sexta-feira, 16 de março de 2012
Lee Ranaldo - Between The Times & The Tides
Com a indefinição do futuro de Sonic Youth, Lee Ranaldo, um dos fundadores e compositor da banda, decidiu juntar umas músicas e lançar um álbum solo. Between The Times and The Tides é o ótimo resultado dessa compilação, o que já se era de esperar, tendo como base que Lee Ranaldo é provavelmente o melhor compositor de Sonic Youth, apesar de de infelizmente ter poucas canções por álbum, pois, na maioria das vezes, as faixas mais interessantes são suas (vide “Wish Fulfillment” e “Mote”). Enquanto Thurston Moore e Kim Gordon prezam mais para um som de longos improvisos e experimentações com efeitos de guitarra, as composições de Ranaldo são mais focadas e concentradas, por vezes em uma sobriedade ébria, com um vocal mais melódico e também com muita guitarra. Pois é exatamente isso, sempre na medida certa, que se encontra em Between the Times and the Tides.
Lee Ranaldo também contou com uma bela equipe. O álbum tem participação de Alan Licht e Nels Cline, do Wilco, além de Steve Shelley, que não se contentou com o ingresso no Disappears, e também deu umas boas palhinhas aqui. E Ranaldo dá os créditos e importância para a equipe colaboradora “Canções podem ser de um milhão de maneiras diferentes. Graças a alguns amigos incríveis que pararam para tocar e cantar, este grupo de canções foram a lugares maravilhosos.”
E Between The Times and The Tides já começa de forma impressionante. Alias, as três primeiras faixas é o suficiente para derrubar qualquer um. “Waiting On a Dream” começa com uma guitarra bem no estilo Sonic Youth, e já apresenta bem como vai ser o álbum, o som direto, com guitarras altas e vocais melódicos, seis minutos se passam que nem se sente. Algo, principalmente no refrão, remete aos anos 60. Depois segue a já conhecida e aprovada “Off The Wall”. Se acha que não dá pra melhorar, você está muito enganado. “Xtina As I Knew Her” pode ser considerada a obra prima de Between The Times and The Tides. Durante seus épicos sete minutos, não há enrolação nenhuma, é direta e intensa, com diversas variações no decorrer da música. Belíssimas partes de guitarra por toda a música dão o charme e clima onírico extra à faixa.
“Angles”, a faixa seguinte, também é interessante, mas a sensação é que ainda se está entorpecido com a anterior. Com seguidas audições, vai percebendo mais ela e seus detalhes, com mais um solo sensacional. “Hammer Blows” é um dos poucos momentos que ele deixa a guitarra de lado e empunha o violão, ainda assim vai aparecendo uns efeitos e microfonias aos poucos aqui e ali. Melodia muito bonita. “Fire Island (Phases)” já começa com um solo incrível de guitarra que deixa de boca aberta, depois ela diminui o ritmo e tem umas variações muito interessantes, chegando próximo até de um country. Quando a gente pensa que é capaz de entrar um solinho de gaita, a música explode em guitarra ensurdecedora. Essa faixa mostra a maturidade de Lee como compositor, transitando de um estilo para outro com uma facilidade incrível, parecendo sempre natural e simples.
“Lost (Plane T Nice)” mantém a qualidade e lembra a pegada de algumas músicas de Lee Ranaldo com o Sonic Youth. “Shouts” é mais calminha e tem uma parte da letra falada pela esposa de Ranaldo, debaixo de muita guitarra. “Stranded” é mais uma bela faixa acústica e arranjos muito bonitos. A música que fecha o álbum não poderia ser melhor, “Tomorrow Never Comes” em alguns momentos chega a me lembrar “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles. Há algo bem psicodélico nessas guitarras e na batida.
Depois de tudo, há a sensação de prazer em cada uma das músicas. Aos 56 anos, Lee Ranaldo não precisa fazer mais trabalhos de vanguarda. Seu papel na revolução já foi feito com Sonic Youth. Between The Times and The Tides é um grande álbum para os apreciadores do gênero, que por sinal está sendo bem servido nesses últimos anos, após lançamentos de Yuck, no ano passado, e do mais recente álbum do Disappears, Pre Language.
Ouça o stream do novo álbum completo aqui
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