A banda The Cash Box Kings lançou um novo disco, Royal Mint. Para promover o lançamento, a banda publicou no Youtube um clipe da música "Build That Wall", em que ataca as decisões políticas do governo de Donald Trump, especificamente a ideia de construir um muro para impedir a entrada de imigrantes e a falta de engajamento do governo dos Estados Unidos nos debates sobre as mudanças climáticas. No vídeo, o grupo também faz um manifesto político:
"Se você acha que racismo e a brutalidade policial contra negros não existiam 'até o presidente Obama ser eleito', então esta música é para você. (Faça um favor a você mesmo: vá ler qualquer livro de 5º ano de História da América, ou pesquise no google sobre comércio de escravos, Jim Crow, linchamentos, ...)
Se você acha que porque é branco ou tem um sobrenome 'não-étnico', você está de alguma forma mais aberto às oportunidades econômicas e direitos civis do que qualquer outro americano, então esta música é para você.
Se você acha que está tudo bem gozar, diminuir ou denegrir alguém por causa da cor da pele, do gênero, sua origem étnica, capacidade mental ou física, crenças religiosas ou preferência sexual,então esta música é para você.
Se você acha que está tudo bem agarrar uma mulher sem consentimento, ou assediar sexualmente, então está música é para você
Finalmente, se você testemunhou algum desses atos falados acima acontecer e não se sentiu disposto a falar contra eles, então está música é para você."
Abaixo segue a letra da música:
Build That Wall
WelI our faces aren't the same and I can tell by your last name this country means more to me than it does to you We need to get back to that space Where people knew their place And when we're done with that let's go and build a wall
Build a wall go on build that wall mistreat people with brown skin but most of all: you can ignore what Jesus said you know the poor are better off dead. come on now USA let's build that wall
You can grab her where you like there, got no use for women's rights, And if the girl complains she's probably just a dyke, this PC thing’s a bunch of crap, now we can mock the handicapped. And when we're done with that we’ll go and build a wall.
Build that wall go on build that wall mistreat people with dark skin but most of all: you can forget what Jesus said ignore the sick they’ll soon be dead. come on now USA let's build that wall
Take your science and your facts you can blow them out your ass 'Cause the unexamined life is where it's at Climate change ain't all that bad, you know it's just a passing fad. come on now USA let's build that wall
Build that wall go on build that wall mistreat people with black skin but most of all: we’re gonna go and lead the fight to save the red, blue and white.
Mesmo com o movimento e a conquista dos direitos civis, a tensão racial
nos Estados Unidos nunca deixou realmente de existir, mesmo depois que o
primeiro presidente negro da história do país foi eleito, em 2008. Nos últimos
anos há uma nova escalada nos conflitos raciais, colocada em evidência pela
violência policial contra a população jovem negra, sempre as vítimas
preferíveis dos policiais. O caso emblemático que estourou a onda de protestos
pelo país e ligou o alerta para o movimento social negro norte-americano
aconteceu em 9 de agosto de 2014, em Ferguson, depois que um jovem de 18 anos
chamado Michael Brown foi baleado por um policial branco depois de um assalto a
uma loja de conveniência. O assassinato de Brown desencadeou várias ondas de
protestos entre novembro de 2014 e agosto de 2015, em que a população negra se
uniu para a situação da população jovem negra em relação à violência policial,
já que o caso em Ferguson não foi o único que um jovem morreu nessas
circunstâncias de violência desproporcional empregada pelas forças policiais.
Durante esses protestos em Ferguson, um pastor e ativista chamado Reverend
Osagyefo Uhuru Sekou foi preso depois que se ajoelhou para rezar entre os
policiais e os manifestantes. E é sobre ele que iremos falar agora, pois ele
transferiu sua energia, sua fé e seu protesto na forma de blues e gospel no
ótimo álbum In Times Like These, criando um dos mais impactantes
álbum-manifesto do gênero.
Essa tensão recente já foi
transplantada para a música em vários momentos, especialmente no que se refere
ao hip-hop. Já Mavis Staple também usou sua música como o reflexo desse momento
no seu ótimo disco Livin' On a High Note, de 2016. In Times Like These, de Rev.
Sekou, vem para acabar com o silêncio incômodo que pairava pelos novos
lançamentos no meio do blues.
O disco foi produzido por Luther
e Cody Dickinson, do North Mississippi Allstars, que recebem o crédito de unir
os elementos diversos em um som coeso e forte de gospel-blues-rock presente por
todas as faixas do disco. Mas o grande astro mesmo é Rev. Sekou, ou melhor, a
potência de sua voz que traduz toda a sua vitalidade e energia para lugar por
um mundo melhor. Esse vigor pode ser percebido já nos primeiros segundos do
disco, pois a faixa de abertura "Resist" tem trechos do discurso que
Rev. Sekou deu nos protestos de Ferguson. No refrão, o reverendo clama com toda força "We want freedom and we
want it now - Resist". Sekou ainda apela para a autodeterminação,
afirmando para sempre resistir quando dizem o que você pode ou não fazer, quem
você pode ou não amar, ou se você deve ou não voltar a estudar e coisas do tipo.A ideia é resistir, seja que hora for. A
banda grande e as músicas cheias de arranjos de metal bem posicionados também
chamam atenção. No final tem a continuação do discurso de Rev. Sekou nos protestos:
é dessa geração - que está resistindo, lutando, se colocando diante da
brutaidade policial - que a história irá falar depois.
Na faixa título, com uma batida mais para o funk,
Sekou continua o apelo pela mudança e a chamada para a contínua mobilização
social, pois percebe que não tem nenhum político ou algum santo ou heroi que
irá fazer com que suas reivindicações sejam ouvidas. É através da luta contínua
que um povo conquista e/ou amplia seus direitos. Ao mesmo tempo em que Sekou
situa a luta contemporânea da população negra, ele não esquece o histórico de
perseguição, violência e exploração que seu povo sofreu por séculos:
"Persecuted
but not forsaken
Been
400 years, and they still can't break us
Sometimes
I feel like giving up, I cannot lie
Too
busy working for my freedom, ain't got time to die.
In
times like these, we need a miracle,
Ain't
nobody gone save us, we're the ones we've been waiting for."
Na faixa seguinte, Sekou recria
a faixa "Burnin' and Lootin'", de Bob Marley, direcionando a música
para o campo do gospel e do blues. “Lord, I Am Running (99 ½ Won’t do)”, um
blues cheio de riffs e solos de guitarra, é mais um dos vários destaques do
disco. Para cantá-la, Rev. Sekou conta com a ajuda de Raina Sokolov-Gonzalez.
Na letra, Rev. Sekou recria a situação de milhares de afro-americanos que
tentava fugir das plantações correndo até a exaustão pela sua própria vida,
ouvindo o latido dos cachorros no seu rastro. A repetição da letra funciona
como se o corredor estivesse cantando para si mesmo, buscando forças para
completar os 100 porque 99 e meio não seriam suficientes. “Muddy and Rough” é
um blues cru e bem marcado, alternando solos de órgão e de guitarra, inclusive
com o melhor solo de guitarra do disco. A improvisação e a variação do vocal de
Rev. Sekou certamente é uma influência da sua vida de pregação na sua Igreja
pentecostal.
A tradição familiar entre blues,
gospel e soul, além de sua trajetória de vida como pastor, teólogo, poeta,
documentarista, também leva os temas do gospel para a mesa. “The Devil Finds
Work”. A estrutura da música é incrível. Começa com um blues arrastado, com uma
guitarra pesada acompanhando a música e depois, de súbito, muda totalmente para
um ritmo frenético de um spiritual. É quase como nos vermos dançando no meio da
congregação, com palmas e tudo. Incrível.
O momento iluminado do disco
continua com “Old Time Religion” acompanhado do órgão. “When The Spirit Says
Move” é mais um gospel animado para acompanhar batendo palmas. O disco
encaminha-se para o final com a balada soul “Loving You Is Killing Me” e a
balada no piano “Problems”.
In Times Like These é um álbum
daqueles que realmente só podem ser feitos em tempos como estes. Cheio de
tensão, revolta, paixão, dor, sentimento e, acima de tudo, esperança. Ainda de
quebra, Rev. Sekou nos leva a uma visita à Igreja. Aqui cabe um adendo:
independente da sua religião ou se não tem religião, mesmo assim, a música nos
leva a significativas experiências espirituais. Rev. Sekou, apesar de pastor de
uma Igreja pentecostal, sabe muito bem disso. Álbuns assim são os que curam a
alma. Estamos precisando.
Quantos
talentos e histórias excepcionais não são perdidos pelo mundo afora?
Especialmente no blues, cuja origem é essencialmente rural, milhares de músicos
sempre atuaram anonimamente nas sombras durante décadas, trabalhando durante o
dia numa profissão fixa e tocando de bar em bar à noite, vagando pelos
circuitos de sua cidade ou seu estado ganhando um trocado, sem nunca ter tido a
chance de ter sua música ouvida por um grande público, ter seu nome reconhecido
nas rodas dos entusiastas de blues, assim por diante. Por sorte, esse não é
mais o caso de Hayes McMullan. Infelizmente, ele não está mais entre nós para
testemunhar essa tardia mudança. Nascido em 1902, McMullan passou sua vida como
sharecropper, diácono e ativista de direitos humanos. Enquanto isso, tocava
guitarra e compunha algumas músicas para tocar nos bares nas suas andanças pelo
Extremo Sul dos Estados Unidos. McMullan morreu totalmente desconhecido em
1986, aos 84 anos. Somente agora, em 2017, trinta anos depois de sua morte, graças
a uma gravação ocorrida em 1967, podemos finalmente conhecer um relance do
talento e das histórias desse bluesman. Ele foi gravado pelo colecionador musical
e documentarista Gayle Dean Wardlow, que no final da década de 60 foi em busca
de alguma gravação de Charlie Patton, perguntando de porta em porta. Enfim, uma
dessas portas foi a de Hayes McMullan, ao que respondeu que ele simplesmente
tocou com o próprio Patton, além de Willie Brown. Durante seu tempo ativo na
música, McMullan recebeu uma oferta de gravação, mas recusou; “Eles me
ofereceram cinco dólares por música, e você sabe que eles podiam fazer milhares
com apenas uma música” – ele disse então para Wardlow. Depois disso, e com o
envenenamento de seu irmão, que também era um músico de blues, McMullan
abandonou o blues – a música do diabo – e entrou para a Igreja.
Enfim, o disco
Everyday Seem Like Murder Here é o resultado de três sessões que McMullan
gravou com Wardlow entre 1967 e 1968, quase trinta anos depois que ele tinha
parado de tocar. Dessas sessões, 31 faixas estão em qualidade boa para serem
usadas no disco. O resultado é um autêntico registro do Delta Blues,
entrecortadas por conversações. O estilo de McMullan não mudou nada: parece que
está tocando diretamente dos anos 20, 30. Alguns dos destaques ficam com “Look-A Here Woman Blues”, “Goin’ Away
Mama Blues”, “Goin’ Where The Chilly Winds Don’t Blow” e “Kansas City Blues”.
Estamos diante
de um registro histórico, que desenterra a memória de apenas um dos talentosos
músicos de blues que infelizmente foram engolidos pela história.
'The few old snapshots I took, the
handful of tunes we recorded, and his brilliant performance of 'Hurry Sundown'
captured on film are all that's left of the musical legacy of Hayes McMullan,
sharecropper, deacon, and - unbeknownst to so many for so long - reluctant
bluesman - disse Wardlow
Eu sei, todos já foram informados dessa notícia. Mas, mesmo atrasado, o blog não poderia deixar de registrar esse triste acontecimento. No último dia 17, perdemos o cantor e guitarrista Chris Cornell, de Temple of The Dog, Soundgarden e Audioslave. Para quem é fã de rock, especialmente o grunge, é mais uma perda de um heroi.
Como já se sabe, vem mais uma
parceria de primeira por esses dias. O bluesman Taj Mahal se uniu a Keb’ Mo’ e
estão lançando o álbum TajMo no próximo dia 5. Eles já disponibilizaram algumas
músicas do trabalho pelos serviços de stream. Portanto, enquanto aguardamos o
lançamento oficial do esperado disco de Taj Mahal em parceria com Keb’ Mo’, deixo
aqui algumas das músicas que já viram a luz do dia. O primeiro é o lyric vídeo de
“Don’t Leave Me Here” e o segundo é a apresentação ao vivo de “All Around The
World” no The Late Show With Stephen Colbert.
Hurricane Ruth acaba de lançar um vigoroso álbum,
Ain’t Ready for The Grave, para o qual grava um clipe igualmente intenso para a
mais emocionante faixa do disco. O vídeo de “Far From The Cradle” é denso,
reflexivo e ainda nos faz pensar na passagem do tempo. Na belíssima letra, Ruth
nos dá algumas dicas de como devemos enxergar esse movimento inexorável que não
vai parar nunca: “We’re far from the cradle, but we ain’t ready for the grave”.
Confira:
Guy Davis e Fabrizio Poggi lançaram um dos álbuns mais intensos do ano, o histórico Sonny & Brownie's Last Train, no qual se dedicam a homenagear dois grandes gênios do blues, Sonny Terry e Brownie McGhee. Confira agora dois vídeos em que os dois aparecem em ação tocando faixas do disco, "Louise, Louise" e "Walk On"