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domingo, 25 de outubro de 2020

Resenha Relâmpago - The Reverend Shawn Amos - Blue Sky

 


Resenha Relâmpago

The Reverend Shawn Amos - Blue Sky

O blog O Filho do Blues já acompanha o trabalho do cantor e compositor Reverend Shawn Amos desde o disco de estréia, The Reverend Shawn Amos Loves Tou, de 2015, e de lá para cá ele tem amadurecido cada vez mais. Esse amadurecimento é notório em Blue Sky, no qual é acompanhado pela banda The Brotherhood, que mostra um entrosamento e química muito grande durante todo o disco.

Apesar de ter diminuído no tom de faixas realmente de blues, pode-se perceber a presença do blues em todas as músicas, especialmente quando Amos faz a gaita gritar, sempre de forma inteligente, eficiente e sensível. 

Sem dúvida, Blue Sky se insere no catálogo de Reverend Shawn Amos não apenas como um passo adiante, mas também o coloca como um dos nomes mais interessantes e talentosos do cenário do blues contemporâneo. 

Destaques:

"Troubled Man"

"27 Dollars"

"Counting Down The Days"

"Keep the Faith, Have Some Fun"


@therevamos

sábado, 24 de outubro de 2020

Resenha Relâmpago - Tinsley Ellis - Ice Cream In Hell

 



Resenha Relâmpago: 

Tinsley Ellis - Ice Cream in Hell


Um grande guitarrista e expoente do blues rock, Tinsley Ellis oferece mais um bom trabalho, mantendo o nível do seu álbum anterior, Winning Hand, de 2018. 


Em Ice Cream in Hell é certeza de encontrar um trabalho incrível na guitarra - você se verá mais de uma vez fazendo a mesma careta que Ellis faz quando está fazendo mais um de seus solos intensos na guitarra. 


Álbum altamente indicado para quem é fã de blues rock e adora sair fazendo "air guitar" por aí. 


Destaques: 

"Foolin' Yourself"

"Hole in My Heart"

"Sit Tight Mama"


@tinsley.ellis

#bluesrock #review #filhodoblues #resenharelampago #2020 #bluesreview #resenhasdeblues

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Resenha de Christone "Kingfish" Ingram - Kingfish



                O blues não costuma ser muito generoso com os mais jovens. É muito mais comum vermos uma pessoa estreando a carreira com seus cinquenta, sessenta, setenta e até oitenta anos do que alguém muito jovem. Parece que a própria essência do blues exige essa maduridade da experiência, esse conhecimento da vida real, de saber lidar com as dores da vida e tratar delas por meio da música. É aí que Christone “Kingfish” Ingram, um jovem de 20 anos, surge para derrubar essa “teoria”. Ele nasceu em Clarksdale, no Mississippi, o berço do blues, próximo da plantação onde Muddy Waters passou a infância, bem como o cruzamento da highway 61 e 49, onde supostamente Robert Johnson bateu um papo e fez o pacto com o diabo. Pois bem, diferente de um jovem comum de sua idade, Kingfish não mostrou interesse pelo hip-hip ou rap. Ao contrário, desde cedo ele demonstrou grande interesse e habilidade para o blues, fazendo com que há alguns anos já carregasse o peso de ser o “futuro do blues”. A família dele cantava na Ingreja e a mãe é prima de uma lenda country, Charley Pride. Com seis anos, Ingram começou a tocar bateria e baixo. Aos 11 ele dominou rapidamente a guitarra e estreou nos palcos. Dentre os artistas com quem já diviu o palco estão nomes como Buddy Guy, Tedeschi Trucks Band, Robert Randolph, Guitar Shorty, Eric Gales e outros.


É com essa pressão que Christone “Kingfish” Ingram finalmente nos entrega seu tão aguardado álbum de estreia: Kingfish, produzido por Tom Hambridge, duas vezes vencedor do Grammy. Pode-se dizer que Kingfish lidou muito bem com a pressão e deu conta do recado. Seu álbum de estreia parece feito por um veterano, tranquilo por mostrar todas suas habilidades e passsar seu recado.

                Observando pela capa, podemos já perceber que Kingfish se apresenta como um guitarrista de blues. No álbum, Kingfish não é apenas um ótimo guitarrista, mas também um ótimo vocalista. O álbum decola com um poderoso blues-rock “Outside of This Town”, sobre o momento de sair da sua cidade em direção a coisas maiores. Na segunda faixa, “Fresh Out”, Kingfish é acompanhado na guitarra e no vocal por um dos seus maiores padrinhos musicais, Buddy Guy. A alternância de solos é dinâmica e muita rica. A maturidade e a tranquilidade da voz de Kingfish chega a impressionar, já que divide os vocais à vontade com gigantes do gênero e notáveis vocalistas, como o próprio Guy e Keb’ Mo’, como na faixa “Listen”.

                O álbum continua a todo vapor com mais um blues-rock, “It Ain’t Right” e, sem dúvida, os solos são um show à parte. Mas os pontos altos do disco são quando Kingfish dá um tom intimista e pessoal, aproveitando a curiosidade de ser um jovem de 20 anos tocando um gênero considerado “música de velho”. Ele fala dessa relação em em “Been Here Before”, só no violão e voz. Na letra, Kingfish dá tons míticos à sua história e fala sobre a sua “alma velha” que já andou peregrinando por aí.  A avó, como a voz da sabedoria, costumava dizer que ele já esteve ali antes. Em “If You Love Me” aparece um item que estava fazendo falta: a gaita, tocada por Billy Branch. Com a ajuda ainda de Keb’ Mo’ na guitarra, a música é um shuffle bem intenso.

                Dentre inúmeros destaques, “Love Ain’t My Favorite Word” com certeza se sobressai. Um slow blues incrível, cheio de solos de guitarra e uma letra comovente sobre como o amor é superestimado, com Kingfish já falando sobre suas desilusões amorosas. A influência de Buddy Guy fica evidente em “Before I’m Old” e “Believe These Blues”, onde inclusive Kingfish solta umas críticas sociais sobre enquanto a pobreza e a fome durar o blues nunca vai acabar. “Trouble” tem um ritmo bem interessante e diferente, entrecortado por solos de guitarra. Outra acústica “Hard Times”, com Keb’ Mo’ mais uma vez no violão, é outro grande momento. É curioso um jovem de 20 anos falando de “tempos ruins”, mas quando a gente pensa que vivemos em termos turbulentos e preocupantes, sabemos do que ele está falando. Ainda dá tempo para um solo de slide bem interessante. O álbum termina com “That’s Fine By Me”.

                Christone “Kingfish” Ingram certamente deixou de ser apenas uma promessa para ser uma realidade. O fato dele ser o futuro do blues só o tempo irá dizer. Ele tem todas as condições para isso. O perigo é ele ficar seduzido pelo mainstream e partir para mistura com outros estilos, não sendo nem uma coisa, nem outra. Uma grande promessa que foi para esse caminho foi Gary Clark Jr. Tomara que esse não seja o caso de Kingfish.


domingo, 10 de fevereiro de 2019

Resenha de Walter Trout - Survivor Blues




O lançamento de um novo álbum do guitarrista Walter Trout é sempre um evento para se marcar na agenda e esperar ansiosamente. Dono de uma discografia de dar inveja a muitos guitarristas renomados por aí, Trout não se cansa e procura sempre cravar mais a fundo seu nome no hall dos gigantes do gênero do blues rock com seu novo disco, Survivor Blues. Walter Trout procura um conceito que irá guiar todo o trabalho e como não podia ser diferente, em Survivor Blues o sentimento que motivou Trout e a banda foi resgatar músicas de blues menos conhecidas e rearranjá-las e trazê-las novamente para a superfície. Portanto, Survivor Blues não é um mero álbum de covers, mas sim um disco de raridades. Eu, pessoalmente, conhecia apenas duas músicas das doze faixas. "God's Word", de J. B. Lenoir, e "Please Love Me", de B.B. King.



O disco tem início com “Me, My Guitar and the Blues”, de Jimmy Dawkins, é um slow blues em que Trout deixa sua marca em solos incríveis na guitarra e intensidade no vocal. O resgate de músicas antigas não foi desconectada da realidade, pois a segunda faixa “Be Careful How You Vote” parece atemporal, pois funciona para qualquer época, e cai como uma luva para os tempos atuais, um chamado para a responsabilidade na hora de votar. “Sadie”, de Hound Dog Taylor, recebe um ritmo bem interessante e em seguida "Please Love Me" do saudoso B.B. King recebe uma versao acelerada e intensa. A visionária "Nature's Disappearing", do mestre  John Mayall, de 1970, mostra um tema extremamente relevante do meio ambiente e mudanças climáticas. "Something Inside of Me", de Elmore James, é outro grande destaque do disco, com amplo espaço para Trout destilar toda sua habilidade na guitarra. Em "Going Down to the River", Trout dá um tratamento do blues elétrico ao Delta blues de Mississippi Fred McDowell. Para finalizar, uma versão digna de "God's Word", de J. B. Lenoir.

            A inspiração para o álbum surgiu enquanto Trout estava dirigindo e colocou no rádio uma estação de blues que apareceu uma banda tocando "Got My Mojo Workin'". E então ele pensou consigo mesmo: "o mundo precisa de mais uma versão dessa música, tantas e tantas vezes regravadas?" Pois bem, com Survivor Blues, Trout escolhe a dedo aquelas que valem a pena serem redescobertas.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Gary Clark Jr. retorna com o clipe de "This Land"




Gary Clark Jr., um dos guitarristas que mais se destacaram nos últimos anos, está voltando com o lançamento de um novo álbum, no dia 1 de março. Hoje, ele divulgou o vídeo clipe da música que dá título ao álbum, "This Land". O vídeo é uma declaração política e estética de Gary Clark Jr. O início e o final representam de onde Clark veio, sua formação musical, o blues. A música em si é o que Gary Clark Jr. quer representar para o novo público, um som mais moderno, em alguns momentos quase no rap, mas com uma guitarra sempre presente e potente. Tematicamente, o vídeo é incrível. É um manifesto político em relação ao problema racial nos Estados Unidos e inclusive o racismo que ele mesmo sofreu, como diz na nota que Clark Jr. divulgou:

"I’m just basically saying we’re here, everybody’s here. We all deserve an equal shot and let’s get over the bullshit. I grew up in the south, in Austin, Texas. I had a few situations down there with some racism, and some Confederate flags, and people calling me out of their trucks, and all that kind of stuff. It wasn’t an everyday thing, but I recently had an incident in my neighborhood with that, in front of my kid. Everything that was going on in November 2017, around that time, just the past couple years have been kind of crazy. Climate’s been a little bit wild. I had a track, a beat that I laid down, I didn’t have any lyrics over it and it just … I was just kind of sitting in there and it just came to me. I just went in there and fired off."

. A fúria, a revolta e o sentimento de basta estão presentes em cada verso e em cada nota tocada por Clark Jr., afinal, esta terra também é deles. O título parece um contraponto ao hino "This Land is Mine". Em especial, a cena das crianças pisando a bandeira dos confederados é simbolicamente linda. Confira a capa, o vídeo e a tracklist do álbum abaixo:


THIS LAND:
01 This Land
02 What About Us
03 I Got My Eyes on You (Locked & Loaded)
04 I Walk Alone
05 Feelin’ Like a Million
06 Gotta Get Into Something
07 Got to Get Up
08 Feed the Babies
09 Pearl Cadillac
10 When I’m Gone
11 The Guitar Man
12 Low Down Rolling Stone
13 The Governor
14 Don’t Wait Til Tomorrow
15 Dirty Dishes Blues

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Ben Harper e Charlie Musselwhite anunciam novo álbum, No Mercy In This Land



                Em 2013, Ben Harper se uniu com Charlie Musselwhite para gravarem um álbum juntos, o ótimo Get Up! (vencedor do Grammy para o Melhor Álbum de Blues, em 2013) A mistura de estilo de ambos contribuiu bastante para a qualidade do disco. Com o passar do tempo, o trabalho parecia ter sido uma benfazeja aventura musical na discografia de Ben Harper e Charlie Musselwhite. No entanto, se tem dois artistas que adoram trabalhos colaborativos são esses dois. A volta da parceria era tão somente uma questão de tempo e eis que em 2018 acabou de ser anunciado que Harper e Musselwhite estão lançando um novo disco juntos, chamado de No Mercy In This Land, que será lançado em 30 de março. Junto ao anúncio, a dupla divulgou a canção que dá título ao álbum.

                O disco, segundo comunicado oficial, no qual os artistas trocam elogios um ao outro, inclui as “histórias pessoais tanto de Ben Harper quanto de Charlie Musselwhite, além de acrescentar à sônica história da luta e sobrevivência dos americanos”. Confira abaixo a tracklist do álbum e a música “No Mercy In This Land”:

1. "When I Go"
2. "Bad Habits"
3. "Love And Trust"
4. "The Bottle Wins Again"
5. "Found The One"
6. "When Love Is Not Enough"
7. "Trust You To Dig My Grave"
8. "No Mercy In This Land"
9. "Movin' On"
10. "Nothing At All"


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Resenha - Walter Trout - We're All In This Together



Depois da tempestade, a bonança. Essa frase não poderia ser melhor aplicada do que o caso do guitarrista de blues Walter Trout. A recuperação do corpo não é o bastante quando a ferida atinge o âmago mais escuro da alma. Totalmente recuperado fisicamente de um longo drama de saúde, Trout tratou de curar sua alma e exorcizou seus demônios com o emocionante – e sofrido – disco Battle Scars, de 2015. Agora, dois anos depois, com a vida salva, a carreira retomada e saindo em turnê novamente, Walter Trout está aproveitando cada segundo do tempo que conseguiu garantir. Quando estamos felizes, queremos compartilhar essa felicidade; chamamos os amigos e fazemos aquela festa. O seu novo disco,  We’re All In This Together, é exatamente essa festa que Trout andou preparando com seus amigos (baitas amigos!”). O álbum tem quatorze faixas, cada uma com um convidado especial acompanhando Trout, que compôs as faixas já pensando nos artistas que iriam acompanhá-lo. Assim, ele tomou o cuidado de chamar figuras versáteis dentro do universo do blues e do blues-rock, o que dá ao disco uma dinâmica bastante saudável.  Trout conseguiu capturar a alma e a essência tanto do estilo quanto do convidado. Mas, afinal, quem são esses convidados? Vejamos: Kenny Wayne Shepherd, Sonny Landreth, Charlie Musselwhite, Mike Zito, Robben Ford, Warren Haynes, Eric Gales, Edgar Winter, Joe Louis Walker, John Nemeth, Jon Trout (filho de Walter), Randy Bachman, John Mayall e Joe Bonamassa. Só isso, simplesmente os melhores do gênero blues-rock.

                Devido a isso, We’re In This Together tem de tudo, começando com aquelas clássicas dirigidas principalmente pela guitarra, como a faixa de abertura, “Gonna Hurt Like Hell”, com Kenny Wayne Shepherd, “Crash and Burn”, com Joe Louis Walker e “Got Nothin’ Left”, com Randy Machman, nas quais a aceleração é mantida sempre com ótimos solos de guitarra, além do mestre do slide zydeco, Sonny Landreth e a instrumental “Mr. Davis”, com Robben Ford. Mas também tem gaita suficiente aqui, como “The Other Side of The Pillow”, com o mestre da gaita Charlie Musselwhite, que também pega emprestado os vocais em um dueto trágico-cômico sobre mais uma das inúmeras histórias de traição no blues. John Mayall também traz sua gaita para a incrível “Blues For Jimmy T.”, um delta blues somente com Trout no violão e Mayall na gaita. Sensacional. Outra em que a gaita divide as atenções com a guitarra é “Too Much To Carry”, com John Nemeth, um Chicago blues empolgante.

                No disco também tem aquelas que transitam mais para o rock e pop, com um som mais acessível e radiofônico, como “She Listens to The Blackbird Sing”, com Mike Zito, ou “She Steals My Heart Away”, com um toque meio soul de Edgar Winter e um pouco do funky blues de Eric Gales em “Somebody Goin’ Down”. Diante de um time de joias como esse, Walter Trout faz anda o trabalho de casa, com seu filho Jon, na faixa “Do You Still See Me At All”, com um ritmo bem dançante. Como se não bastasse, tem uma versão incrível da clássica “The Sky Is Crying”, com Warren Haynes. Para terminar com chave de ouro, Water Trout se une a Joe Bonamassa, os dois maiores representantes do blues-rock na atualidade e nos entregam o suprassumo do estilo: a faixa que dá título ao álbum “We’re All In This Together”, quase oito minutos com o melhor que o gênero blues-rock tem a oferecer.

We’re All In This Together torna-se assim, além de um favoritos para o melhor disco do ano, uma obra-prima do gênero blues-rock e coloca Walter Trout como seu maior representante e compositor. O mais legal é que essas posições de nada importam: ele consegue essa proeza num disco colaborativo em que os egos de cada um dos convidados – e o dele próprio – são deixados de lado e o que transparece é realmente a única coisa que importa de verdade: o amor pela música.


domingo, 13 de novembro de 2016

Confira "Hate To See You Go", do novo álbum de blues de Rolling Stones, Blue & Lonesome




                Não há como negar: o blues que conhecemos hoje e do jeito que ele chegou a nós não seria o mesmo não fosse por uns grupos de jovens britânicos que chegaram a conhecer as gravações do blues, que nos próprios Estados Unidos era desconhecido do grande público de classe média branca, e a partir daí o absorveram em sua própria arte e depois o reapresentaram para o público consumidor dos Estados Unidos. Dentre esses jovens estavam John Mayall, Eric Clapton, Mick Jagger, Keith Richards, para citar apenas alguns. The Rolling Stones, uma das maiores bandas de rock do planeta – senão a maior – nunca negou sua admiração pelo blues, levando para um programa de TV pela primeira vez, ainda na década de sessenta, Howlin’ Wolf para dividir o palco. Durante toda a longa carreira, os Stones gravaram algumas covers de blues e dividiram o palco com Muddy Waters, B.B. King, Buddy Guy, dentre outros. No entanto, a banda inglesa nunca havia dedicado um álbum inteiramente ao blues, apesar dele estar no seu próprio DNA. Essa lacuna vai ser preenchida agora, com o lançamento do álbum Blue & Lonesome, com data de lançamento para dois de dezembro. 

                Isso significa que todo o amor e admiração que cada membro da banda tem pelo blues estará presente em cada uma das faixas do novo disco, que é uma compilação de covers de blues, especialmente o blues de Chicago de meados da década de 50. O baterista Charlie Watts, “This album is what I’ve always wanted the Stones to do. It’s what we do best and what we did when we first got together”. Na tracklist estão covers de Howlin’ Wolf (claro), Little Waters (claro), Jimmy Reed (claro). Saiu a primeira amostra do álbum, o clipe de “Hate To See You Go”, bem como o áudio de “Just Your Fool”. Confira abaixo:






terça-feira, 24 de maio de 2016

Joe Bonamassa divulga novo clipe, "This Train"



Joe Bonamassa divulgou no último domingo um novo clipe, da explosiva faixa de abertura, “This Train”, do seu ótimo novo disco, Blues of Desperation. Com imagens da banda em gravação no estúdio alternando-se com uma locomotiva viajando a todo vapor, Bonamassa e companhia reafirmam com todas as letras que esse trem do blues não para pra ninguém. 


domingo, 1 de maio de 2016

Resenha: Joe Bonamassa - Blues of Desperation



                Joe Bonamassa nunca está parado. Com um ritmo frenético de lançamentos (às vezes dois por ano), nessas últimas semanas, Joe Bonamassa lançou mais um álbum, Blues of Desperation, altamente antecipado. E a antecipação provou-se completamente recompensada, porque Blues of Desperation é um dos melhores álbuns da carreira de Joe Bonamassa. Gravado em Nashville, com o produtor Kevin Shriley, em apenas cinco dias, Bonamassa apresenta onze faixas poderosíssimas, que transitam naturalmente entre o blues tradicional e o blues rock, agradando a ambos os gostos.

                “This Train” mostra que a locomotiva já está em plena velocidade, se inspirando na estrutura da letra da clássica música de mesmo título do gospel e do blues, eternizada amplamente por Sister Rosetta Tharpe e muitos outros. Apesar de diminuir a velocidade, em “Mountain Climbing” o clima continua intenso com um riff pesado e ritmo bem marcado. A letra também é bastante interessante, fazendo uso da metáfora da montanha com o de um trabalhador pobre trabalhando dia após dia para superar a montanha. Uma música para o Dia do Trabalhador. “Drive”, primeira música de trabalho do disco, é bem mais calma, como se para ser ouvida depois de um dia cansativo tentando escalar a montanha, como na faixa anterior. “Put on an old blues song / Let all our troubles be gone / And drive”.




                “No Good Place For The Lonely” é um blues mais lento, mas também tem seus momentos de explosão, inclusive com uma orquestra de cordas e um dos melhores solos de Bonamassa do álbum. A faixa que dá título ao álbum, que alterna momentos de guitarras pesadas e calmaria, tem na letra talvez seu ponto mais forte, mostrando o conflito para superar ou conviver com o desespero. “Smile at me, while I live in damnation / Trying to make sense of these blues of desperation”.

                “The Valley Runs Low”, contrasta com o restante do álbum, uma agradável balada no violão; correta e não muito mais do que isso. Muito diferente é a faixa seguinte, “You Left Me Nothing But The Bill And The Blues”, sem dúvida uma das melhores músicas de Blues of Desperation; possui uma fúria, uma indignação que é natural para alguém que é deixado somente com as contas e o blues, “broke and still paying the bills”. Joe Bonamassa é um grande criador de riffs, e “Distant Lonesome Train” é mais um desses casos, bem como a faixa seguinte, “How Deep The River Runs”, especialmente no refrão. O álbum caminho pro seu final com a diferente e bem recebida “Livin’ Easy”, no estilo de Chicago blues no piano. Como Bonamassa falou, vida fácil tá difícil. “Now livin’ easy's getting hard to do”. Uma mudança de ares que faz muito bem ao disco. Maravilha.  Por fim, “What I’ve Known For A Very Long Time” é um belo blues lento e cheio de metais.

                Blues Of Desperation atesta mais uma vez Joe Bonamassa como um dos nomes mais fortes no blues rock atualmente. 


quinta-feira, 3 de março de 2016

Resenha: Dion - New York Is My Home




                O guitarrista Dion está na ativa há quase tanto tempo quanto o Rock n’ Roll. Iniciando a carreira no final dos anos 50, Dion foi um dos maiores representantes do chamado doo wop de Nova York. Desde então, o guitarrista, natural do Bronx, flertou com o pop, o blues e o R&B, numa carreira de mais de cinquenta anos, naturalmente cheia de altos e baixos. Atualmente, no entanto, Dion está nas alturas, embalado por uma sequência de mais de dez anos de ótimos lançamentos, todos eles com um elemento em comum: o blues e o folk-rock. Desde de Bronx in Blue, de 2005, Dion já brilhou novamente com Son of Skip James, de 2007, Tank Full Of Blues, de 2012 e agora, aos 76 anos, presta uma singela homenagem à sua cidade natal com o disco New York Is My Home.

                O disco começa com o rock da divertida “Aces Up Your Sleeves”, que já mostra que Dion está com a voz melódica e firme e os solos de guitarra em ótima forma. Já com “Can’t Go Back To Memphis”, um blues clássico sulista, Dion encarna um personagem endiabrado que não pode voltar para sua cidade porque todos os policiais e padres sabem o seu nome e por isso ele tem que ficar por aí rodando. Blues puro. A faixa que dá título ao álbum, a folk “New York Is My Home”, a mais calma do disco, é um belo dueto com outro cantor bastante ligado à “cidade que nunca dorme”, Paul Simon. Uma bela homenagem à frenética cidade. Em “The Apollo King” a festa volta com tudo, lembrando o rock dos anos 50 de Chuck Berry; a letra celebra a vida do saxofonista de R&B, Big Al Sears, membro da banda da lenda Duke Ellington.




                “Katie Mae”, uma das duas covers do álbum, e também uma das melhores faixas do álbum, Dion revisita o clássico de Lightnin’ Hopkins, criando uma versão que sem dúvida possui vida própria. Depois de “I’m Your Gangster Of Love”, vem mais uma original de Dion que é puro blues. “Ride With Me” é uma das mais intensas do álbum, como já sugere os primeiros segundos da música, o motor de uma moto sendo ligado e dando partida. Durante todo o tempo a música é só movimento, ação, força, ou seja, toda a jovialidade do velhinho de 76 anos. A vitalidade continua presente na faixa seguinte, “I’m All Rocked Up”. O disco caminha para o final com mais uma homenagem; em “Visionary Heart”, que lembra um pouco algumas baladas de Bruce Springsteen, Dion imagina uma carta para Buddy Holly (eles estavam juntos em turnê quando Buddy Holly, The Big Bopper e Ritchie Valens morreram no acidente de avião em 1959). Dion se refere a esse triste episódio na letra, “the day the music died”. Para finalizar, uma versão de “I Ain’t For It”, originalmente por Tampa Red.

                New York IsMy Home é um tipo de consagração para Dion, que ultimamente tem se dedicado a fazer um blues “made in Bronx”. Além disso, é um lembrete de alguém cuja presença nem sempre foi tão marcante como deveria, mas que nunca se retirou de cena em mais de cinquenta anos de carreira. Dion está na ativa, felizes aqueles que se dão conta de sua presença e se dispõem a ouvi-lo.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Assista ao vídeo de "Drive", nova música de Joe Bonamassa



Como já foi noticiado por aqui, Joe Bonamassa estará lançando mais um novo álbum em 25 de março. Para movimentar um pouco as coisas, o guitarrista divulgou o primeiro vídeo de Blues of Desperation, chamado “Drive”, música calma, lenta, quase contemplativa, cujo ritmo constante é construído por dois bateristas. Um delicado coral e tímidos solos de Bonamassa completam o cenário da música. Confira o vídeo abaixo:







quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Resenha: Bob Margolin - My Road


                O guitarrista de blues Bob Margolin é uma conexão direta com o passado; um passado, diga-se de passagem, bem majestoso. Entre 1973 e 1980, Margolin foi o guitarrista da banda de ninguém menos que Muddy Waters, durante uma fase de grande sucesso comercial para Waters, com a parceria com Johnny Winter, produzindo dois grandes álbuns, Hard Again, de 1977, e I’m Ready, de 1978, ambos vencedores de Grammys. A partir da década de 90, “Steady Rollin’” Bob Margolin, como também é chamado, passou a consolidar uma carreira solo com álbuns sempre muito elogiados e explorando os limites do gênero blues (Not Alone, de 2012, e em parceria com Ann Rabson, In North Carolina, de 2006, Up & In, de 1997 e My Blues & My Guitar, de 1995, são alguns itens de sua discografia que vale muito a pena conferir). Em 2016, Margolin lança mais um disco, chamado My Road, que destaca a trajetória desse guitarrista que tem muito que contar e muito mais ainda a oferecer com seu talento. Em várias das doze faixas do disco, Margolin adota o tom autobiográfico para falar um pouco da sua relação com o blues. A banda é enxuta, sem muito refinamento, o que provoca algumas canções “simplistas”, mas memoráveis.

                “My Whole Life” resgata sua trajetória na vida e no blues, que o levou ao momento em que se encontra agora. É um blues direto, bem no estilo de Muddy mesmo, repleta de solos de guitarra alternados pela gaita. “For every note I play there are 50 years of shows, 2 million miles of highways and a passion that just grows”. Uma declaração ao blues. Na romântica “More and More”, Margolin adota a voz mais melódica, enquanto o som fica mais enxuto, sem a gaita e apenas a guitarra, baixo e bateria, assim como em “I Shall Prevail”.

                A simplicidade atinge um nível memorável em dois claros momentos: em “Goodnight”, um belíssimo blues rural de raiz tocado e cantado por um inspirado Margolin. Um dos pontos alto do disco, sem dúvida, a ser somado com “By By Baby”, de Nappy Brown, na qual o dueto entre Margolin e Chuck Cotton é acompanhado apenas pela gaita. Um trabalho de harmonia magnífico entre os dois. Perfeito. “Low Life Blues” a coisa fica animada mais uma vez, com Ted Walters tocando gaita do jeito do mestre Little Walter no melhor estilo do Chicago Blues. No final da letra, uma grande lição para todos os amantes do blues: “well, you can call me a low life, but i’ll leave the high life too, cause if I’d never hit bottle, wouldn’t know all the things I do”. Tocou bem na essência, Mr. Margolin.

              “Young and Old Blues” é uma divertida visão sobre o choque de gerações, sobre envelhecer. A imagem que Margolin utiliza é ficar impressionado com B. B. King, um homem tão velho, tocar e cantar o blues como ele toca e canta. Em seguida, sua banda estava tocando tão alto numa escola para um monte de adolescentes que eles nem conseguiam conversar. Como Margolin diz, o novo e o velho depende de que lado você olha. É coisa pra quem gosta de música de velho, como se diz. Já “Ask Me No Question” lembra um pouco Johnny Cash, principalmente com a voz grave de Margolin. É o momento de depressão antes da festa de sábado a noite, que não tarda a chegar com “Feelin’ Right Tonight”. Hora de curtir, não importa o que lhe digam. Já “Devil’s Daugher” é para depois da farra, arrastada, cheia de solos de slide, sombria, deixando no ponto para uma dança com a filha do capeta.

                 “Heaven Mississippi” é um show à parte, para deixar todo fã de blues emocionado, pela quantidade de referências a essa terra que é tida como o Berço do Blues, o “paraíso”, o segregado, o racista Estado do Mississipi, que forneceu as condições para as experiências compartilhadas pela comunidade negra, que acabaram potencializadas no blues. Como bom conhecedor, Margolin acerta em cheio nas referências, pagando tributo especial a seu mentor, Muddy Waters, que é quem o guia nessa jornada: “Heaven Mississippi, the blues i love was there, heaven, heaven Mississippi old school blues fill the air”. Robert Johnson, Pinetop Perkins, Muddy Waters, Hubert Sumlin, Jimmy Rodgers, Willie “Big Eyes” Smith, Junior Wells, Freddie King, é por causa de todos esses e muitos outros, que Margolin enfim atesta: “in heaven Mississippi the blues will never die”.

                My Road é um álbum que atinge o seu objetivo: mostrar um pouco da carreira desse guitarrista que já tem onze discos solo, inúmeros projetos e participações especiais e está num momento especial em sua vida, sendo uma figura respeitável na cena do blues, com uma agenda frequente de shows e consistentes álbuns lançados. Ou seja, My Road é um compêndio das variadas facetas desse grande guitarrista do blues, mas mantendo-se sempre na sua maior paixão: o bom e velho blues. 


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Resenha de Tedeschi Trucks Band - Let Me Get By





                Tedeschi Trucks Band é uma banda grande, de fato; a grandeza, porém, advém mais do número de integrantes do que necessariamente pelos seus feitos musicais: a banda, formada em 2010, em Jacksonville, na Flórida, que uniu as carreiras do casal Susan Tedeschi, cantora de blues e Derek Trucks, guitarrista de blues. Chegaram agora chega ao seu terceiro álbum de estúdio com o lançamento de Let Me Get By, é formada por doze membros fixos, já que o baixista de jazz Tim Lefebvre integrou permanentemente a banda (Tim foi o baixista da já icônica banda que gravou Blackstar, o último álbum de David Bowie). Os dois primeiros álbuns, Revelator, de 2011 e Made Up Mind, de 2013, foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público, que elogiaram bastante o som da banda, principalmente suas apresentações ao vivo, que mescla o rock com a riquíssima tradição da black music, ou roots music, como blues, gospel, soul e até mesmo funk. Em Let Me Get By, no entanto, lançado hoje, o casal Susan Tedeschi e Derek Trucks e seus demais dez companheiros levam a banda a outro patamar.

O sucesso alcançado com Made Up Mind fez com que a banda fosse de vez pra estrada, apresentando-se mais de 200 vezes em 2014. Entre a correria dessa vida “on the road”, eles se reuniram no Swamp Raga Studios, o estúdio caseiro do casal, e começaram gravar a banda tocando totalmente solta, improvisando em longas jams, cada um contribuindo com ideias, músicas, melodias, harmonias, etc. Iam novamente para a estrada e depois voltavam mais uma vez para o estúdio, tanto é que muitas das músicas de Let Me Get By foram tocadas em shows durante o ano de 2015, como mostra os vídeos do youtube. Bem, o resultado disso é o incrível Let Me Get By, um álbum extremamente colaborativo, o que pode ser facilmente notado na riqueza de cada uma das dez faixas presentes no disco. A maioria das músicas em Let Me Get By ultrapassa a barreira dos cinco minutos, fazendo com que os músicos tenham mais espaço para preencher e desenvolver suas ideias, cavando cada vez mais fundo na estrutura das músicas, de forma completamente confortável, confiante e relaxada. Conseguir a harmonia de uma banda de 12 membros não é coisa fácil. A voz de Susan Tedeschi é um brilho à parte, que somado aos corais estilo gospel, faz parecer que o sagrado e o secular são, na verdade, a mesma coisa.



A faixa de abertura, “Anyhow”, já trilha o caminho grandioso do restante do álbum, com Susan Tedeschi realizando uma das melhores performances vocais de todo álbum. A prova de que uma música de longa ligação realmente funciona, quando a banda realmente sabe o que fazer, é que após Susan dar seu show particular, os últimos minutos são destinados aos improvisos de solos de guitarra sensacionais de Derek Trucks. Liricamente, o álbum como um todo é bastante positivo, pra cima, o que casa muito bem com os ritmos dançantes da maioria das faixas. A faixa seguinte, “Laugh About It”, aí se enquadra; diante das situações da vida, das pessoas querendo colocar você pra baixo, você escolhe escolher: chorar, cantar ou rir delas. Claro que nesses momentos de otimismo exacerbado, sobra espaço pra uns clichês aqui ou ali, como “life is what we made it”. Tudo tranquilo, de boa. Afinal, esse som é para ser curtido mesmo. Em “Don’t Know What It Means”, tem o ritmo mais funk, mas o que se destaca mesmo é o refrão irresistível, que faz você acompanhar batendo palmas e balançando a cabeça com os olhos fechados. A sessão de metais está sempre presente, preenchendo os espaços vazios e enriquecendo o universo sonoro, mas em alguns momentos se sobrepõe à guitarra de Derek e se soltam em solos empolgantes como no último minuto de “Don’t Know What It Means” e o solo de trompete no jazz de “Right On Time”, que lembra um pouco Louis Armstrong. “Right On Time”, inclusive, uma das melhores do disco, apresenta um dueto entre Mike Mattison e Susan Tedeshi muito bom, a voz meio que fraca, tensa e quase sombria de Mattison contrastando com a força e delicadeza da voz de Tedeschi.  

A faixa que dá título ao álbum, “Let Me Get By” é outro show à parte, quase como um culto religioso ao ar livre no meio de uma arena de rock. Gospel, blues, funk, soul e rock juntos e misturados. O teclado, que estava meio que apagado nas faixas anteriores, dá as caras agora. “Just As Strange” é mais simples e “limpa” que as outras, talvez por isso seja por elas totalmente eclipsada, mas ao menos mantém o ritmo fluindo. Já “Crying Over You / Swamp Raga For Hozapfel, Lefebvre, Flute And Harmonium”, cantada por Mike Mattison, é outra mudança de direção, focada bem mais no soul; uma viagem quase épica e com uma melodia belíssima, além da variação musical que cada um dos músicos coloca aqui (principalmente o melhor solo de guitarra do álbum), o que faz valer os oito minutos de música, com os dois minutos finais cheios de sons orientais, tipo flautas e cítaras. Depois de deixar Mattison brincar um pouco, Susan Tedeschi volta com tudo na bela e melódica “Hear Me”. O álbum caminha pro fim com o R&B de “I Want You”, que parece feita sob encomenda para as pistas de dança, mas que do meio pro final vira numa jam-session estranha e sensacional.  O desfecho vem com chave de ouro em “In Every Hear”, mais um gospel-blues-soul incrível.  


Enfim, Let Me Get By consegue captar todo o potencial da grande banda Tedeschi Trucks Band, agora não somente grande apenas no número de integrantes, mas grande também pela música, recheada de maturidade, criatividade e profundidade. Um grande e grandioso álbum. Sem dúvida, “grande” é o adjetivo perfeito para Let Me Get By.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Joe Bonamassa anuncia novo álbum, Blues of Desperation



                É inegável que Joe Bonamassa seja incansável, principalmente levando em consideração a média de produtividade dos artistas nas últimas décadas, com hiatos muito longos entre os discos lançados. Bonamassa, de fato, não se enquadra nesse padrão, seja com discos de estúdio ou com inúmeros discos ao vivo (fora isso, . Em média ele leva dois anos para lançar um disco de inéditas, entrecortados por um ou mais álbuns ao vivo. O último deles, por exemplo, chamado Different Shades of Blue, saiu em 2014, e desde então Bonamassa já lançou dois discos ao vivo (o ótimo Muddy Wolf at Red Rocks e Live at Radio City Hall, ambos de 2015). Pois bem, sem espaço para descanso, Bonamassa anuncia o lançamento de um novo álbum de inéditas para 25 de Março, cujo título, espirituoso, será Blues of Desperation, que foi composto e gravado em Nashville. O anúncio veio acompanhado de um trailer do álbum no youtube, que você pode ver abaixo. Sobre o disco, Bonamassa diz que ele apresenta a sua evolução como um músico de blues-rock, alguém que “não está relaxando nas suas conquista e que está sempre pensando em frente sobre como a música pode envolver as pessoas e permanecer relevante”. Completando, Bonamassa parece bastante empolgado com o resultado: “Gravar Blues of Desperation é um dos projetos de gravação mais empolgantes que eu já fiz. Que prazeroso barulho nós fizemos”. Segue abaixo a tracklist de Blues of Desperation:

Tracklist

This Train
Mountain Climbing
Drive
No Good Place For The Lonely
Blues Of Desperation
The Valley Runs Low
You Left Me Nothin’ Nut The Bill And The Blues
Distant Lonesome Train
How Deep This River Runs
Livin’ Easy
What I’ve Known For A Very Long Time



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Resenha de Walter Trout - Battle Scars



Quando a tragédia se abate sobre a nossa vida, é natural cada um reagir de forma diferente; e a música, sendo uma das grandes manifestações artísticas do ser humano, muitas vezes é uma força catalizadora para lidar com esses momentos de extrema tensão, dúvida, medo, ansiedade, e assim por diante. Há incontáveis discos inteiros dedicados a alguma forma de tragédia, seja a de um fim de relacionamento, tragédias humanitárias e, naturalmente, discos que tratam sobre a batalha mais definitiva de todas: a batalha pela vida. Normalmente, quando um artista sobrevive a uma experiência de vida ou morte, seja acidente ou doença, ele utiliza sua arte para canalizar suas percepções sobre essa fase difícil, essa batalha da qual ele, aparentemente, sagrou-se o vencedor. Essas impressões dependem muito de cada um, do que experimentou, de como se sentiu; mais comumente elas soam depressivas, mórbidas, com o pensamento da morte sempre presente e representado por um som mais tenso e sombrio. É o caso, por exemplo, da banda indie Spiritualized, cujo líder Jason Pierce lidou com experiências desse tipo – dupla pneumonia – no álbum Songs In A&E, de 2008, um som melancólico e que faz o ouvir aproximar-se ao máximo da tensão e da dor sentida por Pierce. Há outras formas, no entanto, de lidar com essas sensações. E é exatamente isso o que faz o guitarrista Walter Trout com seu novo álbum, chamado BattleScars, cujo nome já sugere que serão tratadas as cicatrizes deixadas após a batalha pela vida.

                No início de 2014, Trout encontrava-se entre a vida e a morte, deitado numa cama de hospital sem poder mover-se, falar, nem mesmo reconhecer seus próprios filhos. Ficou em coma por três dias por falência hepática; em 26 de maio de 2014, Trout foi submetido a um transplante de fígado e começou a recuperar-se, a voltar a viver novamente em um lento processo de recuperação. Durante esse período, ele ainda conseguiu lançar um álbum, The Blues Came Callin’, sem saber se sairia vivo do processo. Pois bem, Trout venceu esta batalha e ressurge vigorosamente com seu novo trabalho, um álbum de blues incrível, que transcende inclusive os limites do próprio blues. Como está estampado na própria capa do disco: “Last year has been one where the blues truly came calling, and I came face to face with death more than once”. Então Battle Scars representa um paradoxo dentro do blues: embora seja um gênero originário de um ambiente social extremamente injusto, exploratório, e segregado racialmente, as letras do blues utilizam mais a ironia e o humor como forma de confrontar e resistir a esse ambiente. São, portanto, e de certa forma, letras mais leves e indiretas, cheias de duplo sentido e saídas inusitadas, que se unem a um som vivo e dançante que parece celebrar o milagre da vida. Walter Trout utiliza-se desse estilo musical e acrescenta ao som vivo e intenso, através de letras pesadas e densas, temáticas relativamente novas ao mundo do blues, como a morte, por exemplo. O blues, como um natural gênero de sobrevivência, que canta e celebra a existência, apesar de tudo, é a forma perfeita de Walter Trout ressurgir como um jovem de 17 anos, como ele próprio diz: “At first I wasn’t strong enough to play a single note on the guitar, but as I regained my strength, the music came back to me. Now when I pick up the guitar, it is liberating, joyful, and limitless. I feel like I’m 17 again.” Mas foi um longo e duro caminho até lá. E é isso que ele mostra em Battle Scars: a jornada pela vida da primeira música à última, em todas suas nuances e reviravoltas, em momentos de desespero e esperança, de perda da fé e da fé renovada, em achar que é o último dia vivo, em desejar desesperadamente que viva, ao menos, até o dia seguinte. 

                O álbum inicia com a faixa “Almost Gone”, que, como o título sugere, é um relato de um sobrevivente. Na alternância de intensos solos de guitarras e gaitas, Trout começa a falar de suas impressões e sobre as pessoas que o fizeram manter a fé, a continuar lutando: “Now I get the feeling/Something’s going wrong/Can’t help but  feelin’/I won’t last too long”. A letra mostra a luta entre pessimismo e otimismo, mesmo sendo impelido a lutar, Trout diz na letra: “we both know i’m almost gone”. Logo em seguida sirenes começam a disparar, dando uma noção exata do local onde estamos e o motivo pelo qual estamos ali. “Omaha” é uma das mais intensas. Ela se refere ao tempo em que Trout ficou no centro médico em Nebraska e tudo o que acontece no cotidiano de um hospital: a dor (própria e alheia), transplante de sangue, pessoas morrendo ao redor, as famílias chorando, etc. Em “Tomorrow Seems So Far Away”, numa música intensa e mais uma vez cheia de solos sensacionais na guitarra, Trout lida exatamente com essa expectativa e deixa claro: a luta é mais do que dia a dia, é hora a hora, minuto por minuto, já que “just hangin’ on, gimme one more day; but tomorrow seems so far away”.

                Chega a etapa do disco cheia de contrastes. O tom musical muda drasticamente na delicada, mas dolorosa, “Please Take Me Home”, na qual Walter Trout se aproxima bastante de algumas baladas de Bruce Springsteen, inclusive na voz. A letra é quase uma súplica de Trout para ser levado para casa. “Playin’ Hideaway” é bem enérgica, com vozes em coro no refrão, cantando quase jubilosamente. É o contraste de “Haunted By The Night”, canção mais sombria do disco, na qual mostra um Trout sem fé, cansado de lutar, preso numa cama de hospital sem poder andar e achando que o diabo está rindo na sua cara, enquanto é perseguido pela noite. “I’m looking in Hell, but i can’t stand the sight, I’m trembling in the darkness, cause I’m haunted by the night”.  Sem dúvida ela captura Walter Trout no seu fundo do poço, do qual ele tenta desesperadamente sair já na faixa seguinte, “Fly Away”, um rock direto, vivo e livre, que representa uma tentativa, ou fantasia, de libertação, qualquer que seja, a morte ou a recuperação. A fé aparece renovada aqui “can you hear me when I pray? we’re gonna fly, we’re gonna fly away”. 

                Após a fase dos contrastes, a esperançosa “Move On”, a guitarra continua a delinear o caminho, mas parece que foi feita na fase de recuperação, pois agora Trout parece olhar mais para frente, já tentando vislumbrar como a sua experiência mudou sua visão de mundo. Em “My Ship Came In” tem a volta da gaita já na introdução. Terminada a parte brilhante e positiva do álbum, os reflexos sobre a morte parecem ter voltado na música mais diretamente blues do álbum, e, portanto, uma das melhores, “Cold, Cold Ground”, ou seja, a batalha pela vida continuava. I could hear the angels calling, lord I just can’t stand the sound, I need to believe I ain’t ready for the cold, cold ground”. Então a música continua com uma sensação onírica de algum sonho ou alucinação proveniente do coma, mas sempre com a certeza de que o seu tempo não havia acabado. Ainda por cima, a música apresenta um dos mais belos solos de guitarra do álbum. “Gonna Live Again”, tocada no violão, é quando finalmente ele percebe que irá viver e sairá vencedor dessa batalha e não importa o que o fez passar por isso, ele apenas deve deixar esse momento para trás, já que agora está vivendo novamente e está com a chance de ser um homem melhor. A Deluxe Edition ainda tem duas músicas bônus, “Things Ain’t What They Used To Be”, só Trout com o violão e gaita, e finaliza com “Hell To Pay”, também um blues acústico de primeiríssima qualidade.

                Depois do drama vivido, Walter Trout acaba por nos entregar o melhor álbum de sua carreira. Claro que a carga emocional tem um impacto profundo nas músicas e as fazem ter uma conotação ainda mais forte. Mas é a honestidade que faz com que Trout consiga nos transportar um pouco que seja para sua vida. As cicatrizes da batalha são as lições que ele aprendeu em sua jornada, as quais ele consegue repassar um pouco delas para nós, ainda que não passemos pelo drama que ele passou. Um drama pessoal não é o suficiente para um bom álbum. Pode ser mais tentador do que parece tentar esconder profundas experiências pessoais e espirituais por trás de clichês. E definitivamente não é isto que Walter Trout faz em BattleScars. Você pode ouvir o álbum completo pelo youtube neste link
               

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Resenha de John Mayall - Find a Way to Care


Alguns músicos cravam seus nomes na história da música tanto pelo seu trabalho produzido quanto pelos serviços prestados de preservação cultural. É o caso da tríade britânica que mudou os rumos do blues na década de 60. John Mayall, Eric Clapton e Rolling Stones (Mick Jagger e companhia) foram os principais responsáveis por (re)apresentar o gênero do blues para o grande público branco dos Estados Unidos. Até então, o blues era uma manifestação cultural da comunidade afro-americana altamente centralizada nas áreas rurais do Sul dos Estados Unidos e nos bairros negros dos grandes centros industriais do Norte. Após a invasão britânica, os brancos passaram a consumir o blues tanto – ou mais – do que a própria população negra, cujo interesse musical fragmentava-se diante dos gêneros derivados do blues e jazz, como o soul e funk. Já tendo seus nomes marcados na história, Mayall, Clapton e, em partes, os Stones, no entanto, permanecem ativos.

Tocando blues há 70 anos – e profissionalmente há 50 -, John Mayall, o “Godfather of The British Blues”, –, apenas um ano após o último álbum, A Special Life, mostra que, aos 82 anos, ainda permanece com um fôlego interminável e lança seu mais novo disco, chamado Find a Way To Care, no qual mostra uma habilidade específica que não havia ainda sido muito explorada; com a ajuda da banda que o acompanha há anos, com uma seção de metais sempre presente, John Mayall sente-se confortável o suficiente para dedicar-se mais ao piano e ao teclado.  Na verdade, o teclado e/ou piano são os instrumentos de mais destaques de Find a Way To Care. De uma forma ou de outra, dividindo o espaço seja com guitarras, gaita e metais, através de solos ou apenas acompanhamentos tímidos, o teclado e piano estão sempre lá marcando presença.  É o caso de “The River’s Invitation”, na qual seção de metais faz um belo trabalho, apoiando Mayall em seus vários solos de teclado, que continuam em “Ain’t No Garantee”, com um ritmo mais para o funk, puxado pelo baixo; em “I Feel So Bad”, clássico de Lighnin’ Hopkins, que é totalmente repaginada por Mayall e tocada numa versão mais agitada e dançante, com mais uma presença marcante dos metais e do teclado.




Mayall também é conhecido por explorar nas composições próprias um pouco mais além o campo lírico do blues, indo além de lugares-comuns do gênero. A faixa que dá título ao álbum, “Find a Way To Care”, possui letras bem reflexivas, sobre mudanças sociais recentes e a necessidade de continuarmos tentando: “times are changing now, we gotta do the best we can”. Uma tentativa de colocar um pouco de otimismo nesse nosso mundo desolado em que vivemos.  Para um artista de 80 anos, pode-se dizer que Mayall já viu mudar muita coisa. “Long Summer Days” é nostálgica, com Mayall retomando suas memórias da infância na fazenda na Inglaterra.



Os outros destaques utilizam a fórmula mais tradicional do blues: gaita, piano, guitarra. “Mother In Law Blues” inicia o álbum com extrema elegância e qualidade, com uma letra clássica do blues sobre despedidas e abandonos, através de uma mecânica bem interessante entre gaita, guitarra e piano. No meio de versos característicos do blues (como “it was early in the morning” e “saw my baby walk away”), Mayall ainda cria algumas imagens poéticas, como no trecho: “I know she heard me calling she looked back and waved her hand / she said ‘I’m so sorry baby, you’re just footprints in the sand’”. Em relação à voz, Mayall mostra que ainda consegue cantar com vigor e intensidade. A versão para “Long Distance Call”, do lendário Muddy Waters é outro exemplo: em grande parte mantendo-se fiel à original, Mayall nos entrega uma versão honesta e impecavelmente executada, utilizando-se dos solos para dar seu toque especial, dessa vez no piano. Na maliciosa “I Want All My Money Back” Mayall se defende das aproveitadoras de plantão “you’re using me, i think you’re just using me, if you don’t do something I like I want all my money back”. Outra cover magnífica executada por Mayall e sua banda é “Drifting Blues”, também uma das preferidas de seu amigo conterrâneo e guitarrista, Eric Clapton. John Mayall finaliza de forma solitária, com a faixa “Crazy Lady”, só ele e o piano, de acordo com a longa tradição de pianistas de New Orleans, como Professor Longhair.

Tal qual Leo “Bud” Welch, dois álbuns em dois anos para um músico com mais de 80 anos é algo extraordinário. No caso de John Mayall é ainda mais surpreendente pelo fato do músico já estar há mais de 50 anos no ramo profissionalmente. Não é um álbum que se equipare aos clássicos da década de 60 e 70, tanto pela sua importância musical e histórica, mas para quem acompanha e é fã da extensa carreira de John Mayall é com certeza uma ótima pedida. 


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Resenha de Mr. Sipp - The Mississippi Blues Child



         A ascensão de uma jovem estrela para brilhar no mundo da música é difícil, dura e cheia de batalhas travadas no anonimato do dia a dia. Dificilmente é algo que acontece da noite para o dia. Para o artista comum que está batalhando, a escada para o sucesso é feita de etapas. Ao menos esse deve ser o que anda pensando o jovem guitarrista Castro Coleman, conhecido apenas como Mr. Sipp (abreviação com referência ao rio Mississippi). Nos últimos três anos, Mr. Sipp completou etapas fundamentais para alcançar o seu objetivo. Em 2013, foi o finalista do IBC - International Blues Challenge, mas acabou perdendo. Ainda assim, lançou, de maneira independente, seu primeiro disco, chamado It’s My Guitar. Já cheio de moral, tentou novamente e foi mais uma vez finalista do Desafio Internacional do Blues, do qual saiu finalmente como vencedor. Mais ainda: ganhou o prêmio da Gibson como melhor guitarrista do ano. Para coroar as conquistas- e provavelmente pensando alto -,  em 2015, Mr. Sipp lança seu segundo disco, chamado de The Mississippi Blues Child.

O álbum apresenta um Mr. Sipp bem mais versátil, talvez tentando tornar seu som mais acessível ao grande público. O Mr. Sipp vencedor do IBC, ou seja, o seu lado do blues mais vigoroso, com a guitarra gritando alto está travando uma luta constante com o Mr. Sipp mais ambicioso e comercial. E é exatamente esse caráter dúbio que faz com que The Mississippi Blues Child perca um pouco de toda sua potencialidade. Afinal, essa batalha ele já ganhou ao se sagrar vencedor do IBC com um blues poderoso, performático e enérgico.

                Os destaques do disco estão mesmo mais para o blues e concentram-se na primeira metade do disco, embora o lado mais soul e pop de Mr. Sipp não seja totalmente descartável. A faixa de abertura, “Tmbc” é o acrônimo para The Mississippi Blues Child e conta de forma autobiográfica sua relação pessoal com o blues, ouvindo comentários de pastores, como: “They say Mr. Sipp you’re gonna burn in Hell for playing that blues style / but instead I played all over the world and I’m known by the name of The Mississippi Blues Child”. Já a faixa seguinte é uma das melhores músicas do disco, “Jump The Broom”, com um riff de guitarra forte e solos sensacionais de Mr. Sipp. A letra é bem interessante, dizendo para abraçar o novo e se casar com ele. “In The Fire” mostra uma melodia bem desenhada e se alterna em momentos mais intensos, com riffs e solos na guitarra e momentos mais leves e melódicos. A mistura é um dos exemplos quando o equilíbrio funciona muito bem. 

          “Say The Word” é mais um dos destaques que mostram toda a potencialidade de Mr. Sipp. Um blues lento e leve, cheio de solos que remetem ao o melhor estilo de B. B. King e T-Bone Walker. Evidencia ainda outro elemento que até então havia ficado nas sombras: Mr. Sipp mostra um amplo domínio sobre sua potente voz. “Slipp Slide” é divertida e feita para dançar nos shows ao vivo. Mr. Sipp até faz brincadeiras com o público, as palmas e as respostas do público dão a impressão da gravação ser ao vivo.  

No limbo estão as canções que não são nem destaques, mas que também não se enquadram como fracassos, como “Hole In My Heart”, “Nobody’s Bisness” e “What Is Love”. Mas há aquelas que soam totalmente forçadas, exatamente para tentar dar uma versatilidade sonora que, na verdade, não estava fazendo falta, como “Jackpot”, “V.I.P”, “Tonight”.

The Mississippi Blues Child aparece como uma balança na qual Mr. Sipp ainda não está totalmente certo para qual lado pender e busca manter-se equilibrado entre um e outro. É mais uma etapa que o jovem Mr. Sipp terá que ultrapassar. Mas a verdade é simples: o lado bluesman e guitar hero lhe cai bem melhor. Mr. Sipp é um músico, jovem, cheio de energia e com sonhos de tornar-se relevante. 

Abaixo, segue o vídeo de sua apresentação de 2014 que saiu vencedora do International Blues Challenge: