segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Yuck - Yuck


Mais uma grande estréia em 2011. A banda londrina Yuck se transformou numa das sensações indie do ano com o lançamento do álbum homogênio. Yuck, formada por não mais do que rapazes e moças recém saídos da adolescência, faz um som de gente grande. Altamente influenciada pelo alternativo de Sonic Youth, Jesus & Mary Chains, Dinosaur Jr. e Teenage Fanclub, do final dos anos 80 e início dos anos 90, a banda reúne o melhor do gênero. Yuck, o álbum, é uma Ode aos anos 90, com guitarras sonoras e no volume máximo, vocal melódico e desleixado.

O álbum começa em altíssimo nível, com a saborosa “Get Away”, guitarras e vocais distorcidos abrem caminho para um ótimo refrão com um solo de guitarra que deixaria J Mascis orgulhoso. A música soa natural, espontânea e fácil, apesar de todas suas variações. É seguida imediatamente por “The Wall”, com sua letra repetitiva e mais um belo trabalho de guitarra, com muito do noise pop. Em certos momentos nessa faixa e também durante o álbum, a linha entre o volume perfeito é tênue. Se você quiser ouvir a voz mais claramente e aumentar o volume, a guitarra fica ensurdecedora, engolindo tudo ao redor. Depois de duas faixas de tirar o fôlego, eles diminuem o ritmo em “Shook Down”, mas não a qualidade. Bela balada, melodia gostosa e final majestoso, ligando novamente a distorção. “Holing Out” mantém o volume alto, numa junção de Dinosaur Jr e Sonic Youth. Os anos 90 estão pulando e balançando a cabeça no seu túmulo. Impressiona esse som ser feito por adolescentes que não pegaram o auge desse movimento musical. Mas aprenderam bem as lições.
O ritmo cai um pouco na metade do álbum, com “Georgia”, com a baixista Mariko Doi se juntando aos vocais, “Suck” balada de partir o coração com uma ótima letra de amor e“Stutter” sem a mesma força das outras faixas. “Operation” o volume aumenta novamente e a força e o vigor retornam, sobre tudo no final. “Sunday” é uma ótima balada após fim de relacionamento, com um ótimo refrão. “Rose Gives a Lilly”, instrumental, apenas guia o caminho onírico para a faixa final, “Rubber” que fecha o álbum de forma épica, com texturas de guitarra que dessa vez deixaram Yo La Tengo orgulhosos. Perfeita. O vídeo também é maravilhoso.
Em meio à invasão de inúmeras bandas revisitando os anos 80, cheia de sintetizadores e teclados artificiais, Yuck é uma lavagem dos ouvidos para quem quer ouvir guitarras puras (ou impuras) e um som cru, forte e seco.

domingo, 30 de outubro de 2011

Panteão dos Deuses: The Beatles

Dando continuidade à coluna Panteão dos Deuses (tendo iniciado com deus, David Bowie), é hora de preparar o assento para simplesmente ninguém menos do que os Beatles. John, Paul, Ringo e George, esses quatro rapazes nasceram para mudar o mundo. Não é exagero dizer que foram eles que construíram os pilares de cada um dos inúmeros gêneros do rock n roll. Pós-década de 60, todo mundo foi influenciado direta ou indiretamente pelos Beatles. Os conceitos de cada um desses gêneros nasceram ou tomaram grandes escalas ali. “Helter Skelter”, é, possivelmente, a primeira música de heavy metal, embrionária ainda, mas os conceitos foram lançados. O rock alternativo, psicodélico, hard rock, e até mesmo o pop, não seriam os mesmos sem os Beatles.

A carreira musical dos Beatles inclusive é relativamente curta. De Please Please Me, de 1963, primeiro álbum, à Let It Be, de 1970, são apenas sete anos, mas sem dúvida foram os sete anos mais intensos e criativamente ativos que já existiu. E grande parte dessa atividade é devida aos Beatles. Esse período em que os Beatles esteve produzindo pode ser dividido em duas partes, ambas importantíssimas e inseparáveis. A primeira parte, de 1963 até 1965, quando os Beatles se tornou na primeira mega banda de rock, tornando o estilo popular em todas as partes do mundo, abrindo inclusive as portas para a Invasão Britânica, como The Who, The Kinks, Rolling Stones, dentre outros. Outro ponto determinante desse período foi que o sucesso astronômico e a idolatria da beatlemania emitiram e disseminaram amplamente as experimentações sonoras futuras. Musicalmente, esse período detém os maiores hits da banda como “Love Me Do”, “Twist and Shout”, “It Won’t Be Long”, “All My Loving”, “I Wanna Hold Your Hand”, “A Hard Day’s Night” dentre inúmeras outras. O som era muito fincado no rock no seu início, com os três grandes pioneiros do rock, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Little Richards, inclusive com os Beatles fazendo algumas versões de músicas deles.

O marco para o início da segunda e mais prolífera fase dos Beatles foi um encontro histórico com Bob Dylan, em 28 de agosto de 1964, que fez os Beatles usarem a maconha pela primeira vez, fato que consequentemente fez com que começassem a compor sob o efeito da droga. Isso fez com que um novo mundo completamente inexplorado surgisse. O mundo também estava mudando. A revolução social e sexual dos anos 60 estavam começando, inclusive no mundo das drogas, com o movimento de contracultura dos hippies.. Os jovens também passaram a ser politicamente conscientes, engajando-se principalmente em atos contra a guerra do Vietnã. Como os grandes nomes do rock eram ícones, eles passaram a influenciar muito a juventude e nas letras, sobretudo de John Lennon, passou a tratar de coisas mais subjetivas e com mensagens anti-guerra.

Musicalmente, o efeito pode ser notado mais claramente com Rubber Soul, de 1965, onde os Beatles deram uma incrementada no rock, com uma nova cara, alterando estruturas pré-definidas, acrescentando um peso aqui, outro ali, e inovando na utilização de instrumentos e arranjos novos e mais bem trabalhados. Com mais alguns anos, adicionando LSD na experiência, os Beatles mergulharam no rock psicodélico e mais uma vez mudaram o mundo. Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, Magical Mystery Tour e White Album, duplo, são obras majestosas e estão dentre os melhores álbuns de todos os tempos. Tudo isso em apenas dois anos, entre 1967 e 1968.

A partir de 1969 a tensão cresceu entre os integrantes, principalmente entre John e Paul. A causa da intriga era a nova esposa de John Lennon, Yoko Hono. Mesmo assim, esses últimos anos de atividade dos Beatles geraram dois grandes álbuns, Abbey Road e Let It Be, de 1969 e 1970, respectivamente, apesar de Let it Be ter sido gravado antes de Abbey Road. Apresentando um som mais sério e maduro, ambos os trabalhos acrescentam um tom mais clássico às músicas. Por fim, em 1970, as tensões chegaram ao limite e os Beatles anunciaram seu fim, deixando para trás o maior legado que uma única banda poderia deixar. Seus integrantes partiram para carreira solo, alguns ainda lançando álbuns notáveis, principalmente John Lennon.

Mas The Beatles é o tipo da banda que só ocorre uma vez na história, na reunião de quatro grandes talentos, nenhum funcionando da mesma forma isoladamente. Então Amém, John, Paul, George e Ringo! E obrigado!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Wayne Coyne e as barreiras da Insanidade

Existem vários loucos no mundo na música, mas nenhum como Wayne Coyne, do Flaming Lips, disso eu tenho certeza. Esse cara levou o conceito de insanidade musical a níveis nunca vistos. Para se ter uma idéia do que Coyne e sua banda fizeram nos últimos meses aqui vai algumas: Primeiro lançaram uma faixa de seis horas de duração chamada “I Found a Star on the Ground”, acharam pouco e irão lançar neste Halloween uma música de 24 horas de duração (?) chamada “7 Skies H3” (?!). Para piorar, a música de um dia de duração estará disponível num HD dentro de uma caveira humana, custando somente $5,000. Numa entrevista muito bem humorada à Pitchfork, Wayne explica um pouco toda essa insanidade e o que ele espera de tudo isso, além de projetos de colaboração com outros artistas, como Nick Cave, Death Cab for Cutie, Deerhoolf, dentre outros. Wayne, por sinal, leva muito a sério o Halloween e irá fazer no dia um show especial. Ele disse que uma garota escreveu para eles no twitter: “vocês deveriam passar aqui em casa e tocar”, e Wayne respondeu: “Ok, nós iremos tentar”. E vão mesmo. Ele disse que irão tocar “Halloween” do Dream Syndicate e uma ou duas músicas do Flaming Lips, antes da polícia chegar e desligar tudo. A garota da casa irá decidir quem pode ir, porque ele não quer que todo idiota na cidade apareça bêbado na casa dela.

Depois ele falou sobre as colaborações e anuncia que irá sair em dezembro um EP com o Deerhoolf, com quatro músicas. Melhor ainda, disse que fizeram alguma coisa com Nick Cave, mas como ele está em turnê agora só irão trabalhar mais no projeto depois de Novembro. E revela como vem à tona essas colaborações: tudo por email, ele manda e recebe as coisas, ele e muitos artistas preferem não sentar frente a frente para criar música, “é muito mais fácil e menos estressante”, Wayne diz.

Sobre as insanidades recentes, ele explica o que espera ao lançar uma música de seis horas e de vinte e quatro horas e como imagina as pessoas ouvindo isso. Sobre a de seis horas, ele disse que é feita para ouvir enquanto se faz outras coisas, que é como as pessoas escutam música de qualquer forma. Quanto à de um dia de duração, Wayne diz que tem que haver mais comprometimento e sugere que não escutem ela de uma só vez, mas provavelmente alguns irão. Ele até imagina um grupo de pessoas pegando uns cogumelos, indo para um quarto de hotel e dizendo “isso nos mudou”. Quando a Pitchfork pergunta se ele pensou em fazer uma música de uma semana de duração à essa altura ele responde que eles estavam pensando em fazer uma de um mês (!), mas ai chegaram nas limitações tecnológicas (quem diria!).

E no final a melhor revelação. Ao ser perguntado se fazendo todas essas loucuras, ele não se sente impelido a fazer um álbum mais tradicional, ele diz que sim, no momento em que eles imergem nessas coisas insanas, eles querem voltar a fazer algo normal, música, notas e expressão. E exemplifica de forma que deixou todo fã ansioso: “quando nós estávamos fazendo Zaireeka em 1997 (insanidade completa), fomos submersos por essas coisas que bombardearam-nos dos quatro lados e então nós fomos fazer as coisas que futuramente viria a ser The Soft Bulletin”, “uma experiência faz você desejar outra”, Wayne finaliza.

Fiquem com um pedaço de Soft Bulletin:

Stephen Malkmus & The Jicks - KCRW Session

Stephen Malkmus & The Jicks estão se destacando esse ano com o lançamento de Mirror Traffic, um dos melhores trabalhos do rock alternativo do ano. A banda então foi convidada para o programa de rádio KCRW e tocou várias faixas do novo álbum, com destaque, sobretudo, para “Brain Gallop”. Segue abaixo os vídeos das apresentações:

"Stick Figures in Love"

"Brain Gallop"

"Forever 28"

"Share the Red"

"Gorgeous Georgie"

"All Over Gently"

"Asking Price"

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Abença Pai: Johnny Winter - Roots


Aqui no blog seremos sempre muito respeitosos com os nossos antepassados, nossas raízes e nossos pais. Portanto, de quando em quando vou pedir abença a painho. E hoje é o dia. Quem fez isso magistralmente esse ano foi o famoso bluesman americano Johnny Winter, cuja carreira vem desde os anos 60, lançando o álbum Roots, seu primeiro disco de estúdio em mais de sete anos.
Como o nome sugere e contando com um convidado especial em cada faixa, Roots revisita 11 grandes clássicos do blues com versões à altura de clássicos que são. É sempre um desafio fazer covers de músicas já consagradas, pois todo mundo já teve o contato com ela, não apenas contato, mas já se formou um elo, uma sensação, uma resposta àquela música. Assim, os patamares já todos definidos e durante a performance o ouvinte estará julgando e fazendo comparações a todo o momento com a faixa original. É aí que entra o maior mérito de Roots. A forma como Winter conduz cada faixa é o que faz essas versões especiais. Ao mesmo tempo em que ele se mantém tradicional, acrescenta a todo momento detalhes novos, a cada intervalo ele estica um pouco o solo, dialoga com a gaita, com o teclado. Ele conseguiu fazer o antigo se tornar novo, ou pelo menos em alguns momentos.
A idéia de um convidado diferente a cada música ficou bem interessante e deu um vigor variado. Dentre todas as participações, a que chama mais atenção é o belíssimo dueto com Susan Tedeschi de “Bright Lights, Big City”, de Jimmy Reed. Outras faixas que merecem destaque são “Done Somebody Wrong”, “Last Night”, “Dust My Broom”, além de “Got My Mojo Workin’” de Muddy Waters. De forma quase geral, há um contrapeso bem claro nessas versões de Johnny Winter. Enquanto em praticamente todas as versões originais o vocal é melhor, com aquelas vozes que vem da alma, sobressai em Roots sobretudo o trabalho instrumental. Todas são executadas de forma impecável, com jams extensas de solos de guitarra, gaita e teclado, principalmente. Os melhores exemplos são “Last Night” e “Dust My Broom”, que foram esticadas ao bel-prazer de Winter, tocando até quando ele quis. Podia ter tocado mais que não teria sido um problema.
É muito bom também ver um bluesman de fato ainda na ativa e fazendo álbuns assim, tradicionais, verdadeiros e fiéis ao blues. No geral, é uma abença honesta do fundo do coração. Aposto que papai está bem satisfeito agora.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Lonely Boy, primeiro single de El Camino, novo álbum do Black Keys

Como já havia sido antecipado aqui pelo blog, hoje, 26/10, foi lançado virtualmente o primeiro single de El Camino, novo álbum do Black Keys, “Lonely Boy”. Então a banda postou no youtube um vídeo com a faixa, que segue abaixo. Gostei bastante da música, bem animada, dançante, com um riff marcante e com refrão forte, ou seja, todos os ingredientes para um single. Depois de ter publicando um teaser sobre o novo álbum no mínimo curioso, o vídeo também ficou muito descontraído e engraçado, com um negão cantando e dançando hilariamente no ambiente deo trabalho, provavelmente no horário de almoço quando ele se encontrou sozinho aproveitou para relaxar e extravasar um pouco, no caso, muito.

Só para lembrar que dia 06 de dezembro sai o restante de El Camino. Teoricamente, né? Porque até lá a Internet pode antecipar as coisas.

“Lonely Boy”



Tom Waits - Bad As Me


Tom Waits retorna após sete anos com o lançamento de Bad as Me. O último material de músicas inéditas lançado pelo cantor foi Real Gone, de 2004. Waits lançou uma compilação em três discos em 2006, Orphans (Brawlers, Bawlers & Bastards), baseada em sobras de estúdio no decorrer de sua carreira. Começando com forte influência dos poetas beats e do velho safado Charles Bukowski, a música de Tom Waits sempre flertou com a poesia beat, que juntamente o som fincado nas raízes do Jazz e do Blues, e com as uma voz única no mundo da música, grossa e cortante, formou uma unidade atmosférica que transcende e nos transporta para algum bar perdido norte americano com um cara com sua banda tocando, enquanto assistimos, através do ar coberto por fumaças de cirgarro, tomando uísque numa mesa nos fundos. Na década de 80, Tom Waits começou a dar mais espaço a experimentações percussivas muito loucas que fechou ainda mais as portas do que já não era tão acessível, apesar de combinar com a voz uivante de Tom Waits, lembrando em alguns momentos Howlin’ Wolf. Mesmo com esse som estranho, Waits conquistou grande clamor da crítica com clássicos como Swordfishtrombones, de 1983 e Rain Dogs, de 1985.
Desde então ele tem mesclado esses sons em seus álbuns e Bad as Me não é exceção. A diferença aqui é que foi encontrado o equilíbrio perfeito entre os dois estilos, a começar pelo tamanho do álbum. E nisso a esposa e colaboradora Kathleen Brennan teve grande mérito. Fã de álbuns geralmente com muitas faixas, Kathleen sugeriu dessa vez para fazer um álbum de doze faixas de três minutos, “Get in, get out. no fucking around”, Tom Waits falou numa entrevista para a Pitchfork. Tudo bem, o resultado final acabou sendo treze faixas, algumas ultrapassando a casa dos quatro minutos, mas esse detalhe fez com que fosse um álbum conciso, com uma unidade bem definida. Outro ponto que merece destaque são as participações no álbum, tais como Keith Richards e Flea.

A primeira parte do álbum é a melhor. Começa com “Chicago”, uma louca faixa que mistura tudo, os saxes, gaita, guitarra e tudo mais para chegarmos ao que parecer ser um R&B com toque insano do universo de Tom Waits. O final da faixa me fez lembrar de Muddy Waters, quando Waits grita “All Aboard!”, que é como Muddy Waters inicia o álbum Fathers and Sons. É um sinal do retorno ao blues, jazz e r&b que acontece em vários momentos de Bad As Me, como prova a música seguinte, a ótima “Raised Right Men”, um blues sensacional, cheio de acordes puxados no órgão, mostrando a voz de Tom Waits em grnade forma. “Talking at the Same Time” mostra uma mudança no tom de voz de Waits, delicada. “Get Lost” é uma súplica desesperada por liberdade e sumir de tudo e de todos, porém, ao mesmo tempo, com uma dependência completa ao amor da parceira “don’t bring nothing baby, you’re better then all the rest”. “Face to The Highway” tem aquela sensação das músicas reflexivas feitas no carro à noite, rodando sem destino, bem típico de Waits, que já alegou ser uma das suas formas preferidas de compor. A letra também é ótima. “Back In The Crowd” é um dos pontos altos do álbum, balada sobre perda amorosa, triste, belíssima e com uma letra e melodia sensacionais. A seguinte é um contraste total, com toda a fúria da voz de Waits decretando “you’re the same kind of bad as me”. A segunda parte perde um pouco a força com a razoável “Kiss Me” e a insanidade de “Satisfied” e “Hell Broke Luce”. E entre os dois momentos tem a ótima “Last Leaf”, dueto histórico com Keith Richards. Mas Tom Waits se despede da melhor forma. Talvez a melhor do álbum, “New Year’s Eve” é perfeita chegando a lembrar em alguns momentos “Tom Traubert's Blues”. A voz ressacada e grotesca de Tom Waits num daqueles contos pós farra.
É muito raro hoje em dia um artista com quase 40 anos de estrada lançar um álbum forte como Bad as Me, fazendo-se sentir tão novo e tão antigo ao mesmo tempo. Bad as Me reúne as melhores facetas de Tom Waits. É muito bom vê-lo ainda com tanto fôlego criativo.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Beck Live Bridge School Benefic Concert 2011


Além da participação no set de Eddie Vedder, cantando “Sleepless Nights”, quem também tocou no Bridge School Benefit Concert 2011 na noite, na verdade tarde, de sábado foi Beck, que fez sua terceira aparição no festival. E o melhor de tudo: sua apresentação foi totalmente baseada no seu melhor álbum da carreira, a obra prima do folk melancólico Sea Change, cuja beleza chega a doer. Aproveitando a ocasião de o show ser acústico, assim como o álbum, Beck aproveitou para tocá-lo mais confortavelmente. Era ainda claro quando Beck começou a tocar bela “The Golden Age”. É uma pena não ver os assentos totalmente tomados pelo público, ainda chegando timidamente no Shoreline Amphitheatre, em Montain View, California, onde todos os anos acontece o Bridge School. Como grande parte dos shows estão interligados a Neil Young, após “Dead Melodies”, Beck começa a tocar “Pocahontas”, do Neil. Enquanto estava no solo, Neil Young simplesmente entra no palco e começa a cantar a segunda parte com Beck, não segurando a expressão de surpresa e prazer “what a nice surprise”, ele diz ao final. Engraçado ver os filhos de Beck no palco, sorrindo e acenando, enquanto Beck começa a melancólica “Guess I’m Doing Fine”, antes de começar numa sequência irretocável com “Already Dead” e “Lost Cause”, ele explica que estão tocando muitas músicas de Sea Change, lançado há quase dez anos e que foi gravado com a banda que ele está tocando e que é um momento especial, tocar estas canções que há quase dez anos não eram tocadas. Depois de “Jack Ass” Beck finaliza a apresentação com “Sunday Sun”. Das oito músicas do setlist, cinco foram de Sea Change e uma de Neil Young, já é o bastante para ser um belo show.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Arcade Fire Live Bridge School Concert 2011


Subiu ao palco também nesta mesma noite, 22 de outubro, os também canadenses do Arcade Fire, para a sua estréia no Bridge School Benefit e começou com a incrível “The Suburbs”, que logo após esta, Win Butler paga o tributo a Neil Young e diz que eles não estariam ali se não fosse por ele. Depois segue com uma versão muito melhor do que a gravada no estúdio de “Empty Room”, absolutamente perfeita. Retirou a pressa e a pegada da original transformando-a numa tocante balada com uma pegada blues. Depois de grandes performances de “Month of May” colada com “Rebellion (Lies)”, começa outra sequência de pontos altos. Após “Rebellion (Lies)”, Butler pede desculpas se estiverem tocando muito alto, não são muito acostumados a tocar no formato acústico. E com uma leve indireta ao governo, ele manda uma versão arrasadora de “Invervention”, provavelmente pensada para este formato. É impossível não ter sempre a impressão de que Arcade Fire melhora a cada apresentação, sempre acrescenta um detalhe aqui e ali, que deixa a pessoa anestesiada. É o máximo que uma banda pode alcançar hoje em dia, nenhuma supera Arcade Fire nisso. Para tornar a coisa mais insuperável, Neil Young entra andando no palco enquanto a banda começa a tocar “Helpless”, com Butler cantando uma estrofe e Neil outra. E então eles fecham a apresentação com a já clássica “Wake Up”. Aproximadamente 40 minutos da melhor banda da atualidade.

Eddie Vedder Live Bridge School Benefit Concert 2011


Neil Young é uma das figuras vivas mais respeitada na música, devido a uma carreira riquíssima que ajudou construir os pilares da música alternativa tal qual conhecemos hoje. Mas não é apenas na cena musical que Neil faz um ótimo trabalho, mas também na área social. Desde 1986, Neil Young organiza, juntamente com sua esposa, um festival anual, Bridge School Benefit Concert, na California, para arrecadar fundos para assistir crianças com deficiência física ou de comunicação (o filho do casal, Ben, tem paralisia cerebral). No decorrer dos 25 anos de festival, a lista é extensa dos grandes nomes que subiram ao palco, o próprio Neil Young toca todos os anos, Pearl Jam tem oito participações, Dave Matthews Band outras tantas, Ben Harper, Foo Fighters, Sonic Youth, Lou Reed, Metallica, Elton John, Bruce Springsteen, Tom Petty, R.E.M., The Who, Wilco e outros inúmeros artistas e bandas. Em 2011, o festival anunciou atrações como Eddie Vedder (sua terceira aparição solo), Arcade Fire e Foo Fighters, dentre outras e o próprio Neil, claro. Graças novamente à tecnologia e ao youtube, temos acesso aos shows na íntegra de Eddie Vedder e Arcade Fire.
O show de Eddie Vedder, do dia 22 de outubro, começou com um deslize, mas no geral foi muito bonito. Tentou iniciar com uma cover de Neil Young “Don’t Cry No Tears”, mas por algum problema técnico, foi obrigado a pulá-la e tocar a cover dos Beatles “You’ve Got to Hide Your Love Away”, para então tentar novamente, com sucesso, a de Neil. Baseado principalmente em músicas do seu primeiro álbum solo, Ukulele Songs, Eddie variou tocando “Rise”, da trilha sonora de Into The Wilde, e ótimas versões de “Just Breathe” e “Porch” do catálogo de Pearl Jam. Outros momentos notáveis foram as participações de Regine Chassagne, do Arcade Fire e Beck, cantaram com Eddie “Tonight You Belong to Me” e “Sleepless Nights”, respectivamente, ambas do Ukulele Songs. Outro momento emocionante foi quando Eddie Vedder dedicou “Without You”, originalmente composta para sua esposa, a Maricor, uma amiga que possui a doença e que tem dois graus a mais de faculdade que o próprio Eddie. Termina dizendo “She’s my hero”, depois olha para o restante dos alunos, e completa “or one of them". Show muito legal de Eddie Vedder solo, as músicas no ukulele ficam realmente muito bonitas.

domingo, 23 de outubro de 2011

Lou Reed & Metallica - Lulu


Finalmente foi revelado o conteúdo do álbum mais curioso do ano. Metallica & Lou Reed, com o álbum Lulu, que já havia liberado uma faixa inteira, “The View”. Como aconteceu com The Whole Love, do Wilco, que vazou após a transmissão pela internet, LuLu já está na rede mesmo tendo seu lançamento apenas para 31 de outubro. O Projeto começou a ser concebido quando Lou Reed e Metallica tocaram juntos no Rock and Roll Hall Of Fame, em 2009. Certamente seria uma mistura no mínimo interessante, a imprevisibilidade e poesia insana, underground de Lou Reed com o peso avassalador do Metallica juntos num mesmo disco. Talvez tenha sido só pelo marketing, mas o furor com que Lou Reed e Metallica comentavam sobre o álbum nas mídias, aumentava ainda mais a expectativa, chegando Reed a dizer que foi o melhor trabalho de sua carreira.
Lulu é um conceitual disco duplo de heavymetal-progressivo-indie-art-rock com canções compostas para a peças escritas pelo alemão Frank Wedenkin, que, como o próprio teaser anunciando o álbum diz, tem muito sexo, ganância, amor, violência, luxúria, e outras temáticas mais ambientadas ao trabalho de Lou Reed, sombrio e underground do que com Metallica.
Antes de falar sobre algumas músicas destaque do álbum, vale a pena falar que o estilo conceitual, poético, profano e teatral do Lulu demanda muito do ouvinte. Não é um álbum fácil, delicioso e confortante. É desconfortável, tenso, sombrio, angustiante, casando-se muito bem com as temáticas. Se escolher escutar o álbum casualmente, fazendo alguma outra tarefa, ou no carro, melhor nem seguir adiante. É preferível escutá-lo num momento onde possa se concentrar e de preferência busque na internet as letras das músicas para ouvi-las acompanhando. Só assim você pode tirar tudo o que Lulu oferece.

O primeiro disco começa bem bom, com “Brandenburg Gate”, já mostrando o peso conhecido de Metallica, a voz desarticulada de Lou Reed, apresentando a garota da cidade pequena, falando de bebidas e prostitutas, e James Hetfield fazendo backing vocals. “I’m just a small town girl who’s gonna give life a whirl”. Depois segue para a já conhecida “The View”, como uma ode à juventude e sua inconsciência, impetuosidade e senso autodestrutivo e inconseqüente. Muito boa. “Pumping Blood” é o mais puro resultado do encontro do indie de Lou Reed com o metal de Metallica, todas as variações inesperadas e noise guitar do indie com os riffs e bateria marcante do metal. A letra também é sensacional, praticamente descrevendo o assassinato, musicalmente formando um casamento perfeito, com toda a tensão, desespero e desconstrução imaginativas da cena. Em alguns momentos lembra Velvet Underground, acrescentando duas mil toneladas. “Mistress Dread” puxa mais para o metal, praticamente o Master of Puppets do Metallica com Lou Reed recitando dessincronizado. Talvez por isso não tenha me cativado como as outras. Com “Iced Honey”, até então a faixa com as estruturas mais tradicionais, seguindo um padrão, a coisa volta a melhorar. Bem direta, coisa pouco vista em Lulu. “Cheat on Me” é uma exagerada faixa de despedida progressiva de onze minutos, bem aquelas loucuras do Lou Reed do tempo de Velvet Underground. Sendo que o Velvet era ainda mais louco. Abre caminho para a parte mais progressiva do álbum, com músicas mais longas.
“Frustration” inicia o segundo disco com grande riff e Lou Reed destilando poesia, como o primeiro. Inclusive com um diálogo muito interessante da bateria de Lars com Reed. Novamente muito boas as variações, fugindo de um heavy metal para um som atmosférico, só com a voz de Lou Reed e um teclado para depois voltar com toda a fúria dos riffs de James e espancamento de Lars. “Little Dog” é a mais fraca do álbum, uma mórbida canção de oito minutos somente Reed e o violão com microfonia de guitarras no fundo e uma letra não muito atrativa. Microfonia essa que segue em “Dragon”, que leva três minutos para começar a ficar interessante, luxúria, sexo e uma música instigante. Nada mais a se pedir. Solos perfeccionistas e corretos do metal dão lugar aqui barulhos aleatórios do indie. Apesar do tamanho e da demora para empolgar, a música é muito boa. À essa altura Reed questiona: “Are we both dead now?”. Quase, ainda tem “Junior Dad” mais uma progressiva, com seus cansativos dezenove minutos.
No geral, Lulu é um grande álbum de dois grandes artistas, porém, para ser apreciado por uma parcela dos dois grandes públicos interessados. Lulu está mais para um álbum de Lou Reed com participação do Metallica do que o contrário, já que os fãs de metal não são muito conhecidos pela sua tolerância por novos sons e variações. Já os fãs de Lou Reed estão sempre preparados para alguma loucura nova desse ícone do rock. Estes estão mais felizes. Brutal.

sábado, 22 de outubro de 2011

Duetos III

Passemos agora para a fase do rock maduro, adulto, sério, mas ainda fazendo suas besteirinhas de quando em quando. Vou começar com o dueto de Manic Street Preachers com Nina Persson, cantando a faixa “Your Love Alone Is Not Enough” do álbum Send Away The Tigers, de 2007. Esse é um dos melhores duetos, a sintonia entre eles é simplesmente perfeita, e o decorrer da letra, das variações da música e da melodia, enfim, perfeita.

Agora é a vez da banda indie The Decemberists junto com Laura Veirs, através da divertida “Yankee Bayonet (I Will Be Home Then)”, do álbum The Crane Wife, de 2006., que conta o diálogo entre um soldado e sua garota. O ritmo da música é bem gostoso de ouvir e a interação entre os versos é muito bom.

A última é de uma banda que ela em si era um dueto. Jack White e Meg White, com o White Stripes, que infelizmente se separaram. Acontece que essa música não é um dueto, e sim um trio. Jack e Meg se juntaram com Holly Golightly, e após alguns shows como banda de abertura, os três se tornaram amigos e gravaram a faixa “It's True That We Love One Another”. Através das inúmeras lendas das hipóteses da relação entre eles, se eram casados, irmãos, amigos, eles brincam de um triângulo amoroso muito divertido entre declarações de amor de cada um. Confira

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Gruff Rhys - Hotel Shampoo


Gruff Rhys é o líder e frontman dos Animais Super Peludos, Super Furry Animals, banda galesa de Indie que tem uma carreira de fazer inveja a qualquer dessas bandas famosas por aí. Possui um status atualmente equiparado talvez somente por Arcade Fire e The Flaming Lips, com grandes álbuns lançados no decorrer desses quase vinte anos de atividade, como Guerrila, de 1999, Phantom Power, de 2003 e Love Kraft, de 2005. Mas enfim, poderia passar vários posts falando sobre Super Furry Animals, mas aqui a estrela agora recai sobre Gruff Rhys, mesmo sem poder desassociar um do outro. Hotel Shampoo, lançado este ano, é o terceiro álbum solo de Rhys, que estreou a carreira solo em 2005, com o álbum Yr Atal Genhedlaeth, que certamente você não estranhará somente o título, mas todas as letras, já que todas são cantadas em galês. SFA já havia lançado um álbum inteiro com letras em galês, Mwng, em 2000, e certamente alcançou dimensões muito maiores do que o pequeno país, com sua língua estranha e o maior nome de estação de trem do mundo, Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwyll-llantisiliogogogoch. Uau, não, o post não foi feito somente para eu ter que escrever este nome. Após o álbum de estréia, Rhys lançou o ótimo Candylon, em sua maioria cantado em Inglês e com a épica “Skylon”.

Hotel Shampoo começa curioso pela capa, uma coleção derivada da mania de Rhys de pegar os shampoos de todos os hotéis por onde ele passou pelos anos de turnês. Musicalmente, Hotel Shampoo revisita a soft psicodelia dos anos 60, no seu lado mais brilhante. As músicas aqui são leves, doces e confortáveis e fica impossível não criar um paralelo com alguns trabalhos anteriores de SFA, diferenciando mais pelo fato de em Hotel o som estar mais cru e seco do que as viagens psicodélicas e espaciais de SFA. A ausência dos eletrônicos de SFA é muito bem vinda. “Honey All Over” pega esse feeling dos anos 60, com um refrão grudento, doce e gostoso, como sugere o título.
“Sensations In The Dark” é mais agitada, lembrando um pouco “Northern Lites”, do SFA. Mas “Vitamin K” é a primeira das grandes músicas do álbum, com uma melodia tocante e letra dúbia, talvez se referindo a cocaína? Não sei, mas independente, belíssima música. Um dos pontos alto de um álbum no qual é fácil você se perder nele, que flui tranquilamente pelos ouvidos, gerando ótimas sensações, mesmo nas músicas mais normais.
“Take A Setence” é mais uma balada muito boa, seguindo a mesma linha de adoráveis melodias da anterior. “Sophie Softly” parece uma música feita para alguma criança chamada Sophie, não sei se filha dele ou não, mas se encaixa muito bem com a minha sobrinha. A outra grande música é “Space Dust #2”, um dueto meio jazz com El Perro Del Mar, banda de uma pessoa só da cantora sueca Sarah Assbring. Diálogos ótimos entre os dois e letra perfeita, certamente estará em uma das futuras edições de melhores Duetos do blog. E pra terminar a sequência de grandes músicas do álbum tem a linda “If We Were Words (We Would Rhyme)”, no melhor estilo do folk romântico.
Hotel Shampoo é um grande álbum solo de um dos maiores compositores da cena atual, em ótima forma. Com certeza dá para matar um pouco da saudade do principal mesmo, que é Super Furry Animals.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bon Iver Live Later... With Jools Holland

Uma das grandes sensações do ano, Bon Iver está na disputa pelo primeiro lugar como lançamento do ano com seu álbum homônimo, que já falamos dele aqui. O trabalho representa uma ruptura com o o estilo solitário que Bon Iver apresentou no seu disco de estréia For Emma, Forever Ago, de 2007. Com vários instrumentos dialogando entre si, o resultado ficou sensacional. Ontem, 18 de outubro, Bon Iver se apresentou no programa televisão Later... With Jools Holland e tocou "Towers", que, juntamente com a apresentação no The Colbert Report, onde tocou "Calgary", fica claro que tanto quanto no estúdio, a nova química de Bon Iver está melhor do que nunca.




terça-feira, 18 de outubro de 2011

Beirut - The Rip Tide


A banda Beirut é um dos casos mais curiosos do indie. É difícil imaginar que a sua estréia, em 2006, com o álbum Gulag Orkestar, fosse fazer algum sucesso. Mas fez e deu à banda um espaço bem considerável no cenário cult. O álbum é uma miscigenação de música européia cigana, psicodelismo e indie-folk tipo The Decemberists. Tudo numa banda só. E para causar ainda mais estranheza, todo esse som experimental foi concebido pela mente de um adolescente multi instrumentista, Zach Condon, que abandonou a faculdade aos 16 anos e viajou pela Europa, onde absorveu muito da música cigana. Depois ele voltou para os Estados Unidos para a sua cidade natal, Alburquerque, juntou uns amigos e gravou o que viria a ser Gulag Orkestar. Cheio de acordeões, percussões, instrumentos de sopro e tudo mais. O álbum pegou o mundo de surpresa e, certamente por méritos da originalidade, acabou tendo sucesso suficiente para o mundo acompanhar os passos desse jovem prodígio.
A banda ainda lançou mais um álbum e um EP. Este último, chamado Long Island veio em 2007 e contém talvez a mais conhecida de suas músicas “Elephant Gun”. No mesmo ano eles lançam o álbum The Flying Club Cup. Através destes dois lançamentos e devido à introdução ao som da banda com o Gulag Orkestar, Condon conseguiu fechar o ciclo. A estranheza das músicas é o seu charme. The Flying Club Cup conquistou tanto público quanto crítica, recebendo calorosas resenhas. As músicas passaram a ter suas estruturas mais reconhecíveis. Após anos de silêncio, Beirut lança em 2011 o álbum The Rip Tide e acrescenta suas viagens sonoras ao palco.


Irei usar uma imagem para falar sobre The Rip Tide. Quando aperta o play, você é imediatamente transportado para alguma taberna sinistra no meio de uma estrada de terra, na Europa medieval. O local está cheio de gente, gritando, xingando uns aos outros, com cerveja vazando pelo lado da boca, enquanto ali no canto da parede tem uma banda que alheia à tudo isso, toca seu som de maneira sublime. Os bêbados dançam, brigam, gritam e a banda permanece tocando como se nada estivesse acontecendo.
A festa na taberna começa com uma ótima canção. “Candle’s Fire”. As letras estão mais melódicas, simples e grudentas do que jamais estiveram. “Santa Fe” é bem animada, dançante, marcada pelo teclado. Aqui é onde os bêbados se levantam e começam a dançar com as prostitutas. O álbum não tem nenhum tipo de enrolação, músicas grandes com partes repetidas à exaustão, instrumentais para ocupar espaço, ou qualquer outra. Aqui as músicas são todas diretas.
“Goshen” é a melhor do álbum. Melodia linda que vai crescendo com a música. Começa só com Condon e o piano, depois vai entrando gradativamente os instrumentos, a bateria, o acordeão, o saxofone. A letra também é um dos destaques, bem pessoal, coisa não muito comum nas composições anteriores de Condon, que acontece em várias músicas em The Rip Tide. Perfeita. Aqueles bêbados chorões certamente se desabariam em lágrimas. A faixa que dá título ao álbum “The Rip Tide”, também é majestosa. Somente com quatro versos, Condon consegue transformar a música em grandiosa. Novamente a letra, bem simples, é destaque. “Vagabond” é outra ótima música, parece ser cantada por um bardo viajante da idade média.
The Rip Tide é o álbum mais conciso da carreira de Beirut. Um álbum simples, direto e épico.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Black Lips - Arabia Mountain


O Black Lips explodiu na cena alternativa com Let It Bloom, de 2005, fazendo um som forte, cru, de garagem. Com fortes raízes no punk rock e rock dos anos 60, principalmente nos Stones e Kinks. Às vezes você se vê pensando que está ouvindo eles, com uns ingredientes mais modernos.
Em Arabia Mountain muito bem produzido, eles pareceram limpar mais o som, mas sem descaracterizá-los. Deram continuidade à mudança que se iniciou em Good Bad Not Evil. É talvez o álbum menos “garage band” da carreira. Parece que eles deixaram um pouco de lado aquele lado mais punk, presente mais em Let it Bloom, fincando solo mais nas influências sessentista. Até na produção eles puxam para esse lado. Esse fato não é em absoluto ruim, na verdade, é o seu ponto forte, pois há muitas boas canções no disco.

Black Lips, e Arabia Moutain em especial, é um som para se divertir. Não tem muitas músicas ou letras introspectivas, sobre questões morais ou vida e morte. São aquelas letras sem lógica (como em “Spidey's Curse”), que combinadas ao som deles, ficam divertidíssimas. Em algumas dá até para dançar aquela dança dos anos sessenta tipo enxugando as costas com a toalha.
O álbum inteiro mantém o clima pra cima, pra bater um pouco a cabeça e gingar levemente. “Go Out And Get It” é um bom exemplo disso, com seu ótimo refrão, que fica colando na cabeça. Acontece o mesmo com “Bicentennial Man”. “Dumpster Dive” bem que poderia ser uma canção perdia dos Kinks ou dos Stones. A faixa final, “You Keep On Running”, chega a causar uma surpresa, com um ritmo mais blues que o restante e um vocal rasgado, quase gritado e sons distorcidos e arrastados até o final.
Ainda assim, Arabia Moutain podia ser bem melhor. O álbum é, paradoxalmente, muito curto e muito longo ao mesmo tempo. O tracklist contém 16 faixas, das quais apenas uma ultrapassa a marca dos quatro minutos e também somente uma que seja maior do que três minutos. Dessa forma, o álbum acaba por ter muitos fillers, que não são faixas ruins, mas que foram postas lá só para completar o álbum. Talvez se desenvolvessem mais algumas músicas específicas e excluíssem outras, o álbum teria mais unidade, seria mais compacto e, por consequência, mais forte. Mas não é de forma alguma uma falha mortal, até porque mesmo as fillers proporcionam uma boa diversão, que afinal, é o objetivo máximo de Black Lips
Sempre extrovertida, a banda gosta de fazer clips inusitados, bons exemplos são os clipes de “New Direction” e "Go Out and Get It". Pode conferir os vídeos abaixo:

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

WU LYF - Go Tell Fire to the Mountain


A banda WU LYF é uma misteriosa banda de Manchester, Inglaterra, que fez sua estréia em 2011 com o álbum Go Tell Fire to the Mountain. Tudo em relação a banda é envolvido por mistérios. Inclusive o próprio nome, que pode ser a abreviação de “World Unite! Lucifer Youth Foundation” ou “World Unite Loves you Forever”, descrita no website como uma organização sem fins lucrativos para as concretas verdades incondicionais da juventude. No site, fotos com clima religioso e somente uma do que seria a banda, um grupo de jovens cobertos por fumaças coloridas. Eles não fazem entrevista e já deletaram a sua página do Wikipédia várias vezes. Eles fazem um som que se autodenominam Heavy pop, que acaba se aproximando um pouco de Wolf Parede, Modest Mouse e Arcade Fire. Todos esses mistérios fizeram com que fosse uma das bandas mais aguardadas do ano. E finalmente “Go Tell Fire to the Mountain” (belo nome) viu a luz do dia.
Após várias tentativas para o melhor local para produção do álbum, WU LYF finalmente se fincou numa igreja abandonada e se auto produziram. A decisão causou estranheza e pareceu mais um jogo de publicidade, mas ao vermos o resultado final, ficamos sabendo que foi uma decisão acertada. O som grandioso precisava de espaço para ser capturado na sua melhor forma. E o álbum tem essa abrangência, com desenhos de guitarras e órgãos.

Go Tell Fire to the Mountain é um album conceitual. Ele tem toda a mesma atmosfera, é guiado com a mesma sensação e o discurso se mantém por todo álbum. O som inicialmente não é muito acessível e isso é “culpa” do vocal de Ellery Roberts, com a dicção praticamente incompreensível através de gritarias inaudíveis. Mesmo acompanhando as letras escritas, fica difícil entender, parece outra língua. É uma pena, na verdade, e talvez por isso o álbum perca um pouco da força da mensagem, porque são ótimas letras, proféticas, subversivas, desafiadoras, destinadas à juventude. Nisso se parece um pouco com Arcade Fire, que tem muitos discursos para os jovens ou que retratem a infância. Passagens das letras muitas vezes se interligam, entre as faixas. Se a dicção fosse mais clara, a mensagem poderia ser assimilada mais facilmente.
Quanto ao álbum, tem muitas faixas fortíssimas. Abrindo com “L Y F” já convocando as crianças “i can’t wait for the kids to come”. E no final, através de murmúrios de Roberts, uma pergunta necessária para continuar explorando o trabalho ou não “how many you kids are scared of death?”
“Such as Sad Puppy Dog” é praticamente uma marcha fúnebre. O órgão sombrio encaixou-se perfeitamente na atmosfera sagrada de uma igreja. “Summas Bliss” é um ótimo indie pop com uma ótima letra, pena que novamente não seja possível compreender tudo que Roberts canta. Ao passar das músicas, esse fica sendo o ponto fraco mais atenuante do álbum. Abre caminho para “We Bros”, dançante, épica e apocalíptica, com um refrão em coro e Roberts cantando praticamente possuído, como em várias faixas. “Spitting Blood” critiando o american way of life. “We are so happy, happy to see all of our children will run blind and free”. Cuspindo sangue como o deus do sol dourado.
“Dirt” é em especial um apelo à união. O fechamento do álbum é igualmente épico. “Heavy pop”. Não sei de onde eles colocam aquela música como “pop”, mas enfim. Uma canção de liberdade para as crianças e pros jovens. É onde o vocal de Roberts está mais forte, desesperado, possuído.
Go Tell Fire to the Mountain é um bom álbum e funciona como unidade. Mas para que todos os fatores da equação se encaixassem perfeitamente e fizessem desse álbum memorável, o vocal ao mesmo tempo forte de Roberts, deveria ser também mais claro. Mas com boa vontade e paciência do ouvinte de ir procurar as letras, acompanhá-las e desvendar todos os mistérios, Go Tell Fire to The Mountain é um ótimo álbum.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

The Black Keys anuncia novo álbum

Boa notícia! A banda The Black Keys anunciou essa semana o lançamento do novo álbum, El Camino, com data prevista para 6 de dezembro, através de um divertido vídeo no estilo de vendedor de carro, com Bob Odenkirk, de “Mr. Show” e “Breaking Bad”. E ainda tem mais, indo no site WannaBuyaVan.com, será indicado um número no qual se escuta uma mensagem do o baterista Pat Carney sobre a Van que eles estão tentando vender.

The Black Keys é uma banda de rock alternativo formada por uma dupla Patrick Carney e Dan Auerbach, similar nisso e um pouco no som com outra dupla bem mais conhecida, Jack e Meg White, do White Stripes, com um som cru, de garage e com uma veia no Blues Rock. A discografia do Black Keys já conta com ótimos álbuns, como Rubber Factory, de 2004, Thickfreakness, de 2003 e o último trabalho deles, Brother, de 2010. Em breve veremos se El Camino aumentará essa lista.

Mais algumas informações: El Camino foi produzido por The Black Keys e Danger Mouse e o primeiro single, “Lonely Boy” sai daqui a pouco, em 26 de outubro. Abaixo está a tracklist do álbum El Camino:

01 Lonely Boy

02 Dead and Gone

03 Gold on the Ceiling

04 Little Black Submarines

05 Money Maker

06 Run Right Back

07 Sister

08 Hell of a Season

09 Stop Stop

10 Nova Baby

11 Mind Eraser

Enquanto isso fiquem um vídeo de “Tighten Up” do último álbum da banda, Brother.

The Pains Of Being Pure at Heart Live KEXP

The Pains of Being Pure At Heart é uma das mais agradáveis novidades do ano na cena Indie com o lançamento do segundo álbum Belong, que no decorrer do ano vem sendo cada vez mais aclamado pela crítica. Todo o sucesso fez com que a banda fosse convidada para participar de um programa de rádio no estúdio da KEXP’s, de Seattle. Eles tocaram quatro músicas, “Belong” e “Heart in Your Heartbreak”, do álbum Belong, e duas B-sides, “I Wanna Go All The Way” e “Kurt Cobain’s Cardigan”, já que a rádio é da cidade natal de Kurt. Para quem quiser conferir, os links seguem abaixo:

“Heart in Your Heartbreak”

“I Wanna Go All The Way”

“Kurt Cobain’s Cardigan”,

“Belong”

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Iron & Wine - Kiss Each Other Clean


Kiss Each Other Clean é o novo álbum da banda do cantor e compositor barbudo que parece mas não é Marcelo Camelo, Samuel Beam. Iron & Wine estreou em 2002, com o cultuado The Creek Drank the Cradle, onde era praticamente Beam e seu violão soltando o melhor do Indie Folk. É daí que saiu uma de suas melhores músicas, “Upward Over the Mountain”, com uma letra e melodia irretocáveis. Essa acaba sendo a tônica das músicas do Iron & Wine, através das composições de Marcelo Camelo, ops... Samuel Beam. Voz, violão, alguns arranjos, e letra e melodia impecáveis. Principalmente nos dois primeiros álbum, o supracitado e o que se seguiu a ele, Our Endless Numbered Days, de 2004. A partir de Shepherd’s Dog, de 2007, que foi novamente aclamado pela crítica, Beam resolveu adicionar novas variáveis à equação. O som ficou bem mais complexo, com arranjos menos convencionais, dessa vez com mais metais e instrumentos percussivos guiando as músicas.

É nesse contexto que surge Kiss Each Other Clean e suas elegantes canções. É um álbum que encanta pelo cuidado de cada faixa. Começa com o nível de qualidade exageradamente alto de “Walking Far From Home”, com sua complexa simplicidade que chega dá arrepios no decorrer da música. Como é difícil de manter um nível desse em todas as músicas, a seqüência dá uma queda, mas ainda conta com belas músicas, tais como “Tree By the River” e “Half Moon”. Mas na verdade, é como se desse a impressão de estar preparando o ouvinte para o ponto alto do álbum. Pode ser meio cedo ainda, mas “Rabbit Will Run” certamente está concorrendo a melhor música do ano. Todos os ingredientes dela parecem estar no lugar certo, no momento certo, foi com um prazer indescritível que a acompanhei pela primeira vez, cada verso uma descoberta, simplesmente perfeita. E não acaba por aí. No decorrer ainda tem faixas notáveis, como “Big Burned Hand” e a épica “Your Fake Name Is Good Enough For Me”. Enfim, um grande álbum desse artista que parece Marcelo Camelo mas não é.
Vou deixar ai o vídeo de “Rabbit Will Run” pra ver se vocês tem a mesma impressão que eu tive quando a ouvi pela primeira vez.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Girls - Father, Son, Holy Ghost


Escutar pela primeira vez um álbum de uma banda que não se conhece é excitante, com todo o mistério que envolve o desvendar de cada música e tudo mais e mesmo que o que se descubra não seja o que você esperava, a simples ansiedade por algo novo é uma sensação boa. Em contra partida, quando o resultado ultrapassa a sua expectativa a ponto de deixá-lo em transe por alguns momentos, quer dizer que aquilo que você está ouvindo é genial, você finalmente foi recompensado.
Essa é a sensação ao escutar pela primeira vez o segundo álbum da banda de São Francisco, Girls, chamado Father, Son, Holy Ghost. A banda é formada principalmente por duas pessoas, homens, ao contrário do que sugere o nome, Christopher Owens, líder e cérebro e JR White. Girls lançaram o primeiro álbum intitulado simplesmente Album em 2009 e imediatamente recebeu aclamação da crítica especializada, tendo inclusive a Pitchfork colocado o single “Hellhole Ratrace”, uma viagem ao melhor estilo de Spiritualized, como um dos 500 melhores singles da década 2000. No ano seguinte, Girls lançou um EP (mais uma vez muito bom) com seis faixas, chamado Broken Dreams Club. Mesmo com esses dois primeiros lançamentos conter vários momentos de genialidade, é em Father, Son, Holy Ghost que eles atingem o ponto máximo ao fazerem o trabalho simplesmente perfeito, que já chama atenção pela capa no mínimo curiosa, que tem as letras de todas as faixas do álbum.
Father, Son, Holy Ghost nocauteia já de forma imediata ouvindo-o isoladamente, mas para completar o ciclo, é muito interessante também conhecer a história por trás da banda, do álbum, e, principalmente, da peça-chave da banda, Christopher Owens, filho de mãe e pai devotos da seita Children of God, movimento religioso criado no final dos anos 60 reacionário aos hippies, pregando salvação, apocalipse e uma revolução espiritual contra o “mundo de fora”. Essa seita religiosa marcou bastante a infância de Owens, criando vários traumas e demônios que ele carrega até os dias de hoje, como sua relação com sua mãe, que deixou seu outro filho morrer de pneumonia por causa da aversão à medicina do Children of God ou por se prostituir na frente de Owens quando estava crescendo. Outro ponto importante para se compreender melhor o som do Girls é a relação de amor e ódio dos seus membros com as drogas, principalmente as derivadas do ópio. Christopher Owens, junkie assumido, fala sobre sua relação com elas abertamente, que é um ponto muito importante no seu processo criativo, que ela o faz se focar mais nas idéias e emoções, mas também que é muito difícil largá-las quando Girls sai em turnê, pois, segundo ele, elas o tornam muito diferente, às vezes agressivo e não sabe por que ele volta a usá-las, mas sempre o faz. Enfim, tudo isso e muito mais está na entrevista sensacional dada a Pitchfork, que você pode conferir neste link.

Mas enfim, vamos voltar a falar de Father, Son, Holy Ghost, que já começa de forma arrasadora com “Honey Bunny”, bem indie rock, com uma batida empolgante, melodia e letra bem legais, que já deixa transparecer a relação de Owens com a mãe. Já deixa o ouvinte com os ouvidos mais atentos quando passa para a seguinte, a ótima “Alex”, igualmente sensacional, com o vocal de Owens transbordando melancolia na forma de cantar, como em várias faixas, sempre com grandiosos solos e trabalhos de guitarras. O momento “lapada” do álbum chega ao seu auge com a quase heavy metal “Die”, com riffs e solos sensacionais, e Owens esbanjando pessimismo na letra. Ele fala na entrevista que "Die" é uma das primeiras músicas que compôs e que ele e JR ficavam horas tocando o riff sob o efeito do ópio até um deles adormecer.
Desde o título, Father, Son, Holy Ghost (Pai, Filho, Espírito Santo), já dá uma idéia bem religiosa que, se não é traduzida nas letras das canções propriamente ditas, permeia totalmente o clima do álbum, que em vários momentos os backing vocals lembram a música gospel americana. Ele faz a junção desse clima sacro com temas como amor, perdas, desesperança, nostalgia, entre outros. O resultado fica majestoso. O primeiro exemplo dessa junção é a tocante “Saying I Love You”, com o ritmo mais alegre que engana, enquanto a letra se revela, ao invés de uma declaração de amor, totalmente triste e desiludida. “My Ma” é um dos momentos mais solenes do álbum, com uma mensagem direcionada para a mãe de Owens, admitindo o quanto precisa dela “Oh god, I'm so lost And I'm here in darkness And I want to see the light of Love I'm looking for meaning in my life And you my Ma”, tudo isso com uma perfeição melódica e musical. “Vomit” é outra épica, com uma letra tão triste que chega a dar pena do autor, quando depois de tudo que ele narra no decorrer da música, no final ele suplica “come in to my heart”. Owens conta que a escreveu quando tinha uma namorada que vivia fora de casa, e ele saia pela cidade desesperado procurando-a. Em “Just a Song” ele sentencia “it seems like nobody’s happy now”. “Love Like a River” é outro ponto incrível do album, meio um blues gospel, que inclusive me recordou um pouco do álbum I’ll Take Care of You, de Mark Lanegan.
Father, Son, Holy Ghost sem dúvida alguma está entre os grandes lançamentos do ano, se não estiver em primeiro. Tenho certeza que estará disputando segundo por segundo o título com Bon Iver, mas, não sei se pela euforia da descoberta, Father, Son, Holy Ghost entra na reta final do ano como o favorito. Amém.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Panteão dos Deuses: David Bowie

Vamos estrear agora a coluna Panteão dos Deuses, que tem o intuito de revisitar as carreiras dos maiores nomes da história do rock. E ninguém melhor para começar do que o próprio deus máximo David Bowie. Esse inglês nome de nascença David Robert Jones, chamado de Camaleão do Rock, nascido em Brixton, chegou para mudar a cara do rock. Dono de uma das carreiras mais ousadas da história, a alcunha camaleão do Rock não poderia se encaixar melhor em outra pessoa. Conhecido por sempre se renovar, nunca permanecer num mesmo estilo por muito tempo, reinventando-se constantemente, David Bowie é a heterogeneidade em pessoa. Se quiser ter uma idéia, selecione as melhores músicas de cada álbum dele e coloque todas juntas numa mesma pasta, sem organizar por data, e bote para tocar. Você vai ouvir hard rock, glam rock, soul music, eletrônico, rock anternativo, experimental, art rock, new wave, dentre outros estilos menores. E cada uma dessas músicas permanecem tão atuais como o era há , 20, 30, 40 anos.


Certamente por essa natureza inquieta de David Bowie, seja tão difícil conhecê-lo por completo, mas ao mesmo tempo, nenhuma outra tarefa é musicalmente tão recompensadora. Nenhum trabalho isolado define artisticamente David Bowie. Ele não é o superstar glam Ziggy Stardust, nem a figura militar fascista de Thin White Duke, ou o soul man de Young Americans. Também não existe a trilogia de Berlin (Low, Heroes e Lodger), sem o sombrio mundo subterrâneo de Scary Monsters. E ainda digo que para se definir Bowie não se pode ignorar a infeliz década de oitenta, com a figura Pop do New Wave, com Let’s Dance, muito menos as experimentações eletrônicas de Outside, Earthling e o soul eletrônico de Black Tie White Noise. Nem mesmo os mais recentes retornos ao rock clássico de Heathen, Reality e Hours.


Com uma carreira dessas dimensões e tão ousada, a linha entre o sucesso e o fracasso é tênue. David Bowie conheceu o sucesso estrondoso quando Ziggy Stardust conquistou o mundo e, mesmo após a morte do personagem, Bowie engoliu os anos 70 com clássicos como Station to Station e a trilogia de Berlin. Mas numa carreira com esse estilo é praticamente impossível não cometer deslizes. Digamos que a década de 80 foi esse deslize, entrando na moda do New Wave, que o próprio contribuiu muito para a criação do estilo. A década de 90 apresenta uma situação muito delicada, com a fase de experimentações eletrônicas. São álbuns complexos e difíceis de digerir, principalmente para os fãs casuais. Mas uma vez desvendado os álbuns, vê que as criações dessa era foram muito intensas, sobretudo Black Tie White Noise, Outside e Earthling. Depois de álbuns mais acessíveis e clássicos como Heathen e Reality, David Bowie se impôs ao ostracismo após um infarto numa apresentação na Alemanha, na turnê mundial de 2003. Talvez pelo medo da morte, agora ele passa o tempo se dedicando à família, curtindo a filha de nove anos e a esposa, a modelo Iman, desenhos e pinturas. Mas alguém pode dizer para ele que ele não morre.

Enfim, não há nenhum artista musicalmente tão rico quanto David Bowie. Os seus erros e acertos são apenas pacotes de uma grande e imortal obra, que foi o grande Acerto. E é por isso que aqui nesse recinto David Bowie é Deus. Com D maiúsculo.


Deixo vocês agora com uma das melhores composições da humanidade, "Heroes":

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

The Decemberists - The King is Dead


É com certo atraso que venho falar agora sobre o novo lançamento da banda The Decemberists, The King Is Dead, que saiu em janeiro deste ano. The King Is Dead é a seqüência do ótimo e ambicioso álbum conceitual The Hazards Of Love, de 2009, um dos melhores do catálogo da banda. Foi um dos trabalhos mais desafiadores de um grupo que já desafia bastante, fascinada por álbuns conceituais e composições épicas e imprevisíveis.


Em The King is Dead a banda resolve simplificar a equação, nada de conceitos, músicas interligadas por uma narrativa estranha, grandiosas composições épicas, nada disso. Colin Meloy, vocalista e líder da banda, resolve voltar às raízes dessa vez, fincando o som no folk, com um som calmo, agradável, cheio de canções melodiosas e confortáveis, que remetem um pouco aos primeiros trabalhos de Wilco, à fase mais folk de Neil Young e R.E.M. O álbum alterna entre os momentos mais animados como “Don’t Carry it All”, “Rox in The Box”, com tocantes baladas, como “January Hymn”. A faixa single do The King Is Dead, “Down By The Water”, é apenas mais uma das muitas que funcionarão muito bem ao vivo, com refrão marcante. “Rise To Me” é delicada, marcante, gostosa, bela e com uma melodia sensacional. “June Hymn” é uma balada country daquelas para se tocar no terraço da casa grande de sítio.
Claro que faz falta o art rock progressivo dos álbuns anteriores, mas em The King is Dead, The Decemerists está se divertindo mais confortavelmente do que nunca. E o melhor é que a diversão aqui é contagiosa.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

The Stepkids - The Stepkids




Uma banda formada por um trio no qual todos cantam e compõem. Essa é The Stepkids composta por Jeff Gitelman (guitarra), Tim Walsh (bateria) e Dan Edinberg (baixo e teclados). Essa máxima de cooperação é o que dita o rumo do homônimo álbum de estréia da banda. Cada um de seus membros participaram de bandas de apoio de alguns artistas renomados, como 50 Cent, Lauryn Hill, Alicia Keys, dentre outros. A liberdade criativa da banda é traduzida no som bastante peculiar, viajando pelo soul, jazz, folk, indie, tudo isso com um tom bem moderno de arranjos psicodélicos. A unidade do The Stepkids dá pra ser sentida no depoimento do baterista Tim Walsh “todos nós escrevemos e todos nós cantamos, qualquer letra, qualquer melodia, qualquer idéia poderia ter sido feita por qualquer um de nós”.



Essa mixórdia única fica clara logo na faixa de abertura, após uma rápida introdução, “Brain Ninja”, uma "desconstrução" quase anárquica, que em momentos chega a parecer bastante com David Bowie da trilogia de Berlin, acrescentando mais alguns toques eletrônicos. Mesmo assim, ela pode ser considerada a mais fraca do álbum, que cresce e cresce a cada faixa. “Suburban Dream” é o melhor exemplo de soul psicodélico, com um belo ritmo e intensa melodia, além de teclados espaciais. Ela abre caminho para uma das mais fortes do álbum, “Shadows on Behalf”, já conquista na primeira ouvida, com uma grande melodia que vai crescendo cada vez mais. Nela também dá pra ver a química entre os vocalistas, cada um cantando partes diferentes. Novamente, o ambiente entorpecido dá um charme a mais. “Legend In My Own Mind” é uma balada bem soul music, bem sensual, ótimos trabalhos vocais nela, mais uma vez contendo vários variações de vocalistas. “Santos and Ken” chega a lembrar TV On The Radio, em seus momentos mais black music. “La La” é outro ponto mágico do álbum, com sua melodia fantástica e arranjos surreais. “Cup Half Full” é mais outra faixa digna de nota, meio como um blues psicodélico.
O clima psicodélico que permeia o álbum é transmitido também à apresentação ao vivo da banda. Com muitas luzes e cores, lembrando por vezes os shows históricos de Pink Floyd da era de Syd Barret, como no vídeo abaixo.
Curiosamente, o ruim em The Stepkids é exatamente por que ele é muito curto, com apenas dez faixas, das quais duas não contam muito, em trinta e um minutos. Em alguns momentos eles poderiam ter estendido mais um pouco as experimentações em jams supersônicas espaciais. Escutar The Stepkids é como uma confortável e agradável viagem intergaláctica, curta demais, e que quando chega ao seu destino, só se pensa na hora de ter mais outra dose dessa viagem.