segunda-feira, 31 de março de 2014

Resenha: Johnny Cash - Out Among The Stars



Johnny Cash é um mito. A essa altura do campeonato, o que quer que for se falar de Cash há de se levar em consideração isso: o cara é um mito. Inclusive, a áurea lendária dele parece receber contornos sobrenaturais, já que continuam surgindo discos inéditos do cantor mesmo mais de dez anos após a sua morte, em 12 de setembro de 2003. Nesse mês de março, Johnny Cash lança seu terceiro álbum póstumo de inéditas, chamado Out Among The Stars, resgatado pelo filho do cantor, John Carter Cash (que garantiu que ainda há mais discos inéditos a ser lançados futuramente), gravado originalmente no período entre 1981 e 1984 (enquanto lutava contra a dependência de drogas), na década em que, digamos, não foi exatamente a década de ouro para Cash. Out Among The Stars foi recusado pela gravadora, que o arquivou. Uma pena; porque o disco tem ótimas canções, entre alguns baixos momentos, os quais encaramos com certa condescendência. 





Começamos com a faixa de abertura homônima “Out Among The Stars”, com Cash sendo o Cash de sempre, com um belo e cativante refrão, entrecortada por momentos de conversação, mostrando uma preocupação social com desemprego e violência. He can't find a job but Lord he's found a gun”. Em alguns trechos parece que Johnny Cash levantou-se do seu túmulo e veio falar sobre esse assunto tão atual, sobretudo na sociedade brasileira, onde a classe média com um ódio sedento dos “vagabundos de plantão”, em campanhas de violência gratuita. “He knows that when they're shooting at this loser They'll be aiming at the demons in their lives”.

“Baby Ride Easy”, um country bem veloz, é um dos dois duetos com a sua esposa June Carter (“Don’t You Think Our Time Will Come” é a outra). “She Used To Love Me a Lot”, de David Allen Coe, ganha nova vida aqui, coisa que o clipe representa muito bem através da síntese do sombrio e belo, a resistência nostálgica a deixar um amor ir embora, com a firmeza clássica do vocal de Cash, um dos pontos altos, sem dúvida. E a crueza da verdade: "Yes I'm in need of something But it's something you ain't got But I used to love you a lot”





“After All” é uma quieta balada, acompanhada no piano, com uma bonita melodia, mas não chega a ser marcante. “I’m Movin’ On” tem a participação de Waylon Jennings e parece ter sido gravada no estúdio ao vivo, entre conversas e risadas, dueto bem interessante e animado. “If I Told You Who It Was” leva um cômico Cash contando uma história para depois entrar num refrão bem rápido, uma mudança bem bolada e divertida, no melhor estilo contador de histórias, um encontro casual com alguma personalidade famosa. “Call Your Mother” é, por sua vez, uma tocante balada também com uma pontinha de humor, numa roupagem mais séria e trágica. “Gently break the news that you don't love me And give my best regards to your good old dad”

“I Drove Her Out Of My Mind” tem uma variação de ritmo bem interessante, aumentando e diminuindo a velocidade de acordo com a história narrada. A partir daí o disco vai perdendo força; “Tennessee” é suave e gostosa de se ouvir, mas passa longe de ser memorável, bem como “Rock And Roll Shoes”. “I Came To Believe”, apesar de muito boa, perde um pouco do ineditismo, já que saiu no álbum V: A Hundred Highways, de 2006.

Out Among The Stars é mais um álbum póstumo de Johnny Cash que nos ajuda a recolher os vestígios de sua arte pelo mundo. É um crime um disco como esse ter permanecido incógnito por tanto. Johnny Cash é um dos que merecem um registro completo de sua obra, entre erros e acertos. Out Among The Stars não chega a marcar a carreira dele, mas o seu valor histórico e artístico é inegável, tanto pelas músicas que aqui se encontram como pelo apelo por ser um álbum perdido de Johnny Cash. É muito mais um acerto do que um erro. Um erro – e este bem grave – foi terem-lhe engavetado.


Stream de Flaming Lips - Flaming Side of The Moon



Em 2009, The Flaming Lips lançou sua própria versão para o clássico The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. Agora, em mais uma jogada surreal da banda, que desde então vem se distanciando cada vez mais do convencional – isso contando que eles eram convencionais, o que eles nunca foram – a banda resolve lançar um acompanhamento para o disco, chamado Flaming Side of The Moon, que está em stream. Ele foi projetado para ser ouvindo simultaneamente com o Dark Side original, do Floyd, e, de acordo com a nota oficial, ele foi cuidadosamente desenhado para sincronizar com o filme The Wizard of Oz, de 1939. Para quem tiver a coragem de embarcar nessa, segue o stream:




terça-feira, 25 de março de 2014

Aquecimento Lollapalooza 2014: Vampire Weekend toca "Unbelievers" no Tonight Show With Jimmy Fallon



Falta pouco mais de uma semana para mais uma edição do festival Lollapalooza no Brasil, que acontecerá nos dias 5 e 6 de abril e contará com a participação dos grandes nomes da música de 2013, tais como Arcade Fire, Vampire Weekend, Muse, Nação Zumbi,Nine Inch Nails, Pixies, Apanhador Só, dentre muitos outros. Então, tiraremos alguns dias para fazer um aquecimento para o Lollapalooza 2014.

Ainda recebendo os louros por Modern Vampires of The City, Vampire Weekend foi o convidado musical da noite no programa The Tonight Show Starring Jimmy Fallon, e tocou a música “Unbelievers”, com uma cortina atrás da banda projetando imagens.

Vampire Weekend está escalado para tocar no domingo, dia 6 de abril.





Vampire Weekend performs ~ Jimmy Fallon's... por HumanSlinky

segunda-feira, 24 de março de 2014

Abença Pai: Blue Guitars, de Chris Rea - O Projeto de Blues mais ambicioso da história



A coleção Blue Guitars, de 2005, do guitarrista britânico Chris Rea, é o projeto mais ambicioso do Blues: 11 discos conceituais, mais de 130 músicas inéditas contando a trajetória do blues desde a África até os dias de hoje. Ele dividiu o blues em etapas conceituais e, para cada uma delas, compôs músicas que se encaixam no estilo, tanto temático como sonoro. Os discos são: Beginnings (1), Country Blues (2), Louisiana and New Orleans (3), Electric Memphis Blues (4), Texas Blues (5), Chicago Blues (6), Blues Ballads (7), Gospel Soul Blues and Motown (8), Celtic and Irish Blues (9); Latin Blues (10) and 60′s and 70′s (11).

Chris Rea, para quem não conhece, é um grande compositor britânico que começou sua carreira no final da década de 70, mas só estourou mesmo com os hits da década de 80, tais como “On The Beach”, “The Road To Hell”, “Fool (If You Think It’s Over)”, dentre outras. Porém, Rea passou por um drama na sua vida pessoal no início dos anos 2000, chegando à beira da morte, devido a sérios problemas no estômago, sendo diagnosticado com pancreatites e passando por inúmeras e perigosas cirurgias (ele perdeu o pâncreas em 2001). Por fim Rea venceu a doença, mesmo que ela o tenha legado com vários problemas de saúde que o irão acompanhar o restante de sua vida. Na recuperação, prometeu que iria dar uma guinada radical em sua vida, escolhendo um caminho independente da sua gravadora e passou a focar em projetos próprios, sobretudo no desenvolvimento de suas raízes musicais, com ênfase para o blues. No decorrer da década de 2000, ele lançou vários álbuns de blues e culminou no ponto máximo de sua carreira: a coleção Blue Guitars, de 2005, com 11 discos e um DVD (pensada originalmente como o último trabalho com o seu nome, mas que posteriormente a história provaria que ele estava enganado). Vale a pena falar aqui também o modus operandi do projeto. Enquanto vários artistas demoram anos e anos entre um disco e outro, a coleção Blue Guitars foi o resultado de um notável processo que durou 18 meses de trabalho pesado, doze horas por dia, sete dias da semana, ou seja, um baita workaholic. 




Ao contrário de fazer um projeto somente de resgate, regravando clássicos do blues, Rea optou por um trabalho totalmente original e autoral, misturando elementos musicais, instrumentais, compondo um conjunto incrível, não apenas se limitando ao território sonoro do blues, mas também utilizando de outras linguagens musicais para transmitir o sentimento que é a essência do blues, utilizando-se de sua voz grave (às vezes bem próxima de Mark Lanegan) e suas espetaculares habilidades na guitarra, principalmente no Slide.

Não dá para fazer uma simples resenha, tratando Blue Guitars de forma generalizada. Seu conteúdo é deveras rico para ser tratado dessa forma. Então irei fazer uma sequência de resenhas, para cada um dos 11 discos de Blue Guitars, observando, analisando e vibrando com cada um dos seus triunfos. As postagens farão parte do Especial Chris Rea: Where The Blues Come From.

Se você é fã de blues, é uma obrigação ter essa coleção e acompanhar as resenhas, comentando suas impressões e opiniões. Se você acha interessante, conhece os clássicos, mas ainda não aprofundamento histórico ou musical do estilo, essa é a sua grande oportunidade.



quinta-feira, 20 de março de 2014

Assista ao novo clipe de Black Lips, "Justice After All"




Black Lips lançou seu novo disco, Underneath the Rainbow, neste mês e acaba de divulgar o seu segundo vídeo clipe, dirigido mais uma vez por Andy Capper, que já trabalhou em outros quatro vídeos da banda. A faixa escolhida foi “Justice After All”, numa gravação em VHS bem rústica, da turnê do Black Lips com o Deerhunter, entrecortada pela banda tocando e cantando pela rua.  Confira:




quarta-feira, 19 de março de 2014

Weezer dá indícios de estar gravando novo álbum, em clipe de 20 segundos


Notícia maravilhosa para quem é fã da banda Weezer. Após anos e anos de espera e turnês transatlânticas, parece que a banda finalmente está de volta ao estúdio para gravar o sucessor de Hurley, último álbum da banda, lançado em 2010. Apesar da euforia, não há nada muito claro. Tudo isso foi devido a uma postagem da página oficial da banda no YouTube, um vídeo amador gravado numa qualidade VHS, de apenas vinte segundos, com um trecho de uma suposta música nova e uma mensagem escrita: “in the studio now”. No ano passado, Rivers Cuomo disse que a banda estava se reunindo com o produtor Ric Ocasek, que trabalhou com o Weezer no Blue Album, de 1994 e Green Album, de 2001. Até agora, nenhuma previsão do nome nem de quando o álbum será lançado. Ficaremos atentos.


Enquanto isso, fiquem com “Trainwrecks”, do disco Hurley. 



sábado, 15 de março de 2014

Johnny Winter anuncia sequência de Roots, com participações especiais de peso



O bluesman Johnny Winter lançou em 2011 um álbum muito bom de covers de blues clássicos chamado Roots, que era acompanhado por vários convidados especiais. Pelo visto, Winter planeja dar sequência a série e lançar uma segunda edição ainda neste ano com a participação de nomes importantes como Eric Clapton, Ben Harper, Joe Perry, Mark Knopfler, dentre outros. O disco, assim como o primeiro, conterá canções tradicionais do blues que fizeram parte desde cedo da formação de Johnny Winter, como Robert Johnson, Muddy Waters, Elmore James, a maioria dos anos 50.


Sua motivação: "It's just to bring it to the people of today who haven't listened to the old music. It's better than anything they hear today.” 


quinta-feira, 13 de março de 2014

Assista ao clipe de nova música de Johnny Cash, "She Used To Love Me A Lot"




Vem mais coisa inédita do clássico cantor folk norte-americano Johnny Cash. No dia 25 de março, será lançado mais um álbum póstumo, chamado Out Among The Stars, composto por canções até então perdidas, gravadas por Cash no início dos anos 80. A fim de preparar o terreno para o lançamento, foi divulgado um vídeo clipe da música “She Used To Love Me A Lot”, dirigido por John Hillcoat, filmado durante um mês de viagens pelo país, colecionando imagens de uma América mais desértica e dura.



quinta-feira, 6 de março de 2014

Resenha: Beck - Morning Phase


Um dos artistas mais irreverentes, inventivos e originais dos Estados Unidos, Beck, está de volta após longos seis anos de relativa ausência. A ausência de fato nunca foi completa. Beck manteve-se ocupado no showbizz em diversas atividades, as mais interessantes sem dúvida foram as produções de alguns ótimos álbuns, como Mirror Traffic, de Stephen Malkmus, e Demolished Thoughts, de Thurston Moore, do Sonic Youth. Em 2014, Beck lança o primeiro disco inédito depois de Modern Guilty, de 2008, com o discurso de ser mais focado num único estilo, algo como o sucessor de sua obra prima de 2002, Sea Change, ou seja, um som mais acústico, folk californiano. Na verdade, Morning Phase é um dos álbuns que Beck tem pronto. O segundo tem outro enfoque, outra pegada. Beck sempre foi o tipo de artista que valoriza bastante o formato de álbum, tentando manter uma proposta inicial, algo desde efusões experimentais, como é o caso de alguns dos seus trabalhos mais aclamados, como Mellow Gold, de 1994 e Odelay, de 1996, ou algo mais tradicional, como meu favorito já mencionado Sea Change. E é assim que Morning Phase foi concebido.



No entanto, pode-se perceber algumas diferenças importantes em Morning Phase. De acordo com o próprio Beck, Morning Phase é emocionalmente mais leve que o seu antecessor, bem mais melancólico e pesado. Embora ainda possa ser encontrados aqui vestígios de pensamentos e emoções sombrias, como em “Wave”, o tom que guia o trabalho é algo mais reflexivo, até mesmo mais otimista. A faixa de abertura, “Morning”, já é uma agradável brisa soprando na face sonolenta, que abre a janela para ver como está o dia lá fora, às vezes com uma esperança no recomeço, outras vezes com um pingo de tristeza nostálgica. “Looked up this morning, saw the roses full of thorns”. A esperança e a satisfação de se está vivo pode ser evidenciada por “Heart Is A Drum”, mostrando uma atitude amadurecida para lidar com a dor e as frustrações da vida.




Em “Say Goodbye” é cheia de imagens de rompimentos e adeuses. 'Cause these are words we use to say goodbye”. No entanto, o narrador parece um pouco distante do personagem. Não soa tão sentido, tão absorvido pela dor como nos grandes momentos de Sea Change, por exemplo. A música, com uns solos de banjo, não soa tão pra baixo assim. Provavelmente foi por causa dessa dissonância que em Morning Phase, apesar de ser um álbum muito bom, não chega a deslumbrar como Sea Change. A sequência continua com a ensolarada “Blue Moon”, antes de entrar nos momentos mais sombrios, com os dois números “Unforgiven”, sem dúvida uma das mais tocantes, exatamente porque há essa união, e “Wave”, um pouco mórbida demais.

Exatamente surgindo depois de pensamentos sombrios, na bela “Don’t Let It Go” a autoconfiança e esperança retornam. É a força que se tem que tirar de si mesmo para continuar, não perder o rumo, o controle. “Backbird Chain” continua o clima confortável, romântico e ensolarado. Em “Turn Away” dá para sentir uma pontinha de Bon Iver no estilo de Beck cantar a melodia, acompanhada no violão, muito bonita. “Country Down” tem um ritmo delicioso e com um solo irresistível de gaita. Morning Phase se despede com a grandiosa “Waking Light”, que resume toda essa viagem de emoções diárias. Algo como recepcionar a noite ainda com o dia na cabeça. “When the morning comes to meet you Open your eyes with waking light”.





Analisando friamente e sendo bastante injusto, Morning Phase é um sucessor que não supera o seu antecessor. No entanto, essa constatação está longe de tirar todo o brilho de Morning Phase, que flui fácil, confortável, e que possui algumas belíssimas canções. Um bom exercício para compreendê-lo melhor é ouvi-lo exatamente após Sea Change. Aí sim visualizamos o teor dos pensamentos da noite, representados por Sea Change, e, em contraponto, o alívio com a chegada da manhã.