domingo, 12 de julho de 2015

Resenha: Daddy Mack Blues Band - A Bluesman Looks At Seventy


                Algumas decisões importantes normalmente são tomadas até certo ponto da vida. Nos chamados anos formativos é que as pessoas decidem o que vão fazer da vida e a partir daí seus esforços são feitos em torno dessa escolha. No mundo da música é comum vermos nas biografias que os artistas começaram a aprender guitarra na mais tenra infância. A maior parte dos bluesman começou dessa forma; ainda criança alguém da própria família comprava-lhes uma guitarra e eles aprendiam a tocá-la ouvindo outros bluesman no rádio ou em disco. Esse roteiro não serve, no entanto, para “Daddy” Mack Orr, natural de Como, Mississipi, que completa 70 anos com o lançamento do novo álbum de sua banda, Daddy Mack Blues Band, chamado A Bluesman Looks at Seventy.

Mack Orr aprendeu a tocar guitarra apenas aos quarenta e cinco anos e, nos últimos 25 anos de sua vida, tem se dedicado a tocar blues pelo mundo afora (antes de iniciar a carreira de bluesman, Mack Orr apenas conhecia quatro lugares – Wisconsin, Kansas City, Chicago e Jackson). A Bluesman Looks At Seventy é o sétimo disco da banda e, sem dúvida, um dos mais vigorosos. Mack Orr chega aos setenta com uma voz expressiva, acompanhando a energia nostálgica que flui de sua banda. Antigo coletor de algodão, que passou a trabalhar como mecânico de carro, Mack Orr possui aquela experiência de vida no duro e cruel Sul rural, o Deep South. É quase como uma lei; aqueles que possuem essa ligação tocam um blues autêntico e honesto, ou seja, sabem exatamente do que falam – preocupação com dinheiro, mulheres, trabalho, os assuntos preferidos do blues. As músicas são compostas por Eddie Dattel, fundador da Inside Sounds, e Wally Ford, mas Mack Orr consegue torná-las suas pela autenticidade.



Os destaques, dentre as 14 faixas do disco, ficam com a festeira “Champagne Fantasy”, que abre o disco, já que Orr afirma que “everyday is Friday and everyday is New Year’s Eve”. “Muddy Waters”, mostra situações de injustiças raciais, como passar vinte anos na prisão por um crime que não cometeu, dentre outras, nas quais Orr afirma “if that ain’t blues, my friend, then Muddy Waters wasn’t black”. “Fix it When I Can”, mais funky, foi inspirada no trabalho de Mack Orr como mecânico de carros. Engana-se quem acha que aos setenta não se pense mais em sexo casual, como em “You Don’t Have to Love Me”. A jogatina e o blues estão totalmente interligados e “Gambling House” representa essa relação de jogar até o dinheiro acabar.. “Hoodoo Blues” resgata a magia, as superstições e feitiços da comunidade afro-americana do Sul dos Estados Unidos. Os compositores Dattel e Ford entregaram de presente para Orr “I Like Fishin’”, já que este é o seu hobby favorito. “Pocketful of Blues” é, como o próprio título já sugere, puro blues de uma pessoa que sabe onde está se metendo.

A autenticidade é tudo na tradição do blues. Quando encontramos um álbum como A Bluesman Looks At Seventy, vemos que o blues está forte e seguro, tal qual Daddy Mack Orr com seus setenta anos – e contando. 


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