quinta-feira, 4 de julho de 2013

Resenha de Watermelon Slim & The Workers - Bull Goose Rooster


Esse meio de ano está sendo super excitante para os fãs de blues, com uma série de super lançamentos. O primeiro deles já deu as caras por aqui, com o ótimo Cotton Mouth Man, de lendário gaitista James Cotton. Agora é a vez de mais um trunfo do bluesman Watermelon Slim, que voltou a trabalhar com a banda de suporte The Workers, com a qual não trabalhava desde No Paid Holidays, de 2008, e produziu sem sombra de dúvidas seus melhores trabalhos, destacando-se o homônimo Watermelon Slim & The Workers, de 2006, e lança agora o álbum Bull Goose Rooster a todo vapor. Toda a química é sentida nitidamente, com cada música exigindo o máximo dos músicos e do próprio Slim.



Mas, antes de adentrar em Bull Goose Rooster, vale a pena nos demorar um pouco na trajetória de Bill Homans, mais conhecido como Watermelon Slim. Nascido em Boston e criado em Carolina do Norte, ele foi apresentado ao blues desde cedo, cantando em corais e em bares. Na década de setenta, parecia que ele levaria a carreira de músico a sério, levando a cabo uma turnê no Vietnã e lançando um álbum independentemente em 1973, Merry Airbrakes. No entanto, misteriosamente ele abandonou a carreira e passou a vida adulta com trabalhos manuais, a maior parte como caminhoneiro. A história fica ainda mais curiosa quando, no meio disso tudo, ele entra no meio acadêmico, formando-se em História e Jornalismo na Universidade de Oregon e Mestre de História na Universidade Estadual de Oklahoma. Foi lá que ele decidiu formar uma banda de blues, Fried Okra Jones, onde deu vazão ao seu estilo de tocar o blues, sua voz grossa e poderosa, um grande estilo na gaita e na guitarra, além de uma sagacidade lírica nas músicas. Antes de se dedicar totalmente à música, Watermelon Slim ainda teve que sobreviver a um forte ataque cardíaco. Desde então, sua carreira segue em ascensão mesclando grandes álbuns de blues, gravados com a banda The Workers, e outros onde a influência majoritária é do country, como Ringers, de 2010 e Escape from the Chicken Coop, de 2009.




Para Bull Goose Rooster, nono disco de Watermelon Slim e o quarto com The Workers, eles preparam um caldeirão de tudo de melhor da carreira de Slim até hoje cantando músicas de grandes nomes dos respectivos gêneros, como Woody Guthrie. Mas é inegável que o principal motor aqui é o blues. Slim faz versões tanto de country-rock, passando pelo folk, gospel, rock e, claro, muito roadhouse blues, que é o grande trunfo da banda, quando eles estão ligados na potência máxima. Com as duas primeiras faixas, “Tomorrow Night” e a que dá o título ao trabalho, “Bull Goose Rooster”, fica a impressão que este será um típico e intenso álbum de Watermelon Slim & The Workers. Mas a faixa seguinte vai numa direção até então inédita, com uma linda balada blues “Over The Horizon”, que conta com um dueto de Slim e a bela e delicada voz de Danielle Schnebelen, mostrando os dois pontos extremos. A partir daí, de quando em quando, Slim e banda entram em um ou outro território até então inexplorado de forma muito segura e até mesmo inesperada, como as faixas que contam só com a voz de Slim, parecendo cantiga gospel, como “Take My Mother Home” e “Northwest Passage”, e às vezes num country firme e intenso, como “A Wrench In The Machine” e o conto de “Trucking Class”, ou o acústico da faixa final “Words Are Coming to An End”.




Essas aventuras por diferentes gêneros são entrecortadas por grandes e instigantes faixas de puro blues, com tudo o que tem de melhor, grandes solos de guitarra e a intensidade da gaita de tirar o fôlego de qualquer um. “I’m a King Bee” é um exemplo disso, contando ainda com uma letra de duplo sentido, bem sugestiva, “we can make honey, darling, if you let me come inside”. “Prision Walls” é outra que se destaca entre as outras, com um ótimo trabalho de slides e com a voz bangela de Slim remetendo às vezes a um Mark Lanegan ou Layne Staley, do Alice In Chains nos momentos mais intensos. A letra também é bem interessante, sobre as impressões de um homem encarcerado. Ainda tem tempo para o blues dançante de “Scratch My Back” e um solo incrível de gaita, alcançando notas que não lembro de ter visto antes.

O caldeirão de Bull Goose Rooster é extenso e rico, com uma intensidade de fazer inveja a qualquer senhor de sessenta e quatro anos. Ninguém melhor do que o próprio Slim para opinar sobre o assunto: “eu posso ser um velho bluesman sem dentes de sessenta e quatro anos, mas eu faço um show do caralho!”. Esse pode certamente ser o resumo em linhas gerais de Bull Goose Rooster.

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