quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Resenha de Walter Trout - Battle Scars



Quando a tragédia se abate sobre a nossa vida, é natural cada um reagir de forma diferente; e a música, sendo uma das grandes manifestações artísticas do ser humano, muitas vezes é uma força catalizadora para lidar com esses momentos de extrema tensão, dúvida, medo, ansiedade, e assim por diante. Há incontáveis discos inteiros dedicados a alguma forma de tragédia, seja a de um fim de relacionamento, tragédias humanitárias e, naturalmente, discos que tratam sobre a batalha mais definitiva de todas: a batalha pela vida. Normalmente, quando um artista sobrevive a uma experiência de vida ou morte, seja acidente ou doença, ele utiliza sua arte para canalizar suas percepções sobre essa fase difícil, essa batalha da qual ele, aparentemente, sagrou-se o vencedor. Essas impressões dependem muito de cada um, do que experimentou, de como se sentiu; mais comumente elas soam depressivas, mórbidas, com o pensamento da morte sempre presente e representado por um som mais tenso e sombrio. É o caso, por exemplo, da banda indie Spiritualized, cujo líder Jason Pierce lidou com experiências desse tipo – dupla pneumonia – no álbum Songs In A&E, de 2008, um som melancólico e que faz o ouvir aproximar-se ao máximo da tensão e da dor sentida por Pierce. Há outras formas, no entanto, de lidar com essas sensações. E é exatamente isso o que faz o guitarrista Walter Trout com seu novo álbum, chamado BattleScars, cujo nome já sugere que serão tratadas as cicatrizes deixadas após a batalha pela vida.

                No início de 2014, Trout encontrava-se entre a vida e a morte, deitado numa cama de hospital sem poder mover-se, falar, nem mesmo reconhecer seus próprios filhos. Ficou em coma por três dias por falência hepática; em 26 de maio de 2014, Trout foi submetido a um transplante de fígado e começou a recuperar-se, a voltar a viver novamente em um lento processo de recuperação. Durante esse período, ele ainda conseguiu lançar um álbum, The Blues Came Callin’, sem saber se sairia vivo do processo. Pois bem, Trout venceu esta batalha e ressurge vigorosamente com seu novo trabalho, um álbum de blues incrível, que transcende inclusive os limites do próprio blues. Como está estampado na própria capa do disco: “Last year has been one where the blues truly came calling, and I came face to face with death more than once”. Então Battle Scars representa um paradoxo dentro do blues: embora seja um gênero originário de um ambiente social extremamente injusto, exploratório, e segregado racialmente, as letras do blues utilizam mais a ironia e o humor como forma de confrontar e resistir a esse ambiente. São, portanto, e de certa forma, letras mais leves e indiretas, cheias de duplo sentido e saídas inusitadas, que se unem a um som vivo e dançante que parece celebrar o milagre da vida. Walter Trout utiliza-se desse estilo musical e acrescenta ao som vivo e intenso, através de letras pesadas e densas, temáticas relativamente novas ao mundo do blues, como a morte, por exemplo. O blues, como um natural gênero de sobrevivência, que canta e celebra a existência, apesar de tudo, é a forma perfeita de Walter Trout ressurgir como um jovem de 17 anos, como ele próprio diz: “At first I wasn’t strong enough to play a single note on the guitar, but as I regained my strength, the music came back to me. Now when I pick up the guitar, it is liberating, joyful, and limitless. I feel like I’m 17 again.” Mas foi um longo e duro caminho até lá. E é isso que ele mostra em Battle Scars: a jornada pela vida da primeira música à última, em todas suas nuances e reviravoltas, em momentos de desespero e esperança, de perda da fé e da fé renovada, em achar que é o último dia vivo, em desejar desesperadamente que viva, ao menos, até o dia seguinte. 

                O álbum inicia com a faixa “Almost Gone”, que, como o título sugere, é um relato de um sobrevivente. Na alternância de intensos solos de guitarras e gaitas, Trout começa a falar de suas impressões e sobre as pessoas que o fizeram manter a fé, a continuar lutando: “Now I get the feeling/Something’s going wrong/Can’t help but  feelin’/I won’t last too long”. A letra mostra a luta entre pessimismo e otimismo, mesmo sendo impelido a lutar, Trout diz na letra: “we both know i’m almost gone”. Logo em seguida sirenes começam a disparar, dando uma noção exata do local onde estamos e o motivo pelo qual estamos ali. “Omaha” é uma das mais intensas. Ela se refere ao tempo em que Trout ficou no centro médico em Nebraska e tudo o que acontece no cotidiano de um hospital: a dor (própria e alheia), transplante de sangue, pessoas morrendo ao redor, as famílias chorando, etc. Em “Tomorrow Seems So Far Away”, numa música intensa e mais uma vez cheia de solos sensacionais na guitarra, Trout lida exatamente com essa expectativa e deixa claro: a luta é mais do que dia a dia, é hora a hora, minuto por minuto, já que “just hangin’ on, gimme one more day; but tomorrow seems so far away”.

                Chega a etapa do disco cheia de contrastes. O tom musical muda drasticamente na delicada, mas dolorosa, “Please Take Me Home”, na qual Walter Trout se aproxima bastante de algumas baladas de Bruce Springsteen, inclusive na voz. A letra é quase uma súplica de Trout para ser levado para casa. “Playin’ Hideaway” é bem enérgica, com vozes em coro no refrão, cantando quase jubilosamente. É o contraste de “Haunted By The Night”, canção mais sombria do disco, na qual mostra um Trout sem fé, cansado de lutar, preso numa cama de hospital sem poder andar e achando que o diabo está rindo na sua cara, enquanto é perseguido pela noite. “I’m looking in Hell, but i can’t stand the sight, I’m trembling in the darkness, cause I’m haunted by the night”.  Sem dúvida ela captura Walter Trout no seu fundo do poço, do qual ele tenta desesperadamente sair já na faixa seguinte, “Fly Away”, um rock direto, vivo e livre, que representa uma tentativa, ou fantasia, de libertação, qualquer que seja, a morte ou a recuperação. A fé aparece renovada aqui “can you hear me when I pray? we’re gonna fly, we’re gonna fly away”. 

                Após a fase dos contrastes, a esperançosa “Move On”, a guitarra continua a delinear o caminho, mas parece que foi feita na fase de recuperação, pois agora Trout parece olhar mais para frente, já tentando vislumbrar como a sua experiência mudou sua visão de mundo. Em “My Ship Came In” tem a volta da gaita já na introdução. Terminada a parte brilhante e positiva do álbum, os reflexos sobre a morte parecem ter voltado na música mais diretamente blues do álbum, e, portanto, uma das melhores, “Cold, Cold Ground”, ou seja, a batalha pela vida continuava. I could hear the angels calling, lord I just can’t stand the sound, I need to believe I ain’t ready for the cold, cold ground”. Então a música continua com uma sensação onírica de algum sonho ou alucinação proveniente do coma, mas sempre com a certeza de que o seu tempo não havia acabado. Ainda por cima, a música apresenta um dos mais belos solos de guitarra do álbum. “Gonna Live Again”, tocada no violão, é quando finalmente ele percebe que irá viver e sairá vencedor dessa batalha e não importa o que o fez passar por isso, ele apenas deve deixar esse momento para trás, já que agora está vivendo novamente e está com a chance de ser um homem melhor. A Deluxe Edition ainda tem duas músicas bônus, “Things Ain’t What They Used To Be”, só Trout com o violão e gaita, e finaliza com “Hell To Pay”, também um blues acústico de primeiríssima qualidade.

                Depois do drama vivido, Walter Trout acaba por nos entregar o melhor álbum de sua carreira. Claro que a carga emocional tem um impacto profundo nas músicas e as fazem ter uma conotação ainda mais forte. Mas é a honestidade que faz com que Trout consiga nos transportar um pouco que seja para sua vida. As cicatrizes da batalha são as lições que ele aprendeu em sua jornada, as quais ele consegue repassar um pouco delas para nós, ainda que não passemos pelo drama que ele passou. Um drama pessoal não é o suficiente para um bom álbum. Pode ser mais tentador do que parece tentar esconder profundas experiências pessoais e espirituais por trás de clichês. E definitivamente não é isto que Walter Trout faz em BattleScars. Você pode ouvir o álbum completo pelo youtube neste link
               

domingo, 25 de outubro de 2015

David Bowie anuncia novo álbum, Blackstar, para janeiro


                Nos últimos anos, o mês de janeiro tem nos reservado momentos mágicos, fazendo jus ao seu significado de abertura do devir. Mas essa não é a única razão. Dia 8 de janeiro marca o nascimento de David Bowie e ultimamente isso tem sido prenúncio de acontecimentos interessantes. Explico: em 2013, no dia do seu aniversário, David Bowie surpreendeu o mundo ao lançar uma música nova do seu ainda inédito novo álbum, que foi lançado um pouco depois, The Next Day. O álbum marcou o fim do período sabático que Bowie se impôs desde 2004, sem lançar nada inédito e sem realizar nenhum show ao vivo. Pois bem, acabou de ser confirmado que para 2016 o dia 8 de janeiro reserva para nós tão-somente o lançamento do novo álbum do próprio David Bowie (o vigésimo quinto de sua carreira) , que terá o título de Blackstar. O primeiro single está programado para ser lançado em 20 de novembro. A ansiedade já é imensa.

                Informações dizem que haverá uma nova transformação na sonoridade de Bowie. O jornal Times of London descreve o álbum como um “longo álbum com improvisações de jazz misturadas com o tipo de condução de batida pioneiro dos anos setenta das bandas alemãs Can e Kraftwerk”. Parece que é a volta de um Bowie mais experimentalista e eletrônicos. Ele já fez uma mistura de eletrônico e rock industrial na fase durante os anos noventa. Agora a ideia é incluir uma pitada de jazz. Um som aventuroso, sem dúvida, mas que Bowie já mostrou que pode retirar o melhor dele. Outra descrição presente na notícia é que o álbum contém “cantos gregorianos, uma seção de soul, várias batidas e bleeps eletrônicos e os vocais distintos de Bowie”. Parece que o trecho da música tema divulgado da colaboração que David Bowie fez para a série The Last Panthers segue um pouco essa linha. A faixa recente "Sue (Or In A Season of Crime)" também pode ser um dica do que está por vir. Bem, vão ser longos meses de espera. É como se um deus acabasse de marcar uma data para fazer uma pequena visita à Terra. Aguardemos, portanto. Enquanto isso, deixo vocês com uma música do último disco, The Next Day, bem como algumas faixas interessantes da fase eletrônica de Bowie:













sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Assista ao clipe da nova música de Adele, "Hello".




                Como era de se esperar, Adele voltou abalando. A espera e ansiedade pelo tão aguardado sucessor de 21 já sugeria que quando esse evento viesse a acontecer mobilizaria todo o mercado. Bastou alguns dias para acabar com os mistérios construídos ao longo dos últimos anos. Com direito a uma carta aos fãs, Adele confirmou o novo álbum (que inaugura uma nova fase de sua vida), chamado 25, para o dia 20 de novembro, divulgou o tracklist do disco e hoje ela lançou o primeiro vídeo clipe do trabalho para a música “Hello”, que está reverberando por todas as esferas do mundo digital. Com uma produção cinematográfica, dirigido pelo cineasta Xavier Dolan, o clipe vasculha lembranças, boas e ruins, de um antigo amor. A música, apenas acompanhada pelo piano e uma orquestra de fundo e com um refrão marcante, nos (re)lembra que Adele é ainda uma das vozes mais bonitas da atualidade, além de uma ótima compositora de músicas pop. A questão é: iremos reviver a “febre Adele”? A conferir. As primeiras impressões, no entanto, são boas e indicam que sim, Adele, de fato, voltou. Confira o vídeo e o tracklist abaixo: 

25:

01 Hello
02 Send My Love (To Your New Lover)
03 I Miss You
04 When We Were Young
05 Remedy
06 Water Under The Bridge
07 River Lea
08 Love In The Dark
09 Million Years Ago
10 All I Ask
11 Sweetest Devotion


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Resenha de John Mayall - Find a Way to Care


Alguns músicos cravam seus nomes na história da música tanto pelo seu trabalho produzido quanto pelos serviços prestados de preservação cultural. É o caso da tríade britânica que mudou os rumos do blues na década de 60. John Mayall, Eric Clapton e Rolling Stones (Mick Jagger e companhia) foram os principais responsáveis por (re)apresentar o gênero do blues para o grande público branco dos Estados Unidos. Até então, o blues era uma manifestação cultural da comunidade afro-americana altamente centralizada nas áreas rurais do Sul dos Estados Unidos e nos bairros negros dos grandes centros industriais do Norte. Após a invasão britânica, os brancos passaram a consumir o blues tanto – ou mais – do que a própria população negra, cujo interesse musical fragmentava-se diante dos gêneros derivados do blues e jazz, como o soul e funk. Já tendo seus nomes marcados na história, Mayall, Clapton e, em partes, os Stones, no entanto, permanecem ativos.

Tocando blues há 70 anos – e profissionalmente há 50 -, John Mayall, o “Godfather of The British Blues”, –, apenas um ano após o último álbum, A Special Life, mostra que, aos 82 anos, ainda permanece com um fôlego interminável e lança seu mais novo disco, chamado Find a Way To Care, no qual mostra uma habilidade específica que não havia ainda sido muito explorada; com a ajuda da banda que o acompanha há anos, com uma seção de metais sempre presente, John Mayall sente-se confortável o suficiente para dedicar-se mais ao piano e ao teclado.  Na verdade, o teclado e/ou piano são os instrumentos de mais destaques de Find a Way To Care. De uma forma ou de outra, dividindo o espaço seja com guitarras, gaita e metais, através de solos ou apenas acompanhamentos tímidos, o teclado e piano estão sempre lá marcando presença.  É o caso de “The River’s Invitation”, na qual seção de metais faz um belo trabalho, apoiando Mayall em seus vários solos de teclado, que continuam em “Ain’t No Garantee”, com um ritmo mais para o funk, puxado pelo baixo; em “I Feel So Bad”, clássico de Lighnin’ Hopkins, que é totalmente repaginada por Mayall e tocada numa versão mais agitada e dançante, com mais uma presença marcante dos metais e do teclado.




Mayall também é conhecido por explorar nas composições próprias um pouco mais além o campo lírico do blues, indo além de lugares-comuns do gênero. A faixa que dá título ao álbum, “Find a Way To Care”, possui letras bem reflexivas, sobre mudanças sociais recentes e a necessidade de continuarmos tentando: “times are changing now, we gotta do the best we can”. Uma tentativa de colocar um pouco de otimismo nesse nosso mundo desolado em que vivemos.  Para um artista de 80 anos, pode-se dizer que Mayall já viu mudar muita coisa. “Long Summer Days” é nostálgica, com Mayall retomando suas memórias da infância na fazenda na Inglaterra.



Os outros destaques utilizam a fórmula mais tradicional do blues: gaita, piano, guitarra. “Mother In Law Blues” inicia o álbum com extrema elegância e qualidade, com uma letra clássica do blues sobre despedidas e abandonos, através de uma mecânica bem interessante entre gaita, guitarra e piano. No meio de versos característicos do blues (como “it was early in the morning” e “saw my baby walk away”), Mayall ainda cria algumas imagens poéticas, como no trecho: “I know she heard me calling she looked back and waved her hand / she said ‘I’m so sorry baby, you’re just footprints in the sand’”. Em relação à voz, Mayall mostra que ainda consegue cantar com vigor e intensidade. A versão para “Long Distance Call”, do lendário Muddy Waters é outro exemplo: em grande parte mantendo-se fiel à original, Mayall nos entrega uma versão honesta e impecavelmente executada, utilizando-se dos solos para dar seu toque especial, dessa vez no piano. Na maliciosa “I Want All My Money Back” Mayall se defende das aproveitadoras de plantão “you’re using me, i think you’re just using me, if you don’t do something I like I want all my money back”. Outra cover magnífica executada por Mayall e sua banda é “Drifting Blues”, também uma das preferidas de seu amigo conterrâneo e guitarrista, Eric Clapton. John Mayall finaliza de forma solitária, com a faixa “Crazy Lady”, só ele e o piano, de acordo com a longa tradição de pianistas de New Orleans, como Professor Longhair.

Tal qual Leo “Bud” Welch, dois álbuns em dois anos para um músico com mais de 80 anos é algo extraordinário. No caso de John Mayall é ainda mais surpreendente pelo fato do músico já estar há mais de 50 anos no ramo profissionalmente. Não é um álbum que se equipare aos clássicos da década de 60 e 70, tanto pela sua importância musical e histórica, mas para quem acompanha e é fã da extensa carreira de John Mayall é com certeza uma ótima pedida. 


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Adele divulga prévia de nova música. Novo álbum sairá em breve



                Ainda não tem data, mas em breve o mundo da indústria fonográfica irá sentir um terremoto que irá mexer com as estruturas do mundo todo. Isso porque o último fenômeno a surgir da música pop está prestes a dar mais um passo na sua carreira. Em meios a rumores e relatos, Adele está para lançar o tão aguardado sucessor do álbum 21, de 2011 e que vendeu milhões de cópias em plena era digital. Em meio a segredos, aos poucos vem surgindo depoimentos de artistas que foram convidados para gravar com a cantora, mas sem revelar informação sobre em que etapa o esperado novo álbum se encontra. Em uma jogada inesperada, Adele divulgou hoje um teaser de apenas 20 segundos de uma suposta nova música do álbum, que irá se chamar 25 (e segue o padrão de Adele em nomear seus álbuns com a sua respectiva idade: 19, 21 e 25). Não há ainda nenhuma data de lançamento (fontes dizem que seria no dia 20 de novembro deste ano), nem tracklist do álbum que carrega a responsabilidade de ser a sequência de um fenômeno mundial. Confira abaixo o Teaser de 25, contando com um trecho da letra da música. Enquanto isso, deixo vocês com um dos inúmeros sucessos do último trabalho da cantora. A responsabilidade é grande!






sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Resenha de Mr. Sipp - The Mississippi Blues Child



         A ascensão de uma jovem estrela para brilhar no mundo da música é difícil, dura e cheia de batalhas travadas no anonimato do dia a dia. Dificilmente é algo que acontece da noite para o dia. Para o artista comum que está batalhando, a escada para o sucesso é feita de etapas. Ao menos esse deve ser o que anda pensando o jovem guitarrista Castro Coleman, conhecido apenas como Mr. Sipp (abreviação com referência ao rio Mississippi). Nos últimos três anos, Mr. Sipp completou etapas fundamentais para alcançar o seu objetivo. Em 2013, foi o finalista do IBC - International Blues Challenge, mas acabou perdendo. Ainda assim, lançou, de maneira independente, seu primeiro disco, chamado It’s My Guitar. Já cheio de moral, tentou novamente e foi mais uma vez finalista do Desafio Internacional do Blues, do qual saiu finalmente como vencedor. Mais ainda: ganhou o prêmio da Gibson como melhor guitarrista do ano. Para coroar as conquistas- e provavelmente pensando alto -,  em 2015, Mr. Sipp lança seu segundo disco, chamado de The Mississippi Blues Child.

O álbum apresenta um Mr. Sipp bem mais versátil, talvez tentando tornar seu som mais acessível ao grande público. O Mr. Sipp vencedor do IBC, ou seja, o seu lado do blues mais vigoroso, com a guitarra gritando alto está travando uma luta constante com o Mr. Sipp mais ambicioso e comercial. E é exatamente esse caráter dúbio que faz com que The Mississippi Blues Child perca um pouco de toda sua potencialidade. Afinal, essa batalha ele já ganhou ao se sagrar vencedor do IBC com um blues poderoso, performático e enérgico.

                Os destaques do disco estão mesmo mais para o blues e concentram-se na primeira metade do disco, embora o lado mais soul e pop de Mr. Sipp não seja totalmente descartável. A faixa de abertura, “Tmbc” é o acrônimo para The Mississippi Blues Child e conta de forma autobiográfica sua relação pessoal com o blues, ouvindo comentários de pastores, como: “They say Mr. Sipp you’re gonna burn in Hell for playing that blues style / but instead I played all over the world and I’m known by the name of The Mississippi Blues Child”. Já a faixa seguinte é uma das melhores músicas do disco, “Jump The Broom”, com um riff de guitarra forte e solos sensacionais de Mr. Sipp. A letra é bem interessante, dizendo para abraçar o novo e se casar com ele. “In The Fire” mostra uma melodia bem desenhada e se alterna em momentos mais intensos, com riffs e solos na guitarra e momentos mais leves e melódicos. A mistura é um dos exemplos quando o equilíbrio funciona muito bem. 

          “Say The Word” é mais um dos destaques que mostram toda a potencialidade de Mr. Sipp. Um blues lento e leve, cheio de solos que remetem ao o melhor estilo de B. B. King e T-Bone Walker. Evidencia ainda outro elemento que até então havia ficado nas sombras: Mr. Sipp mostra um amplo domínio sobre sua potente voz. “Slipp Slide” é divertida e feita para dançar nos shows ao vivo. Mr. Sipp até faz brincadeiras com o público, as palmas e as respostas do público dão a impressão da gravação ser ao vivo.  

No limbo estão as canções que não são nem destaques, mas que também não se enquadram como fracassos, como “Hole In My Heart”, “Nobody’s Bisness” e “What Is Love”. Mas há aquelas que soam totalmente forçadas, exatamente para tentar dar uma versatilidade sonora que, na verdade, não estava fazendo falta, como “Jackpot”, “V.I.P”, “Tonight”.

The Mississippi Blues Child aparece como uma balança na qual Mr. Sipp ainda não está totalmente certo para qual lado pender e busca manter-se equilibrado entre um e outro. É mais uma etapa que o jovem Mr. Sipp terá que ultrapassar. Mas a verdade é simples: o lado bluesman e guitar hero lhe cai bem melhor. Mr. Sipp é um músico, jovem, cheio de energia e com sonhos de tornar-se relevante. 

Abaixo, segue o vídeo de sua apresentação de 2014 que saiu vencedora do International Blues Challenge:


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Resenha de Gerry Hundt - Gerry Hundt's Legendary One-Man-Band



Sem dúvida, há os que nascem dotados de talentos musicais, seja na habilidade de cantar, de tocar algum instrumento; outros, no entanto, não; dentre os que nascem com tais competências, há aqueles que sabem tocar, de um jeito ou de outro, vários instrumentos; outros preferem dedicar-se à sua especialidade; Gerry Hundt, versátil músico do blues de Chicago é um exemplo dos primeiros; dentre esses multi-instrumentistas há aqueles que desenrolam tão bem que simplesmente chegam a dispensar uma banda e pensam: “sabe de uma coisa, vou tocar é tudo”; e tem mais ainda: dentre essas “bandas de um homem só” que, por qualquer motivo que seja, acabam tocando e gravando todos os instrumentos do álbum, há aqueles que fazem tudo isso de uma só vez, ou seja, ao vivo. Você provavelmente se pergunta se há alguém que passe por tantos filtros? Sim, há. Esse alguém se chama Gerry Hundt e esse feito está documentando no seu novo disco, com o título sugestivo de Gerry Hundt’s Legendary One-Man-Band, álbum fruto de um trabalho de cinco anos em que Hundt trabalhou com sua banda de um homem só. Hundt, que estreou em 2007, com o disco Since Way Back, já chamou atenção pela sua paixão tanto pelo blues quanto pelo bandolim, um instrumento pouco relacionado à história do gênero. Mas Gerry Hundt’s Legendary One-Man-Band vai além; o som apresentado por Gerry Hundt varia entre especialmente o tradicional blues rural e acústico, um pouco do Delta blues, outro tanto de blues elétrico urbano e vários números instrumentais, representando uma grande variedade dentro do próprio blues. A gravação é ao vivo, realizada entre fevereiro e março de 2015, rústica e sem recursos tecnológicos, prejudicando um pouco a voz de Hundt, mas dando aquele ar antigo e original, o que sem dúvida é como a cereja do bolo para os aficionados em blues. Com certeza, a pouca produção do disco rema contra a maré da moderna indústria fonográfica, mas, na verdade, pouco importa.


O disco, de 15 faixas, conta com mais da metade de músicas originais somadas a clássicos do blues regravados pela legendária banda de um homem só. As instrumentais, que são boa parte das originais, apresentam uma variedade interessante, dentre as quais se destacam a animada “Market Morning Reel”, a faixa que abre o disco, a doce, singela e contemplativa “Sunset” e a dançante “Broadway Boogie”, com a gaita a bateria de pé ditando o ritmo. A gaita, inclusive, é um dos instrumentos que mais se destaca na música de Hundt, funcionando como uma peça centralizadora, e que se encontra junto com o bandolim entre as suas paixões.



As demais faixas originais, de autoria de Gerry Hundt, estão tão enraizadas na tradição que por vezes é difícil diferenciá-las das que são covers. Em “County Line”, com um ritmo irresistível que faz ser impossível impedir as pernas de ficarem balançando, Hundt alterna em solos de gaita e dedilhados no seu violão. “Goin’ Away Baby” e “Broke Down” fecham a conta dos destaques dentre as originais, com a primeira, a gaita como carro chefe, sendo um blues puro e cru, e a segunda, uma das melhores, remetendo um pouco aos moldes do Delta blues.



No grupo de tradicionais do blues, destacam-se primeiramente “Stompin’ & Shoutin’”, uma das poucas em que Hundt faz uso da guitarra elétrica, mas cujo papel é secundário, dando espaço para o som da gaita perambular pela música. A voz suja, rústica, que causa uma certa estranheza em um primeiro momento e pode atrapalhar um pouco a compreensão da letra, sem dúvida é um recurso interessante. Uma das melhores covers do disco é “Walkin’ Blues”, um dos maiores clássicos da história do blues, cantada e tocada por Son House, Robert Johnson e Muddy Waters, só para citar uns. Com “concorrentes” como esses, pode ser meio arriscado colocá-la no repertório, mas Hundt, tocando a bateria com o pé, ainda nos entrega ótimos slides no violão e faz um ótimo trabalho.  “Salt Dog”, bem diferente e rápida, mostra ainda um curioso instrumento que remete aos primórdios do blues, o kazoo. Na faixa seguinte, em “Freight Train”, mantém-se aquele ritmo constante de um trem, só mudou a intensidade: se antes era um pouco mais frenética e dançante, agora é daquelas que a gente senta na janela e fica olhando o cenário e cantarolando. Uma ótima música de viagem.
“freight train, freight train, oh running so fast”. Para finalizar o disco, Hundt faz um medly instrumental de gospel, com “I Shall Not Be Moved / I’ll Fly Away”.



Gerry Hundt’s Legendary One-Man Band é uma viagem pelo tanto pelo universo quanto pelas habilidades musicais de Gerry Hundt, experimentando ao máximo para levar a si mesmo até o limite. Apenas o fato de uma pessoa só gravar ao vivo um disco já é surpreendente. No entanto, o que é incrível mesmo é que ele consiga fazê-lo tão bom e divertido. Com certeza, Barney Stintson, da série norte-americana How I Met Your Mother, soltaria seu jargão clássico: legen... wait fo it... dary!



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Assista ao vídeo de Will Butler, "Anna", com a participação de Emma Stone



Will Butler, um dos líderes da banda Arcade Fire, estreou sua carreira solo no começo desse ano com o lançamento do interessante álbum Policy. Dando continuidade à promoção do trabalho, Butler divulga hoje o clipe pomposo de “Anna”, dirigido por Brantley Guitierrez, que ainda conta com uma estrela de peso, a atriz Emma Stone. O vídeo parece uma peça de musical da Broadway, num navio de cruzeiro, com divertidas danças sincronizadas. Confira: