sexta-feira, 12 de abril de 2013

Iron & Wine - Ghost on Ghost



Como tudo na vida, a carreira de uma banda/artista também tem um ciclo a percorrer. No início, toda a atenção e esforço estão no sentido de se alcançar o auge. Nesse percurso, o artista acaba trabalhando uma das mais penosas e importantes etapas, mesmo que inconscientemente: a maturidade. Quando o autoconhecimento é ampliado, a autoconfiança naturalmente surge, a coragem e vontade de se arriscar um acorde novo, um instrumento novo, um arranjo novo. E é assim que começa a rodar a engrenagem do desenvolvimento. E é assim que alguns chegam ao auge de sua atividade criativa e artista – a maioria nunca chega e outros chegam por acaso. Da maior dificuldade – atingir o auge – surge o maior desafio: manter-se. É com esse grande objetivo que nos chega o quinto álbum de Iron & Wine, projeto folk-indie do hipster barbudo Sam Beam. Ghost On Ghost chega ao público apenas dois anos depois do ótimo Kiss Each Other Clean, álbum muito bem sucedido de Beam, 11º lugar na lista de melhores álbuns de 2011, que marcou a consolidação do desenvolvimento artístico que Sam Beam estava buscando no decorrer de sua carreira, principalmente após The Shepherd’s Dog, de 2007. Desde então, Beam abandonou um pouco aquela imagem de artista solitário com seu violão em detrimento de um som mais moderno e aprimorado, sobretudo no âmbito dos arranjos e ritmos. A grande dúvida em relação em Ghost On Ghost era exatamente essa: seria Beam capaz de dar mais um passo e manter-se no topo, ou sua capacidade criativa tinha se esgotado ou apresentaria um declínio?

As primeiras músicas de Ghost On Ghost que surgiram foram capazes de soprar as nuvens da dúvida e podermos antever o que estaria a caminho: mais um trabalho brilhante, feito por uma mente que tem consciência exata de onde colocar uma nota, um arranjo. Sam Beam se juntou com uma banda eclética de multinstrumentistas e o resultado dessa miscigenação fica clara em cada faixa do novo disco, a exemplo da faixa de abertura “Caught in Briars”, que foi uma das que Beam já havia dado uma amostra, no entanto, essa amostra foi feita somente no violão. No disco, ela apresenta-se com uma roupagem totalmente nova. Começa com no violão, mas logo toda a banda começa a tocar, criando um som bem diferente, parecido até um pouco com a bossa-nova brasileira. Já que não tem ainda no youtube a versão do disco, vou colocar a versão só com o violão mesmo. The Desert Babbler” mostra o lado mais comercial de Beam, se encaixaria perfeitamente na rádio, com os melódicos backing vocals e um clima mais ensolarado, clima esse que é totalmente cortado pela belíssima “Joy”, com uma melodia magnífica. É lenta, mas não chega a ser melancólica. É de uma beleza contemplativa, como o título sugere, de “alegria”.



“Low Light Buddy Of Mine” é mais uma muito boa, onde dá pra sentir um pouco do gingado do soul e do jazz, assim como em algumas outras faixas. Destaca-se inclusive um solo bem legal de saxofone. Os instrumentos de sopro estão inseridos em diversos momentos em Ghost On Ghost, sempre com grande destaque e muito bem conduzidos. O ritmo que Beam canta também é muito cativante e natural. O álbum segue com outra faixa animada, “Grace for Saints and Ramblers” que é outra que já nos tinha sido apresentada, que ao final do dia a dia tudo resume-se a “but it all came down to you and i”.

“Grass Widows” é bem delicada e é outra com o clima bem jazz, inclusive no belo solo de piano no meio da música. Depois da funky “Singers and The Endless Song”, vem mais outra belíssima “Sundown (Back in the Briars)”, cuja sensação nos remete novamente a “Joy”, parece que estamos flutuando no entorpecimento apaixonado. Os arranjos instrumentais vistosos dão lugar a belas melodias dos backing vocals. “Winter Prayers” nos faz relembar o Beam dos primeiros anos, somente com seu violão e seu clima melancólico e solitário. É sempre bom esses momentos assim, onde ele é capaz de mesclar os seus dois estilos.




As três últimas faixas são um destaque à parte, começando por “New Mexico’s No Breeze”, que se encaixa perfeitamente no fone de ouvido em uma viagem nas estradas da vida. A melodia é muito bonita e, novamente, muito bem conduzida pela voz aguda de Beam. Quando achamos que já está para acabar, começa um inesperado e muito bem sucedido lindo solo de piano. Chega finalmente ao grande trunfo de um álbum bem sucedido. Se em Kiss Each Other Clean, Beam nos entregou uma das melhores faixas do ano, com “Rabbit Will Run”, em Ghost on Ghost ele nos prega a mesma peça. “Lovers Revolution” tem a mesma sensação de inesperado, de atenção aos mínimos detalhes. A riqueza dos instrumentos e arranjos estão de volta potencializados ao extremo. A diferença de “Rabbit Will Run” é que, enquanto esta já começa no seu máximo, “Lover’s Revolution” é progressiva, vai crescendo à medida que Beam vai conduzindo sua “orquestra”. Bem rítmica e com uma letra inteligente e cheia de imagens poéticas, entrecortado por um solo jazzístico de sax. Sensacional. Por fim, “Baby Center Stage” dá um ponto final em Ghost On Ghost de forma bastante digna e merecida.

Depois da agradável viagem no decorrer de Ghost on Ghost, podemos finalmente dar essa resposta: o gênio de Sam Beam foi capaz de, além de manter-se no topo com um grande álbum, ainda desenvolver-se ainda mais como cantor e compositor, mergulhando mais no mundo do pop, ou melhor, da música mais acessível ao público em geral, ao mesmo tempo em que inseria no seu som mais influências de outros estilos, como o soul, funk e jazz.


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