Leon
Bridges foi uma das grandes revelações do ano passado, com o lançamento de seu
álbum de estréia, Coming Home, bastante elogiado, no qual apresenta sua versão particular
de um soul, blues, gospel e R&B. A sua ascensão pode ser notada com o
lançamento hoje do emocionante clipe de “River”, muito bem escrito, produzido e
dirigido por Miles Jay. Coisa de gente grande. Mas o melhor mesmo não é a
grande produção cinematográfica, mas sim o seu conteúdo, cheio de simbologias e
significados, sobretudo para a comunidade negra dos Estados Unidos. O vídeo
mostra retalhos do duro cotidiano dos negros através de vários personagens,
especialmente a violência sofrida pelos negros. A influência dos episódios
recentes de violência contra os negros pela polícia fica evidente na escolha do
local para a gravação do vídeo, Baltmore (onde teve o assassinato de Freddie
Gray pela polícia). Além disso, há outras referências ao motim, como as imagens
do levante na televisão do quarto de motel em que Bridges está tocando. Também
há o desespero, o sofrimento, a penúria e a luta diária para sobreviver. Mas,
acima de tudo isso, ou melhor, para se sobrepor a tudo isso, o vídeo mostra
amor, muito amor e fé, muita fé, sobretudo a que vem da belíssima voz de
Bridges, que remete a décadas de tradição do soul e do gospel. Em declaração
sobre o lançamento do clipe, Bridges explica um pouco sua relação com a fé: “O
rio tem sido usado historicamente na música gospel como simbolismo de mudança e
redenção. Eu queria escrever uma música sobre minha própria experiência
espiritual. Ela foi escrita durante um período de verdadeira depressão na minha
vida e eu lembro sentado na garagem tentando escrever uma música que refletisse
essa luta. Eu quero que esse vídeo seja uma mensagem de luz. Eu acredito que
isso tem o poder de mudar e curar aqueles que estão sofrendo. Eu me vi preso
entre múltiplos empregos para sustentar a mim mesmo e minha mãe. Tinha pouca
esperança de conseguir escapar dessa realidade. A única coisa a qual eu poderia
me agarrar era minha fé em Deus e meu único caminho para o batismo era o
caminho do rio”.
Bem, depois
dessa só nos resta assistir mesmo. O vídeo foi lançado bem no primeiro dia do
mês dedicado à história dos negros, o Black History Month. Confira o clipe de “River”,
de Leon Bridges, abaixo:
Em Fading Frontier, Bradford Cox
tenta pacificar sua mente conflituosa e o resultado alcançado é maravilhoso.
Diferente do intenso e frenético Monomania, Fading Frontier mostra uma banda
mais certeira, acessível e com outro tipo de intensidade, como se pode ver na
faixa “Carrion”. Com isso, Fading Frontier torna-se o melhor trabalho lançado
por Deerhunter até o momento.
11. Adele – 25
Com o sucesso astronômico do último
disco, 21, de 2011, já era bastante claro que quando Adele finalmente lançasse
um trabalho novo, imediatamente iria bater todos os recordes da indústria
fonográfica. Essa cantora britânica é um fenômeno e 25 só comprova esse mais
uma vez, diante de uma indústria ainda em crise diante da adaptação às novas
tecnologias. Entre baladas no piano e algumas mais agitadas que remete a
Florence And The Machine, Adele faz uma das coisas mais difíceis para um
artista que parece já ter alcançado o topo: manter-se nele. E se você acha que
a música escolhida seria “Hello”, umas das músicas mais tocadas do ano, está
muito enganado. “MillionYearsAgo” pode facilmente ser escolhida a música mais
linda do ano.
1 Hopeful Rd é o disco de uma banda com um pé no passado e
outra no futuro. É uma daquelas pouquíssimas bandas que tocam um som antigo,
tradicional, e ainda assim soa novo e moderno. Mas o prato não está fincado
apenas no rock clássico, no soul clássico ou no blues clássico, mas sim em uma
mistura, cujo tempero agrada fãs de cada um dos estilos separadamente.
Pode-se dizer sem dúvidas que Father`s Day é um álbum de
blues completo. Respeita e reverencia o passado com covers executadas
excepcionalmente, seguidas de novas canções originais para manter a tradição
viva. Ainda por cima, como um bônus, ainda deixa uma boa lição de vida. Como Earl falouna nota de lançamento
do disco: “This album is made for my beautiful father, and we came to peace in
the end. Don’t ever give up on your family and don’t quit until the miracle
happens.”
É impressionante como, depois de dez anos estando separada,
com suas integrantes experimentando novos caminhos e novos sons, uma banda
volte em tão grande estilo como Sleater-Kinney voltou em No CitiesTo Love. Sem
dúvida, é algo a celebrar. Não é todo mundo que consegue captar o zeitgeist do
seu tempo e desenvolver suas manifestações culturais de uma forma tão crua,
direta e ainda assim, tão natural, tão simples.
15. Alabama
Shakes - Sound & Color
Depois de uma estréia avassaladora com Boys and Girls, de
2012, a expectativa era grande para saber qual seria a escolha da direção
sonora da banda, se iam se aprofundar como representantes do Southern rock,
pegando um pouco do blues e do soul, ou se a banda iria se aventurar mais para
campos mais amplos. Brittany Howard e companhia escolheram correr o risco na
segunda opção, decepcionando os mais tradicionalistas, como eu mesmo. Mas,
depois de algumas ouvidas, Sound& Color torna-se, de fato, um álbum muito
forte e cheio de ótimas composições. Valeu à pena correr o risco.
O veterano guitarrista de Nova Iorque
lançou mais um ótimo disco de blues. Apaixonado pelo estilo desde os 13 anos
quando ouviu Jimmy Reed, Earl Walker mantém um som do blues tradicional, direto
e simples. Um blues puro e de primeiríssima qualidade. As dez faixas de seu
sexto disco solo, Mustang Blues, são todas originais e o trabalho foi todo
produzido pelo próprio Earl Walker, executadas por uma banda enxuta e muito à
vontade, deixando espaço seguro para o talento de Walker na guitarra
brilhar.John Earl Walker mostra que às vezes o que é preciso para fazer um bom
álbum do blues é ter simplesmente... blues.
17. Leon
Bridges - Coming Home
Leon Bridges foi uma das grandes surpresas do ano. Dono de
uma voz espetacular, Bridges revive o melhor do que o passado pode oferecer,
especialmente no campo do soul, inspirado por Sam Cook e Otis Redding.Se há algum pecado, é ter se prendido muito
ao passado. Mas, na verdade, para mim isso não é nenhum pecado. O clima
“vintage” pode ser visto mesmo no clipe de “Better Man”, um dos destaques do
disco.
18. Will
Butler – Policy
Logo após um ano intenso com
Arcade Fire, o líder da banda, Will Butler, estreia sua carreira solo com
Policy, um disco singelo, simples, sem muita produção e refinamento, mas sem
dúvida muito interessante. Relativamente curto, com apenas oito faixas, o álbum
condensa um pouco de cada face do espírito criativo de Butler presente no
trabalho principal de Arcade Fire.
19. Siba - De Baile
Solto
No último disco solo, o ótimo
Avante, de 2012, Siba flertou bem mais com elementos da cultura pop do que os
trabalhos anteriores, seja com o Mestre Ambrósio ou com a Fuloresta. De Baile
Solto representa duas rupturas: a primeira é que ele retorna à música de raiz,
ao Maracatu da Zona da Mata e também as letras se afastam um pouco do contador
tradicional de histórias e surgem com um teor de crítica política bem mais
intensa, como é o caso da ótima “Quem e Ninguém”.