemekia viaja entre o soul, gospel e o blues de
forma natural como poucas. Outskirts of Love é mais um forte
registro dessa ótima cantora.
47. Belle & Sebastian - Girls in Peacetime Want to Dance
A cada novo
lançamento Belle And Sebastian dá mais um passo adiante no eletrônico e dance. Mas,
em Girls In Peacetime Want to Dance, a banda brilha exatamente quando se parece
mais com ela mesma, como na maravilhosa “Nobody’s Empire”.
48. Robben Ford - Into The Sun
Eclético álbum de Robbert Ford,
Into The Sun traz vários convidados especiais que transitam pelo blues, soul,
pop e rock. Um deles é Keb Mo’, que canta com Ford na faixa “Justified”
49. Bernard Allison - In The Mix
O filho de Luther Allison mostra
em alguns momentos de In The Mix que herdou no sangue o talento para a
guitarra. Entre covers, inclusive de seu pai, e originais, os melhores momentos
do álbum é quando ele deixa fluir todo esse talento no blues direto e sem
muitas maquiagens modernas, como “Set Me Free”.
50. The Decemberists - What A Terrible World
What A Beautiful World
Abrindo a lista com The
Decemberists, que, embora um pouco aquém do nível dos trabalhos anteriores,
ainda tem What a Terrible World What a Beautiful World ainda dispõe de alguns
traços épicos clássicos da banda, como em “This is Why We Fight”.
Não é muito comum falar aqui no blog sobre álbuns ao vivo, salvo raras exceções. We All Raise Our Voices to The Air, do The Demberists é uma delas. Marcando o aniversário de dez anos do primeiro lançamento da banda Castaways and Cutouts, o registro é um álbum duplo que passa por toda a interessantíssima carreira da banda, por todos seus principais estilos, desde o épico, ao folk, trazendo um equilíbrio ideal ao disco, assim como os trabalhos de estúdio.
Mesclando, principalmente, as faixas mais antigas com as do último lançamento da banda, The King Is Dead, do ano passado. Das 20 músicas, 12 são pré Hazards Of Love, que foi inclusive o álbum menos usado, só sendo tocada “The Rake’s Song”.
São vários os pontos altos do álbum, a começar pela faixa de abertura “The Infanta”, da qual o título do álbum foi tirado de um trecho da letra. As músicas mais épicas sempre foram minhas preferidas, e aqui, em seu registro ao vivo, ficam igualmente ótimas. “The Soldering Life” tem uma força ainda maior do que a versão do estúdio, com a voz aguda de Colin Meloy. “We Both Go Down Together” é uma das clássicas. Várias músicas do The King Is Dead já podem ser postas lado a lado com as clássicas e se impor. É o caso de “Rise To Me”, “Calamity Song” e “All Arise!”. Ao mesmo tempo, algumas não chegam a empolgar, como “Oceanside” e “Grace Cathedral Hill”.
Outros destaques ficam para as versões épicas de das três “The Crane Wife”, com seis dezesseis minutos, a que fecha o álbum, “I Was Meant For The Stage”, dez minutos e a clássica e obra prima “The Mariner’s Revenge Song”, contando com uma divertida conversa de Meloy com o público, que pede para fazerem o som da baleia, 12 minutos.
Como todo álbum ao vivo de uma boa banda, nunca dá para ter todas as músicas que deveria ter. Muitas ficaram de fora, mas no geral We All Raise Our Voices To The Air é o retrato de um gostoso e divertido show de uma grande banda.
Arcade Fire participou com duas faixas para a trilha sonora do filme Hunger Games (Jogos Vorazes, título brasileiro), que também conta com nomes como The Decemberists, Maron 5, dentre outros. O disco só será lançado no dia 20 de abril, mas o site Entertainment Weekly libertou a faixa principal do filme “Abraham’s Daughter”, do Arcade Fire. A outra contribuição da banda é “Horn of Plenty”.
Em entrevista para o Entertainment Weekly, Win Butler contou como foi a experiência. Ele disse que se inspirou no filme, que há um hino nacional para o fascista Capitol, e que eles tiraram como base e tentaram escrever algo assim. Butler também afirma que não é uma música pop, mas que estava mais para ser usada em eventos esportivos. Bem, música pop ou não, eu gostei. “Abraham’s Daughter” é uma marcha militar com a bela voz de Régine.
Também saiu a ótima participação de The Decemberists, com a faixa “One Engine”, no melhor estilo da banda.
Confira abaixo “Abraham’s Daughter” e “One Engine”, além do trailer do filme, que também parece ser muito bom:
Black Lips, e Arabia Moutain em especial, é um som para se divertir. Não tem muitas músicas ou letras introspectivas, sobre questões morais ou vida e morte. São aquelas letras sem lógica (como em “Spidey's Curse”), que combinadas ao som deles, ficam divertidíssimas. Em algumas dá até para dançar aquela dança dos anos sessenta tipo enxugando as costas com a toalha.
Claro que faz falta o art rock progressivo dos álbuns anteriores, mas em The King is Dead, The Decemerists está se divertindo mais confortavelmente do que nunca. E o melhor é que a diversão aqui é contagiosa.
Snow Patrol mostra em Fallen Empires que é uma banda crescida e com muito potencial e parece até agora não ter se perdido na carreira, como aconteceu, por exemplo, com Coldplay.
Bem mais modesto que o próprio, que quando perguntado sobre os melhores álbuns de 2011, simplesmente respondeu "I think I only like my record this year.", Several Shades of Why é de fato um grande álbum. Todos os ingredientes de Dinosaur Jr estão presentes no álbum, sendo que acústicos. A voz de J Mascis está tão despretensiosa, preguiçosa e relaxada como sempre esteve.
Suck it And See é um álbum claramente de uma banda evoluindo, querendo aprimorar o som, e que não se satisfaz com a mesmice. Apenas cinco anos após a estréia e Arctic Monkeys já está fazendo em alguns momentos sons inquietos e profundos.
Passemos agora para a fase do rock maduro, adulto, sério, mas ainda fazendo suas besteirinhas de quando em quando. Vou começar com o dueto de Manic Street Preachers com Nina Persson, cantando a faixa “Your Love Alone Is Not Enough” do álbum Send Away The Tigers, de 2007. Esse é um dos melhores duetos, a sintonia entre eles é simplesmente perfeita, e o decorrer da letra, das variações da música e da melodia, enfim, perfeita.
Agora é a vez da banda indie The Decemberists junto com Laura Veirs, através da divertida “Yankee Bayonet (I Will Be Home Then)”, do álbum The Crane Wife, de 2006., que conta o diálogo entre um soldado e sua garota. O ritmo da música é bem gostoso de ouvir e a interação entre os versos é muito bom.
A última é de uma banda que ela em si era um dueto. Jack White e Meg White, com o White Stripes, que infelizmente se separaram. Acontece que essa música não é um dueto, e sim um trio. Jack e Meg se juntaram com Holly Golightly, e após alguns shows como banda de abertura, os três se tornaram amigos e gravaram a faixa “It's True That We Love One Another”. Através das inúmeras lendas das hipóteses da relação entre eles, se eram casados, irmãos, amigos, eles brincam de um triângulo amoroso muito divertido entre declarações de amor de cada um. Confira
É com certo atraso que venho falar agora sobre o novo lançamento da banda The Decemberists, The King Is Dead, que saiu em janeiro deste ano. The King Is Dead é a seqüência do ótimo e ambicioso álbum conceitual The Hazards Of Love, de 2009, um dos melhores do catálogo da banda. Foi um dos trabalhos mais desafiadores de um grupo que já desafia bastante, fascinada por álbuns conceituais e composições épicas e imprevisíveis.
Em The King is Dead a banda resolve simplificar a equação, nada de conceitos, músicas interligadas por uma narrativa estranha, grandiosas composições épicas, nada disso. Colin Meloy, vocalista e líder da banda, resolve voltar às raízes dessa vez, fincando o som no folk, com um som calmo, agradável, cheio de canções melodiosas e confortáveis, que remetem um pouco aos primeiros trabalhos de Wilco, à fase mais folk de Neil Young e R.E.M. O álbum alterna entre os momentos mais animados como “Don’t Carry it All”, “Rox in The Box”, com tocantes baladas, como “January Hymn”. A faixa single do The King Is Dead, “Down By The Water”, é apenas mais uma das muitas que funcionarão muito bem ao vivo, com refrão marcante. “Rise To Me” é delicada, marcante, gostosa, bela e com uma melodia sensacional. “June Hymn” é uma balada country daquelas para se tocar no terraço da casa grande de sítio.
Claro que faz falta o art rock progressivo dos álbuns anteriores, mas em The King is Dead, The Decemerists está se divertindo mais confortavelmente do que nunca. E o melhor é que a diversão aqui é contagiosa.