quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Resenha de Rhythm & Blues, de Buddy Guy


Está na hora de fala de mais um ótimo álbum de blues saindo do forno. Dessa vez é gosto de comida velha, mas daquelas que cada vez sai melhor do que a última vez. Trata-se nada menos do que um dos melhores guitarristas em atividade no mundo, o bom e velho Buddy Guy, inspiração para gente como nada menos que Eric Clapton, Beck, Hendrix, Keith Richards e muito mais, e que está lançando mais um trabalho inédito, duplo e com inúmeros convidados de peso. Essa é a nota introdutória de Rhythm & Blues, disco conceitual dividido em duas partes. A primeira delas, chamada Rhythm, apresenta canções num tom mais animado, dançante, enraizado no soul. Já a segunda e melhor parte, chamado puramente de Blues, é cheia de músicas das variações do estilo do blues de Chicago e, em alguns momentos, do Delta Blues, eletrizado. O que ambas as partes tem em comum é que acompanham a participação de algumas estrelas da música, como Gary Clark Jr, os integrantes de Aerosmith e Kid Rock, só para citar alguns.


A primeira parte começa com a poderosa “Best In Town”, cuja letra, como em várias outras, parece ser autobiográfica, recurso que Guy está usando bastante desde seu último trabalho, Living Proof, de 2010. Nela, Guy resume um princípio que deveria ser bem compartilhado entre os bluesman de sua época, “you don’t have to be the best in town, you just got to be the best, untill de best com around”. Nas músicas que o próprio Guy canta, ele mostra que sua voz, aos setenta e sete anos, completado no último dia 30 de julho, ainda está em forma, mas uma coisa é certa: não tanto quanto sua guitarra, que continua incrível e soa cada vez mais intensa, como que cada nota carregasse não um pouco, mas a totalidade de Buddy Guy e seu blues. “Messin’ With The Kid”, em clara referência à ajuda de Kid Rock na música, é um dueto com Kid Rock, animado e divertido, que, não fosse por mais um incrível solo de Mr. Guy, poderia passar despercebida. No disco Rhythm dá para perceber algumas variações interessantes, como a soul “I Go By Feel”, a belíssima e delicada “One Day Away”, no dueto com Keith Urban. A canção transborda sentimento, linda. Outros momentos marcantes do primeiro disco são “What You Gonna Do About Me”, quando Guy recebe a companhia da potente voz feminina de Beth Hart, e “Whiskey Ghost”, sobrenaturalizando o efeito do álcool.




Chegou finalmente a hora das melhores músicas, no segundo disco, Blues, que já começa com tudo, com “Meet Me In Chicago”, também autobiográfica, apresentando geograficamente pontos da cidade lendária para o blues, quase como um guia turístico. Começa então a melhor sequência de todo o álbum, com “Too Damn Bad”, aparentando ser um Delta Blues tradicional, mas depois tomando forma com a banda completa, totalmente elétrico, e o blues lento e suave de “Evil Twin”, com um show dos integrantes de Aerosmith, Brad Whitfield, Steven Tyler e Joe Perry. Esse disco está repleto de grandes canções, como “I Could Die Happy”, “Never Gonna Change”, “All That Makes Me Happy Is The Blues”, dentre outras, sempre com um sentimento bem pessoal nas letras. Mas outro grande momento é, sem dúvidas, o encontro de gerações entre Buddy Guy, representando o velho blues, e Gary Clark Jr, maior representante dessa nova geração do blues, na música “Blues Don’t Care”, um roadhouse blues de altíssima qualidade. Buddy Guy se despede também em alto nível, com “I Came Up Hard”.





Rhythm & Blues é um álbum de um grande artista, guitarrista e músico do blues. Acontece algo curioso; para Buddy Guy, um dos últimos sobreviventes da era de ouro do blues, que teve seus grandes momentos na década de 60 e 70 (Hoodoo Man Blues [1965], I Left My Blues in San Francisco [1967], A Man and The Blues [1968] e I Was Walking Through The Woods [1974] são ótimos exemplos dessa fase), quanto mais velho melhor. As últimas duas décadas de sua carreira contou com lançamentos incríveis, sobretudo a partir de Damn Right, I’ve Got The Blues, de 1991, passando por ótimos álbuns, como Sweet Tea, de 2001 e Living Proof, de 2010. Lista que recebe mais um título agora, Rhythm & Blues.


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