sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Resenha de Lee Ranaldo And The Dust - Last Night on Earth



Em 2012, Lee Ranaldo se viu obrigado a focar unicamente em sua carreira solo, já que seu clássico grupo, Sonic Youth, do qual era integrante e um dos membro fundador, entrou em um hiato, possivelmente eterno, com a separação conjugal de dois de seus principais participantes, Thurston Moore e Kim Gordom. Para Lee, foi o momento ideal não para se afastar e apenas desfrutar dos louros da gloriosa carreira construída pela banda. Muito pelo contrário. Quase que imediatamente, Lee Ranaldo anunciou seu álbum solo Between The Times And Tides. Menos de um ano depois, tendo aproveitado esse tempo para rodar pelo mundo apresentando suas novas músicas para o público e reunindo uma banda fixa de apoio, da qual faz parte o baterista do Sonic Youth e colaborador de longa data, Steve Shelley, chamada The Dust, Lee acaba de lançar seu segundo álbum solo, The Last Time On Earth, no qual apresenta uma ampliação do som explorado no trabalho anterior. A sensação é que Between The Times And Tides, embora com algumas músicas muito boas, foi feito quase às pressas, sendo notória a falta de uma banda com a qual Lee poderia interagir criativamente, ampliando seus limites sonoros, permitindo-o experimentar à vontade seus sons na guitarra, ofício em que ele é, sem sombra de dúvidas, um mestre.

A evidência dessa transformação não escondida. Na tracklist oficial do álbum, já se percebe claramente essa profundidade ao analisarmos a extensão de cada uma. Das nove faixas, apenas uma possui menos de cinco minutos. A grande maioria ultrapassa a casa dos seis. Ou seja, é muito campo para Lee Ranaldo trabalhar e desenvolver novas texturas na guitarra. E é isso que ele faz desde a faixa de abertura, a ótima “Lecce, Leaving”, sem dúvidas um dos destaques do trabalho, com um refrão muito marcante e variações muito interessantes e súbitas quebras de tempo, com ainda uma explosão efusiva de sons da metade pro final. Cada faixa transpira as influências marcantes na carreira de Lee Ranaldo e The Dust, mais claramente Neil Young, Grateful Dead e também um pouco do psicodelismo da década de sessenta em alguns efeitos de guitarra.




“Key-Hole” começa com uma microfonia que soa bem familiar aos ouvidos dos fãs de Sonic Youth, antes de entrar num ritmo calmo e reflexivo. O ponto fraco e forte da música é sua própria dinâmica, que ao mesmo tempo em que a torna interessante, nunca deixa atingir o seu clímax. Mas se fosse possível definir um vencedor, seria tê-la como um ponto forte. É natural esperar que, pela extensão das músicas, em algum momento o cansaço e a repetição tomem conta do trabalho. Mas a capacidade criativa de Lee Ranaldo não deixa que isso aconteça, sempre dando reviravoltas inesperadas, seja com mudanças de ritmos, seja com sobreposições de guitarras e violões. Tudo isso com uma banda simples, sem instrumentos rebuscados e super modernos. A boa e velha combinação de guitarras, bateria e baixo.

Em “Home Chds” também há uma variação de suavidade e intensidade, enquanto Lee desenvolve o tema com mais uma bela melodia e vai controlando o ritmo à sua vontade. “The Rising Tide” é, sem dúvida, mais um dos destaques do trabalho, inspirada pela passagem do furacão Sandy por Nova Iorque, como um personagem central da música. Ela ainda conta com uma jam session incrível. Outro ponto que chama a atenção em The Last Night On Earth são as reflexões quase filosóficas decorrentes das letras, principalmente na letra da faixa que dá título do álbum,bem poética e tocante: “the last night on Earth the last thing we wanted was to see the sun rise / the last thing we wanted in the last night on Earth was see the day light on our eyes”. “Last Night On Earth” também é uma quebra no epicidade das quatro primeiras faixas, bem mais curta que elas e relativamente mais simples.




“By The Window” começa calma, com um riff simples e constante de guitarra, até dar uma virada, principalmente do meio para o final. A faixa mais curta e teoricamente mais acessível, “Late Descent #2” é, curiosamente, a mais estranha do álbum, com um som barroco de harpa. Enquanto o álbum caminha para o fim, ainda reserva mais um grande destaque, em “Ambulancer”, com um rock entusiasmante e um mar de efeitos de guitarras que toma conta de quase todos seus seis minutos e poucos. Já a faixa que fecha o álbum “Black Out” não é tão entusiasmante assim e é a primeira vez que a longa extensão se torna enfadonha e tediosa.

Last Night On Earth é mais um trabalho grandioso que se acrescenta a seu riquíssimo legado que, sempre é bom lembrar, engloba toda a gloriosa carreira de Sonic Youth, sempre compondo ótimos clássicos. Last Night On Earth é, por fim, uma extensão de um guitarrista que sabe dobrar seu instrumento de trabalho como poucos. E é exatamente isso que transborda durante uma hora e quatro minutos, mesmo nos momentos menos empolgantes.


Nenhum comentário:

Postar um comentário