A edição nº
297 do jornal Delta Times-Dispatch anuncia na capa que a banda David Bromberg
está sendo acusada de "low down, dirty country blues". De pé no tribunal, o defensor
promete: "The Blues, the Whole Blues and Nothing But the Blues". Enquanto
isso, no canto superior esquerdo, o jornal anuncia o clima: "The Sky is
Crying, tears all down the streets".
É com essa
irreverência e bom humor que David Bromberg apresenta seu novo trabalho, The
Blues, the Whole Blues and Nothing But The Blues. Bromberg é um grande
multi-instrumentista que tem uma carreira longa e bem sucedida, que transita
pelas raízes da música popular norte-americana, do blues, passando pelo folk,
country e rock. David Bromberg é um músico e compositor que já está nesse meio
há mais de meio século. Como músico de estúdio, Bromberg participou de
gravações de gente bem pequena, como Bob Dylan, Ringo Starr, Bonnie Raitt,
Willie Nelson, dentre outros. Acabou construindo uma extensa e respeitável
carreira solo, com discos cuja variedade estilística e o bom humor são marcas
registras.
Como a própria capa e o título do álbum
sugere, Bromberg aqui está tocando blues. De ótima qualidade, por sinal. Como
era de se esperar, a banda é impecável, tudo bem organizado e orquestrado, mas
mesmo assim com aquele ar de organismo vivo, em constante movimento. O álbum
apresenta várias regravações de clássicos do blues. Pode parecer fácil, mas
tocar clássicos do blues é sempre um desafio, porque normalmente o ouvinte tem
inúmeras outras referências dessa mesma faixa, que vem à mente e que, mesmo
inconscientemente, compara e classifica. Nesse sentido, Bromberg se sai muito
bem, desde o pontapé inicial. "Walkin' Blues" é uma das músicas mais
regravadas do blues e para dar um toque especial, Bromberg deixa ela mais lenta
e marcada, criando espaços para solos e improvisos. "How Come My Dog Don't
Bark When You Come 'round", um antigo clássico do blues, é uma das faixas
que Bromberg usa seu conhecido humor nas letras e usa também seus dons no
violino. “Kentucky Blues” segue com a grande variedade de instrumentos já
apresentada na faixa anterior, característica sempre presente de Bromberg.
Outra canção
bem conhecida do blues que ganha uma versão aqui é “Why Are People Like That”,
muito conhecida pela versão de Muddy Waters, cheia de solos de guitarra e uma
sessão de instrumentos de sopro muito interessante. “A Fool For You”, de Ray
Charles, fica totalmente acústica, bem diferente da original, difícil até mesmo
reconhecê-la; outra faixa em que Bromberg empunha somente o violão é a balada
“Delia”, tocada em dueto com Larry Campbell na guitarra e slide. “Eyesight to The Blind”, clássica
música de Sonny Boy Williamson II, também entra na lista. A faixa título é a
descrição exata da capa do disco: “I want to take the stand, and raise up my
right hand, get me a stack of bibles ten feet high, I want a jury of my peers,
cause I need everyone to hear, I’m ready to testify, it was my best friend and
my wife, cleared destroyed my life, and made my worst nightmare come true,
that’s the Blues, the Whole blues and Nothing but the Blues”. É, pegar a
mulher com o melhor amigo é o blues, inteiramente o blues e nada mais que o
blues.
A qualidade se mantém praticamente pelo disco
inteiro, mas três faixas se sobressaem diante das outras. A primeira é “900
Miles”, um cover bem empolgante, que faz com que você se envolva com a letra,
de quem está a novecentas milhas longe de casa, ansioso por voltar pra casa,
mas tem que esperar o trem chegar apitando lá de longe. A faixa seguinte também empolga bastante,
“Yield Not To Temptation”, uma acelerada música gospel que vem para acalorar os
ânimos na igreja. Mas sem dúvida é “This
Month” que é a melhor faixa do disco. A letra é sensacional, e o slow blues,
intermediado por solos profundos de guitarra, deixa você tenso e com vontade de
rir pela má sorte do protagonista, afinal, não é todo mundo que é deixado pela
mulher quatro vezes no mesmo mês. O jeito de Bromberg canta essa, sem um
padrão, típico de alguém desesperado com a situação absurda e inaceitável, improvisando
no meio do verso que teoricamente tinha só um caminho a seguir, deixa tudo
melhor. Perfeito. O disco termina com a cover da clássica “You Don’t Have To
Go”.
A única falha
do disco é não ter muito músicas de própria autoria. No mais, The Blues, The
Whole Blues and Nothing But The Blues é exatamente o que o título sugere,
mostrando ainda que, além do blues, todo o blues e nada mais que o blues,
Bromberg ainda consegue apresentar
variações bem interessantes, deixando o álbum ainda mais rico.
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