sábado, 31 de março de 2012
Willis Earl Beal - Acousmatic Sorcery
Willis Earl Beal a cada dia vem ganhando uma notoriedade na cena alternativa americana ainda maior. De cantor de rua, ele passou a ser uma das atrações mais esperadas do ano. Tudo isso por que mesmo tendo ouvido poucas músicas, já se percebe que ele tem uma personalidade muito interessante. Beal é artista em várias áreas, além da música, ele desenha e escreve poesia e ficção. E sempre desesperado por mostrar sua arte. Dispõe seu endereço “write to me and i will make you a drawning” e número de telefone no seu site oficial, que diz “call me and i will sing you a song”, onde as pessoas podem se conectar pelo skype ou até mesmo fazer uma ligação. Várias pessoas dizem ter falado com o próprio, pedido para cantar uma música e ele de fato cantou. Mas enfim, um artista novo que consegue causar tanta curiosidade em torno de si, já é um mérito considerável. Apesar de nunca ter oficialmente lançado nenhuma música, foi aparecendo na rede algumas B-sides de suas músicas em alguns blogs, mostrando um estilo eclético e excêntrico, num estilo que a crítica está chamando de antifolk. Assim ele foi ficando conhecido, até que assinou um contrato para o lançamento de seu primeiro álbum, Acousmatic Sorcery, que é o ponto onde nos encontramos agora, e é onde finalmente podemos conhecê-lo por completo, ou pelo menos o início de um “todo” ainda desconhecido de Willis Earls Beal.
Beal começa a pôr em choque paradigmas como achar que um álbum gravado por apenas uma pessoa seria chato e repetitivo. Acousmatic Sorcery pode ser tudo, menos isso. Você pode odiá-lo, nunca mais querer ouvi-lo, mas cada música é uma descoberta diferente, como andar por território desconhecido. Afinal, é um álbum quase inacessível. Há muito não se tem algo assim na música, muitas vezes demasiado previsível. E muito disso tem haver com a idolatria que Beal nutre por uma personalidade da música: Tom Waits. Waits, durante sua carreira inteira, cantou e conviveu com o grotesco e o belo lado a lado. “eu gosto de uma música bonita que lhe conta coisas terríveis. Todos nós gostamos de notícias ruins vindas de belas bocas”, disse Waits em uma ocasião. Às vezes também pode funcionar o contrário.
Mas, enfim, vamos ao prato principal. “Nepeneoyka” é mais uma brincadeira, somente para criar um clima de espera e, estranheza, presente praticamente por todo o disco. “Take Me Away” é onde começa de verdade, com um blues forte, rasgado, lembrando na voz de bluesman uma fúria sinistra. Pense numa voz! Bem percussiva, é uma das que lembra muito bem Tom Waits. De tão seca, a batida parece ser em algum plástico ou algo assim. Em “Cosmic Queries”, nos seus mais de cinco minutos, nós vamos caminhando cuidadosamente pelos caminhos que Beal nos conduz, tentando entender suas variações, sua melodia. Em menos da metade, já estamos hipnotizados por ela e, por incrível que pareça, sem desvendar absolutamente nada. A voz dele, mesmo em seus momentos mais suaves, é forte e cativante. No final tem a parte profética recitada, que chega a arrepiar.
“Evening’s Kiss”, já conhecida, é aquela balada tocante de chorar, somente no violão. Solidão total. Nela, Beal mostra o quanto pode ser irresistível, se for essa sua intenção. É a música mais pop do álbum, não surpreende ser o single, não imaginaria outra que poderia ser lançada em seu lugar como faixa de divulgação. Mas Beal não quer ser convencional. Quanto mais underground para ele, melhor, que quer ser um tipo ícone do underground. “Sambo Joe From The Rainbow” é sombria, melódica e bela. Beal mostra que mesmo sozinho ainda consegue desenhar simples e significantes arranjos. Estranhas e sinistras faixas seguem agora, com “Ghost Robot” na qual Beal já muda totalmente o estilo, vai novamente bater numa lata e cantando em um ritmo quase de um heavy rap. “Swing On Low” parece que ele está com várias facas tocando em garrafas de coca cola, continuando o ritmo mais acelerado de hip hop. No final da música, meu irmão chegou aqui no quarto e exclamou “que porra é essa?”. Eu ri. Ia responder: “é Willis Earl Beal”, mas preferir somente rir.
“Monotony” é outra de fazer chorar. Difícil imaginar uma simples canção tocada assim no violão pudesse dar vazão à várias melodias e tons que Beal cria nessa faixa. “Bright Copper Noon” começa com algo como vários sinos e é somente o que tem de “instrumento” na música. O resto é a grande voz de Beal, como que isento de todo o noise provado pelos sinos. “Away My Silent Lover” Beal volta a empunhar o violão e soltar belas melodias.
Mas a cereja do bolo realmente é a faixa de encerramento, a incrível “Angel Chorus” e seus oito minutos de duração. Começa só com sons estranhos, mas que não são de fato parte da música. Quando a música marca dois minutos a música começa de fato, sendo recitada à lá Tom Waits com acompanhamento de batidas de violão e assovios. A intensidade vai aumentando mais e mais, até quando tudo parece insano, a voz, o barulho, os assovios. Por fim, uma risada gutural anuncia que a experiência quase surreal de Acousmatic Sorcery chegou ao fim.
Então ainda ficamos uns segundos parados tentando assimilar novamente toda a jornada, até que apertamos o play novamente. Caso não aperte ou não consiga nem chegar ao final, tudo bem, mas uma coisa é certa, não há ninguém por ai como esse negro de Chicago chamado Willies Earl Beal, que finalmente saiu do anonimato, por merecimento. Mas provavelmente nunca deixará de ser um “outsider”. Muito menos deseja sê-lo.
Pois é, agora estou rindo igual ao final de “Angel Chorus”.
A piada mesmo é Acousmatic Sorcery ser lançada pela mesma gravadora de, digamos, Adele.
De qualquer forma, o telefone dele está ai:
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E aonde acha esse álbum pra baixar?
ResponderExcluirdesdde que ouvi eu tô procurando para baixar e ainda não encontrei, mas ainda tá rolando o stream do álbum nesse site http://www.chicagoreader.com/Bleader/archives/2012/03/29/north-american-exclusive-album-stream-of-willis-earl-beals-acousmatic-sorcery
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