Um grande show, naturalmente, vem acompanhado por imensa expectativa. A própria cidade estava ansiosa por esse show, que com certeza acompanhou tudo com seus velhos olhos históricos e registrou cada momento muito melhor do que as milhares de câmeras fotográficas e similares presentes no público. Eu, como fã dos Beatles, estava consciente que já estava presenciando um momento inesquecível, não importava como Paul conduzisse o show. Ouvir aquelas músicas que marcaram gerações por um dos membros originais já era sonho o suficiente. Mas não, Paul e sua excelente banda, conquistaram todos os 50 mil espectadores, que saíram, com certeza, maravilhados, não importando se eram fãs de carteirinha, fãs casuais ou simplesmente quem queria ir para um programa que estava sendo tão falado nos meios sociais em um sábado a noite.
Mas vamos do início. Saímos de casa por volta das três e meia da tarde e chegamos às mediações do Arruda bem rápido, de onde já se dava para perceber o movimento crescente. Fomos diretamente para a fila, que a esta hora já estava com um tamanho considerável. Em torno de quatro e meia a fila começou a andar, o que causou uma esperança para que a abertura dos portões fosse antecipada. Mas foi só a esperança mesmo, pois, ao invés de abrir os portões de cinco e meia, como estava previsto, foram abertos somente um pouco antes das seis e meia. Único ponto negativo da produção, muita espera, muito incomodo, enfim.
Subimos rapidamente para nosso setor de arquibancada superior e pegamos um bom lugar na lateral direita do Estádio, com boa visão para o palco. Daí em diante, era só esperar três horas e ver lentamente e ininterruptamente o público tomando seus lugares no Arruda. Às nove horas o Estádio já estava completamente lotado. Muito bonito de se ver. Para esquentar o clima para o show, entrou um DJ que tocava versões de músicas dos Beatles. Em algumas, como “Come Together”, “Twist and Shout”, dava para sentir como o público já estava a fim, ensaiando uns coros, mas em outras essa junção de Beatles com eletrônico ficou bem ruim, mas que serviu bem o seu papel, uma distração para passar o tempo.
Papel que Sir Paul começou a usar das nove horas até a hora do show, de nove e meia da noite. Começou a passar nos telões do palco uma série de imagens, que iam passando tipo filmes fotográficos, da história dos Beatles e de Paul. Algumas imagens interessantes levantavam o público, como uma que a foto do Sir Paul tomava o telão inteiro ou quando aparecia claramente os quatro Beatles reunidos. No exato momento quando tudo aquilo começava a cansar, o show finalmente começa, para delírio dos cinquenta mil presentes.
A primeira música é a simbologia que fica da impressão do que está por vir. “Magical Mystery Tour” fez transformar o sonho em matéria. De alguma forma, aquilo estava realmente acontecendo. Depois ainda veio um “boa noite, pernambucanos!” para acabar com qualquer dúvida. O show continuou com “Junior’s Farm”. Vale a pena registrar o imenso carisma de Paul McCartney. Com um imenso e invejável currículo, ele não precisa de mais nada para conquistar o público. Poderia simplesmente subir ao palco, tocar várias de suas incríveis músicas e ir embora sem falar uma palavra com o público. Mas esse não é o modo do bom moço e gentleman Macca. No decorrer do show inteiro, a cada intervalo de música, Paul se dirigia ao público sempre de maneira descontraída, quase como um menino de 15 anos, cheio de dancinhas engraçadas e irreverentes, “obrigado”, “thank you” “peeeernambuucooo”, perrncambucanos”, “recifianos” e “ohhh” “yeaaa” “yhhiiii”. A essa altura ele soltou um “povo arretado”, como se precisasse de algo mais para conquistar o já conquistado. O público, claro, foi ao delírio diante da fala inesperada. Após o clássico dos Beatles “All My Loving”, que fez o Estádio inteiro cantar, foi a vez do clássico dos Wings “Jet”, muito bom. “Got To Get You Into My Life”, do Revolver, um dos melhores álbuns dos Beatles também foi tocada, para delírio de muitos, inclusive meu. Após a dançante “Sing the Changes”, veio a primeira grande surpresa do show. Pensando que a setlist seria bem engessada, Sir Paul anuncia que a próxima música será a primeira vez que será executada no Brasil, e então começa “The Night Before”.
Conhecido muito por seu clássico baixo na época dos Beatles, Paul mostra também que empunha guitarra muito bem, no momento guitar-hero do show, com a sequência “Let Me Roll It” e um trecho de “Foxy Lady”, de Jimmy Hendrix, que segue com dois clássicos dos Beatles, “Paperback Writer” e a belíssima e inigualável “The Long and Winding Road”, incrivelmente bela ao vivo, uma das que eu mais estava esperando para ouvir. Depois de “1985”, chega um dos momentos mais emocionantes do show, aquele que faz os enamorados chorarem (né, amor?). Paul anuncia que a próxima foi feita especialmente para sua esposa, com um vídeo de participação de Natalie Portman e Johnny Depp. O vídeo, inclusive, passa no telão, enquanto rola “My Valentine”, muito bonito. Depois de um tributo para a atual esposa, é a vez de pagar o tributo para a falecida Linda, com “Maybe I’m Amazed”. Em “And I Love Her”, o momento de ficar abraçadinhos continua, que conta ainda com uma dancinha impagável de Paul. Antes de “Blackbird”, Macca diz que a música foi feita em um momento em que o mundo passava por uma situação delicada em relação aos direitos civis. Essa parte, com o público acompanhando com palmas, foi muito emocionante. “Here Today” Paul diz que escreveu para seu amigo e parceiro John.
“Dance Tonight”, além de muito divertida e animada, tem um show à parte do baterista Abe Laboriel Jr, que fica dançando na bateria enquanto fica só batendo no bumbo, marcando ritmo. Várias dancinhas fazem o público gargalhar, enquanto se diverte e dança com a música. Em “Eleanor Rigby”, uma das melhores músicas dos Beatles, seria interessante que Paul deixasse para o público cantar o refrão, certamente seria lindo. Mas nada tirou o brilho dessa canção maravilhosa. Em “Something”, Paul pegou o ukulele e disse que esse era um dos instrumentos favoritos de George Harrison e por isso iria fazer essa música assim em sua homenagem. De fato, prefiro a versão original, mas a nobre intenção vale o sacrifício, até por que na metade da música volta a banda toda e público faz um dos maiores coros da apresentação. Depois disso, acontece uma dos momentos em que mais vibrei, quando Paul disse que esta era para Ringo e fez uma curta versão inesperada de “Yellow Submarine”, sensacional.
Depois disso começa uma das melhores seqüências de todo o show, “Band On The Run”, claro, magnífica ao vivo. Entre uma música e outra, mais gritinhos de ohhhh, uhhh, yea, ok, ok, de Paul para “Ob-La-di, Ob-La-Da”, que faz sorrir mesmo o mais carrancudo dos espectadores, com milhares de máscaras das diversas fases de Paul. “Back In The U.S.S.R” e “I’ve Got a Feeling”, em mais um momento guitar-hero, com uma Jam poderosa no final, mudando o ritmo e tudo. “A Day In A Life” é simplesmente um dos momentos mais surreais do show, como a própria música sugere, seguindo com a clássica “Give Peace A Chance” e o Estádio inteiro cantando. “Let It Be” cumpre a sua missão e faz todos gritarem o máximo que podem. Então começa “Live and Let Die”. Não é nem de perto a melhor música de Paul, mas no show é certamente uma das mais memoráveis. Todos já sabem dos fogos e tudo mais, mas quando se vê ao vivo é muito diferente. Todos ficam alucinados, quando começam os explosivos e tudo ao redor treme. Ninguém sabe se grita, canta, pula ou faz tudo ao mesmo tempo. Para fechar a primeira parte do show, uma versão épica de “Hey Jude”, com massiva participação do público, graças ao maestro Paul, que fez continuar o Na nana nanana por vários minutos, só homens cantando, só mulheres e o Estádio inteiro. O cântico continuou até mesmo quando a banda saiu do palco para um breve descanso.
Enquanto a banda volta para o palco, o tecladista igualzinho a Edgard Scandurra segurava a bandeira da Inglaterra, o guitarrista a do Brasil e Sir Paul, para delírio geral, empunhava a bandeira de Pernambuco. banda voltou para mais uma sequência de clássicos, com “Lady Madona”, “Day Tripper” e “Get Back”. Na volta para a parte final do show, Paul convidou algumas pessoas para o palco, gente de Manaus, Paraná, São Paulo e Recife. E por fim começou uma das partes mais aguardadas, a clássica “Yesterday”, o heavy de “Helter Skelter” e a sequência incrível de “Golden Slumbers/Carry The Weight/The End”.
Depois de quase três horas de show, Paul, um “menino” de quase 70 anos, despediu-se com um “até a próxima”. Bem, se no início do show parecia que, com o calor nordestino, Recife mataria Paul, no final fica claro: é Paul, que esbanjando simpatia, energia e rock’n roll, matou o Recife. Show arretado!
Show Arretado mesmo! Fantástico!
ResponderExcluir(E sim, amor, eu chorei em My Valentine)
:)
=~~~ semi-chorei... muito foda, haha! Ainda mais escrita por um fanzaço que é você. Posso até arriscar em dizer que eu deveria ter ido ver isso :(
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