O Filho do Blues teve a honra de cobrir para seus leitores eventos marcantes nesses últimos anos, destaco principalmente a cobertura dos dois shows de Pearl Jam em São Paulo, em novembro de 2011 e o histórico show de Paul McCartney em Recife, em março de 2012, que foram feitos in loco. Mas como a paixão pela música não está limitada à presença nos respectivos eventos, o Filho do Blues também teve o prazer de cobrir e falar sobre os principais shows do Rock in Rio de 2011, da primeira edição brasileira do festival Lollapalooza, em 2012, do SWU e até mesmo do Global Citizen Festival. Sendo assim, o Filho do Blues não poderia ficar de fora da cobertura especial do segundo Lollapalooza no Brasil.
A segunda edição brasileira do festival Lollapalooza acontecerá nos dias 29, 30 e 31 de março, reunindo atrações de grande destaque na música alternativa dos últimos anos. A festa já começa na sexta mesmo, com uma das principais atrações da noite sendo a banda The Flaming Lips, com início programado para seis e meia e é uma das bandas que tem um álbum na gaveta, que sairá em Abril. A expectativa é se será um show de hits ou com várias músicas novas. The Killers fecha o primeiro dia de festival com a apresentação marcada para nove e meia. Um show nacional que também valerá a pena curtir é o projeto paralelo de Pitty, Agridoce, que começa a tocar de duas e quinze e mescla o som com o folk que resulta num trabalho muito interessante. Bom mesmo seria se ela transformasse esse em seu projeto principal. Mas, enfim, continuemos.
O melhor dia será com certeza o sábado, 30, com várias apresentações de bandas que conquistaram grande espaço nos últimos anos. Um das atrações principais da noite é Queens Of The Stone Age, que começa a tocar de seis e quarenta e cinco e volta ao Brasil após o show no SWU, de 2011, com um álbum na gaveta que será lançado em junho deste ano e com a promessa de soltar algumas faixas inéditas no show. A atração que fecha o dia na Cidade Jardim é The Black Keys, que traz para o Brasil o sucesso com o último disco El Camino. A Perfect Circle também toca entre as duas atrações, começando de oito horas. Alabama Shakes, começa de cinco e meia no palco alternativo que foi, de longe, a estreia mais empolgante de uma banda em 2012 com Boys & Girls e o blues de Gary Clark Jr, que toca às três e meia, também no palco alternativo.
Para finalizar o festival, no domingo, dia 31, Lirinha se junta a Eddie e fazem um show às duas e quinze na Cidade Jardim. The Hives toca de seis e quinze, enquanto Pearl Jam retorna ao Brasil após aquela turnê de 2011 com expectativa de soltar alguma música nova, já que eles estão preparando a sequência para Backspacer, com o show previsto para oito e quarenta e cinco da noite.
Por falta de patrocínio, o Filho do Blues fará a cobertura toda de casa, assistindo todos os detalhes através do canal Multishow, entornando uma cerveja atrás da outra.
O mundo deu sinais de que seria bastante injusto com a banda britânica Suede, que anunciou no final do ano passado um novo álbum, Bloodsports, depois de mais de dez anos separados e dezesseis anos do último disco realmente interessante da banda. Suede estourou no início dos anos 90, pegando uma onda no movimento do britpop, com o sucesso astronômico dos dois primeiros álbuns, o de estréia, homônimo, de 1993 e Dog Man Star, de 1994, tido por unanimidade com o melhor trabalho do grupo. Depois de 1997, ou seja, a partir do disco ComingUp, Suede colecionou dois grandes fracassos para sua discografia, com Head Music, de 1999 e A New Morning, de 2002, tendo se separado por tempo indeterminado no final de 2003.
A banda haveria de se reunir novamente em 2010 para, inicialmente, uma série de shows ao vivo. Como uma coisa leva a outra, aos poucos eles foram apresentando novas músicas em alguns desses shows e, por fim, chegamos onde nos encontramos agora: eles anunciam Bloodsports para o mês de março. Ainda devemos levar mais alguns fatores em consideração antes de conjecturarmos sobre a relevância no cenário atual de uma banda como Suede, cujo passado teve seus momentos brilhantes, mas há muitos anos não brilha mais. Para começar, o momento do lançamento do novo trabalho se dá em meia a uma fraquíssima cena do britpop, que outrora era tão forte e que ajudou a elevar a banda. Como se isso por si só não bastasse, David Bowie atrai a atenção de todos quando anuncia também seu álbum de retorno, o já tão falado The Next Day. A relação entre os dois não se limita a serem “álbuns de retorno”, pois o trabalho de Suede sempre fora muito influenciado por Bowie, sobretudo na fase do glam-rock, e, consequentemente, seus fãs em sua maioria quase absoluta, está ligado tanto a um como ao outro e, diante da importância de Bowie e o anúncio de seu retorno, as devidas atenções para Bloodsports estiveram por um fio. Era essa a grande injustiça que o mundo cometeria com Suede, caso deixássemos passar um álbum tão bom e elegante quanto esse. Graças aos bons deuses da música – leia-se aqui o próprio Bowie – a música de qualidade se sobressai e de uma forma de outra, o mérito sempre é a grande mola propulsora do julgamento.
Em Bloodsports, Suede nem parece uma banda que esteve por tanto tempo separada. Da primeira à última música, eles tocam com uma sede incrível, soando atual, sensual, renovado e, quem diria, ainda relevante. “Barriers”, a faixa de abertura, já mostra a que veio, com um baixo marcante, letras com belas e estranhas imagens, um dos grandes trunfos da banda, e, para completar, um refrão do melhor pop possível. Essa fórmula está presente em praticamente todas as músicas, mudando algumas variáveis, acrescentando umas baladas aqui e outras mais pegadas ali. A única coisa presente em todas as músicas é uma banda confortável e confiantes com o próprio som, fazendo soar muito natural. A sequência inicial é de tirar o fôlego, com a continuação de “Snowblind”, com seu refrão apoteótico e dramático, e do primeiro single “It Starts and Ends With You”, que não precisa de maiores explicações sobre o motivo da escolha para ser a música de trabalho do álbum. Em “Sabotage” se sobressai um belo trabalho de arranjos.
Após esses momentos muito interessantes, apesar do charme glam irresistível de “For The Strangers”, as duas faixas seguintes dão a impressão de que Bloodsports vai se tornar um pouco repetitivo, que o repertório ficará limitado a isso. Mas é depois de “Hit Me” que chega o triunfo de Suede, que teve a perspicácia de dar uma guinada diferente na segunda metade do disco, o que leva a dois momentos especialmente deliciosos. Essa parte final é quando as baladas surgem, como “Sometimes I Feel I’ll Float Away”, com uma guitarra belíssima acompanhando a música e um vocal perfeito de Brett Anderson no refrão. E é nessa parte que ele mais brilha, com a melhor faixa do disco “What Are You Not Telling Me?”, cuja tensão se potencializa pela forma com a qual ela foi arranjada, o refrão cheio de corais, ecos e vocais sobrepostos, como se fosse exatamente uma consciência perturbada pelo ciúme e desconfiança, questionando se ambos teriam sido feitos para os “mistérios do amor”. Tendo chegado ao topo, Suede trata de finalizar o disco de maneira correta com “Always” e “Faultlines”.
Bloodsports torna-se assim um sucesso inesperado de uma banda que se julgava acabada e sem força criativa de se destacar mais uma vez nesse cenário que ela chegou a conquistar há vinte anos. Assim como nesses vinte anos a indústria também se transformou e não se pode imaginar por quanto tempo ainda Suede se manterá nessa posição. Mas não são coisas que valem a pena perder tempo pensando agora. A verdade é que eles voltaram com força para, pelo menos, igualar os seus melhores e gloriosos dias passados. E isso para eles já é o bastante.
Poucos eventos relacionados à música tornam-se grandes marcos na história da humanidade. Claro, cada registro, cada passo estará automaticamente gravado na memória e nos arquivos. Mas são aqueles fatos que moldaram gerações e gerações, que criaram base para mudanças comportamentais e uma revolução de valores que transformaram a sociedade humana de forma quase global. Foi algo assim que surgiu na Inglaterra no dia 22 de março de 1963, há cinqüenta anos, quando um quarteto de jovens da cidade de Liverpool estreavam com o álbum que viria a alcançar dimensões nunca antes imaginadas. Paul, John, Ringo e George, The Beatles acabava de lançar o disco Please Please Me que explodiria pelo mundo a fora, criando uma base de fãs alucinados, a chamada “beatlemania” com clássicos que continuam marcando as novas gerações até hoje, tais como “Twist And Shout”, “P.S. I Love You”, “Love Me Do”, dentre inúmeras outras, se não puder contar com o disco inteiro. Please Please Me foi produzido por George Martin, tido como o “quinto” membro dos Beatles, que participou ainda de vários outros clássicos álbuns da banda e foi gravado em apenas um dia no agora eterno estúdio da Abbey Road.
Um fragmento da resenha de lançamento de Please Please Me pela NME, datada de 8 de março de 1963, diz: “As coisas estão começando a se mexer para os Beatles, o grupo britânico de R&B. O disco Please Please Me segue de perto seu primeiro hit “Love Me Do”, escrita pelos membros do grupo John Lennon e Paul McCartney. Parece um futuro brilhante para os Beatles, mas conhecendo eles, eu não acho que eles irão deixar isso subir às suas cabeças”.
Além de um sucesso e alcance nunca antes vistos, Please Please Me foi apenas a primeira amostra de uma banda que transformaria o mundo no decorrer da década.
Que tal agendar aí mais um lançamento para os próximos meses? Pois é, trate de separar uns dias de maio para escutar o novo álbum do The National, Trouble Will Find Me, que será lançado no dia 20 de maio. Ele foi gravado no Clubhouse, em Nova Iorque e produzido pela própria banda e mixado por Graig Silvey. Esse será o sexto registro da banda, que chega após o grandioso sucesso do último trabalho lançado por eles, o ótimo High Violet. Sobre o novo disco, o líder Matt Berninger tem algumas palavras a dizer: “nos últimos dez anos, nós estivemos a procura de algo, tentando provar algo. E essa busca foi tentando desaprovar nossa própria insegurança. Após a turnê com High Violet, acho que nós finalmente chegamos lá. Agora nós podemos relaxar – não em termos de nossas expectativas, mas nós não temos que provar mais nossa identidade agora”.
Aaron Dessner também tem algumas palavras para falar sobre Trouble Will Find Me: “nossas ideias iriam imediatamente se conectar um com o outro. É bem libertador. Em algum ponto, as músicas são as nossas mais complexas, mas em outro ponto, são as mais simples e humanas. Apenas parece que nós abraçamos a química que temos”.
Bem, pelo menos no discurso vem coisa muito boa por ai, tirando como ponto de partida High Violet, que eles citaram como referência. Por isso deixo vocês com um dos melhores pedacinhos de High Violet:
Trouble Will Find Me:
01 I Should Live in Salt
02 Demons
03 Don't Swallow the Cap
04 Fireproof
05 Sea of Love
06 Heavenfaced
07 This is the Last Time
08 Graceless
09 Slipped
10 I Need My Girl
11 Humiliation
12 Pink Rabbits
13 Hard to Find
Uma tragédia quando se abate sobre o homem produz reações imprevisíveis. Muitos não sabem como lidar com a perda de um ente querido, outros buscam conforto espiritual a fim de dar um sentido maior à existência e, por conseguinte, à não-existência. Há sofredores que preferem outro caminho: canalizar a arte para trabalhar como ferramenta de autoconhecimento, reflexão da vida e da morte por meio criativo, de por para fora, de expressar o que está acorrentado dentro de si. É uma visão poética da dor, afinal, ela ainda persistirá ali, a diferença é que ela criará uma obra poderosa, comovente e sincera.
São essas palavras que traduzem o sétimo álbum da banda de São Francisco Black Rebel Motorcycle Club, chamado Specter At The Feast, dessa capa que parece de livro velho. O disco foi composto após a morte inesperada do engenheiro de som – e também pai do baixista Robert Been – Michael Been. Além disso, era ainda praticamente o mentor, o produtor e um grande técnico de som que os acompanhava em turnê. Foi no meio da turnê de 2010 que eles foram surpreendidos com a morte repentina, em um ataque fulminante do coração no backstage, após um show na Bélgica. Então é natural que a ideia de morte e ausência esteja impregnada nas canções. Specter At The Feast acaba sendo uma espécie de tributo a Michael Been, além de ser uma forma de, se não chega a se livrar da dor, mas pelo menos uma forma de lidar com ela.
Musicalmente a banda também foi contagiada por esse clima sombrio. Como se em cada uma eles estivessem lidando com seu demônio pessoal. As composições ficam mais densas e o vocal de Been mais melancólico ainda, como já mostra a faixa de abertura “Fire Walker”, com um baixo firme e constante, além de uma bela interação entre o vocal principal e o backing vocal. “Let The Day Begin” é por seu simples simbolismo um dos momentos emocionantes do trabalho. Ela é originalmente composta pela banda The Call, da qual Micheal Been era integrante. Ela é facilmente a melhor do álbum, com um vigor contagiante, cheio de guitarras super distorcidas, com um riff marcante e bateria pesada, mostrando um lado mais positivo do luto.
Em “Returning” o clima mórbido está de volta e na letra faz várias referências claras a ausência e a partida de uma pessoa. “but you must leave and not turn back, knowing what you hold, how much time have we got left, its killing us, it carries us on”. Uma grande música, que transborda dor, saudade e emoção. “Lullaby” faz lembrar alguns momentos do até então melhor álbum de BRMC, Howl, de 2005. Com um clima folk do campo, com violão e belos e delicados solos. É uma outra face do luto. Se a anterior foi sombria, essa é mais brilhante. “you are the light in this world”, ele canta.
“Hate The Taste” inicia a fase mais furiosa do álbum, em dose tripla. Afinal, a morte faz também nós nos defrontarmos com seu contrário: a vida. Aqui são eles tentando seguir seu caminho, quer gostem ou não. “i hate the taste, but i carry i’m believing”. Já na furiosa “Rival”, com a guitarra continuando a gritar o mais alto que pode, a revolta diante da perda fica clara enquanto ele decreta: “i’m living with the loss and we’re living in denial”. Para se seguir em frente, precisa-se de uma motivação, nada melhor do que um rival para o obrigar a ficar de pé. Em “Teenage Disease” a fúria continua, ainda mais revoltada que a anterior, com um riff pesado de guitarra e um refrão bem pegado. A raiva aparece como franco atiradora, atirando pra todos os lados, doa a quem doer: “i’d rather die than be living like you”.
Mas uma alma não suporta tanta revolta e raiva diante de um fato tão incontrolável e certo como a morte. E depois da tempestade, vem a depressão, que é o início da aceitação. É assim que “Some Kind of Ghost” começa e termina, melancólica, mórbida e sombria. Diante de momentos tão agitados e intensos passados há poucos minutos, essa sequência acaba por ficar longa demais, já que o clima se estende ainda para “Sometimes The Light”, que é quase uma canção fúnebre de igreja, com um órgão constante pela música. Se musicalmente o álbum perde um pouco a força, é aqui que ele transborda emocionalmente. “Simetimes The Light” é claramente a mais pessoal e direta. “I leave your picture inside the room, for i’ll remember all we could”.
A dupla sequência final volta a ficar majestoso mais uma vez, com “Sell it” e “Lose Yourself”, com destaque máximo para esta última. Ambas são longas e com efeitos de guitarras sombrios e interessantes, marcadas por belas melodias. Em “Sell It”, trata dos meios que recorremos para lidar com a dor, algumas vezes a Deus, muita vezes a remédios: “i got god, i got the medication i got enough to make it all go away”. Já em “Lose Yourself” é o último recurso, é a entrega final de uma alma cansada, o último esforço para enxergar a luz mais uma vez. Mas, para isso, é necessário que se perca a si mesmo de uma vez. Belíssimo trabalho de guitarra, com solos perfeitamente delicados colocados enquanto o vocal desliza pela música.
Specter At The Feast é um álbum muito carregado emocionalmente, que reflete a exata imagem de um espectro em um banquete fúnebre. O fato é que existem formas e formas de se lidar com o luto. O que é certo é que a forma que Black Rebel Motorcycle Club escolheu para lidar com o dele, rendeu no melhor disco da carreira da banda até hoje.
O fim de semana foi de intensa atividade para a banda The Flaming Lips e seus fãs. Eles tocaram no festival SXSW dois shows que se pode dizer que foram, no mínimo, memoráveis. Um deles foi histórico e o outro teve o selo de ousadia que só a trupe de Wayne Coyne poderia ter. Pela primeira vez, The Flaming Lips tocou na íntegra um de seus álbuns mais aclamados, o eterno clássico de 2002, Yoshimi Battles The Pink Robots, em forma de musical. O disco, o qual contém inúmeros hits da carreira dos Lips, tais como “Do You Realize”, “First Test”, e “Yoshimi Battle The Pink Robots Pt 1”, para citar apenas alguns, foi tocado com um palco totalmente novo, feito especialmente para a ocasião. Também há rumores de que o projeto do musical de Yoshimi irá para a Broadway. Bem, se uma coisa no decorrer de todos esses anos nos mostrou, é não dá para duvidar de Wayne, em nada.
O outro show também foi memorável, marcado pela ousadia característica da banda. Eles tocaram, também na íntegra, o novo álbum, The Terror, pela primeira vez. Wayne o descreveu como sombrio, lento, com algumas músicas um pouco difícil de digerir ao vivo. Em entrevista para a Rolling Stone, Wayne falou que era um grande desafio para a banda, porque normalmente em shows, quando a banda toca umas três ou quatro músicas lentas seguidas, uma parte do público tende a perder o interesse. Mas era exatamente esse desafio que os movem, de fazer algo que não fizeram antes. Segundo o jornalista da Rolling Stone que acompanhou o show, disse que realmente a reação do público foi dividida. Enquanto alguns pareceram não curtir, outros estavam atentos ao que acontecia no palco. Para equilibrar mais a reação geral, no final a banda tocou alguns clássicos e todos saíram felizes.
O site de fãs do Flaming Lips, Slow Nerve Action, gravou o show do The Terror ao vivo e o disponibilizou no soundcloud, o som é meia boca, mas dá para ter uma idéia enquanto não sai de fato o disco. E para nossa sorte, o show de Yoshimi na íntegra foi gravado em vídeo e disponibilizado no youtube.
Já havíamos conhecido o novo single de The Strokes, “All The Time”, e agora é a vez de conhecer por completo o álbum Comedown Machine, que está em Stream na íntegra pelo site Pitchfork Advance. A data de lançamento está para a semana que vem, mas o site da Pitchfork conseguiu antecipá-la pela internet. Confira o stream nesse link.
Enquanto isso, fiquem com o vídeo de “All The Time”.
Como já era esperado, pela prévia das paradas no meio da semana, David Bowie emplacou o primeiro lugar no Reino Unido pela primeira vez desde 1993 com o álbum Black Tie White Noise, assim como é o dono da marca de álbum que vendeu mais rapidamente até agora em 2013.
Bowie alcança o feito pela nona vez na carreira. Segundo a Official Charts Company (Companhia oficial de Listas), The Next Day atingiu 94 mil cópias vendidas.
Parabéns a David Bowie pelo grande retorno ao seu devido lugar. É a coroação de um grande e marcante trabalho, com o selo Bowie de qualidade.
The Strokes é uma banda que ainda desperta muita atenção do público em geral, sobretudo por causa da grande explosão no início da década com o disco de estréia, Is This It, de 2001, que se tornou um dos álbuns mais marcantes da década passada. No entanto, o sucesso, combinado com os anos e a idade, fizeram a banda amadurecer para o lado errado, fato comprovado com o controverso Angles, último trabalho da banda, lançado em 2011. Distanciamento entre os integrantes e alteração da dinâmica no processo de gravação, onde, segundo depoimentos, o vocalista Julian Casablancas gravava as suas partes das canções sozinho e enviava para o restante do grupo por email, acabaram por refletir no som confuso de uma banda sem identidade que saiu em Angles.
Essa insatisfação geral, apontada inclusive por alguns dos integrantes da banda, talvez seja a real motivação por trás do anúncio de lançamento do novo álbum, chamado Comedown Machine, para ser lançado no final do mês. No primeiro single, “All The Time”, a banda apresenta um som mais jovial, mais a cara dos Strokes. Essa sensação de reencontro é, de certa forma, reafirmada com o vídeo clipe, onde mostra os grandes momentos da carreira da banda, mostrando gravações de bastidores, os grandes shows em festivais, filmagens no início da carreira, filmagens caseiras, sempre de momentos muito felizes.
Apesar do clima descontraído e alegre do clipe, a banda em geral permanece envolta em mistério, num silêncio sombrio e estranho. Segundo informações, eles não darão entrevistas, não tirarão novas fotos, muito menos farão turnê em suporte a Comedown Machine.
Seja como for, em “All The Time” o certo é que eles estão soando como eles novamente. Assim dá até para voltar as atenções para The Strokes mais uma vez.
Confira:
Essa semana, dia 11 para uns e 12 para os outros, foi o lançamento oficial do já clássico álbum The Next Day, de David Bowie. Já aclamado por imensa maioria da crítica especializada, é a vez do público em geral avaliar o trabalho e o interesse que David Bowie ainda desperta. E o resultado não poderia estar sendo melhor. Foi feita uma prévia das paradas da semana que aponta que The Next Day está se encaminhando para se tornar o álbum mais rapidamente vendido até agora no ano de 2013, além de praticamente assegurar o primeiro lugar nas paradas no domingo, dia que fecha a semana.
Segundo essas informações, somente nos dois primeiros dias, The Next Day, primeiro álbum de Bowie em quase uma década – o último havia sido Reality, de 2003 – havia vendido mais de 66 mil cópias, apenas 5.600 do álbum que vendeu mais rápido no ano até agora, que havia sido Opposites, de Biffy Clyro, que vendeu 71.600 cópias na primeira semana.
The Next Day também está dando um banho o álbum número dois, que é o novo de Bon Jovi, What About Now, vendendo mais em quase três cópias para um e está muito distante nas paradas britânicas.
Se tudo ocorrer como o esperado, David Bowie irá colocar o primeiro álbum em primeiro lugar em 20 anos. O último a chegar no topo das paradas foi Black Tie White Noise, de 1993.
Mais uma boa notícia para os fãs de David Bowie é que pode haver chances de uma turnê para The Next Day. Foi o que deu a entender a sua esposa, Iman Bowie, quando disse em entrevista: “Nós temos uma menina de doze anos na escola, então estamos presos, nós não podemos viajar. Nossa agenda é ao redor dela, então eu não sei. Nós teríamos que ir visitá-lo, mas nós não estaremos em turnê com ele, porque ela tem que estudar”. Bem, aí está uma dica.
Fique com o clipe já conhecido de “Stars (Are Out Tonigt)”:
Chrispopher Owens, da ex-banda Girls, estreou sua carreira solo com o bom álbum Lysandre, lançado no início deste ano. Hoje ele divulgou um vídeo clipe oficial para sua música “Here We Go Again”, dirigido por Ryan Owen Eddleston e mostra uma série de filmagens de uma banda na estrada, em turnê, como sugere toda a história por trás de Lysandre, e apresentações de Owens com sua nova banda. Confira:
Jim James, vocalista e líder da banda de rock alternativo My Morning Jacket, estreou este ano sua carreira solo com o álbum Regions Of Light and Sound of God, um registro bem peculiar, quase transcendental e espirituoso. E pelo jeito é exatamente essas sensações que ele quer representar também no palco, segundo o que mostra o episódio dessa semana do Pitchfork.tv, na Special Presentation, onde Jim James toca a música que abre Regions of Light and Sound of God, “State of the Art”, ao vivo no Sleep No More. Além da música que é muito boa, a apresentação é bem teatral, entrecortados por alguns falas de uma entrevista, e Jim James confessando que é uma oportunidade de percorrer caminhos que artisticamente ele ainda não havia andado, definindo como “aventura artística”. Quando entram no palco, toda a banda e inclusive os espectadores estão usando uma máscara estranha, a qual tiram na hora da performance. Ficou muito interessante essa música ao vivo, bem contemplativa, cujo ritmo vai tomando conta do seu corpo quase como uma hipnose. Confira:
O mundo lá fora é vasto e em constante movimento. E a vida “pós-retorno-de-david-bowie” continua e está a todo vapor. A banda considerada uma das criadoras do movimento grunge, Mudhoney, está para lançar um novo disco no início de abril, chamado Vanishing Point, dono dessa belíssima e maravilhosa capa. O álbum chega cinco anos depois de The Lucky Ones, lançado em 2008. Eles liberaram para audição uma faixa do trabalho com o título de “I Like it Small”. A música tem, sem dúvidas, o carimbo do que Mudhoney faz durante décadas já. É uma música suja e a voz de Mark Arm está tão desalinhada e desafinada como sempre. Confira:
Começo a escrever esta postagem com uma solenidade quase religiosa. Desde que, por pura paixão, comecei com o Filho do Blues, havia uma satisfação imensurável a cada resenha que escrevia. Mas, da mesma forma, havia sempre tristeza proporcional. Toda vez que conseguia pescar uma preciosidade, ao mesmo tempo que eu comemorava, vibrava e me arrepiava, vinha uma consciência severa que lamentava profundamente: “mas você nunca escreverá uma resenha para um álbum inédito de David Bowie”. E assim eu seguia em frente. Isso porque depois do lançamento, em 2003, do disco Reality, Bowie sofreu com um problema no coração na turnê mundial, em 2004, e, depois disso, simplesmente saiu dos holofotes. Disse que iria se afastar e viver uma vida normal, de marido e pai, com sua esposa, a modelo Iman, e a filha do casal, Alexandria. Não houve uma declaração oficial dizendo que estava se aposentando da música. No entanto, ano após ano, havia um silêncio mortal em relação a Bowie, com pouquíssimas aparições públicas. Isso, para um artista muito produtivo, era um anúncio do fim de um deus. Mas, quando se trata de David Bowie, nada pode ser premeditado. Nos últimos anos, ele e seu grande produtor Tony Visconti começaram o processo de gravação do que viria a ser o que ouvimos hoje, ou seja, o álbum The Next Day. Os dois e todos os participantes do projeto, trataram o retorno como um segredo do Vaticano. Nenhuma informação vazou e, no seu aniversário de 66 anos, David Bowie pregou uma peça em todo mundo e anunciou o novo disco e divulgou o primeiro single “Where Are We Now?”. Os fãs, a imprensa, os artistas, enfim, todos ficaram em polvorosa passando a supor o que Bowie estaria aprontando agora, quais os estilos ele iria adotar nesse novo trabalho, depois de um espaço inédito na sua carreira de dez anos sem novos lançamentos. Passado algumas semanas, no dia 26 de fevereiro, ele divulgou o clipe de “The Stars (Are Out Tonight)”, com a participação de Tilda Swinton. Alguns dias depois e, ontem, ele disponibilizou o stream grátis de The Next Day, que só será lançado oficialmente no dia 11 de março. E eis que estou agora realizando o sonho do Filho do Blues de escrever a resenha de The Next Day, que ainda por cima, acaba de ser o melhor trabalho que David Bowie lançou em 33 anos, ou seja, desde Scary Monsters, de 1980, considerado o último clássico bowiano. Eis agora mais um.
Vamos agora à difícil tarefa de tentar fazer jus à The Next Day, que começa com a faixa título. Bowie sabia que a ansiedade seria grande ao ouvir a música de abertura de um disco após tanto tempo. Por isso, ele tinha a consciência do que ela tinha que ser, o grande cartão de visita que tinha que dizer a que veio. E é exatamente isso que “The Next Day” é: um rock forte, agitado, furioso, mesclando o Bowie clássico ou o inovador, principalmente na forma que o vocal foi gravado, em dois canais e com tons diferentes, dando o tom de estranheza prazerosa que existe em David Bowie. No refrão, com uma voz vigorosa, Bowie faz questão de se reapresentar: “here i am, not quite dying”. “Diry Boys” é uma incógnita e, por isso mesmo, ela é maravilhosa, uma das melhores do álbum. É como entrando cautelosamente em território proibido, com os “garotos sujos”. Musicalmente ela é ainda mais incrível. Com um sax grosso e um riff que lembra “Fame”, não dá para defini-la claramente. É um meio caminho entre o soul de Young Americans, porém menos dançante, e a aspereza da era de Berlin.
Em “The Star (Are Out Tonight)” o ritmo volta a ficar intenso. Lembra a era de Ziggy, sobretudo “Watch That Man”. Dá para notar assim já nas primeiras músicas o quanto Bowie irá diversificar em The Next Day. Há um pouco de tudo e de novo também. Apenas pelo começo de “Love is Lost” já impressiona pela intensidade tensa com o baixo constante, tocado pela majestosa Gail Ann Dorsey, um órgão constante e tenebroso e a guitarra de Gerry Leonard furiosa. A já conhecida “Where Are We Now?” mostra o lado nostálgico de Bowie em relação aos anos conhecidos como “era de Berlin”, quando ele lançou Low, Heroes e Lodger e produziu os dois melhores trabalhos de Iggy Pop, Idiot e Lust for Life. “Valentine’s Day” é tem tudo o que uma bela canção romântica precisa, é doce, meiga e singela, lembrando, por sua vez, um pouco de “Everyone Says Hi”, de Heathen, de 2002, principalmente com os backing vocals, ao mesmo tempo que tem um ar do glam do próprio Bowie e T. Rex.
Mas se você pensa que só tem referências dos trabalhos de Bowie dos anos 70 está enganado. Tem também aquele polêmico e experimental. O Bowie que não é unânime, o Bowie, principalmente, dos anos 90. Embora o experimento não seja exatamente com técnicas eletrônicas, há muito caos em “If You Can See Me”. Sons estranhos e descoordenados. Mesmo uns gostando e outros não, é por essa que Bowie é o que é. Sempre fazendo aquilo que acha que deve, forçando a si mesmo a ir além. Em “I’d Rather be High” a coisa fica mais tradicional, se é que isso é possível. Tem tons psicodélicos com uma letra filosófica sobre a mortalidade, fazendo uso de uma bateria militar, tema sempre especial no mundo de Bowie. “I’d Rather be high, i’d rather be dead or out of my head”, ele canta. Em “Boss of Me” quem volta é o grave saxophone, baritone, com alguns efeitos eletrônicos.
As músicas são tão ricas que depois de tanta viagem e descobertas, chegamos na décima música. “Dancing Out In Space” faz jus ao nome, com uma batida pop e dançante. Bowie dos anos 80? Pelo menos aquela bateria irritante não está presente. É mais uma prova de que TODOS os Bowie’s estão presentes e lutando aqui. “How Does The Grass” os espasmos recomeçam. A música é genial, cheia de viradas e variações sensacionais. Você simplesmente não sabe para onde ela vai lhe levar, se é pros solos de guitarra, dos corais fazendo “yayaya”, pra dança, enfim, incrível. “(You Will) Set the World on Fire” é um poderoso hard rock, com uma bateria super pesada e um forme riff de guitarra. Grande solo de Earl Slick nessa. Bowie mostra que pode fazer de tudo com a mesma qualidade e genialidade.
“You Fell So Lonely You Could Die” é um balada acústica de fazer chorar. Tem todos os ingredientes necessários para uma grande música, uma orquestra linda, piano, belos backing vocals, uma melodia arrasadora e, claro, Bowie. No final ainda tem a batida clássica de "Five Years". Impossível dizer se intencional ou não. "Heat" fecha o álbum de forma tensa, do jeito que Bowie gosta de finalizar, vide "Bring Me The Disco King", de Reality, dentre outras. É mais uma faixa lenta, embora toca em outra parte da alma, muito mais densa e sombria. A letra conta a estória de um homem com medo do pai e que não tem muito senso do "eu". Um violino torna a coisa ainda mais nervosa. A música vai acabando quase como o fim de uma prece desesperada e desesperançada.
E é assim que o novo clássico de David Bowie chega ao fim. The Next Day tem recebido fantásticas resenhas, dizendo inclusive que era o melhor álbum de retorno da história do rock. Pessoalmente, mesmo com todo entusiasmo que eu estava por ouvir o álbum, eu não esperava que ele seria assim. Bowie escolheu se resumir artisticamente no decorrer de quatorze faixas – sem contar com as três músicas bônus que ainda não saíram – o que, naturalmente, produz um álbum cuja riqueza é sem igual. Ninguém mais, só David Bowie seria capaz de compor um trabalho dessa magnitude.
Vazou! Vazou! Finalmente chegou o grande dia de ouvir o novo álbum de David Bowie, depois de uma década de espera! Tudo começou, claro, com muito suspensa por parte de David Bowie e de sua página oficial no Facebook. No início da noite, eles postaram uma foto dizendo que mais tarde, mas não muito tarde, estariam com uma nova surpresa para os fãs. Ai começou as conjecturas: nova faixa do disco, novo vídeo, anúncio de turnê? Mas, não. Nada disso. Cumprindo mais uma vez a palavra, na mesma noite, em outro post, anunciaram que poderia ouvir na íntegra o disco The Next Day pelo iTunes até o dia do lançamento oficial no seu país, que é dia 12 de março. Algumas horas depois, já riparam e pronto, mesmo para que não tem conta no iTunes, já pode baixar por ai pela internet. Noite de sexta-feira já está definida, tomar uma cerveja e ouvir David Bowie!
Você pode ouvir o Stream gratuito de The Next Day aqui. Caso, como eu, não tenha conta no iTunes, pode baixar por aqui ou aqui. Aproveitem logo, antes que derrubem o link.
OBS: Não é costume do Filho do Blues colocar links para download, mas, que se dane, esse é uma ocasião mais do que especial! É o Retorno do Camaleão do Rock, de David Bowie!