quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Resenha Manic Street Preachers - Rewind The Film


Envelhecer é um tabu para todo mundo e, na música, a regra não poderia ser diferente. É uma etapa natural do ciclo de vida de uma banda ou de um artista e alguns deles sabem lidar muito bem com isso, enquanto outros tentam de qualquer forma se prender às fórmulas que funcionaram no passado, mas que não se encaixam mais nessa nova disposição, às vezes tanto externa quanto interna. O caso mais recente que podemos identificar é o novo disco da grande banda galesa Manic Street Preachers, que chega ao seu décimo primeiro disco, Rewind The Film, claramente na meia idade. Mas engana-se quem acha que é uma crise da meia idade. No máximo, pode ser considerado como o descobrimento de uma nova identidade, a qual eles decidiram agora dedicar um espaço maior para ver no que dá.

Para entender totalmente essa relação com o envelhecimento, é necessário conhecer a carreira do Manic Street Preachers, conhecida pela energia, violência, geralmente com veia política,e vigor no som e nas letras com muita sagacidade. Rewind The Film quebra a norma em relação às primeiras características, mas, quanto às letras, continuam tão afiadas como nunca. Rewind The Film também conta com participações especiais em algumas faixas, como Richard Hawley, Lucy Rose, e, a melhor de todas, a cantora conterrânea do País de Gales, Cate Le Bon. Mas vamos voltar o filme de Rewind The FIlm até o começo. Sem trocadilhos.



A faixa inicial apresenta já uma colaboração, da jovem cantora Lucy Rose, que faz o backing vocal e um trecho do refrão. Logo de começo, James Dean Bradfield faz a forte declaração introdutória: “I don't want my children to grow up like me”, e começa mais uma crítica à nossa vida em sociedade, enquanto vai dedilhando no violão. Embora tenha algumas diferenças, Rewind The Film foi concebido como um álbum “acústico”, enquanto no mesmo período a banda compôs outro disco, ainda sem título nem data de lançamento, com o seu som tradicional. “Show Me The Wonder”, o já conhecido primeiro single do disco, apresenta o lado mais brilhante e positivo de Rewind The Film. A letra conta com uma  polêmica regional, enquanto gauleses: “we may write in English, but our truth lays in Wales”. A faixa que dá título ao album, “Rewind The Film”, também já é conhecida e conta com a participação de Richard Hawley, cantando uma parte da música. Mesmo tendo sido revelado o conteúdo restante do álbum, ela permanece sendo ainda uma das melhores, com seu emocionado clima nostálgico. Belíssimo. 

Sinos apresentam “Builder of Routines” e depois entra no refrão com a batida meio blues. A próxima participação é a da belíssima Cate Le Bon, que felizmente ficou com o papel principal em “4 Lonely Roads”, podendo soltar sua bela e delicada voz. Muito boa também a letra e o ritmo, com as rimas. “(I Miss the) Tokyo Skyline” é uma das que estão mais bem arranjadas, contando inclusive com violinos e tímidos efeitos eletrônicos. Já “Anthem For A Lost Cause”, que também é bem orquestrada e arranjada, inclusive de forma bem melhor que a anterior,é outra que parece focada no blues, sobretudo no refrão, que lembra um pouco “Postcards From A Young Man”. O piano toma conta da romântica “As Holy As The Soil (That Buries Your Skin)”, com a letra cheia de declarações máximas de amor. O título assustador de “3 Ways To See Despair”, mostra uma pessoa calejada e cansada que já passou pelas três formas de se ver o desespero, mas que é melhor se preparar para a queda, já que vem um quarto por ai, quase como uma oração. Aparece aqui um dos raros solos de guitarra. Em mais um daqueles versos de sangrar, Bradfield decreta: “I'm no longer the centre of the universe/ a bare admission that makes it seem worse”.  



O desespero e desilusão continuam em “Running Out of Fantasy”, dedilhada delicadamente no violão. A instrumental “Manorbier” encaminha o disco para o seu final, que chega com a ácida “30-Year War”, e suas influências eletrônicas, certamente uma das mais intensas em se tratando do conjunto de Rewind The Film, com Bradfield instigando sua audiência com o “i ask you again what is to be done?”.

Por fim, Rewind The Filme é realmente localizada na meia idade do Manic Street Preachers, que como a própria banda definiu em “Builder of Routines”: “in between acceptance and rage”. As duas facetas da banda. Em Rewind The Film eles resolveram aceitar esse lado mais sociável e adulto de suas composições, mesmo sem perder a revolta e a densidade na carga de suas letras, em detrimento do som mais cru e enérgico dos trabalhos anteriores, dos quais a banda é internacionalmente reconhecida. Pode não ser o melhor trabalho da banda, mas certamente há momentos aqui que fazem essa experiência ter valido muito a pena, além de abrir mais ainda um caminho sonoro para a banda.


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