segunda-feira, 20 de junho de 2016

Resenha Alabama Mike - Upset The Status Quo


Alabama Mike (nome artístico de Michael Benjamin) é mais um nome da cena do blues a lutar duro pra conquistar seu espaço. Até abraçar a carreira como músico, o então motorista de caminhão passou, em 1999, a ser um cantor de soul e blues, conseguindo abrir sua própria gravadora em 2009, a Jukehouse Records. Através dela, Alabama Mike lançou dois discos e agora chega ao terceiro, com Upset The Status Quo, que mostra um pouco das facetas de quem iniciou o contato com a música no coral de Igreja, em Talladega, Alabama. Sonoramente, Upset The Status Quo encontra-se na mistura do soul e do blues, com algumas músicas funcionando mais do que as outras, no entanto.

                Sem dúvida, o grande destaque do disco inteiro é a própria canção que dá nome ao álbum, “Upset The Status Quo”, ultrapassando os seis minutos de duração, com sua sonoridade forte, intensa e uma letra incrível, criticando severamente a manipulação midiática, estimulando o livre-pensamento exatamente para bater de frente com o establishment, o poder constituído. Uma audácia incrível para o blues. É uma alfinetada no “sonho americano”, no qual apenas alguns recebem uma mixaria. Então, Mike conclama: “Wake up! And Upset The Status Quo! / you got to break loose, people, and upset the status quo / don’t you let nobody tell what to think anymore”. A gaita dá um fôlego extra que segue até o final.

                As letras também abordam temas relacionados a vida moderna. Se na faixa de abertura, uma das formas de manipulação e distração usadas pela classe dominante eram as mídias sociais, em “Identity Theft”, com uma pegada bem mais soul/funk, num estilo R&B e solos de metais, trata da problemática da segurança na vida online, do roubo de identidades. Um dos grandes destaques é a potência da voz de Alabama Mike, enfatizando as partes da letra mais importantes. Um grande vocalista.  Em “Mississippi”, num formato mais de blues tradicional de Chicago, Mike exalta as raízes da vida rural; “Think” mostra a mesma pegada R&B com uma forte linha de baixo e solos de saxofone, junto com gritos estridentes de Mike; o slow blues de “Can’t Stay Here Long”, sobre a volta saudosa para a casa em Alabama por um curto tempo, lembra um pouco de Rolling Stones e é um dos grandes momentos do álbum, possivelmente também o melhor vocal do disco. É a transitoriedade da vida: “the places I used to go ain’t there no more / the people I used to know they’re not around no more / just don’t feel like home no more”.

                “Fight For You Love” é bem intensa e rápida, dá vontade de pular e dançar durante todos os seus sete minutos.  A ironia e o humor negro tomam conta em “Restraining Order”, mais uma focada no R&B. “Rock Me In Your Arms”, tem uma sensação romântica dos anos 50, e é uma bela balada blues-soul. “SSI Blues”, outro destaque e cujo ritmo lembra a clássica “Walkin’ Blues”, é sobre a importância do programa social Supplemental Security Income, um tipo de “Bolsa Família Blues”, para quem não tem renda e não pode trabalhar, ao mesmo tempo que satiriza quem acha que o valor é muito alto e mantém o beneficiário na mordomia, viajando pelo mundo. I’m going to hire me a boat and sail around the world, stop in Hong Kong and get me a China girl.” Também presente no disco Unleashed, de 2013, do projeto The Hound Kings, do qual Alabama Mike fez parte, os músicos da banda soam muito alinhados aqui. O álbum encaminha para o final com “Somewhere Down The Line” e “God Is With You (Benediction)”, esta última com Mike usando todo seu talento no soul construído nos corais de Igreja.

                Embora por vezes o álbum peque por certa falta de equilíbrio entre as faixas, a quantidade de destaques é bem superior às demais. Além disso, a qualidade lírica e vocal que Alabama Mike impõe a algumas dessas faixas faz de Upset The Status Quo um lançamento bastante interessante e que vale a pena ser conferido. 



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