terça-feira, 14 de maio de 2013

Vampire Weekend - Modern Vampires of The City


Vampire Weekend é uma bandas com o som dos mais peculiares que existe. O grupo, de Nova Iorque, liderado por Ezra Koenig, absorve toda a sociedade cosmopolita nova-iorquina e traduz em um som único e, às vezes, até difícil de digerir. O disco de estréia, homônimo de 2008, surpreendeu o mundo e, ao contrário de todas as expectativas, explodiu.  Não só colecionou aclamadas críticas de revistas especializadas, como também produziu grandes clássicos comerciais, como “Oxford Comma”, “Walcott” e “Mansard Roof”, só para citar alguns. No som de Vampire Weekend havia de tudo. Guardadas as devidas proporções, parecia o manguebeat que absorveu toda a cultura pernambucana em um único som. Sob a batuta do gênio de Koenig, diversos setores culturais de Nova Iorque estava representada em algum ponto do álbum. Desde intelectuais-universitários-hipsters, passando pelo rock, pop, música africana, o afropop, como ficou chamado, o reage e até mesmo referências de música clássica. Era, literalmente, uma orgia de sons antagônicos que, como passe de mágica, apareciam nessas canções, de alguma forma, harmonizadas. Diferente de bandas como The Strokes, que ainda não conseguiu igualar o disco de estréia, Vampire Weekend seguiu sua carreira com o também bem sucedido Contra, que deram ainda um passo a mais nessa mistura louca, por vezes até de forma exagerada. Mas é com Modern Vampires of The City, terceiro álbum da imaginária trilogia na mente de Ezra Koenig, lançado ontem, que Vampire Weekend alcança a perfeição.




É um álbum irretocável, a começar pela capa, uma imagem aérea, tirada pelo fotógrafo do New York Times, Neal Boenzi, olhando para o sul do Empire State Building, em preto e branco de Nova Iorque quase pós-apocalíptica, poética e sombria. Inspiradora.  Modern Vampires of The City apresenta uma banda totalmente regulada em seu pico criativo, embora atuando em um espaço sonoro talvez mais limitado que os dois trabalhos anteriores, o que, de forma alguma, tira a genialidade, apenas modifica sua forma, produzindo músicas mais concisas.

Ao mesmo tempo que ,em Modern Vampires, diminuiu-se a abrangência sonora, ampliou-se a melódica. Na faixa de abertura, “Obvious Bicycle”, dá para notar que a principal matéria prima para o resultado final é a melodia, assim como na belíssima “Hannah Hunt”, escrita para uma garota que sentou ao lado de Koanig em uma aula de budismo na universidade, com a instrumentação praticamente minimalista, explodindo apenas nos segundos finais, com um refrão de arrepiar. “Don’t Lie” também possui uma melodia incrível e com arranjos sensacionais. Outra matéria prima, se é que se pode chamar assim, é o trabalho profissional feito nos efeitos, tanto dos instrumentos quanto no vocal de Koenig. Esse traço pode começar a ser notado no verso final de “Step”, meio hip-hop e que é, por sinal, uma música incrível e com uma melodia tocante, sobretudo no emocionado e doloroso refrão. No verso final, nota-se um efeito deixando o vocal quase gutural. Continua-se a brincadeira com efeitos vocais em “Diana Young”, ao invés de Dying Young, juntamente com “Finger Black”, uma das mais intensas do álbum e que lembra em alguns momentos “Wolf Like Me”, de TV On The Radio. Entre algumas paradas e retornos poderosos, dá para imaginar no refrão uma pessoa controlando a mesa de som e mexendo nos efeitos vocais do “baby, baby, baby, ride on time”. Mas a mais marcante em termos de efeitos sonoros é “Ya Hey”, que é Hey Ya ao contrário e, além disso, também é uma referência subconsciente ao judaísmo e cristianismo, “Yahweh”. A religião também está presente na maravilhosa “Unbelievers”, uma reflexão da imagem que se tem dos “ateus” e o que está reservado a eles nas tradições religiosas “we know the fire awaits unbelievers all of the sinners the same”.



Uma das que tem o som mais peculiar é “Worship You”, totalmente diferente de todo álbum. Com uma bateria tipo de cavalaria e a velocidade maior que radialista narrando jogo de futebol em hip-hop, parece que você está cavalgando feito loco pelas planícies. Mais uma coisa que evidencia essa riqueza de melodias e arranjos sonoros, é que, na maioria das faixas, não existe a mesmice do refrão cantado por dez vezes da mesma forma. Ao contrário. Koanig pode até repetir várias vezes o refrão, mas cada vez em um ritmo diferente, acompanhado por uma mudança rítmica ou melódica, são diversos os exemplos e, só para citar os mais notáveis são em “Everlasting Arms”, “Step”, “Ya Hey”. Por fim, "Hudson" se despede com uma inédita faixa sepulcral e sombria.

Modern Vampires of The City é praticamente perfeito. E se não tivesse saído no mesmo ano que The Next Day, de David Bowie, certamente já teria reservado o lugar de melhor álbum do ano. Além de melhor álbum até hoje de Vampire Weekend. 

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