Mostrando postagens com marcador Walter Trout. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Walter Trout. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Resenha de Anthony Geraci - Daydreams In Blue

 


                As últimas semanas têm sido agitadas em termos de lançamentos.  São vários e gostaria de ter tempo pra fazer uma resenha de cada um, mas há aqueles que não podemos deixar passar e registrar aqui no blog, pois são imensas as chances de figurarem nas principais listas de fim de ano. O primeiro deles é o disco  Daydreams In Blue, do grande pianista Anthony Geraci, colecionador de vários prêmios do Blues Music Awards, dessa vez em colaboração com Dennis Brennan, que canta em várias faixas. Como é de costume, Anthony Geraci lança mão de um ótimo conjunto de instrumentistas, o que torna a banda completa e equilibrada, com cada um com espaço para mostrar seu respectivo talento. A banda tem uma ótima seção de instrumentos de sopro e a parte da guitarra fica a cargo de nada menos que Walter Trout e Monster Mike Welch. Tudo isso articulado pelo genial trabalho do próprio Geraci no piano e também canta em algumas músicas.  

                Originalmente integrante de grandes bandas no blues, como Sugar Ray & The Bluetones e Ronnie Earl and the Broadcasters, Anthony Geraci construiu para si uma poderosa carreira solo. Ele tem sido nomeado para o prestigioso prêmio Pinetop Perkins, para os pianistas, e seu último trabalho, Why Did You Have to Go, foi nomado também para várias categorias da maior premiação do mundo do blues. E na sua bagagem tem ainda experiências iniqualável de ter tocado com gente como Muddy Waters, B.B. King, Otis Rush, Chuck Berry, Big Mama Thornton, Big Joe Turner e Jimmy Rodgers.

                Todas as faixas tem seu brilho próprio, são dinâmicas, exaltando uma diversidade que faz com que o ouvinte não se canse nem se sinta entediado em nenhum momento do disco. A dobradinha inicial “Love Changes Everything” e “Tomorrow Never Comes” é de tirar o fôlego, você só fica sem saber no que celebrar mais, a guitarra, o teclado ou os instrumentos de sopro, sensação completada ainda com “No One Hears My Prayers”, com Trout fazendo um trabalho à parte na guitarra. A surpresa fica evidente porque elas nem são exatamente as melhores faixas do disco. Depois da dançante faixa que dá título ao álbum, começa uma sequência que conta com faixas focadas no Chicago Blues, como “Mister”, com um ótimo trabalho no piano e na gaita, no rock dos anos cinquenta que não deixa você parado, como em “Tutti Frutti Booty”, com uma velocidade incrível de Geraci no piano, e “Jelly, Jelly”, um blues quase jazz, lento e gostoso de ouvir, cheio de pequenos solos de piano.

                O álbum continua com “Dead Man’s Shoes” e “Hard to Say I Love You”, com um pé no jazz de New Orleans. Encaminhando para o final do disco ainda dá tempo de surpreender ainda com o blues tradicional de “Crazy Blues- Mississippi Woman”.

                O mercado não está entupido de grandes pianistas de blues tanto quanto grandes guitarristas e até mesmos gaitistas. Então, um disco tão completo e autêntico de piano blues como Daydreams In Blue é sempre uma delícia para se aproveitar sem moderação. 


sábado, 28 de dezembro de 2019

Melhores Álbuns de 2019

Esse ano foi um pouco atípico, pois tive que me dedicar a outros projetos e acabei deixando um pouco de lado a produção de resenhas sobre os discos. Todavia, não poderia deixar de compilar os melhores na já tradicional lista de Melhores Álbuns do Ano. O mundo, e sobretudo o Brasil, passa por um momento político conturbado. Por isso, o trabalho que resume melhor o ano é a obra-prima de Elza Soares, Planeta Fome.


1. Elza Soares - Planeta Fome
2. Mary Lane - Travelin' Woman
3. Chico César - O Amor é um Ato Revolucionário
4. Fruteland Jackson - Good as Your Last Dollar
5. Christone "Kingfish" Ingram - Kingfish
6. Bob Corritore & Friends - Do The Hip Shake Baby
7. The Cash Box Kings - Hail to the Kings!
8. Jimmy "Duck" Holmes - Cypress Grove
9. Walter Trout - Survivor Blues
10. Jontavious Willis - Spectacular Class
11. Willie Buck - Willie Buck Way
12. Tony Holiday - Porch Sessions
13. Gaye Adegbalola - The Griot
14. Piedmont Bluz - Ambassadors of Country Blues
15. John Clinfton - In The Middle of Nowhere
16. Watermelon Slim - Church of the Blues
17. Leo "Bud" Welch - The Angels In Heaven Done Signed My Name
18. Big Joe & The Dynaflows - Rockhouse Party
19. William Clarke - Heavy Hittin' West Coast Harp
20. Billy Branch & The Sons of Blues - Roots and Branches (}The Songs of Little Walter)
21. John Harp - How Can I Lose What I Never Had
22. Kenny "Beedy Eyes" Smith & The House Bumpers - Drop The Hammer
23. Nick Moss Band - Lucky Guy
24. John Primer - The Soul of a Bluesman
25. Rosie Flores - Simple Case of the Blues
26. Rockin' Johnny - Dos Hombres Wanted
27. Benny Turner - Going Back Home
28. Giles Robson - Don't Give up on the Blues
29. Big Creek Slim - First Born
30. John Dee Holeman - Last Pair of Shoes
31. Harpdog Brown - For Love & Money
32. Jazzmeia Horn - Love and Liberation
33. Mavis Staples - We Get By
34. North Mississippi Allstars - Up and Rolling
35. Little Joe McLerran - Month of Sundays
36. Annie & The Hedonists - Bring it on Home
37. John Mayall - Nobody Told Me
38. Vin Mott - Rogue Hunter
39. Bloodest Saxophone - Texas Queens 5
40. Leonardo Cohen - Thanks for the Dance
41. Li'l Chuck the One Man Skiffle Machine - Mono
42. Luther Dickinson - Solstice
43. Willie Farmer - The Man from the Hill
44. T. Guy - Tell Uncle John
45. Boo Boo Davis - Tree Man
46. Odair José - Hibernar na Casa das Moças
47. John Blues Boyd - Through My Eyes
48. Ronnie Earl - Beyond the Blue Door
49. Bobby Rush -  Sitting on the top of the Blues
50. Al Lerman - Northern Bayou
51. Keb' Mo' - Oklahoma
52. Lia de Itamaracá - Ciranda Sem Fim
53. Alexis P. Suter Band - Be Love
54. Mark Joseph - The Musician and the Muse
55. Shady Frank - Home
56. Bad Temper Joe - The Maddest of Them All

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Resenha de Walter Trout - Survivor Blues




O lançamento de um novo álbum do guitarrista Walter Trout é sempre um evento para se marcar na agenda e esperar ansiosamente. Dono de uma discografia de dar inveja a muitos guitarristas renomados por aí, Trout não se cansa e procura sempre cravar mais a fundo seu nome no hall dos gigantes do gênero do blues rock com seu novo disco, Survivor Blues. Walter Trout procura um conceito que irá guiar todo o trabalho e como não podia ser diferente, em Survivor Blues o sentimento que motivou Trout e a banda foi resgatar músicas de blues menos conhecidas e rearranjá-las e trazê-las novamente para a superfície. Portanto, Survivor Blues não é um mero álbum de covers, mas sim um disco de raridades. Eu, pessoalmente, conhecia apenas duas músicas das doze faixas. "God's Word", de J. B. Lenoir, e "Please Love Me", de B.B. King.



O disco tem início com “Me, My Guitar and the Blues”, de Jimmy Dawkins, é um slow blues em que Trout deixa sua marca em solos incríveis na guitarra e intensidade no vocal. O resgate de músicas antigas não foi desconectada da realidade, pois a segunda faixa “Be Careful How You Vote” parece atemporal, pois funciona para qualquer época, e cai como uma luva para os tempos atuais, um chamado para a responsabilidade na hora de votar. “Sadie”, de Hound Dog Taylor, recebe um ritmo bem interessante e em seguida "Please Love Me" do saudoso B.B. King recebe uma versao acelerada e intensa. A visionária "Nature's Disappearing", do mestre  John Mayall, de 1970, mostra um tema extremamente relevante do meio ambiente e mudanças climáticas. "Something Inside of Me", de Elmore James, é outro grande destaque do disco, com amplo espaço para Trout destilar toda sua habilidade na guitarra. Em "Going Down to the River", Trout dá um tratamento do blues elétrico ao Delta blues de Mississippi Fred McDowell. Para finalizar, uma versão digna de "God's Word", de J. B. Lenoir.

            A inspiração para o álbum surgiu enquanto Trout estava dirigindo e colocou no rádio uma estação de blues que apareceu uma banda tocando "Got My Mojo Workin'". E então ele pensou consigo mesmo: "o mundo precisa de mais uma versão dessa música, tantas e tantas vezes regravadas?" Pois bem, com Survivor Blues, Trout escolhe a dedo aquelas que valem a pena serem redescobertas.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Os indicados para o 39º Blues Music Awards





                Foram divulgados os indicados ao 39º Blues Music Awards, maior prêmio do blues, organizado pela Blues Foundation e que representa uma coleção dos artistas que mais se destacaram e representaram a diversidade e o espírito do blues. A cerimônia do 39th Annual Blues Music Awards acontecerá em 10 de Maio de 2018. Grande parte dos indicados consta também nas listas de melhores do ano do Filho do Blues, mas senti falta de alguns, como Eric Bibb, Rev. Sekou, Van Morrison, por exemplo. A novidade é a criação de mais dois prêmios: o artista do ano do Blues Rock e os melhores vocalistas do ano. Segue abaixo a lista completa:

39th Blues Music Award Nominees

Acoustic Album of the Year

Catfish Keith – Mississippi River Blues
Doug MacLeod – Break the Chain
Guy Davis & Fabrizio Poggi – Sonny & Brownie’s Last Train
Harrison Kennedy – Who U Tellin’?
Mitch Woods – Friends Along The Way
Rory Block – Keepin’ Outta Trouble

Acoustic Artist

Doug McLeod
Guy Davis
Harrison Kennedy
Rory Block
Taj Mahal

Album of the Year

Don Bryant – Don’t Give Up on Love
Monster Mike Welch and Mike Ledbetter – Right Place, Right Time
Rick Estrin & The Nightcats – Groovin’ In Greaseland
TajMo – TajMo
Wee Willie Walker & The Anthony Paule Soul Orchestra – After a While

Band of the Year

The Cash Box Kings
Monster Mike Welch and Mike Ledbetter
Nick Moss Band
North Mississippi Allstars
Rick Estrin & the Nightcats

 B.B. King Entertainer of the Year

Bobby Rush
Michael Ledbetter
Rick Estrin
Sugaray Rayford
Taj Mahal

Best Emerging Artist Album

Altered Five Blues Band – Charmed & Dangerous
Larkin Poe – Peach
Miss Freddye – Lady of the Blues
R.L. Boyce – Roll and Tumble
Southern Avenue – Southern Avenue
Tas Cru – Simmered & Stewed

Contemporary Blues Album of the Year

Beth Hart – Fire on the Floor
Corey Dennison Band – Night After Night
Ronnie Baker Brooks – Times Have Changed
Selwyn Birchwood – Pick Your Poison
TajMo – TajMo

Contemporary Blues Female Artist

Beth Hart
Karen Lovely
Samantha Fish
Shemekia Copeland
Vanessa Collier

Contemporary Blues Male Artist

Keb’ Mo’
Michael Ledbetter
Ronnie Baker Brooks
Selwyn Birchwood
Toronzo Cannon

 Historical Album of the Year

Jimmy Reed, Mr. Luck: The Complete Vee-Jay Singles – Craft Recordings
John Lee Hooker, King of the Boogie – Craft Recordings
Luther Allison, A Legend Never Dies – Ruf Records
The Paul deLay Band, Live at Notodden ’97 – Little Village Foundation
Various, American Epic: The Collection – Sony Legacy

Instrumental-Bass

Benny Turner
Bob Stroger
Larry Fulcher
Michael “Mudcat” Ward
Patrick Rynn

Instrumentalist-Drums

Jimi Bott
June Core
Kenny Smith
Tom Hambridge
Tony Braunagel

 Instrumentalist-Guitar

Anson Funderburgh
Chris Cain
Christoffer “Kid” Andersen
Monster Mike Welch
Ronnie Earl

Instrumentalist-Harmonica

Billy Branch
Dennis Gruenling
Jason Ricci
Kim Wilson
Rick Estrin

 Instrumentalist-Horn

Al Basile
Jimmy Carpenter
Nancy Wright
Trombone Shorty
Vanessa Collier

 Instrumentalist- Pinetop Perkins Piano Player

Anthony Geraci
Henry Gray
Jim Pugh
Mitch Woods
Victor Wainwright

 Instrumentalist – Vocals

Beth Hart
Don Bryant
John Németh
Michael Ledbetter
Sugaray Rayford
Wee Willie Walker

Koko Taylor Award (Traditional Blues Female)

Annika Chambers
Diunna Greenleaf
Janiva Magness
Miss Freddye
Ruthie Foster

Rock Blues Album of the Year

Kenny Wayne Shepherd Band – Lay It On Down
Mike Zito – Make Blues Not War
North Mississippi Allstars – Prayer for Peace
Savoy Brown – Witchy Feelin’
Walter Trout – We’re All In This Together

Rock Blues Artist

Eric Gales
Jason Ricci
Kenny Wayne Shepherd
Mike Zito
Walter Trout

Song of the Year

“The Blues Ain’t Going Nowhere” – written by Rick Estrin
“Don’t Give Up On Love” – written by Scott Bomar and Don Bryant
“Don’t Leave Me Here” – written by Kevin R. Moore, Taj Mahal, and Gary Nicholson
“Hate Take a Holiday” – written by Willie Walker, Anthony Paule, and Ernie Williams
“Prayer for Peace” – written by Luther Dickinson, Cody Dickinson, and Oteil Burbridge

Soul Blues Album of the Year

Don Bryant – Don’t Give Up on Love
Johnny Rawls – Waiting for the Train
Robert Cray & Hi Rhythm – Robert Cray & Hi Rhythm
Sugaray Rayford – The World That We Live In
Wee Willie Walker & The Anthony Paule Soul Orchestra – After a While

Soul Blues Female Artist

Bettye LaVette
Denise LaSalle
Mavis Staples
Trudy Lynn
Vaneese Thomas

Soul Blues Male Artist

Curtis Salgado
Don Bryant
Johnny Rawls
Sugaray Rayford
William Bell
Wee Willie Walker

  Traditional Blues Album of the Year

The Cash Box Kings – Royal Mint
Elvin Bishop’s Big Fun Trio – Elvin Bishop’s Big Fun Trio
Kim Wilson – Blues and Boogie Vol. 1
Monster Mike Welch and Mike Ledbetter – Right Place, Right Time
Rick Estrin & The Nightcats – Groovin’ In Greaseland
Various Artists – Howlin’ At Greaseland

Traditional Blues Female Artist

Annika Chambers
Diunna Greenleaf
Janiva Magness
Miss Freddye
Ruthie Foster

 Traditional Blues Male Artist

John Primer
Kim Wilson
Lurrie Bell
R.L. Boyce
Rick Estrin

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Melhores Álbuns de 2017 - Parte V



01. Guy Davis & Fabrizio Poggi - Sonny & Brownie's Last Train



 Guy Davis está entre os mais renomados cantores do blues da nova geração que surgiu para dar um novo fôlego ao gênero a partir da década de 90. Cantor versátil e bastante produtivo, Guy Davis conta com um respeitável catálogo, que abrange desde clássicos recentes, como You Don’t Know My Mind, de 1998, e Butt Naked Free, de 2000, até álbuns puramente conceituais, como o interessante The Adventures of Fishy Waters, de 2012. Para o seu novo projeto, Davis se juntou com o gaitista italiano Fabrizio Poggi, que tem também uma carreira tão longa quando a de Davis, no entanto não dispõe de tanta inserção no cenário mundial. Nesse projeto colaborativo, a dupla decide homenagear aqueles que provavelmente são a dupla mais lendária de toda a história do blues: Sonny Terry (1911-1986) e Brownie McGhee (1915-1996). Os dois se completavam de tal modo, Sonny na gaita e com seus “woooh” inconfundíveis, e Brownie com sua voz profunda e inabalável e a seu dedilhado no violão.  Essa dupla fez um dos sons mais incríveis do século XX, levando o blues rural e inclusive as técnicas do blues a novos patamares. Pois bem, é para homenagear esses dois grandes cantores da história do blues que juntou Guy Davis e Fabrizio Poggi no projeto intitulado Sonny & Brownie’s Last Train: A Look Back At Brownie McGhee and Sonny Terry, lançado esse no final de março. Ambos foram profundamente influenciados pelo estilo de gaita chamado Piedmont, do qual Sonny e Brownie foram precursores.

                Qualquer álbum que tem como intuito ser um tributo tem de enfrentar necessariamente dois dilemas: o primeiro se trata da escolha das faixas. O segundo dilema é como essas músicas vão ser executadas; se respeitando as versões originais ou reinventando-as e dando novas roupagens. Não existe uma fórmula pronta para álbuns assim, uns funcionam utilizando a primeira forma e outros funcionam melhor com a segunda abordagem.

No primeiro quesito, Sonny & Brownie’s Last Train é impecável. Sem dúvida, alcança as músicas mais famosas tocadas por Sonny e Brownie. É impossível ouvir em qualquer lugar faixas como “Louise, Louise”, “Hooray, These Women is Killing Me”, “Walk On”, por exemplo, e não lembrar deles. Todas estão lá, tocadas de forma emocionante. A gaita de Fabrizio dá acompanhamento incessante a todas as músicas, com texturas e técnicas sensacionais. Sonny ficaria orgulhoso. Junto com as clássicas da dupla, estão lá também versões de tradicionais do blues, que Sonny e Brownie também tocaram, como o hino “Take This Hammer”, e a icônica “Midnight Special”, ambas de uma das suas maiores inspirações, Ledbelly, e “Goin’ Down Slow” e “Baby, Please Don’t Go to New Orleans”, que qualquer bluesman que se preze em algum momento de sua carreira vai tocar essas músicas. Ainda sobre espaço para um música original de Guy Davis. A faixa que dá abertura ao disco é a original e Guy, “Sonny & Brownie’s Last Train”, que dá uma narração quase mítica à história de Sonny e Brownie, inclusive cheia dos whoops característicos de suas músicas. No final dessa faixa, uma mensagem de Guy e Fabrizio para a dupla: “Goodbye Sonny, Goodbye Brownie. See you on the other side”.

Bem, no caso de Sonny & Brownie’s Last Train, ouso dizer que só dá tão certo porque Guy Davis e Fabrizio Poggi gravam essas músicas de forma primitiva, crua, e, portanto, poderosa, da mesma forma que Sonny e Brownie fizeram no seu tempo. Até porque, segundo o próprio Guy, Brownie e Terry foram dois músicos cujo trabalho nunca será superado, muito menos melhorado”. Guy  encarna o papel de Brownie, enquanto Fabrizio se encarrega de representar a gaita de Sonny, o que não é uma tarefa nada fácil. O resultado do trabalho de Fabrizio sem dúvida é um dos pontos mais fortes do disco.

Pois bem, estamos em 2017. Nada mais vai alcançar a genialidade das gravações de Sonny Terry e Brownie McGhee do que esse projeto de Guy Davis e Fabrizio Poggi. O fato de ser um tributo sincero faz com que o álbum atinja todos os seus objetivos. É um álbum honesto, empolgante, histórico e apaixonante.






02. Walter Trout - We're All In This Together




We’re All In This Together torna-se assim, além de um favoritos para o melhor disco do ano, uma obra-prima do gênero blues-rock e coloca Walter Trout como seu maior representante e compositor. O mais legal é que essas posições de nada importam: ele consegue essa proeza num disco colaborativo em que os egos de cada um dos convidados – e o dele próprio – são deixados de lado e o que transparece é realmente a única coisa que importa de verdade: o amor pela música.






03. The Cash Box Kings - Royal Mint


Contando com regravações poderosíssimas e canções originais relevantes de quem vive o tempo presente, com críticas políticas e sociais, executadas por integrantes que conhecem profundamente os diferentes estilos do blues, The Cash Box Kings reafirmam a relevância do blues para a cena musical contemporânea. De fato, é como o próprio Oscar Wilson descreveu o disco: "um retorno à era dourada do blues.





04. Rev. Sekou - In Times Like These



In Times Like These é um álbum daqueles que realmente só podem ser feitos em tempos como estes. Cheio de tensão, revolta, paixão, dor, sentimento e, acima de tudo, esperança. Ainda de quebra, Rev. Sekou nos leva a uma visita à Igreja. Aqui cabe um adendo: independente da sua religião ou se não tem religião, mesmo assim, a música nos leva a significativas experiências espirituais. Rev. Sekou, apesar de pastor de uma Igreja pentecostal, sabe muito bem disso. Álbuns assim são os que curam a alma. Estamos precisando.






05. Mitch Woods - Friends Along The Way



Esse álbum é uma festa. Uma grande parte dos artistas que estão presentes nos 50 melhores discos do ano são amigos de Mitch Woods, o que os faz presente em Friends Along The Way. O nome não é lá muito original, mas funciona perfeitamente. Até quem já partiu se faz presente aqui, como John Lee Hooker e James Cotton. Mas a lista é bem mais extensa: Van Morrison, Charlie Musselwhite, Taj Mahal, Elvin Bishop, Joe Louis Walker, Maria Muldaur, Kenny Neal, John Hammond, dentre outros. Cada qual traz um pouco do seu estilo para somar ao piano de Mitch Woods, gerando um resultado sensacional. 






06. Van Morrison - Roll With The Punches



Van Morrison não é nenhum novato no mundo da música e já percorreu por vários caminhos da música americana, entre rock, folk, blues. Aos 72 anos, Morrison compôs mais cinco originais e gravou 10 covers para compor o ótimo Roll With The Punches focadas essencialmente no Chicago Blues, mas, pela sua trajetória, podemos perceber também nas músicas influências de diversos estilos, o que contribui ainda mais para o disco, sem perder a essência do blues. 






07. Eric Bibb - Migration Blues




É impossível não politizar um álbum que nos dias de hoje leve o nome de "Migration Blues". Eis o novo álbum do cantor e compositor Eric Bibb, que lança o novo disco em meio ao governo turbulento e xenófobo do novo presidente norte-americano, Donald Trump, com propostas cada vez mais mirabolantes para tratar da questão da imigração no país anglo-saxão, além do recrudescimento da tensão racial nos Estados Unidos e - por que não? - no mundo. "Migration Blues" é rico musicalmente, socialmente e politicamente. É, enfim, um grande registro de uma época confusa e tensa, que, no futuro, se constituirá num ótimo disco-manifesto dessa época.







08. Little Roger & The Houserockers - Good Rockin' House Party



Como o título sugere, é trilha sonora pra festa caseira, isso se você estiver interessado no blues clássico da década de 50, 60. Em Good Rockin' House Party, Little Roger e banda conseguem captar o espírito festivo do gênero, além de baladas para o momento da conversa ao pé do ouvido e de dançantes para se soltar no meio da sala. 







09. Kim Wilson - Blues and Boogie, Vol. 1



Kim Wilson é o líder da banda de blues The Fabulous Thunderbirds, mas agora saiu em um projeto solo de lançar volumes de clássicos de blues e boogie. Um projeto desse nas mãos de um dos grandes gaitistas de blues da atualidade não poderia dar errado. Uma ótima seleção de músicas, que passa por gênios da gaita como Little Walter, Sonny Boy Williamson e James Cotton, mas também abrange Elmore James, John Lee Hooker, dentre outros, faz com que a diversão seja garantida do início ao fim. 






10. Roger Waters - Is This the Life We Really Want?



Vários discos entre os dez melhores do ano são como manifestos políticos de seu tempo. E dentre todos, o primeiro disco de rock de Roger Waters em quase 25 anos é o mais amplo. Em Is This the Life We Really Want?, Roger Waters usa de toda sua acidez lírica para criticar o mundo contemporâneo, tanto nos seus aspectos políticos quanto sociais. O mundo distópico, em "Picture That", a separação forçada de pais e filhos, em "The Last Refugee", os drones como armas de guerra, em "Deja Vu", o sonho americano, em "Broken Bones", o terrorismo, em "Smell The Roses", dentre outras sacadas. É um álbum mordaz, profundo, cujas letras contém várias referências do mundo atual. Vale a pena construir este quebra-cabeça. 






terça-feira, 12 de setembro de 2017

Resenha - Walter Trout - We're All In This Together



Depois da tempestade, a bonança. Essa frase não poderia ser melhor aplicada do que o caso do guitarrista de blues Walter Trout. A recuperação do corpo não é o bastante quando a ferida atinge o âmago mais escuro da alma. Totalmente recuperado fisicamente de um longo drama de saúde, Trout tratou de curar sua alma e exorcizou seus demônios com o emocionante – e sofrido – disco Battle Scars, de 2015. Agora, dois anos depois, com a vida salva, a carreira retomada e saindo em turnê novamente, Walter Trout está aproveitando cada segundo do tempo que conseguiu garantir. Quando estamos felizes, queremos compartilhar essa felicidade; chamamos os amigos e fazemos aquela festa. O seu novo disco,  We’re All In This Together, é exatamente essa festa que Trout andou preparando com seus amigos (baitas amigos!”). O álbum tem quatorze faixas, cada uma com um convidado especial acompanhando Trout, que compôs as faixas já pensando nos artistas que iriam acompanhá-lo. Assim, ele tomou o cuidado de chamar figuras versáteis dentro do universo do blues e do blues-rock, o que dá ao disco uma dinâmica bastante saudável.  Trout conseguiu capturar a alma e a essência tanto do estilo quanto do convidado. Mas, afinal, quem são esses convidados? Vejamos: Kenny Wayne Shepherd, Sonny Landreth, Charlie Musselwhite, Mike Zito, Robben Ford, Warren Haynes, Eric Gales, Edgar Winter, Joe Louis Walker, John Nemeth, Jon Trout (filho de Walter), Randy Bachman, John Mayall e Joe Bonamassa. Só isso, simplesmente os melhores do gênero blues-rock.

                Devido a isso, We’re In This Together tem de tudo, começando com aquelas clássicas dirigidas principalmente pela guitarra, como a faixa de abertura, “Gonna Hurt Like Hell”, com Kenny Wayne Shepherd, “Crash and Burn”, com Joe Louis Walker e “Got Nothin’ Left”, com Randy Machman, nas quais a aceleração é mantida sempre com ótimos solos de guitarra, além do mestre do slide zydeco, Sonny Landreth e a instrumental “Mr. Davis”, com Robben Ford. Mas também tem gaita suficiente aqui, como “The Other Side of The Pillow”, com o mestre da gaita Charlie Musselwhite, que também pega emprestado os vocais em um dueto trágico-cômico sobre mais uma das inúmeras histórias de traição no blues. John Mayall também traz sua gaita para a incrível “Blues For Jimmy T.”, um delta blues somente com Trout no violão e Mayall na gaita. Sensacional. Outra em que a gaita divide as atenções com a guitarra é “Too Much To Carry”, com John Nemeth, um Chicago blues empolgante.

                No disco também tem aquelas que transitam mais para o rock e pop, com um som mais acessível e radiofônico, como “She Listens to The Blackbird Sing”, com Mike Zito, ou “She Steals My Heart Away”, com um toque meio soul de Edgar Winter e um pouco do funky blues de Eric Gales em “Somebody Goin’ Down”. Diante de um time de joias como esse, Walter Trout faz anda o trabalho de casa, com seu filho Jon, na faixa “Do You Still See Me At All”, com um ritmo bem dançante. Como se não bastasse, tem uma versão incrível da clássica “The Sky Is Crying”, com Warren Haynes. Para terminar com chave de ouro, Water Trout se une a Joe Bonamassa, os dois maiores representantes do blues-rock na atualidade e nos entregam o suprassumo do estilo: a faixa que dá título ao álbum “We’re All In This Together”, quase oito minutos com o melhor que o gênero blues-rock tem a oferecer.

We’re All In This Together torna-se assim, além de um favoritos para o melhor disco do ano, uma obra-prima do gênero blues-rock e coloca Walter Trout como seu maior representante e compositor. O mais legal é que essas posições de nada importam: ele consegue essa proeza num disco colaborativo em que os egos de cada um dos convidados – e o dele próprio – são deixados de lado e o que transparece é realmente a única coisa que importa de verdade: o amor pela música.


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Os ganhadores do 37th Blues Music Awards




A premiação do Blues Music Awards de 2016 aconteceu no dia 5 de maio. Segue abaixo a lista dos ganhadores das vinte e quatro categorias premiadas. Os destaques são para Buddy Guy (que faturou o melhor álbum do ano); Mr Sipp levou o artista revelação; Shemekia Copeland recebeu o prêmio de melhor cantora; Walter Trout ganhou o prêmio de melhor álbum de blues-rock. Confira abaixo:


1. Acoustic Album: The Acoustic Blues & Roots of Duke Robillard – Duke Robillard
2. Acoustic Artist: Doug MacLeod
3. Album: Born to Play Guitar – Buddy Guy
4. B.B. King Entertainer: Victor Wainwright
5. Band: Victor Wainwright & the Wild Roots
6. Best New Artist Album: The Mississippi Blues Child – Mr. Sipp
7. Contemporary Blues Album: Born to Play Guitar – Buddy Guy
8. Contemporary Blues Female Artist: Shemekia Copeland
9. Contemporary Blues Male Artist: Joe Louis Walker
10. Historical: Soul & Swagger: Buzzin’ the Blues by Slim Harpo (Bear Family Records)
11. Instrumentalist-Bass              : Lisa Mann
12. Instrumentalist-Drums: Cedric Burnside
13. Instrumentalist-Guitar: Sonny Landreth
14. Instrumentalist-Harmonica: Kim Wilson
15. Instrumentalist-Horn: Terry Hanck
16. Koko Taylor Award: Ruthie Foster
17. Pinetop Perkins Piano Player: Allen Toussaint
18. Rock Blues Album: Battle Scars – Walter Trout
19. Song: “Gonna Live Again” written and performed by Walter Trout
20. Soul Blues Album: This Time for Real – Billy Price & Otis Clay
21. Soul Blues Female Artist: Bettye LaVette
22. Soul Blues Male Artist: Otis Clay
23. Traditional Blues Album: Descendants of Hill Country – Cedric Burnside Project
24. Traditional Blues Male Artist: John Primer