Vampire Weekend é uma bandas com
o som dos mais peculiares que existe. O grupo, de Nova Iorque, liderado por
Ezra Koenig, absorve toda a sociedade cosmopolita nova-iorquina e traduz em um
som único e, às vezes, até difícil de digerir. O disco de estréia, homônimo de
2008, surpreendeu o mundo e, ao contrário de todas as expectativas, explodiu. Não só colecionou aclamadas críticas de
revistas especializadas, como também produziu grandes clássicos comerciais,
como “Oxford Comma”, “Walcott” e “Mansard Roof”, só para citar alguns. No som
de Vampire Weekend havia de tudo. Guardadas as devidas proporções, parecia o
manguebeat que absorveu toda a cultura pernambucana em um único som. Sob a
batuta do gênio de Koenig, diversos setores culturais de Nova Iorque estava
representada em algum ponto do álbum. Desde
intelectuais-universitários-hipsters, passando pelo rock, pop, música africana,
o afropop, como ficou chamado, o reage e até mesmo referências de música
clássica. Era, literalmente, uma orgia de sons antagônicos que, como passe de
mágica, apareciam nessas canções, de alguma forma, harmonizadas. Diferente de
bandas como The Strokes, que ainda não conseguiu igualar o disco de estréia,
Vampire Weekend seguiu sua carreira com o também bem sucedido Contra, que deram
ainda um passo a mais nessa mistura louca, por vezes até de forma exagerada.
Mas é com Modern Vampires of The City, terceiro álbum da imaginária trilogia na
mente de Ezra Koenig, lançado ontem, que Vampire Weekend alcança a perfeição.
É um álbum irretocável, a começar
pela capa, uma imagem aérea, tirada pelo fotógrafo do New York Times, Neal
Boenzi, olhando para o sul do Empire State Building, em preto e branco de Nova
Iorque quase pós-apocalíptica, poética e sombria. Inspiradora. Modern Vampires of The City apresenta uma
banda totalmente regulada em seu pico criativo, embora atuando em um espaço
sonoro talvez mais limitado que os dois trabalhos anteriores, o que, de forma
alguma, tira a genialidade, apenas modifica sua forma, produzindo músicas mais
concisas.
Ao mesmo tempo que ,em Modern
Vampires, diminuiu-se a abrangência sonora, ampliou-se a melódica. Na faixa de
abertura, “Obvious Bicycle”, dá para notar que a principal matéria prima para o
resultado final é a melodia, assim como na belíssima “Hannah Hunt”, escrita
para uma garota que sentou ao lado de Koanig em uma aula de budismo na
universidade, com a instrumentação praticamente minimalista, explodindo apenas
nos segundos finais, com um refrão de arrepiar. “Don’t Lie” também possui uma
melodia incrível e com arranjos sensacionais. Outra matéria prima, se é que se
pode chamar assim, é o trabalho profissional feito nos efeitos, tanto dos
instrumentos quanto no vocal de Koenig. Esse traço pode começar a ser notado no
verso final de “Step”, meio hip-hop e que é, por sinal, uma música incrível e
com uma melodia tocante, sobretudo no emocionado e doloroso refrão. No verso
final, nota-se um efeito deixando o vocal quase gutural. Continua-se a
brincadeira com efeitos vocais em “Diana Young”, ao invés de Dying Young, juntamente
com “Finger Black”, uma das mais intensas do álbum e que lembra em alguns
momentos “Wolf Like Me”, de TV On The Radio. Entre algumas paradas e retornos
poderosos, dá para imaginar no refrão uma pessoa controlando a mesa de som e
mexendo nos efeitos vocais do “baby, baby, baby, ride on time”. Mas a mais
marcante em termos de efeitos sonoros é “Ya Hey”, que é Hey Ya ao contrário e,
além disso, também é uma referência subconsciente ao judaísmo e cristianismo, “Yahweh”.
A religião também está presente na maravilhosa “Unbelievers”, uma reflexão da
imagem que se tem dos “ateus” e o que está reservado a eles nas tradições
religiosas “we know the fire awaits unbelievers all of the sinners the same”.
Uma das que tem o som mais
peculiar é “Worship You”, totalmente diferente de todo álbum. Com uma bateria
tipo de cavalaria e a velocidade maior que radialista narrando jogo de futebol
em hip-hop, parece que você está cavalgando feito loco pelas planícies. Mais
uma coisa que evidencia essa riqueza de melodias e arranjos sonoros, é que, na
maioria das faixas, não existe a mesmice do refrão cantado por dez vezes da
mesma forma. Ao contrário. Koanig pode até repetir várias vezes o refrão, mas
cada vez em um ritmo diferente, acompanhado por uma mudança rítmica ou melódica,
são diversos os exemplos e, só para citar os mais notáveis são em “Everlasting
Arms”, “Step”, “Ya Hey”. Por fim, "Hudson" se despede com uma inédita faixa sepulcral e sombria.
Modern Vampires of The City é
praticamente perfeito. E se não tivesse saído no mesmo ano que The Next Day, de
David Bowie, certamente já teria reservado o lugar de melhor álbum do ano. Além de melhor álbum até hoje de Vampire Weekend.
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