domingo, 31 de janeiro de 2016

Café & Blues: The Kitchen Table Blues (Volume 1)






Café da manhã do domingão servido de blues. Café & Blues. Essa é a ideia por trás do projeto The Kitchen Table Blues, do cantor de blues The Reverend Shawn Amos, que lançou um álbum maravilhoso no ano passado, The Reverend Shawn Amos Loves You. Semanalmente, no domingo, ele e sua banda disponibiliza no youtube um novo vídeo, no qual a banda toca ou clássicos do blues, ou músicas atuais numa versão “caseira” ou músicas de sua própria autoria. As apresentações do sempre impecavelmente elegante Shawn Amos e banda são sempre irresistíveis, numa grande mesa de jantar, com garrafa de café, frutas e pães postos à mesa, às vezes com membros da família ouvindo e balançando a cabeça com clima relaxado, às vezes até um cachorro aparece passando naturalmente. Bem despojado e despretensioso. Atualmente, o The Kitchen Table Blues já está no Volume 9 e no episódio 43. Para celebrar a maravilhosa ideia de Shawn Amos, o blog Filho do Blues irá postar a cada domingo os vídeos referentes a um volume (cinco episódios por volume).

O primeiro volume começa em 03 de abril de 2015, com a música “(The Girl Is) Heavy”, música original do primeiro EP de Shawn Amos, lançado em 2014, chamado The Reverend Shawn Amos Tells It, já introduz o clima que será visto nos episódios da série; cenário familiar, com o sol entrando forte pelas janelas e as senhoras sentadas à mesa curtindo o som. Já a faixa seguinte fica com Muddy Waters, na clássica “I Can’t Be Satisfied”, que valoriza o toque de gaita de Amos, acompanhando os acordes do violão. Dando continuidade, “Days Of Depression” é a ótima faixa de abertura do disco The Reverend Shawn Amos Loves You, com a participação de todos sentados à mesa batendo palmas e Jean McClain cantando no backing vocals.  No episódio seguinte, Shawn Amos presta homenagem a mais um grande nome do blues, Junior Wells, cantando a clássica “Hoodoo Man Blues”, de 1965 (a faixa já estava presente no EP de 2014). E para finalizar, o grande Robert Johnson está presente, com a sua icônica “Sweet Home Chicago”.

The Kitchen Table Blues é uma celebração do blues tradicional e o contemporâneo. E o Filho do Blues tem a missão de disseminar o blues, principalmente quando ele vem assim, quentinho, saboroso e reconfortante tal qual um domingo de manhã.













sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Resenha de Tedeschi Trucks Band - Let Me Get By





                Tedeschi Trucks Band é uma banda grande, de fato; a grandeza, porém, advém mais do número de integrantes do que necessariamente pelos seus feitos musicais: a banda, formada em 2010, em Jacksonville, na Flórida, que uniu as carreiras do casal Susan Tedeschi, cantora de blues e Derek Trucks, guitarrista de blues. Chegaram agora chega ao seu terceiro álbum de estúdio com o lançamento de Let Me Get By, é formada por doze membros fixos, já que o baixista de jazz Tim Lefebvre integrou permanentemente a banda (Tim foi o baixista da já icônica banda que gravou Blackstar, o último álbum de David Bowie). Os dois primeiros álbuns, Revelator, de 2011 e Made Up Mind, de 2013, foram muito bem recebidos pela crítica e pelo público, que elogiaram bastante o som da banda, principalmente suas apresentações ao vivo, que mescla o rock com a riquíssima tradição da black music, ou roots music, como blues, gospel, soul e até mesmo funk. Em Let Me Get By, no entanto, lançado hoje, o casal Susan Tedeschi e Derek Trucks e seus demais dez companheiros levam a banda a outro patamar.

O sucesso alcançado com Made Up Mind fez com que a banda fosse de vez pra estrada, apresentando-se mais de 200 vezes em 2014. Entre a correria dessa vida “on the road”, eles se reuniram no Swamp Raga Studios, o estúdio caseiro do casal, e começaram gravar a banda tocando totalmente solta, improvisando em longas jams, cada um contribuindo com ideias, músicas, melodias, harmonias, etc. Iam novamente para a estrada e depois voltavam mais uma vez para o estúdio, tanto é que muitas das músicas de Let Me Get By foram tocadas em shows durante o ano de 2015, como mostra os vídeos do youtube. Bem, o resultado disso é o incrível Let Me Get By, um álbum extremamente colaborativo, o que pode ser facilmente notado na riqueza de cada uma das dez faixas presentes no disco. A maioria das músicas em Let Me Get By ultrapassa a barreira dos cinco minutos, fazendo com que os músicos tenham mais espaço para preencher e desenvolver suas ideias, cavando cada vez mais fundo na estrutura das músicas, de forma completamente confortável, confiante e relaxada. Conseguir a harmonia de uma banda de 12 membros não é coisa fácil. A voz de Susan Tedeschi é um brilho à parte, que somado aos corais estilo gospel, faz parecer que o sagrado e o secular são, na verdade, a mesma coisa.



A faixa de abertura, “Anyhow”, já trilha o caminho grandioso do restante do álbum, com Susan Tedeschi realizando uma das melhores performances vocais de todo álbum. A prova de que uma música de longa ligação realmente funciona, quando a banda realmente sabe o que fazer, é que após Susan dar seu show particular, os últimos minutos são destinados aos improvisos de solos de guitarra sensacionais de Derek Trucks. Liricamente, o álbum como um todo é bastante positivo, pra cima, o que casa muito bem com os ritmos dançantes da maioria das faixas. A faixa seguinte, “Laugh About It”, aí se enquadra; diante das situações da vida, das pessoas querendo colocar você pra baixo, você escolhe escolher: chorar, cantar ou rir delas. Claro que nesses momentos de otimismo exacerbado, sobra espaço pra uns clichês aqui ou ali, como “life is what we made it”. Tudo tranquilo, de boa. Afinal, esse som é para ser curtido mesmo. Em “Don’t Know What It Means”, tem o ritmo mais funk, mas o que se destaca mesmo é o refrão irresistível, que faz você acompanhar batendo palmas e balançando a cabeça com os olhos fechados. A sessão de metais está sempre presente, preenchendo os espaços vazios e enriquecendo o universo sonoro, mas em alguns momentos se sobrepõe à guitarra de Derek e se soltam em solos empolgantes como no último minuto de “Don’t Know What It Means” e o solo de trompete no jazz de “Right On Time”, que lembra um pouco Louis Armstrong. “Right On Time”, inclusive, uma das melhores do disco, apresenta um dueto entre Mike Mattison e Susan Tedeshi muito bom, a voz meio que fraca, tensa e quase sombria de Mattison contrastando com a força e delicadeza da voz de Tedeschi.  

A faixa que dá título ao álbum, “Let Me Get By” é outro show à parte, quase como um culto religioso ao ar livre no meio de uma arena de rock. Gospel, blues, funk, soul e rock juntos e misturados. O teclado, que estava meio que apagado nas faixas anteriores, dá as caras agora. “Just As Strange” é mais simples e “limpa” que as outras, talvez por isso seja por elas totalmente eclipsada, mas ao menos mantém o ritmo fluindo. Já “Crying Over You / Swamp Raga For Hozapfel, Lefebvre, Flute And Harmonium”, cantada por Mike Mattison, é outra mudança de direção, focada bem mais no soul; uma viagem quase épica e com uma melodia belíssima, além da variação musical que cada um dos músicos coloca aqui (principalmente o melhor solo de guitarra do álbum), o que faz valer os oito minutos de música, com os dois minutos finais cheios de sons orientais, tipo flautas e cítaras. Depois de deixar Mattison brincar um pouco, Susan Tedeschi volta com tudo na bela e melódica “Hear Me”. O álbum caminha pro fim com o R&B de “I Want You”, que parece feita sob encomenda para as pistas de dança, mas que do meio pro final vira numa jam-session estranha e sensacional.  O desfecho vem com chave de ouro em “In Every Hear”, mais um gospel-blues-soul incrível.  


Enfim, Let Me Get By consegue captar todo o potencial da grande banda Tedeschi Trucks Band, agora não somente grande apenas no número de integrantes, mas grande também pela música, recheada de maturidade, criatividade e profundidade. Um grande e grandioso álbum. Sem dúvida, “grande” é o adjetivo perfeito para Let Me Get By.



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Confira a apresentação de John Lee Hooker, em 1970, no Detroit Tube Works



                John Lee Hooker é um dos nomes mais importantes da história do blues, principalmente no momento de transição entre o blues rural, o Delta blues, para um blues eletrificado e urbano. Alguns tiveram como destino a cidade de Chicago, como os clássicos Muddy Waters, Howlin’ Wol; outros foram para Memphis, como B. B. King, ou Detroit, como foi o caso de John Lee Hooker. O estilo implementado por Hooker revolucionou o gênero, ampliando seus limites e possibilidades. Em sua homenagem, a postagem de hoje é um vídeo ao vivo gravado para o programa de TV chamado Detroit Tube Works. Dividido em duas partes, o vídeo mostra uma ótima apresentação de Hooker com sua banda em 1970. Os destaques da primeira primeira parte são a música “Never Get Out of These Blues Alive” e “It Serves Me Right to Suffer”, antes da qual aparece Hooker dizendo que o dinheiro pode resolver muitas coisas, mas não resolve o amor. A segunda parte é uma versão longa de “Hobo Blues”. Vale a pena conferir:





segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Mesmo após a morte, David Bowie anuncia programação para novos álbuns


               
Bem, para David Bowie, fazer da própria morte uma obra de arte não é o bastante; o homem tem aspirações maiores: ter o domínio também do seu pós-vida. O sucesso mundial alcançado por Blackstar – de crítica e de público – parece não ter sido o último do grande artista e cantor inglês. Isso porque surgiu a notícia, vinculada por vários portais na internet, de que David Bowie havia programado uma série de lançamentos para depois de sua morte, o primeiro programado para os fins de 2017. Segundo uma fonte próxima ao cantor, as compilações seriam dividias em “eras”, mas sem obrigação de serem lançadas em ordem cronológica, além de grandes possibilidades de haver músicas inéditas dentre o material, podendo constar músicas não lançadas que remetem ainda à década de 70. A informação de material inédito nesses álbuns póstumos, no entanto, não foi confirmada. Levando em consideração tanto o longo período “inativo” de David Bowie na última década (de 2004 até 2013), quanto a característica do artista altamente produtivo e criativo, é bem provável que haja algo a ser descoberto por aí. Só nos resta esperar e continuar rendendo a Bowie todos os louros que ele merece. A hipótese é fortalecida ainda mais com uma entrevista concedida por Tony Visconti sobre músicas que foram compostas para a peça Lazarus, mas que não constaram na tracklist de Blackstar. Informações relatavam ainda que nas últimas semanas de vida, Bowie estava trabalhando num novo álbum, tendo gravado a demo de algumas músicas. Além dessas notícias empolgantes, também foi confirmado que está em processo um álbum gravado pelo elenco da peça Lazarus, a qual Bowie foi um coautor. Michael C. Hall, que interpretou o protagonista na peça, canta vários números do repertório do próprio Bowie, bem como a faixa “Lazarus”, de Blackstar e cujo clipe é tido como uma narração músico-narrativa da própria morte. O ator de Dexter já cantou “Lazarus” no programa de TV The Late Show With Stephen Colbert. 




PJ Harvey anuncia novo álbum, The Hope Six Demolition Project



                A lista de lançamentos futuros está engrossando a cada que passa. Somando-se a Joe Bonamassa, Iggy Pop e Weezer, outro grande lançamento é esperado para os primeiros meses do ano. Após cinco anos do lançamento do aclamado Let England Shake, o melhor álbum de sua carreira, PJ Harvey anunciou que irá lançar um novo disco em 15 de abril, chamado The Hope Six Demolition Project. O álbum tem uma história interessante; em meio a viagens para Kosovo, Afeganistão e Whashinton, com o fotógrafo e cineasta Seamus Murphy, e enquanto fazia também o seu livro de poesia, The Hollow of The Hand, Harvey começou a gravar The Hope Six Demolition Project em sessões abertas para o público, como parte de uma exibição no Museu de Londres no ano passado. Vários ingredientes para um grande álbum à vista. Abaixo segue um trailer do disco com trechos de duas músicas, “The Community of Hope” e “The Wheel”, esta última que também é o primeiro single do trabalho.

Tracklist

01 The Community of Hope
02 The Ministry of Defence
03 A Line in the Sand
04 Chain of Keys
05 River Anacostia
06 Near the Memorials to Vietnam and Lincoln
07 The Orange Monkey
08 Medicinals
09 The Ministry of Social Affairs
10 The Wheel
11 Dollar, Dollar


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Confira "Gardenia", nova música de Iggy Pop e Josh Homme ao vivo no Late Show With Stephen Colbert



                A postagem de ontem foi sobre o anúncio do novo álbum de Iggy Pop, em colaboração com Josh Homme, Post Pop Depression. Ontem a noite, ambos foram os convidados no programa The Late Show With Stephen Colbert, tocando uma música de Post Pop Depression, o primeiro single, chamada “Gardenia”, além de sentar para uma entrevista com Colbert, na qual a dupla fala sobre a experiência de trabalhar junto. A música, com uma guitarra pesada típica dos trabalhos de Homme, varia de estrofes com a letra falada e um refrão bastante melódico. Muito boa. O detalhe chocante, no entanto, é que Iggy Pop deixou de lado a memorável persona selvagem e sem camisa, e se apresentou todo alinhado, em trajes sociais. No mínimo estranho. Abaixo segue a capa de Post Pop Depression, a apresentação da dupla em “Gardenia” no Late Show With Stephen Colbert, o vídeo da entrevista e, por fim, a versão de “Gardenia” no estúdio:








quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Iggy Pop anuncia Post Pop Depression, álbum colaborativo com Josh Homme



                A morte de David Bowie no início do mês deu um tom apocalíptico ao ano de 2016. Somando-se a esse clima, saiu a notícia hoje de que Iggy Pop esteve trabalhando secretamente com Josh Homme, do QOTSA, em um álbum que será lançado no dia 18 de março e tem um título bem simbólico: Post Pop Depression. Ao contrário do que muitos podiam prever, Iggy Pop, o loucaço do The Stooges, é o último que restou da tríade do glam-rock e underground da década de 70 (que tinha, além de Pop, Lou Reed e David Bowie). Segundo as declarações de ambos, Pop e Homme, o projeto, bancado com dinheiro próprio, levou-os a novos limites, a lugares onde nunca estiveram.


Segundo Iggy Pop, o álbum também parece seguir um conceito, lidando com a problemática de utilidade e legado quando a carreira de alguém está aproximando-se do fim: “Na América, por ser tão competitiva, o que acontece quando você finalmente fica inútil para todo mundo, exceto, com sorte, você mesmo? O que acontece então? E você pode continuar a ser útil para você mesmo? Eu tinha um tipo de personagem em mente. Era tipo uma mistura entre mim mesmo e um veterano militar”.  Parece ser um pouco da visão insegura que Pop tem de si mesmo e de seu lugar no mundo da música hoje. Mas Homme tratou de reservar o lugar devido a Pop: “Ele é o último dos únicos. Esta é a volta olímpica de um homem que não tem certeza que venceu. Mas ele venceu”, completa Homme.

                Post Pop Depression, que terá nove músicas, foi gravado nos estúdios de Josh Homme com uma banda de apoio que conta com Dean Fertita do QOTSA e Dead Weather na guitarra e teclados e o baterista de Arctic Monkeys, Matt Helders. Post Pop Depression parece ter todos os ingredientes para Iggy Pop voltar a cravar um grande álbum na sua carreira para figurar junto com The Idiot e Lust for Life como clássicos. 



quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

God Don't Never Change: The Songs of Blind Willie Johnson: álbum-tributo com participações de primeira linha


                Um dos cantores de blues e gospel mais importantes da história, Blind Willie Johnson, receberá um álbum de tributo devido há mais de 70 anos, gravado por diversos artistas de relevância, cantando as músicas mais conhecidas do bluesman texano. Dono de uma voz inigualável, um slide impecável, Willie Johnson mesclava a tradição blues de tocar com as letras religiosas da tradição gospel e entrou para a história cantando clássicos como, por exemplo, "Jesus Make Up My Dying Bed", "It's Nobody's Fault but Mine", "Dark Was the Night, Cold Was the Ground" (que está presente no projeto Voyager Golden Record, que é a compilação que viaja pelo Universo levando mensagens e músicas do Planeta Terra), "John the Revelator", "You'll Need Somebody on Your Bond", "Motherless Children" e "Soul of a Man". Apesar de não ser aclamado como Muddy Waters, B.B. King ou Howlin’ Wolf, a sua obra é de uma revolução estilística altamente influente de ampla magnitude e que inclusive transcende os limites do blues, tendo profundo impacto em artistas e bandas como Eric Clapton, Led Zeppelin, Bob Dylan e muitos outros. Todas essas canções estão compiladas na coletânea God Don’t Never Change: The Songs of Blind Willie Johnson, a ser lançada em 26 de fevereiro, cantada por artistas que de certa forma foram tocados pela música de Willie Johnson. Tom Waits, por exemplo, certamente tributário de Willie Johnson pela voz poderosa e rouca, irá cantar duas músicas, “The Soul of A Man” e “John The Revelator”, Lucinda Williams também ficará responsável por duas faixas (“It’s Nobody’s Fault But Mine” e “God Don’t Never Change”). Outras participações de destaque são a banda gospel The Blind Boys of Alabama (“Mother’s Children Have a Hard Time”) e a banda Derek Trucks and Susan Tedeschi (“Keep Your Lamp Trimmed And Burning”). Será uma interessante releitura da obra de um grande e importante músico. A lista de escolhas dos participantes para integrar o projeto, com o nível de comprometimento que cada um deles parece ter com a obra de Willie Johnson, certamente faz com que God Don’t Never Change: The Songs of Blind Willie Johnson seja uma das obras mais esperada desse começo de ano. Segue abaixo a tracklist com os respectivos artistas participantes:

Tracklist: 

1 The Soul Of A Man, by Tom Waits
2 It's Nobody's Fault But Mine, by Lucinda Williams
3 Keep Your Lamp Trimmed And Burning, by Derek Trucks and Susan Tedeschi
4 Jesus Is Coming Soon, by Cowboy Junkies
5 Mother's Children Have A Hard Time, by The Blind Boys Of Alabama
6 Trouble Will Soon Be Over, by Sinead O'Connor
7 Bye And Bye I'm Going to See The King, by Luther Dickinson featuring the Rising Star Fife and Drum Band
8 God Don't Never Change, by Lucinda Williams
9 John The Revelator, by Tom Waits
10 Let Your Light Shine On Me, by Maria McKee
11 Dark Was The Night, Cold Was the Ground, by Rickie Lee Jones



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Joe Bonamassa anuncia novo álbum, Blues of Desperation



                É inegável que Joe Bonamassa seja incansável, principalmente levando em consideração a média de produtividade dos artistas nas últimas décadas, com hiatos muito longos entre os discos lançados. Bonamassa, de fato, não se enquadra nesse padrão, seja com discos de estúdio ou com inúmeros discos ao vivo (fora isso, . Em média ele leva dois anos para lançar um disco de inéditas, entrecortados por um ou mais álbuns ao vivo. O último deles, por exemplo, chamado Different Shades of Blue, saiu em 2014, e desde então Bonamassa já lançou dois discos ao vivo (o ótimo Muddy Wolf at Red Rocks e Live at Radio City Hall, ambos de 2015). Pois bem, sem espaço para descanso, Bonamassa anuncia o lançamento de um novo álbum de inéditas para 25 de Março, cujo título, espirituoso, será Blues of Desperation, que foi composto e gravado em Nashville. O anúncio veio acompanhado de um trailer do álbum no youtube, que você pode ver abaixo. Sobre o disco, Bonamassa diz que ele apresenta a sua evolução como um músico de blues-rock, alguém que “não está relaxando nas suas conquista e que está sempre pensando em frente sobre como a música pode envolver as pessoas e permanecer relevante”. Completando, Bonamassa parece bastante empolgado com o resultado: “Gravar Blues of Desperation é um dos projetos de gravação mais empolgantes que eu já fiz. Que prazeroso barulho nós fizemos”. Segue abaixo a tracklist de Blues of Desperation:

Tracklist

This Train
Mountain Climbing
Drive
No Good Place For The Lonely
Blues Of Desperation
The Valley Runs Low
You Left Me Nothin’ Nut The Bill And The Blues
Distant Lonesome Train
How Deep This River Runs
Livin’ Easy
What I’ve Known For A Very Long Time



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

In Performance at the White House: A Celebration of American Creativity




                O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito da Casa Branca, residência oficial do mandatário executivo dos Estados Unidos, a casa de shows mais chique dos últimos anos. Anualmente, o Presidente e a sua primeira-dama, Michelle Obama, organizam um show comemorativo chamado In Performance at the White House, no qual homenageia um legado cultural específico dos Estados Unidos, sempre fazendo valer a descendência afro-americana de Obama. Em 2012, no episódio Red, White and Blues, o blues foi o estilo homenageado, contando com a apresentação tanto de nomes lendários como B.B. King, Mick Jagger, quanto de novatos como Gary Clark Jr. Em 2013, o Memphis Soul foi o homenageado, enquanto que as mulheres do Soul (Women Of Soul) receberam o especial em 2014 e a Gospel Tradition ficou com o destaque na edição de 2015. Para 2016, a homenagem é mais universal e celebra a criatividade da cultura americana, no episódio A Celebration of American Creativity. Os destaques do episódio são Buddy Guy e Keb’ Mo’ tocando “Born To Play Guitar”, do último disco de Buddy Guy e clássicos máximos da música americana, como “Preachin’ The Blues”, de Bessie Smith, “Everyday”, de Buddy Holly, “My Girl”, a belíssima “I’m So Lonesome I Could Cry”, de Hank Williams, tocada por James Taylor e Keb’ Mo’, “Save The Children/Mercy Mercy Me”, de Marvin Gaye, e a participação histórica pela primeira vez do hip hop no programa, com MC Lyte. In Celebration of American Creativity é uma interessante compilação de uma fração do legado da música americana para a cultura pop em geral.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Weezer anuncia novo álbum 'Weezer (White Album)'




Apesar de estar ainda preso à letargia de imaginar um mundo da música sem a presença de David Bowie, a vida continua. A notícia do anúncio de um novo álbum de Weezer pode ajudar na tarefa de continuidade. Depois de grande mistério nas redes sociais, onde todos os perfis da banda passaram a postar imagens e vídeos todos em branco, Weezer confirmou o lançamento do novo álbum da banda para o dia 1 de Abril. O último álbum tinha sido Everything Will Be Alright in The End, de 2014. O título deste novo trabalho será simplesmente Weezer e será mais um a integrar a lista de “álbuns de cor” da banda (que já tem Blue Album, 1994, Green Album, 2001, e Red Album, 2008). Desta vez será o White Album, com a capa de fundo branco contendo a foto da banda, na praia. Rivers Cuomo definiu o álbum como um álbum de praia, inspirado pela vida festeira em Los Angeles, Beach Boys e cheia de belas canções e letras doces. Durante os últimos meses, a banda vem divulgando músicas inéditas, como “Thank God For Girls” e “Do You Wanna Get High?”, mas, até então, sem dar informações sobre novos lançamentos. A tracklist do álbum confirmar que ambas estarão presentes, somadas ao novo clipe da banda, “King Of The World”. O momento duro e triste diante da perda de um dos maiores ícones da cultura do século XX pode ficar um pouco mais leve com a ajuda do som animado e brilhante de Weezer. Confira a tracklist e as músicas já conhecidas do White Album:

Weezer ('The White Album'):

'California Kids'
'Wind in Our Sail'
'Thank God for Girls'
'(Girl We Got A) Good Thing'
'Do You Wanna Get High?'
'King of the World'
'Summer Elaine and Drunk Dori'
'L.A. Girlz'
'Jacked Up'
'Endless Bummer'









terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A ressignificação de Blackstar



                Depois da trágica notícia de ontem, a excentricidade de David Bowie é tanta que, além de fazer da própria morte uma obra de arte, conseguiu também criar dois sentidos, duas leituras, duas significações para o seu último álbum, lançado há apenas 3 dias, Blackstar. Diante do segredo de sua doença e iminente morte, todos acreditavam que Bowie tinha todo fôlego criativo que necessitava, principalmente logo após uma nova ruptura, um novo "ponto zero" que Blackstar representava. Com a sua morte, no entanto, há uma completa ressignificação de Blackstar e que se faz necessária uma nova resenha, apontando as mensagens que ele deixou secretamente nas músicas para quando o momento realmente chegasse. Infelizmente, ele chegou bastante rápido. 

                Na resenha publicada no blog no último dia 6 (bem como por todas as revistas especializadas do mundo da música), Blackstar foi aclamado como um ponto de partida, um recomeço. No entanto, agora fica claro que na verdade ele é o fim da linha, o ponto final, o fechar das cortinas da carreira – e vida – de David Bowie. 

                Já na faixa de abertura, “Blackstar”, aparecem imagens que remetem a uma ascensão, uma passagem, uma elevação de um plano para outro, cheio de simbologias dramáticas e metafísicas, enquanto Bowie fica reafirmando que é uma Blackstar, e não uma estrela do pop, um super herói da Marvel ou a Estrela das estrelas (apenas algumas das inúmeras definições por negação cheias de simbolismos). “Something happened on the day he died / Spirit rose a metre and stepped aside / Somebody else took his place, and bravely cried / (I’m a blackstar, I’m a blackstar)”.   

                Numa das músicas mais claras após a “ressignificação”, “Lazarus” pode ser considerada a despedida de David Bowie. O que parecia se tratar de apenas um personagem como outro qualquer, o Lazarus da música é o próprio Bowie. E a união da letra da música com o clipe é simplesmente de arrepiar. Nessa passagem Bowie fala do paraíso e quase se justificando pela grande encenação de sua morte. Ele possui o drama, afinal, ele é a dramaticidade em pessoa, o que não lhe pode ser furtado nem mesmo no momento de sua morte. O “todos me conhecem agora” pode se remeter ao fato aclamação geral diante de uma celebridade morta. Bowie sabia do que estava falando. A NME noticiou ontem que nunca as músicas de Bowie no Spotify foram tão ouvidas como depois de sua morte. A letra continua como uma libertação, utilizando a imagem de um pássaro. No clipe, tanto de “Lazarus” quanto de “Blackstar”, os botões no lugar dos olhos da faixa que Bowie usa pode ser uma referência a Caronte, o barqueiro do Hades que carrega os recém-mortos que tinham moedas nos olhos. 

"Look up here, I'm in heaven
I've got scars that can't be seen
I've got drama, can't be stolen
Everybody knows me now

Look up here, man, I'm in danger
I've got nothing left to lose
I'm so high, it makes my brain whirl
Dropped my cell phone down below
Ain't that just like me?

By the time I got to New York
I was living like a king
Then I used up all my money
I was looking for your ass

This way or no way
You know I'll be free
Just like that bluebird
Now, ain't that just like me?

Oh, I'll be free
Just like that bluebird
Oh, I'll be free
Ain't that just like me?"

Por fim, as duas últimas músicas, “Dollar Days” e “I Can’t Give Everything Away” também passam por ressignificações. A saudade de nunca mais ver os campos sempre verdes da Inglaterra é a máxima aceitação da morte. Afinal, se não puder mais vê-los, tudo bem por ele. Diante da sua morte, a fragilidade expressa no refrão mostra o conflito entre querer muito fazer algo (“I’m dying to”) e ao mesmo tempo estar morrendo rapidamente (“I’m dying too”) e lutando diariamente contra a inevitabilidade da morte (“i’m trying to”). Ao mesmo tempo, Bowie manda mensagens de amor possivelmente para as suas pessoas queridas (“don’t believe for just one second i’m forgetting you / i’m trying to / i’m dying to”). A música já era incrivelmente bela antes de sua morte (e o solo de sax continua de arrepiar) e agora fica de despedaçar o coração. O mesmo acontece com “I Cant Give Everything Away”. Impossível ouvir agora essa música e não imaginar o quão difícil foi para David Bowie segurar a barra de saber da morte iminente ao mesmo tempo em que tem se a consciência do que se deseja fazer dela. Encontrando-se em uma posição na qual todos se dobram, impotentes, diante da morte, David Bowie simplesmente fez com que ela (a morte e a própria inevitabilidade da morte) se dobrasse diante dele. Não foi fácil. As imagens presentes na letra são fortes e sinceras. “I know something is very wrong /  The pulse returns the prodigal sons /  The blackout hearts, the flowered news / With skull designs upon my shoes”. Além de deixar claro o legado de sua arte, a sua mensagem final:  “Seeing more and feeling less / Saying no but meaning yes /  This is all I ever meant / That's the message that I sent”.

Como Tony Visconti afirmou na mensagem do seu Facebook, comentando sobre a morte do amigo e colaborador, Blackstar é o presente de partida de David Bowie. Doloroso, apoteótico, épico,dramático, artístico, performático, ousado, ou seja, tudo o que David Bowie foi em vida e continuará sendo na morte na forma de uma Estrela Negra.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Adeus ao mais imortal dos imortais: R.I.P David Bowie


                Sempre achei que ele fosse meio imortal. Sério mesmo; um deus, semideus, sei lá. Em uma comparação mais atual, é como se víssemos o Messi jogar pelo Barcelona desde a década de sessenta, como se a cada novo lançamento fosse acompanhado por exclamações: “incrível”, “magnífico”, “sobrenatural”, “esse cara é um extraterrestre, só pode ser de outro planeta” (em determinado momento ele até mesmo representou esse papel).  Pois bem, por conta disso nunca me vi sendo obrigado a dar essa notícia, afinal, este blog nem mais existiria quando acontecesse, se é que fosse acontecer algum dia. Mas o mundo raras vezes é como imaginamos e hoje, 11 de janeiro, sou forçado a fazer uma postagem sobre a morte de David Bowie, apenas três dias depois de seu aniversário de 69 anos e o lançamento de mais uma nova obra-prima de sua carreira, Blackstar. O perfil oficial do cantor nas redes sociais noticiou durante a madrugada que David Bowie havia falecido após 18 meses de luta contra o câncer e pediu privacidade à família em seu luto. Bowie lutou contra o câncer em silêncio e no meio do processo gravou o novo disco, Blackstar. Até sua morte foi como o homem foi em vida: uma esfinge, uma obra de arte. 

                O homem morreu, o alien regressou ao seu planeta de origem ou deus morreu, afinal, até os deuses devem morrer. O que quer que seja que tenha acontecido hoje, o seu gênio permaneceu e permanecerá. Então, de certa forma, eu sempre estive certo: o cara era realmente meio imortal. 



quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Confira o clipe de "Lazarus", de David Bowie



Na véspera do lançamento de Blackstar, David Bowie divulga o segundo disco do trabalho, “Lazarus”, dirigido por Johan Renck, que às vezes dirigiu Breaking Bad, tão perturbador e sinistro quanto o primeiro vídeo dirigido por Renck, o de “Blackstar”. Ambos os vídeos parecem estar conectados, já que nos dois o personagem do tipo de um “vidente cego com um venda com olhos de botão” e a caveira do astronauta estão de volta. Além disso, tem um estranho Bowie que sai do armário tipo Crônicas de Nárnia e uma menina imaginária sinistra. Na nota de lançamento do vídeo, o diretor fala um pouco de como foi trabalhar com David Bowie: “One could only dream about collaborating with a mind like that; let alone twice. Intuitive, playful, mysterious and profound... I have no desire to do any more videos knowing the process never ever gets as formidable and fulfilling as this was. I’ve basically touched the Sun."

Confira o vídeo de “Lazarus” abaixo:



quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Resenha de David Bowie - Blackstar (★)




                Como é possível para um artista beirando os 70 anos, dono de uma carreira excepcional de cinco décadas em todo e qualquer sentido, manter-se ainda ambicioso? A revista Uncut colocou uma enquete com 59 escritores e editores para saber os 200 melhores álbuns de todos os tempos. David Bowie foi o artista que teve mais menções (7 de seus álbuns estão entre os duzentos melhores da história; Beatles foi mencionado 6 vezes; The Cure, Bob Dylan e Neil Young, 5 vezes; The Rolling Stones, The Velvet Underground, 4 citações). Um artista desse nível, no sentido completo do termo, baseia sua motivação em continuar em termos de relevância, ou seja, em que pode contribuir ainda mais para permanecer relevante. É com essa reflexão que começo falando do novo álbum de David Bowie, Blackstar (), seu 25º álbum de estúdio.  As resenhas iniciais das revistas especializadas mostram um entusiasmo e aclamação que os últimos trabalhos de Bowie, apesar de serem ótimos álbuns, não havia alcançado de forma tão unânime. A revista Rolling Stone definiu como “O artístico e inquietante ‘Blackstar’ é a melhor obra prima anti-pop de Bowie desde os anos setenta”; o jornal The Independent afirma que “Blackstar é o mais longe que ele já se desviou pop”; A revista Uncut chama atenção para a amplitude do álbum “Jazz metal! Musical! Transformações sobrenaturais! Bem vindo ao (mais novo) ano zero de Bowie”; O New York Times é mais suscito e atesta: “Pegando o jazz de inspiração”. Todas essas resenhas exaltam em componentes presentes nos álbuns mais clássicos da carreira de Bowie apontados na lista acima e elementos de uma ruptura completa com os trabalhos mais recentes, sugerindo uma nova fase na carreira de David Bowie.


                Bowie é dono de uma das carreiras mais diversificadas do mundo da música. Artista inquieto, curioso, inventivo e completo, o camaleão do rock nunca ficou muito tempo confinado num único estilo. Normalmente, esses ciclos duram em torno de três álbuns, até que uma nova transformação esteja maturada. O último desses ciclos é representado por um Bowie tentando revisitar momentos clássicos de sua trajetória, um rock mais tradicional, e, por conseguinte, menos aventuroso. Os discos Hours, Heathen e Reality, de 1999, 2002 e 2003, respectivamente, são os frutos desse ciclo. Após um hiato de dez anos, David Bowie voltou surpreendentemente em 2013 com o álbum The Next Day, que pode se situar em um meio termo nessa linha de evolução. Ao mesmo tempo em que revisita Bowies do passado, The Next Day não se limita ao Bowie clássico, mas sim tenta fazer uma grande síntese de sua carreira (se é que é possível). Mas não apenas isso; mostrou um Bowie inventivo e com um olho no futuro, o que foi logo em seguida comprovado com a coletânea lançada Nothing Has Changed, de 2014. Numa faixa (a única inédita) em especial desta coletânea estava o embrião para uma nova fase, uma nova transformação na carreira de David Bowie. “Sue (Or In a Seasonof Crime)” apresentou um som completamente novo, mesmo em termos de Bowie. Seria essa a tal nova direção para a qual sua mente estava agora voltada? Outra faixa que surgiu como seu lado-B mostrou que essa aventura não havia sido isolada; “Tis’ A Pity She Was a Whore” tinha a mesma pegada estranha, um jazz eletrônico e tomado por solos de saxofone livres e dissonantes. Pouco sabíamos o que se passava na cabeça de Bowie (e menos ainda saberemos cada vez mais).  Até que em meio a participação de trilha sonora de série (The Last Panthers) e de uma peça de teatro (Lazarus), David Bowie anuncia o lançamento de um novo álbum, chamado de Blackstar (é, na verdade, uma única estrela negra, ), junto com o clipe cinematográfico, sombrio e misterioso, com dez minutos de duração, da música de mesmo nome que já ultrapassou as cinco milhões de visualizações no youtube.  A partir daí ficamos sabendo um pouco da história por trás do álbum .




                A aproximação com o jazz foi determinante para o surgimento de . As raízes já estavam criadas, mas foi depois do encontro – e posterior convite para compor a banda – de Bowie com o saxofonista DonnyMcCaslin que deu corpo à idealização do novo projeto. Donny já tem sua própria carreira solo, com dez álbuns lançados, e, depois de Bowie assistir de surpresa a uma apresentação sua em Nova York, passou a integrar a banda que gravou , junto com os integrantes de sua própria banda, como o tecladista Jason Lindner, o baixista Tim Lefebvre, o percussionista Mark Guiliana e o guitarrista Ben Monder. Tirando o produtor e amigo Tony Visconti, toda a equipe da banda era totalmente nova para David Bowie.

                Passemos agora, de fato, para a análise das sete músicas que compõem Blackstar, fazendo dele um dos discos mais concisos da carreira recente de Bowie (apenas quarenta minutos). A faixa de abertura é a já conhecidíssima “Blackstar”, que tem uma das alterações mais incríveis no meio de uma música. A ponte em que Bowie começa a cantar acompanhado pelo piano e que vai crescendo é simplesmente genial. Uma música dentro da música de forma teatral. O fato de conhecermos previamente duas das sete músicas servia quase como um anticlímax, ao menos até “Tis’ a Pity She Was A Whore” começar totalmente repaginada. A explicação está intimamente ligada à história de ; a faixa que era previamente conhecida foi gravada em 2014 com a banda Maria Schneider Orchestra (que tinha Donny como saxofonista solo), um experimento pós-moderno de jazz. Como foi dito acima, ela e “Sue (Or In a Season Of Crime)” serviram para indicar a Bowie um caminho certo a seguir. Em , ambas ganharam novas versões com DonnyMcCaslin como líder da banda, o que deu uma liberdade maior para seu sax flutuar livremente pelas músicas. Embora as duas tenham perdido um pouco de tempo de música (dá vontade que tivessem mais de dez minutos cada), o resultado ficou ainda melhor. A produção deixou as duas mais limpas e dá para ouvir mais claramente a overdose de sons que passeiam freneticamente pela música, com solos asfixiantes de sax (em alguns momentos de “Tis’ A Pity SheWas a Whore” dá para ouvir Bowie soltando vários “Woo” deempolgação) e o momento mais rock n’ roll do disco, ao final de “Sue (Or In a Season Of Crime)”, com guitarras distorcidas relembrando um pouco do rock industrial dos meados da década de 90. A faixa seguinte, “Lazarus”, que foi uma das quatro novas músicas compostas por Bowie para o musical de mesmo nome (mas a única que entrou na seleção final de ), é mais simples – ou melhor, direta – do que as anteriores, focada mais na melodia, mas ainda com espaço para o sax de Donny se destacar, especialmente na metade final.





                A quase robótica “Girl Loves Me” é a mais estranha do álbum, com a letra quase irreconhecível, com palavras coletadas da obra Laranja Mecânica e gírias do chamado Polari, utilizado pela comunidade artística e membros da subcultura gay da Londres de meados do século XX,  mas com um ritmo muito interessante. “Dollar Days” é o mais próximo de uma balada aqui, com um piano delicado e simplesmente um solo incrível de saxofone. E parafechar o álbum de forma épica, “I Can’t Give Everything Away” parece desvendar um dos grandes mistérios de Bowie (ou não): “Saying more and meaning less / Saying no but meaning yes / This is all I ever meant / This is the message that I sent”. Nunca isso ficou tão claro – ou, na verdade, obscuro – quanto em . As temáticas são soltas, enigmáticas, cheios de personagens (às vezes mais de um por música, como em “Blackstar”) e transformações esquisitas. Não existe um fio condutor temático em Blackstar; existe um pouco de tudo: o sobrenatural em “Blackstar” (“Something happened on the day he died/Spirit rose to leave him and stepped aside”); imagens violentas em “Tis’ A Pity She Was a Whore” (“Man, she punched me like a dude/Hold your mad hands, I cried); cenas de assassinato em “Sue (Or In a Season of Crime); uma letra quase criptográfica como em “Girl Loves Me”; ou a reflexão cheia de nostalgia sobre a luta contra a morte de “Dollar Days(“Dollar days 'til final checks, honest scratching tails the necks I'm falling down”).

                Pelo resultado encontrado em , tudo indica e espera-se que de fato seja a inauguração de uma nova fase da carreira de David Bowie; os próximos passos, como sempre são quando se está falando de David Bowie, são imprevisíveis. Enquanto isso cabe a nós recolher as riquezas do disco a cada vez que o colocamos para tocar. Somente o distanciamento histórico necessário será capaz de definir a posição de no hall de clássicos de David Bowie; mas algo muito forte sugere que estamos diante de um álbum daqueles que marcam uma geração.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Os indicados para o 37th Blues Music Awards


            
O Blues Music Awards é a maior premiação para o gênero do blues. A 37ª edição do prêmio será realizada no dia 5 de maio de 2016, em Memphis, Tenneesee. Preparando o terreno para o evento, The Blues Foundation, organização internacional que se encarrega do Blues Music Awards, divulgou no último dia 15 os indicados para a premiação anual. Na lista figuram vários artistas e bandas que já entraram na lista de melhores de 2015 e outros que ainda irei reservar um tempo para conferir.

Os destaques do 37º Blues Music Awards são Buddy Guy, claro, com o lançamento de Born To Play Guitar, que concorre pelo melhor álbum do ano e melhor álbum de blues contemporâneo, junto com Outskirts of Love, de Shemekia Copeland. O Brasil está presente no Blues Music Awards com o disco Way Down South, de Igor Prado Band, na categoria de álbum revelação. Concorrendo com ele estão Mr. Sipp, Eddie Cotton e outros. A categoria de melhor álbum de rock blues está bastante disputada, com Joe Bonamassa, Joe Louis Walker, Tinsey Ellis e Walter Trout disputando o prêmio. No Soul Blues, o destaque vai para Jackie Payne, com seu ótimo álbum I Saw The Blues. A escolha do Filho do Blues para cada categoria está em itálico. 

Segue a lista completa dos indicados para o 37º Blues Music Awards:

37th Blues Music Award Nominees

Acoustic Album
Doug MacLeod – Exactly Like This
Duke Robillard – The Acoustic Blues & Roots of Duke Robillard
Eric Bibb – Blues People
Guy Davis – Kokomo Kidd
The Ragpicker String Band – The Ragpicker String Band

Acoustic Artist
Doug MacLeod
Eric Bibb
Gaye Adegbalola
Guy Davis
Ian Siegal

Album
Anthony Geraci & the Boston Blues All-Stars – Fifty Shades of Blue
Buddy Guy – Born to Play Guitar
James Harman – Bonetime
The Cash Box Kings – Holding Court                 
Wee Willie Walker – If Nothing Ever Changes

Band
Andy T – Nick Nixon Band
Rick Estrin & the Nightcats
Sugar Ray & the Bluetones
The Cash Box Kings
Victor Wainwright & the Wild Roots

B.B. King Entertainer
John Németh
Rick Estrin
Shemekia Copeland
Sugaray Rayford
Victor Wainwright

Best New Artist Album
Eddie Cotton – One at a Time
Igor Prado Band – Way Down South
Mighty Mike Schermer – Blues in Good Hands
Mr. Sipp – The Mississippi Blues Child
Slam Allen – Feel These Blues

Contemporary Blues Album
Buddy Guy – Born to Play Guitar
Eugene Hideaway Bridges – Hold on a Little Bit Longer
Shemekia Copeland – Outskirts of Love
Sonny Landreth – Bound by the Blues
Sugaray Rayford – Southside

Contemporary Blues Female Artist
Beth Hart
Karen Lovely
Nikki Hill
Samantha Fish
Shemekia Copeland

Contemporary Blues Male Artist
Brandon Santini
Eugene Hideaway Bridges
Jarekus Singleton
Joe Louis Walker
Sugaray Rayford

Historical Album 
The Henry Gray/Bob Corritore Sessions, Vol. 1, Blues Won’t Let Me Take My Rest on Delta Groove Records
Hawk Squat by J. B. Hutto & His Hawks on Delmark Records
Southside Blues Jam by Junior Wells on Delmark Records
Buzzin’ the Blues by Slim Harpo on Bear Family Records
Dynamite! The Unsung King of the Blues by Tampa Red on Ace Records

Instrumentalist-Bass
Charlie Wooton
Lisa Mann
Michael “Mudcat” Ward
Patrick Rynn
Willie J. Campbell

Instrumentalist-Drums
Cedric Burnside
Jimi Bott
June Core
Tom Hambridge
Tony Braunagel

Instrumentalist-Guitar
Anson Funderburgh
Kid Andersen
Monster Mike Welch
Ronnie Earl
Sonny Landreth

Instrumentalist-Harmonica
Billy Branch
Brandon Santini
James Harman
Jason Ricci
Kim Wilson

Instrumentalist-Horn
Al Basile
Doug James
Kaz Kazanoff
Sax Gordon
Terry Hanck

Koko Taylor Award (Traditional Blues Female)
Diunna Greenleaf
Fiona Boyes
Ruthie Foster
Trudy Lynn
Zora Young

Pinetop Perkins Piano Player
Allen Toussaint
Anthony Geraci
Barrelhouse Chuck
John Ginty
Victor Wainwright

Rock Blues Album of the Year
Joe Bonamassa – Muddy Wolf at Red Rocks
Joe Louis Walker – Everybody Wants a Piece
Royal Southern Brotherhood – Don’t Look Back
Tinsley Ellis – Tough Love
Walter Trout – Battle Scars

Song
“Bad Feet/Bad Hair” written and performed by James Harman
“Fifty Shades of Blue” written by Anthony Geraci and performed by Anthony Geraci & the Boston Blues All-Stars
“Gonna Live Again” written and performed by Walter Trout
“Southside of Town” written by Sugaray Rayford and & Ralph Carter and performed by Sugaray Rayford
“You Got It Good (and That Ain’t Bad)” written and performed by Doug MacLeod

Soul Blues Album
Bey Paule Band – Not Goin’ Away
Billy Price & Otis Clay – This Time for Real
Jackie Payne – I Saw the Blues
Tad Robinson – Day into Night
Wee Willie Walker – If Nothing Ever Changes

Soul Blues Female Artist
Bettye LaVette
Dorothy Moore
Missy Anderson
Toni Lynn Washington
Vaneese Thomas

Soul Blues Male Artist
Frank Bey
Jackie Payne
Johnny Rawls
Otis Clay
Wee Willie Walker

Traditional Blues Album
Andy T – Nick Nixon Band – Numbers Man
Anthony Geraci & the Boston Blues All-Stars – Fifty Shades of Blue
Cedric Burnside Project – Descendants of Hill Country
James Harman – Bonetime
The Cash Box Kings – Holding Court

Traditional Blues Male Artist
Cedric Burnside
Dave Alvin & Phil Alvin
James Harman
Jimmy Burns
John Primer