terça-feira, 8 de outubro de 2013

Resenha de Pearl Jam - Lightning Bolt



Para o bem ou para o mal, a verdade é que Pearl Jam persiste em atividade na cena musical como uma das bandas mais influentes dos últimos vinte anos. Mas não vou me alongar aqui naquela coisa de cena grunge e bla bla bla. Este post é para celebrar uma grande banda que se mantém atualizada e produtiva, chegando agora ao seu décimo disco, sempre fieis, acima de tudo, a si mesmos. Eu sei, todos já conhecem a tal de “Black”, todos já pularam ao som de “Even Flow” e, no mínimo, arrepiaram-se ao ouvir “Alive”. Mas, no decorrer dos anos, a carreira planejada de forma independente e espontânea, Pearl Jam tornou-se numa entidade atemporal no mundo musical. Apesar de ainda ser relacionada em um primeiro momento e aos mais desavisados a essa “cena grunge”, um olhar um tanto mais cirúrgico adentro da carreira dessa banda de Seattle perceberá que eles já se livraram há muitos anos desse termo e desse som, se é que algum dia existiu uma unidade nesse “som”. Mas, enfim, eu falei que não iria me alongar nesse assunto e não vou mesmo. Tratarei Pearl Jam como eles se mostram em Lightning Bolt, décimo registro de estúdio da banda, e nos demais álbuns, como uma banda de rock clássico.



O tempo entre Backspacer e Lightning Bolt é um dos mais longos na carreira de Pearl Jam, pouco mais de quatro anos. Esse período, no entanto, foi de grande atividade para cada um de seus integrantes, além da celebração coletiva de vinte anos da banda, que gerou um documentário oficial, o PJ20, que inclusive desencadeou uma turnê que passou pela América do Sul em 2011 – shows em São Paulo nos quais eu estava lá. Posteriormente, cada um tomou seu rumo e ocupou seu tempo criativamente em outros projetos. Eddie Vedder, por exemplo, embarcou na carreira solo com seu disco de estreia, Ukulele Songs, de 2011, enquanto Matt Cameron preferiu ressuscitar a outra banda dos seus camaradas, Soundgarden, com o lançamento de King Animal, em 2012. Já Stone Gossard trabalhou bastante, lançando novos trabalhos tanto com sua banda paralela, Brad, United We Stand, de 2012, como seu trabalho solo lançado este ano, Moonlander. Mike McCready decidiu reeditar o trabalho com Mad Season, além de participar de gravações em algumas outras bandas menores. Até mesmo o quieto Jeff Ament lançou mais um álbum solo nesse período, While My Heart Beats, de 2012. Diante de tantos trabalhos, dos mais diversificados, a impressão que dá é que os quatro anos sem se trancarem no estúdio durou bem mais. O resultado é que os quatro integrantes, acrescido de Boom Gasper, entraram no estúdio no momento ideal e se focaram em produzir o melhor disco, como o próprio Vedder afirmou em entrevista à Rolling Stone.




Essa energia e vigor são transparente nas três primeiras faixas de Lightning Bolt, que começa a cem por hora. “Getaway” é uma das melhores músicas do álbum, contando ainda com uma letra muito interessante, que questiona a imposição das crenças aos outros, tema bastante atual. “it’s okay, sometimes you find yourself having to put all your Faith in no faith / mine is mine and yours won’t take its place”. É uma das que são pesadas e rápidas sem ser aquele punk já natural de Pearl Jam. Eddie Vedder coloca força e vigor no seu vocal como já há algum tempo não se via. A pancadaria continua com “Mind Your Manners”, primeiro single de Lightning Bolt, que mostra a veia punk da banda, que já é de regra ter umas nesse estilo nos álbuns. A diferença é que ela é mais bem construída do que as anteriores nesse mesmo estilo, como “Comatose”, do abacate, ou “Gonna See My Friend”, de Backspacer. O baixo de Jeff Ament se sobressai no início de “My Father’s Son”, enquanto Eddie vai cantando quase que falado. Do meio pro final, após uma suavizada, a fúria e a intensidade do vocal aumenta e essa variação é que exalta sua qualidade.

Depois de três intensas músicas, chega a hora de pisar no freio com a belíssima “Sirens”, segundo single do trabalho. Com a música de Mike e a letra de Eddie, “Sirens” é um poço de sensibilidade, transformada em belas variações melódicas bem interessantes em um formato mais comercial. Sem dúvida, um hit. O ritmo volta a acelerar com a faixa que dá título ao álbum, “Lightning Bolt”, mostrando uma banda afiada, como se fosse gravada ao vivo no estúdio, sem tratamento algum. Parece que cada um da banda tem seu momento de brilho aqui. Será ainda mais maravilhosa no show. “Infallible” relembra um pouco da era de Vitalogy, sobretudo o riff de “Tremor Christ”. Alguns arranjos interessantes a fazem não passar despercebida, mas não acompanha a mesma qualidade das demais.





Chegou o momento de a banda arriscar um pouco mais e explorar novos territórios, embora sempre com um pé em solo seguro. “Pendulum”, sombria, com o piano criando o ambiente. O ritmo, no entanto, lembra um pouco “Parting Ways”, de Binaural. Melodia muito bonita, com Vedder bem absorvida por ela com mais uma vez a voz impecável. Pearl Jam continua explorando e experimentando novos sons, para desespero dos grungeiros. Talvez ela combinava mais se tivesse ficado para fechar o álbum, como a sua prima de Binaural. Após a experimentação, Pearl Jam volta para a zona de conforto com a mediana e correta “Swallowed Whole”, bem a cara de composição de Eddie. Mas logo em seguida volta a ter ingredientes novos e inesperados, como em “Let The Records Play”, com uma pegada bem blues, coisa que Pearl Jam não havia experimentado ainda, talvez apenas no seu formato mais lento, como em “Come Back”. “Sleeping By Myself”, embora não seja totalmente inédita, já que figurou em Ukulele Songs, de Eddie Vedder, ganha aqui uma nova roupagem com a banda completa, inclusive, bem country. Ainda assim, no final Eddie ainda empunha seu ukulelezinho de sempre. O clima acústico guia as duas faixas finais, com “Yellow Moon”, misturando com um solo de guitarra bem intenso, embora curto, e “Future Days”, basicamente Eddie, seu violão, e um pouco de Boom Gasper, o que ainda não havia ocorrido em Lightning Bolt e a letra mais positiva do álbum. O único ponto fraco do disco é que em alguns momentos eles poderiam ter alongado mais a faixa, desenvolvido mais um solo ou algo assim.

Lightning Bolt é, por fim, mais um grande registro de uma ótima banda que já superou essa polêmica de tentar fazer um novo Ten ou Vs. É notório que eles estão preocupados apenas em se divertir uns com os outros e criar novos sons para comunicar sentimentos. E esse é o espírito da coisa. Ao não tentar mudar e abalar as estruturas do mundo mais uma vez, eles contentam-se em fazer parte dele. Uma parte importante, inclusive. 



3 comentários:

  1. Muito bom o post,tinha ouvido falar do álbum mais ainda não ouvi,agora me interessei.
    a i realmente eles meio que empurraram o PJ como banda grunge por eles terem nascido nessa época e serem de Seattle.

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  2. Que review eim cara? Manja demais. Li uma resenha em outro site, mas era tão vazia que não me dei por satisfeito, googlei e parei aqui, pra me surpreender. Parabéns pelo review, vou acompanhar o blog a partir de agora ;D

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  3. Excelente resenha André! Então, tem muito fã reclamando que o álbum tem muita balada, que perdeu a pegada rock, mas isso é coisa da galera grunge de carteirinha, como você disse, Pearl Jam é fiel a ela mesma como banda, os caras tem autonomia pra passear por qualquer território. Pra mim Lightning Volta já é um clássico .

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