Iron & Wine, através de Sam Beam, lançou nesse ano o álbum Kiss Each Other Clean, que em breve estarei falando dele por aqui. Mas resolvi ir por um caminho um pouco diferente e, antes de apresentar o álbum, refazer o caminho que fiz quando conheci essa banda e falar da 4AD Sessions. Foi uma sessão que Sam Beam fez no início do ano para apresentar ao público seu novo álbum, porém, com uma curiosidade. Em Kiss Each Other Clean, Sam Beam continua na linha que desenvolveu em The Shepherd’sDog, com músicas mais ornamentadas e cheias de arranjos e com instrumentos percussivos. Na sessão, Beam resolveu mostrar a primeira versão das músicas, a forma como elas nasceram, voz e violão. O resultado é belíssimo. Destaques para “Biting You Tail”, B-Side do novo álbum, e o hit do primeiro álbum “Upward Over The Mountain”.
Confiram.
Segue a lista das músicas, na ordem, e o vídeo, é claro:
"O cara que gravou um álbum sozinho na floresta". É quase um segundo nome para Bon Iver, banda quase fictícia de Justin Vernon, a mente, olhos, boca, dedos, pés e os braços de praticamente tudo. Bon Iver, ou Vernon, como preferir, surgiu na cena indie no início de 2008 e surpreendeu com o álbum For Emma, Forever Ago. Relativamente similar aos primeiros trabalhos de Iron & Wine, o álbum tem uma história curiosa. Vernon se mudou para Wisconsin, sua cidade natal, e montou um acampamento numa remota floresta, longe de todo tipo de civilização, e compôs e gravou por três meses seguidos, completamente sozinho. Ele voltou ao mundo com For Emma, Forever Ago praticamente concluído, apenas acrescentou alguns arranjos e backing vocals depois. O álbum foi muito bem recebido pela crítica, com belas e mórbidas músicas, um homem solitário desabafando para si mesmo as angústias de uma alma atormentada. O álbum colocou Bon Iver na lista de lançamentos mais antecipados.
Até que enfim em 2011 ele voltou com tudo e muito mais com um álbum homônimo, Bon Iver. Ainda é cedo para afirmar, mas é difícil algum outro lançamento bater a grandiosidade desse álbum. Quem esperava outro confinamento de Vernon e mais um trabalho de uma pessoa só, enganou-se. "I don't find inspiration by just sitting down with a guitar anymore”, disse Vernon à recente entrevista dada ao site Pitchfork. Agradecemos a isso. Não que a antiga fórmula seja ruim, mas essa é mais refrescante. Bon Iver, mesmo sendo ainda movido mente de Vernon, nesse novo álbum soa como uma banda, de fato. Ele acrescentou novas texturas às canções, transformando simples baladas ao violão em composições grandiosas e complexas. Diferentes sons e instrumentos disputando cada segundo de música, com a voz de Vernon soando ainda mais atormentada. Fica claro que Vernon quis se desligar quase que totalmente do som que ficou no For Emma, Forever Ago. Fica claro com a faixa de abertura, “Perth”, apresentando, para a surpresa geral, uma banda completa, com um trabalho de bateria muito interessante, além da orquestra por cima de toda a música. É uma boa introdução para o que está por vir. Letras estranhas e melodias e variações inesperadas permeiam todo o álbum. Ao mesmo tempo em que isso causa certa estranheza na primeira audição, é a recompensa. Há tantas coisas ali escondida e para serem descobertas, que após ouvir repetidas vezes, ainda absorvemos sons novos e não revelados.
É difícil definir poucos pontos altos de Bon Iver. Mantém o alto nível. Certamente que tem aquelas impactantes logo de cara. Como Minnesota, WI, que consegue ser ao mesmo tempo leve e pesada, graças às loucas variações de Vernon. “Michicant” é outra obra de arte, “Hinnom, TX” fica duas vozes, uma grave e outra aguda, cantando versos diferentes, me lembrou um pouco da inigualável “Ladies and Gentlemen, We Are Floating in Space”, de Spiritualized. Até que nos aparece “Calgary” nos guiando em uma jornada musical, que simboliza mais ou menos o que é escutar esse álbum, que vai crescendo a cada faixa.
Podemos dizer que aconteceu com Bon Iver o mesmo que Iron & Wine, que melhorou ao incorporar novas formas ao seu som, sobretudo após Shepherd’s Dog, de 2007. Se não tivesse dado esse passo ousado, ficaríamos sem, por exemplo, “Rabbit Will Run”, de Iron & Wine e, paralelamente, “Calgary”, de Bon Iver. É o típico sim à mudança.
O ano era o agora longínquo 2001 e o país estava em polvorosa pela volta do maior festival de música do Brasil, o Rock in Rio, na sua terceira edição. As outras duas históricas edições aconteceram em 1985 e 1991. Na primeira, atrações internacionais como Queen, Iron Maiden, AC/DC, Ozzy Osbourne e nacionais como Ney Matogrosso, Paralamas do Sucesso no auge do sucesso e o pernambucano Alceu Valença. Já em 1991, o festival também foi um sucesso de público, com Guns N’ Roses, Faith No More, Sepultura, Megadeth e outros. E então, mesmo com o bom retorno comercial, o festival ficou apenas nas lembranças dos mais velhos.
Após muitos anos de hiato, foi anunciado que em 2001 o festival retornaria e a ansiedade era imensa. Com a tecnologia dando seu boom no início do novo milênio, o festival seria transmitido na íntegra pelo canal Multishow. Como não poderia ir ao festival, fiquei radiante. As atrações eram Sting, R.E.M, Foo Fighters, Guns n’ Roses, com Axel forçando um retorno, Iron Maiden, novamente, Red Hot Chili Peppers, Silverchair e ele, NEIL YOUNG, o dinossauro do rock tímido ali entre tantas estrelas e bandas de imenso sucesso comercial e seus mega shows.
Os dias foram passando com bons shows de R.E.M e Foo Fighters, o fiasco de Guns n Roses, o malfadado dia das boybands, (‘N Sync, Britney Spears , Five) todas no auge, e o dia do Metal, que teve show histórico de Queens of The Stone Age no início de carreira, com Nick Oliveri nuzão tocando seu baixo loucamente e Iron Maiden pra delírio dos seus hardcore fãs.
Até que chegou o dia provavelmente menos esperado do festival, porém, pra mim, o mais marcante. Após shows de Dave Mattheus Band e Sheryl Crow, ele entrou no palco para delírio do curiosamente menor público do festival, 125 mil pessoas.
O show de Neil Young foi incrível. O velhinho só soltou os clássicos, com seu show simples e sem frescuras, com a guitarras distorcidas ecoando pela tal Cidade do Rock. O setlist foi pequeno, 11 músicas no total, mas impecável. Impossível tocar todos os clássicos de sua carreira, mas a seleção que Neil Young fez certamente foi para deixar o público arrepiado. Hey, Hey, My, My, Cortez The Killer, Like a Hurricane, Rockin’ in The Free World, Powderfinger e Down by the River (fuck yea!) foram umas delas.
Após o show os anos foram se passando e eu sempre ficava procurando e vasculhando as profundezas da internet atrás do vídeo desse show na íntegra, sem nunca consegui-lo. Até que um dia quis somente matar a saudade no youtube, assistindo qualquer uma dessas e ai que teve a surpresa. O show estava inteirinho no youtube, dividido em cinco partes! Holy Shit! Finalmente assisti ele todinho, relembrando e vibrando novamente, como há dez anos, no melhor show do Rock in Rio.
Dockery's Farm, local de nascimento do Delta Blues
Para iniciar o blog, nada melhor do que a música que deu título a ele, do incrível Muddy Waters. Não há frase mais correta para descrever as origens do Rock. Ele é de fato o filho do Blues. No coração do Delta do Mississipi, no trabalho braçal da fazenda Dockery, somente com o cantor e seu violão, colocando suas rotinas, seus lamentos e amores em canções. Começando pelo Delta Blues nas décadas de 20 e 30 com Charley Patton, Roberto Johnson, Son House, Skip James, continuando com o Country Blues de Mississipi John Hurt, Big Bill Broonzy, os Blind William McTell e Lemon Jefferson, passando para blues elétrico do Chicago Blues de Howlin' Wolf, Muddy Waters, B. B. King, Willie Dixon, Sonny Boy Willamson, Buddy Guy dentre outros, até que nasceu o Rock na década de 50, misturando com o country e folk, através de Elvis Presley, Little Richards, Jerry Lee Lewis e ChuckBerry, daí então veio os Beatles e o resto vocês sabem.
Se fosse para definir o momento do coito hipotético, diria que o blues engravidou quando Robert Johnson encontrou com o capeta na encruzilhada.