sábado, 24 de janeiro de 2015

Resenha de Sleater-Kinney - No Cities To Love



Sleater-Kinney, formada pelo powertrio feminino, encabeçado por Carrie Brownstein, Corin Tucker e Janet Weiss, é uma das referências para o rock alternativo do final da década de 90 e da primeira metade da primeira década dos anos 2000, lançando discos impressivos como Dig Me Out, de 1997, All Hand On The Bad One, em 2000 e The Woods, em 2005, tendo se separado no auge de sua popularidade na cena punk/indie norte americana. Cada uma das três trilharam caminhos diferentes, trabalhando em variados projetos, dentre os quais o principal foi a banda Wild Flag (com Carrie e Janet juntas) e a carreira solo de Corin Tucker, além da colaboração da baterista Janet Weiss com Stephen Malkmus, na banda The Jicks. Desde 2013 que rumores sobre uma possível volta rondava as integrantes, que nem confirmavam nem negavam. Dez longos anos depois, o trio lança neste mês o novo álbum, chamado No Cities To Love, que mostra exatamente porque uma banda como Sleater-Kinney fez tanta falta para a música durante esse tempo que ficaram separadas.

A faixa de abertura, "Price Tag", é verdadeiramente um prelúdio, uma nota de abertura, (já que Corin anuncia "It's 9am We must clock in / The system waits for us") para o que está por vir: uma representação da sociedade em que vivemos, seu consumismo exacerbado, suas contrações, seus valores, sua energia, sua decadência. "I was blind by the money / I was numb from the greed / I'll take God when I'm ready / I'll choose sin till I leave". É imediatamente seguida por "Fangless", que conta a independência e a força da mulher diante de um coração partido, diante de um homem que não a tratou como deveria, e agora, depois de ter ficado devastada, levanta-se ainda mais autoconfiante.





"Surface Envy", sem dúvida umas das melhores faixas do disco, tem tanta energia revigoradora que parece um grito de libertação, cheio de fúria, liberdade, tensão, prestes a explodir, como no refrão: “We win, we lose, only together do we break the rules”. "No Cities To Love" celebra exatamente a falta de raiz diante de um mundo fluido, solto e louco, inconstante e vazio. Então para elas não tem nada disso de bairrismo. “It's not the city, it's the weather we love! It's not the weather, it's the nothing we love!”


O álbum continua com "No Anthems", com um ritmo maravilhoso desaguando num refrão melódico e poderoso, novamente com a letra fazendo ligações interessantes e inusitadas. Em "Bury Our Friends" um verso resume a grande contradição da vida nesses dias em que vivemos: "This dark world is precious to me". Uma relação concomitante entre amor e ódio, vergonha e orgulho, desprezo e admiração. No Cities To Love vai chegando ao final, mas não perde a força. "Hey Darling" sem dúvidas é uma das mais poderosas músicas do álbum e também um dos seus destaques, com o seu refrão pesado, furioso e brutal.  "Fade" é, por fim, a luta da consciência sobre o papel que desempenhamos no palco do mundo. "Oh what a price that we paid / My dearest nightmare, my conscience, the end".

É impressionante como, depois de dez anos estando separada, com suas integrantes experimentando novos caminhos e novos sons, uma banda volte em tão grande estilo como Sleater-Kinney voltou em No Cities To Love. Sem dúvida, é algo a celebrar. Não é todo mundo que consegue captar o zeitgeist do seu tempo e desenvolver suas manifestações culturais de uma forma tão crua, direta e ainda assim, tão natural, tão simples. 






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