Quantos
talentos e histórias excepcionais não são perdidos pelo mundo afora?
Especialmente no blues, cuja origem é essencialmente rural, milhares de músicos
sempre atuaram anonimamente nas sombras durante décadas, trabalhando durante o
dia numa profissão fixa e tocando de bar em bar à noite, vagando pelos
circuitos de sua cidade ou seu estado ganhando um trocado, sem nunca ter tido a
chance de ter sua música ouvida por um grande público, ter seu nome reconhecido
nas rodas dos entusiastas de blues, assim por diante. Por sorte, esse não é
mais o caso de Hayes McMullan. Infelizmente, ele não está mais entre nós para
testemunhar essa tardia mudança. Nascido em 1902, McMullan passou sua vida como
sharecropper, diácono e ativista de direitos humanos. Enquanto isso, tocava
guitarra e compunha algumas músicas para tocar nos bares nas suas andanças pelo
Extremo Sul dos Estados Unidos. McMullan morreu totalmente desconhecido em
1986, aos 84 anos. Somente agora, em 2017, trinta anos depois de sua morte, graças
a uma gravação ocorrida em 1967, podemos finalmente conhecer um relance do
talento e das histórias desse bluesman. Ele foi gravado pelo colecionador musical
e documentarista Gayle Dean Wardlow, que no final da década de 60 foi em busca
de alguma gravação de Charlie Patton, perguntando de porta em porta. Enfim, uma
dessas portas foi a de Hayes McMullan, ao que respondeu que ele simplesmente
tocou com o próprio Patton, além de Willie Brown. Durante seu tempo ativo na
música, McMullan recebeu uma oferta de gravação, mas recusou; “Eles me
ofereceram cinco dólares por música, e você sabe que eles podiam fazer milhares
com apenas uma música” – ele disse então para Wardlow. Depois disso, e com o
envenenamento de seu irmão, que também era um músico de blues, McMullan
abandonou o blues – a música do diabo – e entrou para a Igreja.
Enfim, o disco
Everyday Seem Like Murder Here é o resultado de três sessões que McMullan
gravou com Wardlow entre 1967 e 1968, quase trinta anos depois que ele tinha
parado de tocar. Dessas sessões, 31 faixas estão em qualidade boa para serem
usadas no disco. O resultado é um autêntico registro do Delta Blues,
entrecortadas por conversações. O estilo de McMullan não mudou nada: parece que
está tocando diretamente dos anos 20, 30. Alguns dos destaques ficam com “Look-A Here Woman Blues”, “Goin’ Away
Mama Blues”, “Goin’ Where The Chilly Winds Don’t Blow” e “Kansas City Blues”.
Estamos diante
de um registro histórico, que desenterra a memória de apenas um dos talentosos
músicos de blues que infelizmente foram engolidos pela história.
'The few old snapshots I took, the
handful of tunes we recorded, and his brilliant performance of 'Hurry Sundown'
captured on film are all that's left of the musical legacy of Hayes McMullan,
sharecropper, deacon, and - unbeknownst to so many for so long - reluctant
bluesman - disse Wardlow