Não tem como uma banda como Nação Zumbi fazer um álbum em
que presta homenagem a suas influências e ser ruim. A surpresa (ótima surpresa)
aqui é a versão de Nação para “Ashes to Ashes”, um dos clássicos de David
Bowie. Pelo jeito podemos esperar pelo volume dois.
42. Leo
Maier - I Choose the Blues
O blues brasileiro está representado por Leo Maier. E,
diga-se de passagem, muito bem representado. Disco de estreia, Leo Maier traz
um álbum já com personalidade bem formada em que apresenta seu estilo virtuoso.
Destaque para a divertida
“You’ve Been Drinking Too Much” e a faixa título, “I Choose the Blues”.
43. The
Reverend Peyton's Big Damn Band - Front Porch Sessions
Não é só a figura do Reverend Peyton que chama a atenção
aqui, mas sua voz também é bem potente. Focado principalmente num blues
acústico e rural que, como sugere o disco, é ótimo para ouvir na varanda no
sítio ou algo assim. Peyton sabe o que está fazendo, seu estilo evoca Charlie
Patton, Bukka White, Blind Willie Johnson, David “Honeyboy” Edwards, dentre
outros mestres do country blues do Mississippi. Olha a figura no clipe oficial de “We Deserve a
Happy Ending”
44. Cesar
Valdomir - Working for The Blues
Pois é, no blog também
tem lugar para blues argentino. Isso mesmo. Cesar Valdomir é um
argentino tocando blues de primeira, mesclando algumas originais com a maioria
de covers. Mas a presença dele na lista foi assegurada mesmo com as versões de
“John The Revelator” e “Take the Bitter With The Sweet”. Vale a pena conferir.
45. Samantha Fish - Chills & Fever
O R&B e o Soul de Samantha Fish foi um dos pontos altos
do ano, chegando a lembrar um pouco de Amy Whinehouse em alguns momentos. Uma
mistura com elementos de rock, soul e blues que resulta num som charmoso e
sensual.
Enfim, o disco Everyday Seem Like Murder Here é o resultado
de três sessões que McMullan gravou com Wardlow entre 1967 e 1968, quase trinta
anos depois que ele tinha parado de tocar. Dessas sessões, 31 faixas estão em
qualidade boa para serem usadas no disco. O resultado é um autêntico registro
do Delta Blues, entrecortadas por conversações. O estilo de McMullan não mudou
nada: parece que está tocando diretamente dos anos 20, 30. Alguns dos destaques ficam com “Look-A Here
Woman Blues”, “Goin’ Away Mama Blues”, “Goin’ Where The Chilly Winds Don’t
Blow” e “Kansas City Blues”. Estamos diante de um registro histórico, que desenterra a
memória de apenas um dos talentosos músicos de blues que infelizmente foram
engolidos pela história.
47. Johnny Hooker – Coração
Johnny Hooker segue sua carreira com o seu segundo álbum,
Coração. Apesar de não beirar a perfeição como o disco de estreia, Coração
mantém o estilo provocativo, poético e lírico de Hooker, com algumas belas
canções, mesmo com algumas escorregadas pontuais, como se aventurando pelo axé,
por exemplo.
48. Taj Mahal & Keb' Mo' – TajMo
A reunião de dois grandes nomes do blues , Taj Mahal e Keb’
Mo’, para um álbum colaborativo foi uma grande novidade para 2017. Apesar de
ter potencial para um álbum ainda melhor, a dupla entrega um álbum com belas
músicas, numa corpagem mais comercial.
49. Altered
Five Blues Band - Charmed and Dangerous
A banda Altered Five Blues Band conduz um blues rock potente
no seu quarto lançamento, Charmed and Dangerous. O entrosamento da banda
transparece no seu som, que mistura influências do rock com o Delta blues.
50.
Harrison Kennedy – Who U Tellin’?
A voz poderosa e rouca de Harrison Kennedy, o som do blues
rural e uma gaita intensa e raivosa acompanha todo o disco Who U Tellin’?
Em
homenagem à chegada do Carnaval, o novo clipe de Johnny Hooker da marchinha de
carnaval presente no álbum Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito, “Desbunde
Geral”.
Sem dúvida, o ano de 2015 ficará
marcado na história do blues e da música como o ano em que perdemos B.B. King,
aos 89. O luto do blues, no entanto, será inegavelmente bem mais duradouro.
Originalmente um estilo executado pela comunidade negra norte-americana e
direcionado para a própria audiência negra no início do século XX, foi somente
a partir da década de 60, especialmente impulsionado pela grande evidência dada
ao blues pelas bandas britânicas, que o blues foi apresentado a um público
mundial em escala mundial – e até certo ponto, apresentado para os brancos do
próprio Estados Unidos. A partir daí, apesar de ter sido a base para inúmeros
estilos da música popular, o blues foi perdendo tanto o público consumidor,
seduzido pelos estilos mais modernos, quanto os seus grandes expoentes. Fora os que já haviam partido até então, os
gigantes lendários do blues foram caindo um a um: Sonny Boy Williamson II
(1965), Mississippi John Hurt (1966), Little Walter (1968, Skip James
(1969), T. Bone Walker (75), Howlin’
Wolf (76), Muddy Waters (83), Lightnin’ Hopkins (82), Son House (88), Memphis
Slim (88), Willie Dixon (92), John Lee Hooker (01), sem contar, claro, com
vários outros. Então, em um cenário em que a renovação de grandes nomes no
mainstream é difícil e com a perda inevitável dos ícones remanescentes, a morte
de B. B. King foi muito sentida e lamentada, tanto pelo seu valor humano quanto
pelo seu valor simbólico.
É imerso nesse contexto que o
mundo do blues e da música em geral recebe com grande entusiasmo o novo álbum
de Buddy Guy, uma das últimas lendas vivas do blues, que acaba de completar 79
anos. Born To Play Guitar tem um duplo valor, igualmente importantes. O
primeiro é o valor musical de mais um álbum na carreira desse grande
guitarrista, que influenciou a vida de nomes como Jimi Hendrix, Eric Clapton,
Jimmy Page, Rolling Stones, etc e que mais uma vez conta com várias
participações de peso, tais como Billy Gibbons, da banda ZZ Top, Van Morrison,
Eric Clapton (olha ele aí), Kim Wilson, da banda The Fabulous Thunderbird, e
Joss Stone. O outro é o valor simbólico que pode estar contido na mensagem que
se diz por essas terras tropicais: o blues está vivinho da Silva! Buddy Guy
canta sobre o blues com a propriedade conferida de quem viveu para a música e
toda a tradição desses nomes que já se foram está presente e pode ser sentida
no disco. Além disso, ainda tem uma faixa especial para B.B. King, “Flesh &
Bone”, cantada com Van Morrison, e uma emocionante homenagem a Muddy Waters, na
música que fecha o álbum, “Come Back Muddy”. Buddy Guy já falou em entrevistas
que o último recado dado por Muddy Waters, numa conversa pouco antes de
falecer, foi um apelo bem claro: “keep the damn blues alive”. É a isso que
Buddy Guy tem se dedicado desde então e Born To Play Guitar é uma declaração
apaixonante de amor a um estilo de música, de vida, e, claro, ao instrumento a
que está mais associado.
A faixa que abre o álbum dá o tom autobiográfico
que reaparece em vários outros momentos do disco. Começa com Buddy Guy
acompanhado somente de sua guitarra, mas no decorrer da música vão sendo
acrescidos o piano e a bateria. A letra narra sua ascensão, saindo de Louisiana
para ser reconhecido no mundo todo por causa do blues e da sua guitarra. “Wear
You Out” já é bem mais agressiva, um blues-rock com solos mais vibrantes e a
voz rasgada do convidado Billy Gibbons. A parceria funcionou muito bem, Guy com
sua voz mais limpa e Gibbons apresentando o outro lado. “Back Up Mama” é outra que se destaca, com um
estilo próximo ao Delta blues eletrificado de Chicago e uma letra que mostra a
já clássica malícia sexual bastante presente na tradição do blues “i got a back
up mama, if mama number one is not around”. Puro blues. Mais uma vez, Buddy Guy
executa belos solos, que se alterna com solos de pianos. Em“Too Late” outro
instrumento se insere na equação: Kim Wilson agrega sua intensa gaita e, sem
dúvidas, torna o conjunto ainda mais compacto e poderoso, uma locomotiva a
pleno vapor. As músicas do álbum inclusive estão mais concisas e curtas,
diferentes de outros trabalhos de Guy nos quais algumas das faixas ultrapassam
os sete minutos. Em Born To Play Guitar as mais longas ultrapassam pouco os
cinco minutos, mas dá a sensação de que pouco ou quase nada deixou por dizer.
“Whiskey, Beer & Wine” é mais dançante, um
pouco funky, feita pra festejar, como o próprio nome sugere e relaxar e se ver
livre das preocupações, pois, como Guy diz: “you can fix anything with whiskey,
beer and wine”. Quem irá questionar o velho Guy nessa? Ainda dá tempo para uma homenagem ao “good
ol’ days”. Em “Kiss Me Quick”, Kim Wilson faz novamente um trabalho vigoroso na
gaita. As duas faixas que contam com sua presença são as menores do disco, mas
são talvez as mais intensas. “Crying Out of One Eye” apresenta um conjunto de
metais, que deixa o clima mais soul. A letra é muito interessante, mostrando a
falsidade do sofrimento, enquanto está rindo e saindo por aí. “when you say goodbve you were only crying out
of one eye”. Ótima imagem. “(Baby) You Got What It Takes” é a vez do dueto de Buddy Guy
e Joss Stone, com sua voz sensual.
Depois da sequência de
participações, uma série de Buddy brilhando sozinho com sua guitarra. “Turn Me
Wild” parece ter um tom biográfico em sua relação com o blues e a guitarra. “didn’t learn nothing from a book,
no I never took a leason, when it comes to the blues I do my own kinda of
messin’”. Ao invés de um garotinho que sempre andou na linha, o blues o
deixou como um cachorro vira-lata procurando a toca do coelho. Em “Crazy World”
Buddy Guy deixa um pouco de lado os temas mais tradicionais do blues,
geralmente bem mais regional, para refletir a situação meio insana do mundo na
atualidade, como violência, concentração de renda, fome, e outras das mazelas
da sociedade global. É como o blues saísse do sul norte-americano para ver o
seu reflexo também em esfera mundial. “Smarter Than I Was” tem um riff
constante e a voz de Guy um tanto distorcida e gritantes solos de guitarra.
A parte final é um tributo ao
blues, claro, e a dois gigantes do gênero. “Thick Like Mississippi Mud”, mais
um dos grandes destaques álbum, já começa atestando uma das grandes verdades do
blues: “good whiskey and women can drop you to your kness”. Os momentos mais
emocionantes sem dúvidas ficam para as duas últimas faixas. “Flesh & Bone”,
com a participação de Van Morrison, é dedicada a B. B. King, falecido em maio
desse ano. Segundo Guy, a música já havia sido gravada quando ficou sabendo da
morte do amigo. A letra, com a música no clima religioso, repleta de órgãos e
corais, fala exatamente da mortalidade. “This life is more than flesh and bone / find out now before you gone /
when you go your spirit lives on / this life is more than flesh and bone”, diz
o refrão. Por fim, “Come Back Muddy” é uma tocante e sincera música
saudosa de Muddy Waters, falecido em 1983. A delicada canção, acompanhada pelo
violão e piano, mostra a falta que Waters faz tanto artisticamente (“come back
Muddy, Lord knows you can’t be replaced”) quanto pessoalmente (“come back
Muddy, man I sure miss your face”).
Born To Play Guitar não pode ser
visto como mais um número no catálogo extenso e bem sucedido de Buddy Guy,
vencedor de vários Grammys (provavelmente ganhará mais um agora). É muito mais
do que isso; é maior do que o próprio Buddy Guy ou qualquer outro; é uma
reafirmação não só de um gênero musical, da vida de um artista ou de um
instrumento específico: é a reafirmação da contribuição e dedicação de todos os
que vieram antes e já se foram, dos que ainda estão por aí e dos que ainda
virão. Acima de tudo, é a constatação de que o blues está, sim, vivo pra
caralho, viu Muddy (e todos os outros)? Podem descansar em paz.
Diante disso, Já É pode entrar na lista de um dos melhores
trabalhos da carreira de Arnaldo Antunes. A sua já conhecida e qualidade lírica
e poética de grande compositor, que sempre esteve presente nos seus discos,
uniu-se mais uma vez com uma variedade sonora bastante interessante, que estava
ausente nos últimos dois trabalhos, que tinham uma proposta bem limitada e
definida. Então, quando eu digo e reafirmo que Arnaldo Antunes é o melhor
compositor brasileiro da atualidade, já posso ouvir a resposta: “Já É”.
O que realmente torna I Don’t Prefer No Blues um clássico
atemporal do blues é a performance e a estrela de Leo “Bud” Welch: blues é
emoção, sentimento, autenticidade, o momento; e é tudo isso que exala durante
os trinta e cinco minutos da música desse senhor que passou tocando o blues no
anonimato sua vida inteira. Ainda bem que agora ele está tendo a oportunidade
de levar sua música ao mundo.
A Mulher do Fim do Mundo é um dos
discos mais interessantes do ano em diversas esferas; musicalmente, o álbum
transita de forma muito natural e elegante entre diversos gêneros musicais,
como o samba, claro, o rock, o eletrônico, dentre outros; e, principalmente, o
âmbito lírico não fica submisso ao campo sonoro e, por isso, A Mulher do Fim do
Mundo é um excepcional fruto do seu próprio tempo, com letras bastantes
críticas sobre as transformações, desafios, problemas e retrocessos que
testemunhamos diariamente na sociedade brasileira. As temáticas são amplas e
vão desde a violência doméstica, a violência policial nas periferias, questões
de gênero como feminismo e sexualidade. Ou seja, Elza ainda tem muito o que
dizer!
05. Tobias Jesso Jr. - Goon
O estreante Tobias Jesso Jr. é a revelação do ano. As
belíssimas músicas construídas ao piano em Goon o gabaritou, por exemplo, a ser
um dos colaboradores do novo álbum de Adele, com a música “When We Were Young”.
Mas Goon prova que Tobias Jesso Jr. é um compositor versátil e craque no
quesito de melodias.
06. Johnny Hooker - Eu Vou Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar,
Maldito!
Johnny Hooker é um artista que
transitava já há algum tempo pela cena underground de Recife, mas aos poucos
foi conquistando cada vez mais espaço com participações em trilhas sonoras,
seja de filmes, como Tatuagem, com a música “Volta”, ou novelas como Babilônia
e Geração Brasil, com as músicas “Amor Marginal” e “Alma Sebosa”. Com Eu Vou
Fazer uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!, Johnny Hooker recebeu aclamação
nacional e participou dos principais programas de auditório da televisão brasileira.
O lirismo que transborda de Hooker é impressionante.
Depois do drama vivido, Walter
Trout acaba por nos entregar o melhor álbum de sua carreira. Claro que a carga
emocional tem um impacto profundo nas músicas e as fazem ter uma conotação
ainda mais forte. Mas é a honestidade que faz com que Trout consiga nos
transportar um pouco que seja para sua vida. As cicatrizes da batalha são as
lições que ele aprendeu em sua jornada, as quais ele consegue repassar um pouco
delas para nós, ainda que não passemos pelo drama que ele passou. Um drama
pessoal não é o suficiente para um bom álbum. Pode ser mais tentador do que
parece tentar esconder profundas experiências pessoais e espirituais por trás
de clichês. E definitivamente não é isto que Walter Trout faz em Battle Scars.
Gerry Hundt’s Legendary One-Man Band é uma viagem pelo tanto
pelo universo quanto pelas habilidades musicais de Gerry Hundt, experimentando
ao máximo para levar a si mesmo até o limite. Apenas o fato de uma pessoa só
gravar ao vivo um disco já é surpreendente. No entanto, o que é incrível mesmo
é que ele consiga fazê-lo tão bom e divertido. Com certeza, Barney Stintson, da
série norte-americana How I Met Your Mother, soltaria seu jargão clássico:
legen... wait fo it... dary!
09. David Michael Miller - Same Soil
David Michael Miller está numa
trajetória crescente na sua carreira. Same Soil é o segundo disco desse
guitarrista e, desde o título, passando pela capa até às músicas propriamente
ditas, funciona como uma celebração dos estilos de raiz da música americana,
especialmente o blues, gospel e soul. Um som vibrante do início ao fim.
Poucos tem
motivos para terminar 2015 sorrindo à toa como Johnny Hooker, cantor e
compositor recifense que surgiu para o grande público no cenário nacional com o
maravilhoso disco Eu Vou Fazer Macumba Pra te Amarrar, Maldito. As músicas de
Johnny Hooker foram as estrelas das trilhas sonoras de várias novelas, o que
impulsionou a imagem de Hooker para o Brasil inteiro, já que antes ele estava
bem mais limitado à cena alternativa de Recife. Em 2013, “Volta” entrou na
trilha sonora do filme Tatuagem, enquanto que, em 2013, “Amor Marginal” e, em
2015, “Alma Sebosa” foram as escolhidas para comporem a trilha de Babilônia e
Geração Brasil, respectivamente. Johnny Hooker também frequentou bastante os
estúdios para suas apresentações em programas de TV. Além disso, Johnny Hooker
venceu o Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria de Canção
Popular.
O vídeo clipe
de “Amor Marginal”, muito bem produzido e intenso, com a direção de Matheus
Senra e uma equipe digna de cinema, coroa todo esse sucesso. Lançado no youtube
há apenas três dias, o vídeo já ultrapassou a marca de 100 mil visualizações. Confira o vídeo: