sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Resenha de Arctic Monkeys - AM



A imagem de garotões da banda britânica Arctic Monkeys, que explodiu do nada no meio da década passada sempre pareceu indestrutível. Mas, a cada lançamento deles essa assertiva parece cada vez mais passível de erro. Principalmente desde que iniciou o processo de colaboração entre Alex Turner, do Arctic Monkeys, e Josh Homme, do Queens of The Stone Age, em 2009, no álbum Humbug. A influência foi recíproca, alterando a sonoridade tanto de uma banda quanto da outra, para o bem ou para o mal. E parece realmente que Josh Homme tem um toque especial por onde passa, um indicativo é que foi a partir da colaboração com ele que Dave Ghrol e Foo Fighters conseguiram retomar o sucesso na carreira com Wasting Light. Arctic Monkeys já havia dado mais um passo rumo à liberdade artística em 2011, com Suck it And See, mas só mesmo com o quinto álbum é que se pode considerar aquela imagem inicial ultrapassada para uma banda totalmente nova, ousada, e, por que não dizê-lo, genial. E para alcançar a genialidade é preciso primeiramente ter coragem, estilo e, claro, o gênio. E Alex Turner e companhia alcançaram tudo isso com AM, fazendo dele certamente o disco mais interessante lançado pela banda. AM ainda tem a participação de, claro, o mentor, Josh Homme.





O álbum começa com a já conhecida “Do I Wanna Know” e desde cedo apresenta o clima sexy presente no decorrer de todo o álbum, principalmente com os primeiros versos: “Have you got colour in your cheeks? Do you ever get that fear that you can't shift the type that sticks around like something in your teeth?” A segunda faixa também já era conhecida do público, “R U Mine?”, que apareceu ainda antes de o disco ser anunciado. Esteve presente inclusive nos jogos Olímpicos de Londres, de 2012. É a mais rápida e pesada do álbum, unindo os dois Monkeys, o pré-Josh e o pós-Josh e seu stoner rock. A partir daí começa a polêmica entre os fãs antigos e novos. “One For The Road” resume essa nova fase, tanto estilística, quanto estética. O refrão, principalmente, parecendo uma banda de hip-hop ou, na melhor das opções, R&B (não sei como não tem um “feat. J-‘alguma coisa’”). Mesmo que o estilo possa ser questionável em alguns momentos de AM, o fato é que melodicamente Alex Turner está no seu auge. E as canções irão exigir presença de palco, talvez percebendo isso ele já avisou que deixou de tocar guitarra no palco para se dedicar mais a apresentação. Um showman.





“Arabella” é outra bem pesada, reafirmando o stoner rock, com riffs muito poderosos tipo Black Sabbath. Conta ainda com um belo solo, bem sujo (belo e sujo, dicotomia perfeita) no final para terminar de destruir tudo. Na letra, Turner se inspirou nas viagens surreais de John Lennon. A associação de “I Want It All” com o glam-rock e, sobretudo, com “The Jean Genie” é inevitável. Mais uma canção muito boa e mais uma letra cheia de referências a bebidas e drogas. Também a Rolling Stones e a música “2000 Light Years From Home”, de Their Satanic Majesties Request, de 1967. “Since I drank miniature whiskey and we shared your coke ain't it just like you to kiss me and then hit the road leave me listening to The Stones 2000 Light Years From Home”. 


“No 1 Party Anthem” é uma balada contemplativa e solitária, ressacada e, ao mesmo tempo, convidativa para mais uma noite de drogas, sexo e rock’n roll. “Mad Sounds” continua na linha lenta e que resume o disco, já que tudo se trata de “mad sounds in your ears, they make you get up and dance they make you get up”. É uma das poucas que não se destaca tanto quanto as outras. “Fireside” é bem anos 80, cheia de sintetizadores e batidas eletrônicas, mas com a qualidade de Mark Lanegan quando se aventurou por esse estilo em Blues Funeral, de 2011, o resultado é positivo.




“Why’d You Only Call Me When You’re High” é a pura lisergia unida à libido, como figura no vídeo clipe, enquanto Alex Turner sai doidão em aventura pela rua a fim de uma rapidinha. “Snap Out Of It”, tem um ritmo que lembra um pouco do blues com orquestras, lembrando também em alguns momentos Queens of The Stone Age. Toda essa influência está materializada na participação de Josh Homme, retribuindo o favor de Alex Turner ter participado de ...Like Clockwork, em “Knee Socks”, no momento em que as backing vocals estão como no meio de uma música de Destiny’s Child. AM termina com a submissão completa em “I Wanna be Yours”, com Turner, talvez cansado de aprontar nas noites da vida, fala como se fosse um pedido de desculpa: “You call the shots babe I just wanna be yours”.


AM pode dividir opiniões entre aqueles que foi um fracasso e a morte de uma banda enérgica do rock’n roll, e outros irão celebrá-los como uma obra de uma banda que livrou-se de um rótulo para entrar no território indefinido, onde está com segurança e à vontade de arriscar o que for. Condição que poucos tem no mundo da música, que vive de rótulos. Eu estou com o segundo grupo.


Um comentário:

  1. Eu ri, hahahahaha!
    "...parecendo uma banda de hip-hop ou, na melhor das opções, R&B (não sei como não tem um “feat. J-‘alguma coisa’”)."

    e porra, o arctic monkeys precisou de alguns álbuns pra finalmente me conquistar, certeza que daqui a pouco vou viciar :D!
    resenha foda como sempre, sou tua fã, porra!

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