sexta-feira, 2 de junho de 2017

Resenha de Hayes McMullan - Everyday Seem Like Murder Here




Quantos talentos e histórias excepcionais não são perdidos pelo mundo afora? Especialmente no blues, cuja origem é essencialmente rural, milhares de músicos sempre atuaram anonimamente nas sombras durante décadas, trabalhando durante o dia numa profissão fixa e tocando de bar em bar à noite, vagando pelos circuitos de sua cidade ou seu estado ganhando um trocado, sem nunca ter tido a chance de ter sua música ouvida por um grande público, ter seu nome reconhecido nas rodas dos entusiastas de blues, assim por diante. Por sorte, esse não é mais o caso de Hayes McMullan. Infelizmente, ele não está mais entre nós para testemunhar essa tardia mudança. Nascido em 1902, McMullan passou sua vida como sharecropper, diácono e ativista de direitos humanos. Enquanto isso, tocava guitarra e compunha algumas músicas para tocar nos bares nas suas andanças pelo Extremo Sul dos Estados Unidos. McMullan morreu totalmente desconhecido em 1986, aos 84 anos. Somente agora, em 2017, trinta anos depois de sua morte, graças a uma gravação ocorrida em 1967, podemos finalmente conhecer um relance do talento e das histórias desse bluesman. Ele foi gravado pelo colecionador musical e documentarista Gayle Dean Wardlow, que no final da década de 60 foi em busca de alguma gravação de Charlie Patton, perguntando de porta em porta. Enfim, uma dessas portas foi a de Hayes McMullan, ao que respondeu que ele simplesmente tocou com o próprio Patton, além de Willie Brown. Durante seu tempo ativo na música, McMullan recebeu uma oferta de gravação, mas recusou; “Eles me ofereceram cinco dólares por música, e você sabe que eles podiam fazer milhares com apenas uma música” – ele disse então para Wardlow. Depois disso, e com o envenenamento de seu irmão, que também era um músico de blues, McMullan abandonou o blues – a música do diabo – e entrou para a Igreja.
Enfim, o disco Everyday Seem Like Murder Here é o resultado de três sessões que McMullan gravou com Wardlow entre 1967 e 1968, quase trinta anos depois que ele tinha parado de tocar. Dessas sessões, 31 faixas estão em qualidade boa para serem usadas no disco. O resultado é um autêntico registro do Delta Blues, entrecortadas por conversações. O estilo de McMullan não mudou nada: parece que está tocando diretamente dos anos 20, 30. Alguns dos destaques ficam com “Look-A Here Woman Blues”, “Goin’ Away Mama Blues”, “Goin’ Where The Chilly Winds Don’t Blow” e “Kansas City Blues”.
Estamos diante de um registro histórico, que desenterra a memória de apenas um dos talentosos músicos de blues que infelizmente foram engolidos pela história. 

'The few old snapshots I took, the handful of tunes we recorded, and his brilliant performance of 'Hurry Sundown' captured on film are all that's left of the musical legacy of Hayes McMullan, sharecropper, deacon, and - unbeknownst to so many for so long - reluctant bluesman - disse Wardlow